Re: EDIT - Caso Boeing-EMBRAER: sua posição?
Enviado: Sáb Jan 06, 2018 10:17 pm
Keep goin' an' bitchin', remember Ol' Dad is here 4 ya, laddy...LOL
Túlio escreveu:
I - BOMBARDIER & AIRBUS
Ao contrário do que muitos têm dito, a "tadinha" da Bombardier não estava com essa bola toda e foi pega pelo garrão e à traição pela "malvadinha" Airbus, só na base do "eu tenho mais dinheiro do que tu, ou vendes ou te faço quebrar"; se alguém acompanha as notícias e as guarda na memória, lembremos de um post de meados do ano passado e muito comemorado aqui, que relatava a festa que estavam fazendo na EMBRAER quando, após uma série de queixas da "malvadona" Boeing, a citada Bombardier tomou um pênalti daqueles da Justiça dos EUA, a ponto de acabar com a competitividade de suas aeronaves, tale o aumento de preços que se teria de fazer, pois os impostos que teriam de pagar por seus malfeitos são da pesada. A razão? Ela, por não ter uma Divisão de Defesa, não tinha uma fonte não-contabilizável (porém legal), para efeitos de mercado, de tecnologia de ponta. Assim, desenvolver novos produtos na própria área comercial encarecia demais o preço final, então só com subsídios do governo Canadense podia ser razoavelmente competitiva. E foram os subsídios (ilegais) que a colocaram na alça de mira de uma Justiça que funciona! Mau negócio...
O acima relatado na prática matou a Bombardier. Se vendesse suas aeronaves diluindo no preço as pesadas taxas impostas, elas ficariam tão caras que o mercado da EMBRAER (que não tem este problema) só faria aumentar; e contornar isso seria possível apenas com ainda mais subsídios ilegais, o que levaria a novas penalidades. Assim, ela estava em xeque. Lembrar ainda que, não muito tempo atrás, em estado pré-falimentar, foi oferecida tanto à Airbus quanto à própria Boeing, entre outras. Ninguém quis.
Daí, numa interessante virada, a Airbus resolve comprar uma divisão (a do CSeries) da empresa, e não ela toda. Difícil de acreditar que a principal intenção da megaempresa Européia seja passar a ter uma linha de aeronaves regionais. A mais óbvia é passar a ter uma aeronave com grande capacidade de crescimento, capaz de, se desenvolvida a pleno ($$$$$$$$$$$$$$$$$), tomar grandes fatias do mercado hoje ocupado pelo 737 e versões menores de jatos da citada Airbus. Lembrar que sozinha a Bombardier só chegou ao -100 e -300, o resto é desenho e é brabo de desenvolver com recursos próprios (e sem subsídios, para evitar ainda mais penalidades) as versões maiores e que realmente farão (fariam?) a diferença. É onde entra a superpotência Airbus.
Mas mesmo aí não são flores: o principal mercado ainda é o dos EUA. A Airbus tem fábrica lá mas:
1 - Qual será o custo financeiro para a Airbus poder montar aviões Bombardier da linha que comprou nos EUA? Vão ter que fazer uma nova linha de montagem, usando processos e componentes a que não estão acostumados e ainda arriscar que as penalidades impostas à Bombardier recaiam sobre os agora Airbus CSeries, afinal, a origem e seus vícios permanecem iguais e basta a Boeing e/ou EMBRAER fazerem (e por certo farão) suas véias queixas de dumping à Justiça dos EUA para arrumar muita encrenca pro Françuá. A ver...
2 - Qual será o custo político para o governo Canadense pelos empregos que serão exportados? Não estamos falando do office-boy, do motorista ou da moça do cafezinho mas sim de técnicos e engenheiros de altíssimo nível que ou se mudam para os EUA ou são substituídos por gente de lá, ávida por este tipo de emprego.
3 - Se exportarem o filé de sua mão de obra, como fica o que sobrar da Bombardier?
