Enviado: Ter Mar 06, 2007 8:31 am
A fragata “Álvares Cabral” terminou o treino operacional em Inglaterra
A fragata “Álvares Cabral” terminou o seu período de aprontamento operacional, cumprindo o exigente programa de treino e avaliação no Reino Unido, o “Portuguese Operational Sea Training” (POST), que decorreu entre 6 de Novembro e 14 de Dezembro de 2006.
A preparação de uma fragata da classe “Vasco da Gama” termina com a participação no POST, o que constituiu a validação de todo o processo de aprontamento do navio para as suas missões futuras. O POST funciona, de facto, como uma auditoria externa por uma entidade de excelência reconhecida – o “Flag Officer Sea Training”, vulgarmente designado por FOST. O FOST treina e certifica todos os tipos de navios de guerra, navios auxiliares e submarinos da Marinha do Reino Unido e de outras marinhas, para o emprego em todo o espectro das operações navais, quer em tempo de paz, quer em situações de conflito. Conceitos como segurança para navegar e para combater, técnicas de combate a incêndios e alagamentos, organização geral do navio, defesa própria, capacidade de apoio a populações sinistradas, condução de operações ofensivas e defensivas, são amplamente treinados e verificados pelo avaliadores do FOST durante o treino proporcionado ao navio. A longa tradição do FOST no treino e preparação de navios, que remonta a 1958, permite-lhe dispor de um vasto leque de ensinamentos e de doutrina que é constantemente revista e adaptada de acordo com a evolução dos cenários onde operaram navios de guerra.
O treino efectuado no FOST pela fragata “Álvares Cabral” iniciou-se com uma inspecção inicial no dia 06 de Novembro, designada por “Material Assessement and Safety Check” (MASC), que visa a verificação do navio nos seus aspectos básicos de segurança e estado do material. Esta avaliação permite estabelecer o patamar inicial a partir do qual o treino de preparação do navio para combate vai evoluindo, exercitando-se numa primeira fase cenários contra ameaças simples, e posteriormente situações de combate em ambiente de multi-ameaça integrando uma força naval.
Após o MASC, teve, assim, inicio um programa de treino de seis semanas, sendo duas em terra e quatro no mar, que se desenrolou através de um programa estruturado e focado nas necessidades que se identificam como mais prementes quando se considera o leque de situações em que uma unidade deste tipo possa vir a ser empenhada. Tal inclui a simulação de danos e avarias internas a bordo, que venham a ocorrer por força de acções externas contra o navio.
Nas semanas de treino em terra, com a “Álvares Cabral” atracada na Base Naval HMS Drake, na cidade de Plymouth, foram levados a cabo um extenso conjunto de exercícios em todas as áreas técnicas, de onde se destacam os incêndios de porto, os de condução da plataforma em modo normal e degradado que abrangeram quer a área da propulsão quer a de produção e distribuição de energia, os de controlo de acessos e de visitantes e os de incidentes à prancha com engenhos explosivos. Foi também nas semanas de terra que o navio participou nos exercícios de maior grau de dificuldade, por envolverem uma percentagem muito grande da guarnição e constituírem um grande desafio no plano do Comando e Controlo, como o “Disaster Exercise” (DISTEX) onde é prestada assistência humanitária a uma população ribeirinha afectada por uma catástrofe natural, e o “Ship Protection Exercise” (SPE), em que o navio é sujeito a uma série de desafios, , que vão de simples intimidações a ataques vindos de terra e do rio, simulados por pessoal do FOST que encarna uma força de milícia local que se opõe à presença do navio no porto. Especialmente sensível no caso do SPE é a definição e implementação de regras de empenhamento que permitam ir dando uma resposta proporcional e gradual às acções dos supostos agressores. Refira-se, ainda a este propósito, um episódio curioso que demonstra o detalhe que o staff do FOST coloca na execução de todas as séries. No decorrer de uma das muitas acções da “milícia”, é raptado um suposto cidadão português, que anteriormente se tinha identificado como um ex-marinheiro que servira com o comandante do navio, em 1984, no patrulha Geba (informação certamente retirada do currículo que é, obrigatoriamente, enviado para o FOST no âmbito da literatura pré-OST!).
