Participam vários negacionistas da ShoahConferência no Irão sobre o Holocausto condenada de Paris a Washington 12.12.2006 - 12h45 Dulce Furtado /
http://www.publico.clix.pt/ O chefe da diplomacia iraniana, Manoucher Motakki, inaugurou ontem, em Teerão, uma controversa conferência sobre o Holocausto que termina hoje.O simpósio "científico, sem propósitos políticos" - insistiu Motakki, cujo ministério organiza o evento -, pretende dar resposta "às perguntas" feitas pelo Presidente da República Islâmica, Mahmoud Ahmadinejad, defensor de que o genocídio de judeus durante a II Guerra Mundial constitui um "mito" instrumentalizado para justificar a criação de Israel, Estado que Ahmadinejad quer ver "varrido do mapa".
Motakki asseverou que "o objectivo da conferência não é negar o Holocausto nem provar a sua existência, mas oferecer aos investigadores europeus a oportunidade de darem os seus pontos de vista sobre este fenómeno histórico", em referência aos revisionistas não iranianos convidados a participar no evento.
A conferência conta com 67 "peritos" oriundos de 30 países e que, na grande maioria, negam o Holocausto.
Entre estes está o antigo líder do Ku Klux Klan e ex-congressista norte-americano David Duke e o ex-académico francês Robert Faurisson, este último condenado em várias ocasiões pela justiça francesa por negar o Holocausto - prática que constitui crime em 11 países incluindo a França, Alemanha, Áustria e Holanda.
Em declarações ontem feitas à AFP, Faurisson explicou por que está a participar na conferência: "Aqui é possível discutir algo que não podemos debater no mundo ocidental."
Outro revisionista, o australiano Fredrick Toben, que passou vários meses preso na Alemanha, em 1999, pelo crime de "incitamento ao ódio racial", vai apresentar um estudo intitulado
O Holocausto: Uma arma do crime, no qual defenderá a tese de que a morte de milhões de judeus nas câmaras de gás nazis constitui uma "mentira absoluta".
Na conferência participam também "peritos" iranianos, assim como membros de organizações judaicas anti-sionistas, como a Naturei Karta, que rejeitam a existência de Israel com o argumento de que a formação do Estado só pode acontecer depois do regresso do Messias, sob pena de violar a lei judaica.
Simpósio "nauseabundo"O primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, instou ontem toda a comunidade internacional a protestar contra a conferência de Teerão, que qualificou de "nauseabunda". Em simultâneo, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, e vários líderes europeus manifestaram desagrado à iniciativa iraniana.
Paris exprimiu "inquietude", Washington qualificou o evento como "um gesto vergonhoso". Berlim condenou veementemente "aqueles que dão um fórum [de discussão] aos que desvalorizam e põem em causa o Holocausto".
Na Alemanha, aliás, um vasto grupo de investigadores de vários países denunciaram as teorias revisionistas e o anti-semitismo durante uma conferência - organizada em resposta à de Teerão - que teve por objectivo "fazer uma declaração" contra o Presidente iraniano, referiu ontem o académico norte-americano Raul Hilberg, historiador emérito do Holocausto, citado pela AFP.
Os historiadores participantes reiteraram ali a ocorrência do genocídio de seis milhões de judeus durante o Holocausto e questionaram as intenções pelas quais o simpósio de Teerão foi feito.
"[Esta conferência] é uma piada doentia e espero que seja recebida com repugnância em todo o lado", disse o romancista israelita Amos Oz, renomado activista pela paz.