Cubo negro de Heisenberg. Nova técnica pode revelar mistérios do programa nuclear nazi
Estima-se que tenham sido produzidos até 1200 cubos de urânio para experiências de fissão nuclear, mas o paradeiro de cerca de metade ainda é desconhecido. Técnica também pode ser usada em investigações de tráfico ilegal de material nuclear
Os registos históricos apontam para que a Alemanha tenha começado o programa de desenvolvimento de armas nucleares cerca de dois anos antes dos EUA no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Os cientistas Werner Heisenberg e Kurt Diebner lideraram estes esforços para os alemães, mas o trabalho nunca passou a fase de testes em laboratório.
Como resultado das investigações, foram criados entre 1000 e 1200 cubos de urânio, com cinco centímetros cúbicos de volume e cujo peso ficava abaixo dos 2,5 quilogramas. Estes cubos eram submersos em água pesada, rica em deutério (isotopo do hidrogénio), na expectativa de que o decaimento do urânio gerasse uma reação nuclear sustentável
Esta abordagem falhou e os laboratórios acabaram por ser tomados pelas forças aliadas. Perto de 600 destes cubos de urânio, que são atualmente conhecidos como ‘cubos de Heisenberg’, terão sido transportados para os EUA, para ajudar nos esforços de desenvolvimento de armas nucleares pelo país. Mas todos os outros cubos produzidos pelos alemães ficaram em paradeiro desconhecido. Agora, investigadores do Laboratório Nacional do Noroeste do Pacífico dos EUA (PNNL na sigla em inglês) desenvolveram uma técnica que permitirá perceber melhor os esforços do programa nuclear nazi, mas também poderá ser usado em investigações de tráfico ilegal de material nuclear.
A técnica em causa chama-se radiocronometria, um processo que analisa os produtos resultantes do decaimento do urânio para atestar a idade da amostra e se existe uma relação direta entre as amostras (se pertencem ao mesmo programa nuclear ou não). Isto porque apesar de ambos os cientistas alemães perseguirem o mesmo objetivo de fissão nuclear, Heisenberg e Diebner estavam a explorar métodos diferentes para o conseguir.
Graças ao novo método, os investigadores já conseguiram perceber, por exemplo, que alguns dos cubos que são atribuídos ao laboratório de Heisenberg, pertenceram primeiro ao laboratório de Diebner, pois o material usado para cobrir o cubo de urânio (baseado em estireno), com o objetivo de impedir o processo de oxidação, não corresponde ao que Heisenberg usava (baseado em cianeto).
Isto significa que o ‘cubo negro de Heisenberg’, como também é apelidado, e que está na posse do PNNL, pode ser um raro exemplar de ter pertencido aos dois programas de investigação nuclear alemã da segunda grande guerra.
O novo método de análise foi liderado pela investigadora Brittany Robertson, que contou com o apoio de outros investigadores do PNNL, mas também da Universidade de Maryland. Segundo a Sky News, o método poderá ainda vir a ser refinado para que seja possível identificar o local de extração do urânio. Se perceber melhor os cubos de Heisenberg é um dos objetivos, a nova técnica também poderá vir a ser usada para identificar alguns dos cubos desaparecidos caso apareçam em futuras apreensões de tráfego ilegal de material nuclear.
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