Japão tem terceira explosão no complexo nuclear de Fukushima
Com problemas de resfriamento e barras de combustível expostas, reator 2 teve explosão no reservatório na manhã de terça-feira
iG São Paulo | 14/03/2011 20:48 - Atualizada às 21:45
Autoridades da agência nuclear japonesa anunciaram na terça-feira (horário local) uma nova explosão no complexo nuclear de Fukushima Daiichi. A explosão, a terceira nas instalações do complexo, ocorreu em parte do reator 2 por volta das 6h10 de terça-feira (por volta das 18h10 em Brasília).
Antes dessa, os reatores 1 e 3 já haviam sofrido explosões decorrentes dos problemas ocasionados pelo terremoto de sexta-feira. A explosão que destruiu parcialmente o retor 2 seguiu as duas explosões anteriores, enquanto autoridades se esforçam para prevenir o Japão de um vazamento nuclear ainda maior na área devastada.
O governo precisou que a explosão destruiu o reservatório do condensador do cilindro de confinamento concebido para impedir vazamentos radioativos em caso de acidente.
É a primeira vez que é citado um dano no cilindro do reator da central de Fukushima 1, atingida por uma série de problemas causados pelo terremoto seguido de tsunami no nordeste do Japão.
Houve explosões em dois outros reatores desta usina, sábado e segunda-feira. Nos dois casos, a deflagração, devido ao escapamento de hidrogênio, danificou ou destruiu o prédio externo do reator, mas sem atingir o núcleo da instalação, segundo o governo.
Na segunda-feira, barras de combustível no reator 2 ficaram expostas, informou a operadora da usina no nordeste do Japão, a Tokyo Electric Power Co. (Tepco). Os índices de água para resfriamento em volta do núcleo do reator baixaram após a explosão do reator 3 da usina, que destruiu o teto e as paredes da instalação. Segundo a agência Jiji, a possibilidade do derretimento das barras de combustível não poderia ser descartada, com a fusão parcial do núcleo de um dos reatores.
A estação de bombeamento que permite manter submersas as barras de combustível parou de funcionar, o que reduziu o nível de água no reator e manteve 3,7 metros das barras de combustível (que têm 4 metros) expostas até a noite de segunda-feira (horário local). As barras voltaram a ficar expostas posteriormente.
Diante dessa situação, a empresa tentou usar água do mar diretamente no reator para afundar as barras de combustível nuclear e conter o eventual processo de fusão. O reator 2 foi o terceiro da usina nuclear de Fukushima a sofrer uma pane no seu sistema de resfriamento. A segunda explosão atingiu o reator número 3 de Fukushima, dois dias depois de um incidente semelhante envolvendo o reator número 1. O incidente deixou 11 feridos, um deles em estado grave. Mas as autoridades afirmaram que o reator número 3 resistiu ao impacto. O núcleo da estrutura teria permanecido intacto e os níveis de radiação, abaixo dos limites considerados legalmente perigosos.
Ainda assim, dezenas de milhares de pessoas foram retiradas das proximidades da instalação e 22 estão sob tratamento por exposição à radiação. O governo informou que o sistema de bombeamento de água do mar para os reatores permanece em operação apesar da última explosão. No fim de semana, técnicos trabalharam para resfriar os três reatores da usina Fukushima 1, que tiveram problemas em seu sistema de resfriamento após o terremoto e o tsunami na sexta-feira.
O porta-voz do governo, Yukio Edano, afirmou que há baixa possibilidade de contaminação por radiação por conta da última explosão. Especialistas creem que é improvável uma repetição do desastre nuclear das proporções de Chernobyl, em 1986, porque os reatores atuais são construídos com padrões mais elevados e sob medidas de segurança mais rigorosas.
Autoridades ressaltaram que a radioatividade está acima do normal em Ibaraki, entre Fukushima e Tóquio.
O acidente nuclear de Fukushima alcançou um nível de gravidade maior do o de Three Mile Island, em 28 de março de 1979, mas não chegou ao nível de Chernobyl, de 1986, afirmou o presidente da Autoridade Francesa de Segurança Nuclear (ASN), André-Claude Lacoste. "Temos a impressão de que estamos pelo menos em nível 5 ou nível 6 (de uma escala de 7)", indicou Lacoste à imprensa. "É algo além de Three Mile Island (nível 5) sem alcançar Chernobyl (nível 7). Estamos com toda certeza num nível intermediário, mas não se pode descartar que podemos chegar a um nível da catástrofe de Chernobil", acrescentou.
