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Autoridades russas advertem que
protestos são nocivos à saúde
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09 de dezembro de 2011 • 14h47
Justo na véspera de grandes atos de protesto contra a fraude eleitoral governista na Rússia, as autoridades advertem que manifestar-se faz mau para a saúde, e além disso, distrai dos estudos.
Os funcionários, pertencentes em sua maioria ao partido governista Rússia Unida (RU) mostram seu lado mais criativo na hora de buscar pretextos para dissuadir a participação em protestos dos insatisfeitos com os resultados das eleições parlamentares de domingo.
O chefe sanitário russo, Gennady Onishchenko, que ganhou grande fama por protagonizar o embargo de importações de verduras europeias à Rússia, e de vinho da Geórgia e Moldávia, declarou nesta sexta-feira que manifestar-se no inverno é nocivo para a saúde.
"Eu recomendo não ir às manifestações levando em conta o frio que faz agora (...), sobretudo para as pessoas que padecem de doenças crônicas e endócrinas", disse Onishchenko, citado pela imprensa russa.
Sobre as condições do aumento de doenças, as manifestações maciças nas ruas poderiam "contribuir ao contágio da doença respiratória aguda", advertiu.
Além disso, uma fonte do Ministério da Educação da Rússia afirmou sob condições de anonimato à agência "Interfax" que os estudantes do ensino médio poderiam ser forçados a ir neste sábado à escola fazer exames de língua russa, para que não haja tempo para manifestarem-se.
O ministro da Educação russo, Andrei Fursenko, defendeu que os estudantes não devem ser chamados a participar de atos de protesto ou apoio de nenhuma natureza.
"Os jovens devem estudar. Não vale a pena envolvê-los em atos de rua, e isto se refere a todas as organizações sociais", disse Fursenko.
Entretanto, essa preocupação das autoridades não impediu que em diferentes regiões russas, milhares de jovens partidários do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, comparecessem às ruas para apoiar seu líder, apesar do frio e da suposta necessidade de estudar.
Tocando tambor e isolados por policiais, os movimentos juvenis governistas marcharam pelo centro de Moscou sob o tema de John Williams de Star Wars, glorificando Putin e atacando o Ocidente, que supostamente "instiga os inimigos da pátria".
Essa grande manifestação, convocada pela organização "Nashi" (Os Nossos), foi autorizada pelos funcionários da Prefeitura da capital sem limite do número de participantes.
Os opositores, que teriam que se conformar na segunda-feira com um máximo imposto de 500 manifestantes, saíram em número de entre três e cinco mil pessoas devido aos altos níveis de inconformidade em Moscou, a região mais crítica com a gestão do RU.
Apesar da passeata dos movimentos governistas ter recebido elogios na televisão russa, os opositores receberam golpes das autoridades, segundo mostram as imagens recolhidas no local por várias testemunhas.
"Mal saí do metrô, de repente me agarraram os "cosmonautas" (policiais com capacete) e me colocaram em um caminhão. Não me explicaram nada", disse à agência Efe Alexei Sulin, um das testemunhas da manifestação.
Mais de mil opositores foram detidos desde o dia das eleições durante atos de protesto contra a fraude, enquanto os governistas permaneceram "intocáveis".
As detenções provocaram fortes críticas tanto na imprensa russa quanto no Ocidente, cuja reação negativa foi imediatamente classificada pelo primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, como uma mostra da implicação dos Estados Unidos nos protestos na Rússia.
Os resultados das eleições legislativas incentivaram o descontentamento popular que cresceu por numerosos casos de corrupção e permissividade por parte dos funcionários do RU.
Enquanto isso, cerca de 35 mil usuários do Facebook confirmaram que se reunirão no sábado em Moscou para uma manifestação antigovernamental, que poderia ser a maior desde o último século.