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Mensagem
por Lauro Melo » Ter Jan 18, 2005 12:16 pm
Lula se dispõe a atuar como mediador
Brasil ajudará a achar solução para crise se a Colômbia ou a Venezuela pedir
AP, EFE e AFP
BRASÍLIA - O governo brasileiro anunciou ontem a disposição de atuar como mediador em busca de uma solução para a crise entre Colômbia e Venezuela, caso receba um pedido direto de alguma das partes envolvidas. "Neste momento, no que diz respeito à relação entre a Venezuela e a Colômbia, o Brasil está disposto a ajudar se for solicitado por um dos países ou por ambos", afirmou o porta-voz do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, André Singer, em entrevista coletiva na noite de ontem no Palácio do Planalto, em Brasília.
O porta-voz destacou, entretanto, que o Brasil espera que seja encontrada uma solução bilateral para a crise. O governo entende que, hoje, a questão está dentro das relações entre esses dois países", disse Singer.
Lula se reunirá amanhã na fronteira entre o Brasil e a Colômbia com o presidente colombiano, Álvaro Uribe, e, segundo fontes brasileiras, a crise entre Bogotá e Caracas deverá ser o tema principal do encontro. Em 14 de fevereiro, Lula deverá realizar uma visita oficial a Caracas, na qual também poderia tratar do assunto com o presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Nem a Colômbia nem a Venezuela fizeram pedido oficial, mas a mediação do governo Lula tem sido sugerida nos dois países. A mais recente proposta nesse sentido foi feita num artigo publicado ontem pelo analista político venezuelano Teodoro Petkoff no vespertino TalCual. No artigo, Petkoff, ex-ministro do Planejamento da Venezuela, afirmou que Lula poderia desempenhar o papel de mediador.
Na Colômbia, o presidente do Partido Conservador, Carlos Holguín Sardi, propôs que o presidente brasileiro seja o mediador de um encontro entre Uribe e Chávez.
Em Brasília, o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que no momento o caso está sendo tratado apenas pela Colômbia e Venezuela, mas destacou que, se houver um pedido por parte daqueles países, o governo brasileiro está disposto a ajudar.
"O governo tem atuado de forma aberta em alguns casos, no sentido de inibir situações de tensão, mas sempre quando solicitado", destacou Marco Aurélio. Ele lembrou que, há alguns meses, Bolívia e Chile tiveram problemas por conta da antiga divergência sobre a saída para o mar. Na ocasião, representantes brasileiros foram a esses países, que também enviavam missões ao Brasil.
O assessor presidencial afirmou, porém, que o encontro entre Lula e Álvaro Uribe em Tabatinga (AM), amanhã, não será para tratar da crise colombiano-venezuelana. "Será uma oportunidade para discutir assuntos de cooperação econômica", declarou, acrescentando que a reunião entre os presidentes já estava marcada havia muito tempo. Marco Aurélio disse que o assunto também não foi abordado na conversa telefônica que Lula manteve com Chávez.
A deputada federal Maria José Maninha (PT-DF), que presidente a Comissão de Política Externa da Câmara dos Deputados, recomendou cautela em relação à crise bilateral. "Por enquanto, o papel do Brasil tem de ser o de observar atentamente e, só no caso de que a situação se agrave, servir talvez como uma espécie de mediador", assinalou a deputada. "O Brasil tem de ser muito cuidadoso, este é um assunto de dois países e, antes de fazer algo, têm de esgotar-se (os esforços) nas instâncias bilaterais", acrescentou.
