Missão Amazônia
Brigada de Selva n° 26: a presença militar colombiana na fronteira com o Brasil
Kaiser Konrad Enviado Especial à Colômbia
Ao se passar a fronteira um posto da Polícia Nacional da Colômbia já chama a atenção. Policiais armados com submetralhadoras observam atentamente quem entra e sai do país. Letícia é a capital do Departamento do Amazonas e a maior cidade colombiana situada na faixa de fronteira com o Brasil. É a porta de saída de parte expressiva da droga que é produzida na Colômbia e que entra no Brasil através de Tabatinga.
Pelas ruas da cidade a forte presença militar é facilmente notada. Patrulhas a pé de soldados do exército podem ser vistas com freqüência em qualquer horário do dia e da noite. Os militares armados com o fuzil israelense Galil fazem abordagens e a verificação dos documentos de suspeitos. No rio Solimões, a Guarda Costeira e a Armada realizam patrulhas em busca de cargas ilícitas e na caça aos guerrilheiros que eventualmente entram no Brasil ou Peru em busca medicamentos e atendimento médico. A região é uma tríplice fronteira e na outra margem do Solimões está a cidade peruana de Santa Rosa.
Em Letícia está localizado o quartel-general da Brigada de Selva n° 26, comandada pelo Coronel Marcolino Tamayo, e subordinada à Sexta Divisão do Ejército Nacional da Colômbia, comandada pelo Brigadier General Jorge Octavio Ardila Silva. É um comando de área especial do exército colombiano que cumpre as missões de cobertura fronteiriça, proteção da infra-estrutura energética vital, controle fluvial nos rios navegáveis, além de realizar operações de interdição em conjunto com a Polícia Anti-narcóticos e o combate ao cultivo de coca.
A Brigada de Selva nº 26 atua em todo o Departamento do Amazonas, numa extensão de 400 km de fronteira com o Brasil e 1600 km com o Peru. Fazem parte dela o Batalhão de Selva nº 50, o Batalhão Contra-guerrilha nº 84 e o Batalhão de Serviços n° 26.
Acompanhe uma entrevista com o Cel Marcolino Tamayo, comandante da Brigada de Selva n°26 do exército colombiano.
DEFESA@NET – Já houve combate em operações na fronteira com o Brasil? As FARC estão presentes na região?
Cel Marcolino: Nos últimos dois anos não registramos combates nessa região porque as estruturas das FARC abandonaram a área. Mas temos conhecimento da existência de pequenos núcleos dela encarregados do tráfico de cocaína e que utilizam os rios Apaporis para alcançar o Brasil e o Putumayo para chegar ao Peru. Não temos conhecimento da existência embora não descartamos a presença de células das FARC em Letícia realizando um trabalho de inteligência.
DEFESA@NET – Qual é a situação atual das FARC?
Cel Marcolino: Com o desenvolvimento das operações militares se conseguiu um resultado extraordinário com golpes contundentes nestes grupos, principalmente atingindo sua capacidade diretiva. Igualmente houve uma grande quantidade de desmobilizados que já não querem seguir provocando danos ao país e entenderam que têm também a possibilidade de viverem como cidadãos de bem. Este é um momento importante para continuar fortalecendo a ação das forças militares e da polícia para erradicar de uma vez por todas este flagelo e esta ameaça que prejudica o país e toda a sociedade colombiana.
DEFESA@NET – Que operações militares são realizadas pela Brigada de Selva n° 26 na região?
Cel Marcolino: Nós realizamos frequentemente operações militares de controle de área nas cinco bases que temos na região. Duas destas bases se encontram em frente aos Pelotões Especiais de Fronteira do Exército Brasileiro, e as outras três estão localizadas junto à fronteira peruana. Nossas operações muitas vezes são realizadas em conjunto com o apoio da Armada – Força Naval do Sul –, da unidade da Guarda Costeira de Letícia, e através do uso de uma aeronave Caravan, nosso componente aéreo orgânico que cumpre missões de reconhecimento para detectar o cultivo de coca e presenças desconhecidas na região. (NOTA DEFESA@NET: Esta aeronave constantemente acompanha os aviões da FAB que fazem o ressuprimento dos PEFs quando voam próximo a linha de fronteira).
DEFESA@NET – Que equipamentos militares vocês estão dotados?
Cel Marcolino: Nosso armamento básico é o fuzil israelense Galil, utilizado nos calibres 7,62 e 5,56. Estamos equipados também com as metralhadoras MAG 7,62 e Ponto 50, e morteiros de 81mm e 60 mm, além de lançadores de granadas de 40 mm.
DEFESA@NET – Há mais de 40 anos a Colômbia enfrenta uma guerra na selva. Quais as lições aprendidas que podem ser passadas aos militares brasileiros?
Cel Marcolino: A guerra na selva é muito complexa. A topografia e o ambiente deste teatro de operações são muito diferentes. O combatente tem que saber tirar dela tudo que ela pode oferecer. Nós realizamos um treinamento permanente para podermos operar em áreas de conflito onde existam grupos irregulares. Para estas ações é necessário desenvolver operações especiais devido às condições topográficas e as exigências da selva sobre o planejamento e a execução destas operações militares. Em ambiente de selva cada cenário é diferente. Colômbia e Brasil são países privilegiados por possuir uma grande extensão de selva amazônica e sua integridade pode estar comprometida por fatores externos.
DEFESA@NET – O transporte de tropas neste teatro de operações.
Cel Marcolino: Aqui nós temos somente 18 km de estradas. Todo o transporte deve ser feito utilizando a calha dos rios navegáveis. Não temos apoio de veículos militares. Todo ele acontece através de meios aéreos e fluviais.
DEFESA@NET – Helicópteros
Cel Marcolino: Lógicamente os helicópteros são fundamentais nas operações de transporte e combate em ambiente de selva. Não os temos aqui porque o conflito não está acontecendo nesta região.
DEFESA@NET – Os Super Tucanos recentemente adquiridos pela FAC já estiveram operando nesta área?
Cel Marcolino: Não tenho conhecimento.
DEFESA@NET – Como é a relação com os militares brasileiros?
Cel Marcolino: Estou convencido da qualidade humana do povo brasileiro e sua atitude desprevenida e sempre aberta para brindar a amizade, o apoio mútuo e a cooperação. Aqui temos as melhores relações com o pessoal militar brasileiro, em especial com o General-de-Brigada Racine Bezerra Lima Filho, comandante da 16º Brigada de Infantaria de Selva, e com o Tenente Coronel Antônio Elcio Franco Filho, comandante do 8º Batalhão de Infantaria de Selva. Vemos por parte do Brasil a disposição total para não permitir que integrantes das FARC ultrapassem sua fronteira fugindo de nossas tropas. Este é um fator muito positivo para nós, por saber que existem países com esta condição de cooperação conosco. Quero deixar registrada uma saudação especial pelo sentimento que nos acompanha toda vez que vemos um soldado brasileiro. Nós sentimos esta integração, fraternidade e condição especial de qualidade humana para com todos os colombianos. Sucesso em todas suas missões.
fonte:
http://www.defesanet.com.br/missao/am/co.htm