(continuação)Túlio escreveu:
II - EMBRAER & BOEING parte 1
(continua)Aqui temos um caso muito diferente do visto acima: a EMBRAER está longe de falida, é dona de quase metade do mercado de aeronaves regionais, uma suculenta fatia dos executivos menores e caminha para ter o único potencial substituto Ocidental para o vetusto Hércules. Seu problema com a Justiça dos EUA se prende a propinas mas, sendo considerada quase que "de casa", é vista com alguma benevolência, o que não ocorre com sua rival Canadense, considerada uma concorrente desleal (o que é muito mais grave em um sistema realmente capitalista como o dos EUA). Ou seja, está mais para uma Lockheed-Martin (que já foi pega subornando até o Rei da Holanda e, ao invés de quebrar, seguiu crescendo até, como hoje, ser praticamente dona da USAF) do que para uma Bombardier. A despeito de não ter sequer rascunho de um Wide-Body, é indiscutivelmente a terceira maior empresa de Aviação do Ocidente pois, ao contrário da citada Bombardier, possui um imenso diferencial: sua Divisão de Produtos de Defesa, legalmente subsidiada por verbas governamentais e gerando tecnologia de ponta, que depois é repassada ainda legalmente às aeronaves não-militares. Apenas com base no exposto, se poderia argumentar que isto dá à EMBRAER uma sustentabilidade ad aeternum sem precisar se associar a quem quer que seja. Não é bem assim...
A Boeing tem sido por décadas a grande (por fim, a única) rival da Airbus. Trata-se de EUA vs UE. Assim, é um dos dois gigantes da Aviação mundial (entendamos aqui, ao menos por enquanto, "mundo" pelo prisma de um dos maiores geopolíticos e geoestrategistas Argentinos do século XX, Vice-Almirante Segundo Storni, cuja obra merece uma leitura cuidadosa, mesmo com equívocos graves como a visão supramencionada) e também um dos dois grandes obstáculos à EMBRAER para que esta, perdoem o trocadilho, possa alçar voos mais altos. Como um Wide-Body capaz de concorrer com e acabar superando o 737.
Quem precisa de quem, e para quê? A resposta mais comum, tanto aqui no DB quanto em artigos da mídia, é que a Boeing precisa da EMBRAER mas não o contrário, a empresa Brasileira poderia tranquilamente passar o resto da eternidade dominando o mercado de Aviação Regional a jato (talvez também com uma linha turboprop, tipo "volta às origens") e crescer nos de Aviação Executiva e Militar. Visão enganosa, arquetípica da nossa tradicional patriotada, na qual se toma uma parte pelo todo e se fecha os olhos ao resto da imagem:
1 - Não há mais muito o que fazer nos Executivos sem um Wide-Body que não será desenvolvido dentro do modelo atual (e prudente) da empresa, a qual de modo algum arriscaria sua própria existência para entrar à Kamikaze num mercado inteiramente novo como uma ilustre outsider. Teria que fazer com os Phenoms e Legacies o mesmo que está acabando de fazer com os E-Jets, ou seja, mudar para tentar ficar igual. E há dúvidas sobre quanto tempo os E-2 levarão para alcançar a cadência de comercialização/produção (90/100 jatos por ano) dos modelos mais "vintage". Isso se alcançar, pois a concorrência só faz aumentar.
