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por Penguin » Seg Set 14, 2009 8:56 am
COMPRA DE CAÇAS
França não transferirá 100% da tecnologia, diz especialista
Alguns sistemas "mais sensíveis" jamais serão exportados, afirma Renaud Bellais
Para economista, contrato com o Brasil é fundamental para que a Dassault, que produz o avião, mantenha a fabricação dos caças Rafale
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
A proposta francesa de transferência total de tecnologia ao Brasil nas negociações para a
compra de 36 caças Rafale deve ser vista com cautela, na opinião do economista Renaud Bellais, da Comissão de Defesa da Fundação Concorde e especialista em indústria de defesa.
Segundo ele, é provável que o governo francês e a Dassault, empresa que fabrica os caças,
concordem em transferir 100% do conhecimento necessário para a linha de produção dos aviões, como processos de certificação, homologação e validação de etapas da produção- mas dificilmente vão revelar as "tecnologias mais sensíveis ".
"Um avião tem diferentes tecnologias, como aerodinâmica, estrutura, sistemas embarcados etc.
O importante é saber a que tipo de tecnologia o governo francês se refere. Por exemplo, existem tecnologias de radar que nunca serão exportadas ", argumenta.
Para o especialista, a regra seguida pelo Ministério da Defesa é que seus aviões estejam sempre equipados com sistemas mais avançados que os que integram as unidades exportadas. "O objetivo é que os sistemas utilizados nos aviões do Exército francês sejam mais eficazes do que aqueles integrados nos aviões exportados para não nos encontrarmos na mesma situação vivida no Iraque, em que o Exército se deparou com equipamentos franceses."
Segundo Bellais, a tecnologia mais sensível são os sistemas embarcados, tais como navegação,
comunicação, dados de voo e sistemas de controle, ou ainda os sistemas de armas. No caso dos Rafales, parte desses sistemas são fabricados pela francesa Thales, em que a Dassault tem participação.
Embora os detalhes ainda não tenham sido definidos, a França se diz disposta a transferir ao
Brasil 100% da tecnologia para a fabricação dos caças.
Paris garante que o objetivo é que, no final do processo, não somente o Brasil seja capaz de
construir um avião equivalente ao Rafale, mas que os dois países construam juntos a próxima geração de caças franceses.
Como parte do acordo, a França também pretende comprar entre 10 e 15 unidades do futuro
avião de transporte militar KC-390 da Embraer. Em entrevista a uma rádio francesa, o ministro da Defesa, Hervé Morin, chamou o avião brasileiro de "carrinho de mão" e disse que eles não têm o mesmo nível do A400M, avião europeu que está sendo desenvolvido com participação francesa.
Contrato vital
Desde seu primeiro voo, em 1996, os caças franceses nunca conseguiram decolar para as
exportações. O contrato com o governo francês, que previa a entrega de 294 aviões até 2012, foi revisto para baixo e não deve ultrapassar 280 unidades.
Para Bellais, um contrato de exportação hoje é vital para que a Dassault possa continuar a
fabricar os caças. "O problema atual é que a maior parte das encomendas já foi feita, e a produção está recuando", diz.
Segundo ele, o risco é que a produção recue a menos de 15 aviões por ano, mínimo necessário
para manter a viabilidade econômica do projeto. "Nesse caso, a Dassault corre o risco de perder a mão de obra e a competência necessárias para a fabricação dos caças".
Um porta-voz do construtor negou que o futuro da empresa dependa do acordo com o Brasil.
Segundo ele, a produção está garantida pelo contrato com o governo francês até 2025.
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Proposta será questionada por sindicato
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
Um dos principais sindicatos da Dassault Aviation, empresa que está negociando com o Brasil a
venda de 36 caças Rafale, criticou a disposição da França em incluir no acordo transferência de tecnologia. Os sindicalistas temem que a oferta leve à perda de empregos franceses, comprometa o desenvolvimento de novas tecnologias e crie um concorrente.
Em entrevista à Folha, Dominique Richard, delegado da CGT, disse que pretende questionar a
empresa sobre a proposta e afirmou estar "preocupado com as contrapartidas" que vêm sendo
oferecidas pela França .
"Há uma coisa que nos inquieta nesse contrato. É o fato de que o Brasil queira se dotar de uma
indústria Aeronáutica militar e que as compensaçoes que vêm sendo negociadas entre Dassault, o governo francês e o governo brasileiro incluem transferência de teconologia" disse.
A Dassault afirmou que o acordo criará empregos na França nos próximos anos.
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla