GustavoB escreveu:Gostei e postei.
A CAPA DA "VEJA", O PADRE VIEIRA E A "INFALIBILIDADE" DOS CONVERTIDOS
Atualizado em 21 de setembro de 2008 às 20:38 | Publicado em 21 de setembro de 2008 às 20:19 (Luiz Carlos Azenha)
A capa da Veja pressupõe que Tio Sam tenha salvado mesmo àqueles que não precisavam de salvação. Eu, por exemplo, que não ganhei dinheiro com a especulação de Wall Street. Ou você que me lê.
O argumento é mais ou menos o seguinte: mesmo que você não se importe com isso ou que não acredite nisso, foi salvo pelos Estados Unidos. O dedo na cara do leitor é uma forma de intimidação intelectual muito cara aos neocons norte-americanos. Lá na metrópole eles estão desmoralizados, mas aqui resistem bravamente e intimam o leitor: "Acredite em mim ou você vai se dar mal!"
O jornalismo de Veja é o equivalente brasileiro do realismo socialista ou do realismo fantástico. Nele tudo o que Evo Morales fizer representa atraso; tudo o que vier de Washington representa avanço. Verdade factual? Quem quer saber dela se podemos fabricar nossa própria verdade? Luís Nassif definiu como parajornalismo, que é do que se trata: a criação de uma realidade paralela, em que Daniel Dantas é um empresário perseguido pelas forças maléficas do Estado brasileiro, Gilmar Mendes é o defensor dos fracos e oprimidos, os petralhas vagam pelas avenidas feito chupa-cabras.
É tão divertido -- para não dizer trágico -- quanto o padre Vieira, ao justificar o tráfico de escravos entre a África e o Brasil, com o qual os jesuítas faziam dinheiro: "Oh, se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e a sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!" (De um de meus livros de cabeceira, o Trato dos Viventes, de Luiz Felipe de Alencastro).
O dia que eu tiver tempo gostaria de explorar o que há em comum na crença dos jesuítas, dos trotskistas e dos neocons -- inclusive a versão mais vulgar representada por Reinaldo Azevedo e a turma da Veja -- na infalibilidade intelectual dos convertidos. Eles falam e escrevem com tanta certeza que parecem iluminados por alguma divindade.
1) O Azenha tem um dos melhores textos dos blogs, ao qual se acresce sua bagagem de experimentado repórter. Ele, o Bob Fernandes, o Sérgio Léo (tremendo sacana), o Hermenauta e o Alon Feurwerker (blog do Alon) conseguem conciliar a crônica do cotidiano (de resto, uma tradição brasileira) com interessantes análises da mídia, política e economia.
Não li a Veja desta semana (vou filar a do meu velho, daqui a pouco), mas o Azenha realizou um interessante texto de combate, bwana ...
2) Voltando ao tópico, muito legal a entrevista dada ontem no Estadão pelo Juiz Federal Moro, um dos grandes luminares do direito penal pátrio. Um cara jovem, íntegro, e que comanda a Vara Criminal Federal de Combate à Lavagem de Dinheiro e Crime Organizado, em Curitiba. Foi um dos caras que ajudou a mostrar os intestinos da Operação Banestado. Sutilmente, negou as críticas do Mendes, dizendo dos excessos de críticas ad hominem dos advogados, asseverando ao final não se mostrar fácil ser juiz criminal no Brasil.
Tem função parecida com o De Sanctis. Juízes jovens, íntegros, que praticam o direito penal mais moderno aqui no Brasil. Palavras do Gilson Dipp, atual Corregedor Geral, lotado no STJ.
Há esperanças, pessoal. O Dantas e seus acólitos jogaram mui pesado, arriscaram tudo. Mas há uma sutil resistência, mostrada de maneiras diversas. Agentes políticos têm se insurgido, ainda que longe dos holofotes. Como o Alcmartim falou, tem peixe grande que vai morrer pela boca. Resta torcer que a mídia se deixe pautar pelo interesse público, pelo SUBSTANTIVO, não pelo adjetivo, parando de verberar as estratégias de defesa dos advogados do Crime de Colarinho Branco.
3) Alguma novidade dos recentes terabytes do Dantas ?
Salu2, alexandre.
"Em geral, as instituições políticas nascem empiricamente na Inglaterra, são sistematizadas na França, aplicadas pragmaticamente nos Estados Unidos e esculhambadas no Brasil"