2 - O caso da Aviação Militar é ainda mais complicado: os filões mais suculentos são os das aeronaves de combate de alto rendimento e dos Cargos/Tankers. Para o primeiro nada tem a oferecer, eis que o Gripen é Sueco; para o segundo, com o KC-390, já se vê as mesmas dificuldades enfrentadas pelo Super Tucano, com a maior encomenda sendo endógena e o resto das vendas (exportações) altamente pulverizado ao longo dos anos, é um punhadinho aqui, outro ali e se vai levando. Porque tecnologia nem é o problema, a questão fulcral é o acesso aos mercados e verbas. Para exemplificar, o que seria mais fácil de vender: um -390 em uso pela FAB e nunca visto em ação em um TO "quente" de verdade, tipo OM, e financiado pelo BNDES ou o mesmo avião sendo visto em ação pela USAF nos piores lugares da terra e com financiamento via FMS? Vou além, basta se chegar a um acordo de parceria para que a USAF finalmente se arresorva no caso do Super Tucano e o adote, o que irá praticamente liquidar a produção desta aeronave no Brasil, que dificilmente irá comprar mais; mesmo quem já comprou irá provavelmente - e se for este o caso - adquirir novos lotes vindos da Flórida, não de São Paulo. Para quem compra direto da prateleira, o carnê do FMS é sempre menos ardido que o do BNDES (exceto, claro, para nossos "muy queridos" cumpañeros bovinos, que já compram sabendo que só vão precisar pagar se e quando quiserem. Mariel mandou lembrança).
EDIT MOD - TúlioIlya Ehrenburg escreveu:...
Tks, Cássio. Vem muito mais coisa, estou rascunhando com calma dois posts à frente (a ponto de já poder citar o título da parte seguinte) enquanto leio, pesquiso e aprendo. Fico impressionado como tanta gente inteligente se contenta com "verdades" prontas, ditas por aprendizes de führer, sobre um tema tão fascinante como este, onde é apenas ilusoriamente fácil formar opinião a partir de um ou dois textos encontrados ao acaso. Não é de graça que se limitam a repetir que são contra qualquer coisa, mesmo sem ter qualquer argumento além de umas poucas frases feitas. Ia até dizer mais coisa mas vou deixar para a parte seguinte à seguinte, cujo nome já declinei.Cassio escreveu:Túlio... Excelentes posts... Mas como ler algo com argumentos, com lógica e com imparcialidade, independente de seu concordar ou não.
Bem diferente de posts baseados apenas em doutrinação, de gente que não sabe argumentar sem voltar a mesma ladainha vermelha que falou este país.
Nunca mais voltarão.
http://www.altair.com.pl/magazines/arti ... le_id=2026Skrzydlata Polska
Aero Vodochody - um bilhão de dólares de perdas em negócios com Boeing e Sikorsky
01/2009
Em Abril de 1995, o governo tcheco decidiu apoiar a construção de uma aeronave multifunção pela Aero Vodochody, o L-159A (ALCA) com base no L-59 original. O L-159A seria, então, equipado com aviônica norte-americana da Rockwell e motores F124 da Honeywell. Em 4 de julho de 1997, antes mesmo do voo do protótipo de pesquisa, o governo de Vaclav Klaus ordenou 72 caças leves L-159A. Ao programa foram alocados USD$967 milhões. Naquela época, o governo detinha diretamente 35,34% das ações da Aero Vodochody, com o fundo de investimentos AO Letka tendo 35,66%, e os banco Konsolidacni Bank e Ceska Konsolidacni Agentura com os restantes 29%.
Foto: Grzegorz Sobczak
Em 1996, a empresa Boeing compraria a também norte-americana Rockwell e então imprimiu esforços para assumir o controle da Aero Vodochody. Nas conversas que se seguiram com o novo governo tcheco, a empresa se comprometeu a fazer uma reestruturação, encontrar novos mercados para seus produtos (principalmente o L-159), incluindo sua a introdução do mercado dos EUA. Ela também teria mudar parte da sua produção para a República Checa. Em 17 agosto de 1998, o governo tcheco vendeu por 950 milhões de coroas (aprox. USD$32 milhões na época) sua participação de 35,29% no Aero Vodochody (com 0,05% liquidados para pequenos acionistas) à empresa Boeing Ceska, a qual 90% do seu capital pertencia à Boeing. A empresa norte-americana adquiriu ao mesmo tempo, por 10 anos, o direito de indicar 3 dos 5 assentos no conselho de supervisão da empresa.
