Reunião inédita. Pilotos da Força Aérea debatem problemas das esquadras de voo
Entre os principais motivos de insatisfação das tripulações está o "desinvestimento na segurança e treino".
O grupo de 99 pilotos da Força Aérea que há cerca de quatro meses aderiu em bloco à Associação dos Oficiais das Forças Armadas, em protesto contra as condições remuneratórias e de trabalho, reúne-se este sábado num hotel de Lisboa para debater os problemas que afetam as esquadras operacionais de voo e propor soluções, soube o Expresso.
Quando, em maio deste ano, a notícia da adesão foi tornada pública, um dos pilotos disse à Lusa, sob anonimato, por estar estatutariamente impedido de falar, que entre os principais motivos de insatisfação das tripulações estava o "desinvestimento na segurança e treino".
"O treino das tripulações é reduzido, há esquadras que voam só metade das horas de voo (segundo os critérios de segurança). Há avarias, aviões parados. Nós nunca dizemos que não voamos, mas não é verdade que não há riscos. Nós sabemos que há riscos", acentuou um outro militar do mesmo grupo.
"No que toca ao treino, é importante ter noção de que, sendo operados sistemas de armas altamente complexos, que exigem uma preparação e uma qualificação elevadíssimas, o treino é fundamental", acrescentou na altura o presidente da AOFA, Manuel Pereira Cracel.
Num comunicado divulgado pela associação a 4 de maio deste ano, podia ler-se: "Para que se tenha uma ideia da atrição verificada, bastará dizer que se passou de 25.000 horas de voo (treino) em 2010 para 15.000 actualmente. Com implicações imediatas, traduzidas na falta de qualificações para o voo das tripulações necessárias e, relativamente aos pilotos que estão qualificados, em deficiente treino considerando as normas Nato, boas práticas e recomendações existentes para esse efeito".
Para a AOFA, esta "situação que vai exponenciando óbvios e testemunhados riscos para a segurança de voo, ao mesmo tempo que àqueles - poucos - a quem são conferidas qualificações se exige esforço e disponibilidade muito além do que seria razoável, sendo-lhes retirada a possibilidade de uma vida minimamente estável e em condições de relativa normalidade, o que dificulta nomeadamente o apoio à família, com - até - o aumento progressivo de divórcios".
No que toca às condições remuneratórias, alertava a associação dos oficiais para a "escassa compensação (um tenente aufere pouco mais de €1.400 mensais)" quando confrontada com "todo um conjunto de responsabilidades [dos pilotos] (defesa aérea, transporte, patrulhamento, fiscalização, busca e salvamento, evacuação sanitária, cooperação no âmbito da protecção civil)".
Em matéria de suplementos, os militares contestavam, por exemplo, o corte na atribuição do suplemento de residência. Este suplemento era atribuído a quem residia a mais de 50 quilómetros do local de trabalho e passou, com o atual governo, a ser atribuído apenas aos militares que residam a mais de 100 quilómetros.
Estas e outras questões deverão ser debatidas este sábado em Lisboa, estando desde já prometida a apresentação de soluções.
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