Ajuda
Tambpem na segunda-feira, o governo japonês solicitou formalmente aos Estados Unidos ajuda para resfriar os reatores nucleares danificados pelo terremoto no Japão na semana passada, informou nesta segunda-feira a Comissão Reguladora da Energia Nuclear (NRC) americana.
Em entrevista coletiva na Casa Branca, o presidente da comissão, Gregory Jaczko, indicou que a NRC respondeu ao pedido e pode fornecer assistência técnica. A NRC já conta com dois técnicos presentes no Japão, que têm como missão informar à embaixada americana sobre o desenvolvimento dos eventos dentro de uma equipe da Agência Internacional americana para o Desenvolvimento (USAID). "É uma situação séria e seguiremos fornecendo toda a assistência que for solicitada", declarou Jaczko.
Tanto Jackzo como o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, asseguraram que apesar do ocorrido no Japão, o governo não mudará sua política de apoio à energia nuclear, um dos pilares da estratégia energética do presidente Barack Obama para reduzir a dependência do petróleo estrangeiro.
Nesse sentido, o presidente da comissão indicou que as usinas nucleares americanas são construídas para suportar todo tipo de desastres naturais, incluindo tsunamis e terremotos. Carney não quis pronunciar-se, no entanto, sobre se essas construções estão preparadas para resistir um terremoto similar ao ocorrido no Japão. A energia nuclear, declarou por sua parte Carney, "continua sendo parte do plano energético do presidente... É uma parte essencial para alcançar padrões de energia limpa".
Previamente, em discurso em um centro de Ensino Médio, Obama havia reiterado que os Estados Unidos continuarão oferecendo toda a assistência possível ao Japão após o devastador terremoto registrado na semana passada. "Sigo desconsolado pelas imagens da devastação no Japão", indicou o presidente americano ao iniciar um discurso sobre a reforma educativa em uma escola de Arlington, na Virgínia.
De acordo com o jornal americano The New York Times, as operações de emergência do Japão para conter a crise no complexo nuclear de Fukushima Daiichi fracassaram na terça-feira de manhã (horário local), aumentando os riscos de um vazamento de material radioativo maior. O reator número 2 de Fukushima Daiichi voltou a ficar instável apesar da injeção de água salgada em seu contêiner secundário para tentar resfriar o núcleo e impedir uma fusão que emita radioatividade.
Devastação
Uma gigantesca operação foi posta em marcha para resgatar os mortos e desaparecidos no desastre natural. A repórter da BBC Rachel Harvey, que está na cidade portuária de Minami Sanriku, disse que as águas avançaram cerca de 2 km terra adentro, devastando a paisagem com destroços.
A repórter disse que o cenário é de extrema devastação e é improvável que haja muitos sobreviventes. Até agora foram confirmados 1.833 mortos, mas o número final deve ser muito maior. A agência de notícia Kyodo News afirmou que foram encontrados cerca de 2 mil corpos na região administrativa de Miyagi nesta segunda-feira, mas os números não foram confirmados oficialmente.
Em Sendai, capital de Miyagi, a 300 km de Tóquio, as equipes de resgate também estão encontrando cenas de devastação. Réplicas do terremoto de sexta-feira estão sendo registradas na capital japonesa.
Crise
Mais cedo, o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, anunciou que o país passará a enfrentar cortes no fornecimento de energia. Depois, o governo decidiu adiar os cortes até ficar claro qual será a economia de energia nas residências.
As autoridades estão aconselhando os cidadãos a não ir para o trabalho nem levar seus filhos à escola, para evitar sobrecarregar a debilitada capacidade do sistema de transporte público. O premiê disse que o desastre mergulha o país "na crise mais grave desde a Segunda Guerra Mundial".
Estimativas preliminares elevam os custos de recuperação da tragédia em dezenas de bilhões de dólares - um forte golpe para o país, em um momento em que a economia mundial dá sinais de retomada. O governo afirmou que injetará 15 trilhões de ienes na economia japonesa (mais de US$ 180 bilhões) para dar um sinal positivo para o mercado financeiro, que abriu em queda nesta segunda-feira.
*Com BBC, Reuters, EFE e AFP
Fonte:
IG