Youtubers
Por Rafael Sigollo
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Bruno Aiub, 21, um dos mais famosos youtubers do Brasil, conhecido como Monark, tem cerca de 350 mil inscritos em seu canal e seus vídeos já somam quase 10 milhões de visualizações mensais
O que o mercado de trabalho pensaria a respeito de um jovem que abandonou o curso de engenharia civil na Escola Politécnica da USP e uma carreira promissora na área financeira em uma multinacional, com proposta de trabalho nos Estados Unidos, para passar seus dias jogando videogame? Eduardo Benvenuti, dono do currículo acima, pouco se importa. Afinal, ele hoje tem uma remuneração mensal equivalente a de um diretor de uma grande empresa fazendo o que mais gosta, sem chefe e no horário que bem entende.
Aos 26 anos, seu trabalho consiste, basicamente, em jogar videogame e colocar as partidas em seu canal no YouTube. Ele recebe proporcionalmente ao número de visualizações que consegue, graças ao contrato firmado com o Machinima, espécie de rede internacional que negocia as propagandas que são exibidas antes dos vídeos.
Embora nenhuma das fontes ouvidas na reportagem tenha revelado o quanto ganha - segundo elas por questões contratuais - o Valor apurou que essas networks pagam de US$ 2 a US$ 3 aos seus associados a cada mil cliques recebidos. Somando toda a produção, ao fim do mês a renda dos youtubers brasileiros mais bem-sucedidos varia atualmente de R$ 10 mil a R$ 40 mil - sem contar o que eles podem faturar por conta própria com publicidade e parcerias.
Foi Benvenuti, inclusive, quem desbravou esse caminho no país. "Comecei a gravar os jogos por hobby, inspirado nos youtubers estrangeiros. No entanto, logo identifiquei que havia um público muito interessado e um grande mercado a ser explorado aqui", conta ele, conhecido na internet como BRKsEDU. Após fazer contato com o Machinima e expor seus argumentos, não apenas se tornou um associado como também ganhou a função de recrutador. "Minha missão era descobrir outros canais de games com bom potencial de crescimento e apresentá-los à companhia", explica.
Hoje, morando no Canadá, ele já deixou essa função para se concentrar no próprio canal e no curso de 'business marketing' que faz no Mohawk College, na cidade de Hamilton. "Meu objetivo é conseguir visto de residência e abrir uma empresa aqui. No futuro, penso em prestar consultoria sobre mídias sociais", afirma.
Eric Hamers, conhecido como MxDeegan, deixou o emprego de analista em uma seguradora para se dedicar ao canal no Youtube
Outro que trocou uma carreira na área financeira para viver dos games foi Eric Hamers, o MxDeegan. Formado em economia pelo Ibmec no Rio, ele chegou a trabalhar como analista na área de fusões e aquisições para uma companhia de seguros, mas largou tudo quando seu canal começou a render algum dinheiro. "Sempre tive espírito empreendedor, então foi fácil tomar essa decisão. Sou muito mais feliz e bem-sucedido hoje do que se tivesse seguido um caminho tradicional", garante.
Hamers, que tem 24 anos de idade, afirma que são diversos os motivos que levam alguém a procurar esse tipo de vídeo - como conhecer melhor um determinado jogo antes de comprá-lo, coletar informações ou aprender dicas. Muitos, porém, assistem pelo simples entretenimento. "Os brasileiros estão entre os que mais participam e passam tempo na internet no mundo. É um público muito crítico, mas fiel", revela.
Na opinião de Ivan Freitas da Costa, diretor de marketing e desenvolvimento institucional da faculdade de tecnologia Fiap, jovens como esses são empreendedores natos. Afinal, eles não apenas descobriram um nicho de mercado, mas também uma maneira de explorá-lo. "São pessoas apaixonadas por uma ideia e que conseguiram transformá-la em realidade usando as ferramentas que estão ao seu alcance. Isso é muito valioso em um profissional", afirma.
Além de ter a tecnologia necessária - como placa de captura de imagens, um programa de edição e um microfone para "conversar" enquanto joga - e o conhecimento para operá-la, é preciso também desenvolver habilidades de comunicação e relacionamento. "É fundamental saber se expressar, sustentar uma opinião e até improvisar", afirma Costa.
Érika Caramello, gerente de marketing digital na Fiap, ressalta que informalidade é até desejada pela audiência, geralmente composta por adolescentes. "Esse é um assunto que deve ser tratado de forma leve e divertida. Cada youtuber tem sua personalidade e estilo, e quem acompanha com frequência se sente como se estivesse assistindo a um amigo", analisa. Prova disso é que os que já estão estabelecidos mantêm canais secundários mais pessoais e livres - Benvenuti, por exemplo, mostra curiosidades do seu dia a dia no Canadá -, além de investirem nas chamadas 'live streams', onde respondem, ao vivo, as perguntas da audiência.
Segundo Érika, o crescimento acelerado desses canais se deve a todo um contexto que envolve o aumento da acesso da população nos últimos anos aos computadores, à banda larga e aos jogos eletrônicos de maneira geral. "Os vídeos são em português, gratuitos, com uma linguagem simples e sobre um tema que está em evidência", diz. Um reflexo desse sucesso foi a proliferação recente de canais apostando no mesmo filão. "Existe espaço para todos, mas é preciso ser criativo. Quem tentar copiar os canais que já são grandes não vai sobreviver", diz Benvenuti
Engana-se também quem pensa que se trata de um trabalho fácil. Bruno Aiub, um dos mais famosos youtubers do Brasil e conhecido pela alcunha de Monark, garante que fica pelo menos 12 horas por dia envolvido com seu canal. Além de produzir material diariamente, ele gasta um bom tempo fazendo networking com seus pares, empresas e interagindo nas redes sociais - recentemente contratou uma pessoa para ajudá-lo a administrar o fórum de seu site.
Prestes a completar 22 anos de idade, ele tem cerca de 350 mil inscritos em seu canal - que, segundo suas contas, cresce entre 10% e 20% ao mês - e seus vídeos já somam algo em torno de 10 milhões de visualizações mensais. "Me preocupo em sempre tentar renovar o conteúdo. É tudo muito dinâmico, não dá para se acomodar", diz.
Aiub também já foi convidado para participar e até dar palestras em eventos relacionados ao assunto, mas passou a ser mais seletivo após um susto meses atrás: ele avisou seus "seguidores" que compareceria, informalmente, ao lançamento de um jogo em um shopping de São Paulo. "Apareceram mais de 1200 pessoas e a loja não estava preparada para receber tanta gente. A situação ficou tão complicada que me tiraram dali escondido, pelo teto", lembra.
Mesmo com tanta popularidade, ele confessa sentir certa insegurança em relação ao futuro, uma vez que trancou um curso de desenvolvimento de jogos logo no início e não tem curso superior. "É preciso se adaptar às mudanças, pois elas acontecem muito rápido no mundo virtual", diz. Por enquanto, ele planeja uma temporada no exterior para estudar inglês. "Posso fazer o meu trabalho de qualquer lugar, basta uma boa conexão com a internet", explica.