Controlada pela Boeing, a Aero Vodochody imediatamente anunciou um atraso nas entregas dos pedidos do L-159A ao governo (o último foi finalmente entregue em 3 de fevereiro de 2004). Foram estabelecidos pedidos simbólicos de peças do caça F/A-18E/F e dos aviões de transporte de passageiros civis 747, 757 e 767. No programa L-159A e L-159B (versão de dois lugares, que voou pela primeira vez em 2002) a Boeing investiu de fato apenas USD$15 milhões. A empresa também não fez quaisquer esforços para obter vendas estrangeiras. No concurso para obtenção dos aviões de treinamento para a Grécia, onde o competitivo L-159 teria grandes chances, não foi oferecido! A empresa norte-americana preferiu oferecer o T-45 Goshawk, produzido nos EUA. A Boeing nem autorizou a companhia a prestar serviço em mais de 100 aeronaves L-39 usadas pelos americanos (sob o pretexto de problemas legais).
Em 2004, após a entrega dos últimos L-159 à força aérea tcheca, sua linha de produção foi fechada, demitindo 400 funcionários. A situação financeira da fábrica se deteriorou rapidamente.
No outono de 2003, o governo tcheco fez a primeira tentativa de recuperar o controle de Aero Vodochody. Em troca de "apoio financeiro" ela tentou entrar no conselho de administração da empresa, sob supervisão do ex-ministro da defesa Jaroslav Tvrdik. Apesar da concessão de garantias de empréstimo no valor de USD$300 milhões os tchecos não conseguiram nada. A Boeing solicitou mais USD$ 250 milhões, e ao mesmo tempo, se opôs à candidatura Tvrdik. Ela também se recusou a por seu ex-adjunto do Ministério da Defesa.
Foto: Aero Vodochody
Com a disputa em curso com o governo tcheco, e não tendo perspectivas de ganhar mais dinheiro, a Boeing sinalizou sua disposição para retirar-se da empresa. Ela exigiu em troca 1 bilhão de coroas, o tanto quanto tinha pago em 1998, ajustado pela inflação. O governo tcheco desta vez não fez concessões. Em 6 de outubro anunciou o resgate de 35,29% das ações por ... 2 coroas. As ações recompradas foram distribuídas entre os acionistas tchecos remanescentes - Letka e CKA. A Aero Vodochody ainda precisou ser salva da falência com um novo empréstimo do governo, no valor de USD$400 milhões.
Depois de recuperar o controle sobre a empresa, o governo ainda estimou as perdas associadas com outra transação - a fabricação de fuselagens do helicóptero Sikorsky S-76C+. Até abril de 2000, foram feitas 105 unidades por USD$230 milhões. Elas deveriam ser entregues em 7 anos. Ao final as fuselagens de S-76C+ foram entregues, entre 2001-2004, por valor bem abaixo do custo de produção perfazendo um prejuízo de 1,2 bilhões de coroas (aprox. USD$40 milhões, cada fuselagem custava mais de um milhão!).
Dos 72 L-159A do pedido original, com uma perda por acidente, apenas 24 agora são operados pela Força Aérea Checa (e 6 deles permanecem na reserva). O resto está armazenado há 5 anos à espera de clientes. Embora estejam equipados com sistemas modernos, não existem compradores dispostos a adquiri-los.
Nos negócios com a Boeing, o governo da República Tcheca acabou por perder mais de um bilhão de dólares!
Em outubro de 2006, as ações resgatadas da Aero Vodochody foram adquiridas por um fundo registrado em Chipre, o Czech-Slovak Penta. Ele pagou 2,91 bilhões de coroas pelo controle da companhia. A Penta também está atualmente participando nas negociações sobre a compra do controle da fábrica de helicópteros polonesa PZL Swidnik.