Nas semanas de mar foram efectuadas diversas inspecções ao navio, tendo os exercícios incidido nas áreas da navegação, da marinharia, das operações navais, da propulsão e energia e da limitação de avarias desenvolvendo-se com graus de complexidade crescente nas áreas da luta anti-submarina, luta anti-aérea e luta de superfície, e culminando semanalmente nas designadas guerras de 5ª feira (Weekly Wars) onde se efectuava a integração da batalha externa (área das operações) com a batalha interna (áreas do propulsão e energia, armas e electrónica, logística e médica), e se proporcionava o treino no âmbito de força naval.
A mais valia do POST situa-se sem dúvida no plano do treino operacional, onde é possível interagir com um número muito alargado de meios. Entre outros, foram efectuados exercícios de tiro real de artilharia, utilizando-se áreas próprias e spotters embarcados em helicópteros; operações de interdição marítima; exercícios de manobras e evoluções; exercícios de pilotagem; exercícios de reboque; operações de reabastecimento no mar com diferentes tipos de navios (o reabastecedor holandês “Zuiderkruis” e o inglês “Black Rover”); exercícios avançados de luta anti-submarina com o submarino convencional alemão “U-22”, integrando tarefas relacionadas com “Water Space Management” que colocavam problemas no plano das “Rules of Engagement” (ROE) e o processo de decisão táctica; exercícios de luta de superfície com emprego de helicópteros equipados com mísseis anti-navio; exercícios de defesa aérea contra aeronaves do tipo “Falcon” e “Hawk”, cujos pilotos são famosos pelo arrojo que colocam nas suas acções. De salientar ainda a presença na área e a participação do porta-aviões da Marinha Inglesa “Ark Royal” em alguns exercícios sob coordenação da “Álvares Cabral” (CTG). Em termos de cooperação com meios aéreos, para além dos helicópteros orgânicos, foi constante a presença dos aviões de aviso antecipado E3A, aviões de patrulha marítima “Nimrod”, e de helicópteros “Merlin”, “Lynx” e “Dauphin”, estes para transferência dos avaliadores do FOST. Durante o período do OST, participaram no treino da “Álvares Cabral” quinze navios, e diversas aeronaves, do Reino Unido, Alemanha e Holanda.
Infelizmente, o impacte das condições meteorológicas durante o OST foi considerável, tendo provocado o cancelamento de algumas séries , o que na 3ª semana de mar, deu origem ao cancelamento da “Weekly War”, sem que (pela segunda vez em todo o período de existência do OST) tivesse sido possível agendá-la para outro período. O estado do tempo nessa semana não permitiu que o navio fosse avaliado num conjunto de áreas, por falta de factores de ponderação que se deveram ao cancelamento das acções de treino programadas.
O sucesso final e as boas prestações que foram muito elogiadas pelo “staff” do OST, deveu-se sobretudo aos sempre elevados níveis de motivação, de moral e de empenhamento, que a guarnição da fragata “Álvares Cabral” manteve durante todo período da missão, sem que tenham sido notadas flutuações na dedicação e na vontade de bem cumprir. No conjunto das seis semanas no FOST o navio obteve a avaliação final de “Very Satisfactory”, classificação que face aos actuais elevados padrões de exigência no OST, atestam a elevada qualidade do treino que já é efectuado pela Marinha através da Flotilha, órgão que treina actualmente toda a nossa esquadra.
Refira-se, a este propósito, que o OST não é uma repetição deste treino, mas antes um complemento e uma oportunidade de adquirir novos ensinamentos, o que permite manter os navios, e a Marinha, actualizados com os ensinamentos adquiridos através da participação em operações reais.
A tipologia e qualidade do treino ministrado no OST associado ao número de meios navais e aéreos disponíveis envolvidos, tornam, assim, este tipo de missão rica e essencial para o aprontamento das unidades navais combatentes. As lições aprendidas no OST, que são devidamente validadas e posteriormente difundidas e aplicadas, traduzem anos de experiência no mar que a Marinha Portuguesa como organização ganha em saber e profissionalismo, de que é fundamental dispor nas unidades navais, mas também nos organismos tutelares do treino e formação. A multidisciplinaridade do treino a que o navio e a sua guarnição foram sujeitos e a eficiência obtida no desempenho atestam que a fragata “Álvares Cabral” se encontra pronta para as missões que à Marinha forem atribuídas.
Durante o OST, a fragata “Álvares Cabral” efectuou cerca de 1200 horas de missão, percorreu 4330 milhas náuticas e embarcou um total de 545 avaliadores do FOST, numa média de 19 avaliadores por dia.
(Colaboração do Comando do NRP “Álvares Cabral”)