Colômbia: ministro oferece renúncia
Uribe, titular da Defesa, diz que deixa o cargo se isso ajudar a solucionar crise diplomática com a Venezuela
Reuters, France Presse e Associated Press BOGOTÁ - Depois de admitir que seu país pagou uma recompensa para as pessoas que capturaram um dirigente da guerrilha Forças Armadas Revolucionária da Colômbia (Farc) em território venezuelano, o ministro da Defesa colombiano, Jorge Alberto Uribe, disse-se ontem disposto a renunciar se isso ajudar a resolver o caso. Uribe - que não tem parentesco com o presidente do país, Álvaro Uribe - declarou que a crise com a Venezuela é "tema de maior importância". "Só não podemos deixar que se apresente como seqüestro a captura de alguém que tem um longuíssimo histórico de seqüestrador."
A crise teve origem em dezembro, quando o "chanceler" das Farc, Rodrigo Granda, desapareceu em Caracas. Dias depois, sua prisão foi anunciada pela Colômbia. Na semana passada, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, suspendeu todos os laços comerciais e diplomáticos com os colombianos, exigindo desculpas públicas do presidente Uribe.
Ontem, o governo da Colômbia havia prometido aportar provas sobre a presença de sete líderes das Farc - que os EUA consideram "organização terrorista". O governo do Peru se ofereceu para mediar a crise entre os dois países.
Um fonte do governo colombiano citada pela agência France Presse afirmou ontem que o nome de Granda estava incluído numa lista de procurados pela Interpol desde janeiro de 2004.
EDITORIAL
Está na hora de conter Chávez
Enganou-se o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, se contava intimidar o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, retirando o seu embaixador de Bogotá e suspendendo as relações comerciais entre os dois países até receber desculpas formais pela prisão, ao que tudo indica, em Caracas, do líder guerrilheiro das Farc, Rodrigo Granda. Granda, conhecido como o "chanceler" da guerrilha, havia participado, nos dias 8 e 9 de dezembro, de um Congresso Bolivariano em Caracas, onde vivia há dois anos. No dia 13, foi detido por caçadores de recompensa e enviado à cidade fronteiriça de Cucuta, onde foi entregue às autoridades colombianas. Na semana passada, o coronel Hugo Chávez chegou a um passo do rompimento de relações diplomáticas com a Colômbia.
O presidente Alvaro Uribe, num primeiro momento, propôs reunir-se com Chávez, numa cúpula que contaria com a presença de outros chefes de governo da região, para discutir o tratamento a ser dado à guerrilha e ao terrorismo que conflagram a Colômbia há quatro décadas. Chávez, obviamente, recusou esse tipo de confronto, que o deixaria em posição de inferioridade, e insistiu num encontro bilateral, depois das desculpas formais do governo colombiano pela alegada violação de soberania. No domingo, o presidente Uribe voltou à carga. Além de não pedir desculpas, declarou ser a Colômbia o país ofendido no episódio. E comunicou que entregará ao governo venezuelano, além das provas de que Rodrigo Granda tinha a proteção do regime bolivariano - informa-se que o "chanceler", ao ser preso, portava documentos e passaportes venezuelanos -, informações sobre a presença de terroristas colombianos em território venezuelano, entre eles sete líderes das Farc, e dados sobre a localização, na Venezuela, de vários acampamentos guerrilheiros.
Mais que isso, o governo colombiano anunciou ser, agora, política de Estado o pagamento de recompensa sobre o paradeiro de todos os líderes das Farc, onde quer que se encontrem. E, apoiado pelo Departamento de Estado, quer que o coronel Hugo Chávez esclareça, com toda a nitidez, o seu relacionamento com organizações subversivas do continente.
Chávez, de fato, tem tentado exportar a "revolução bolivariana", e nisso não distingue partidos políticos de oposição, que tentam chegar ao poder por meios pacíficos, de grupos armados revolucionários. Há anos, Chávez vem sendo acusado de dar abrigo às "frentes" das Farc, permitindo o funcionamento de campos de treinamento, refúgio e repouso no lado venezuelano da fronteira. Há dias, a imprensa peruana noticiou que as autoridades locais tinham sólidos indícios de que um Centro Bolivariano auxiliara com cerca de US$ 100 mil o major Antauro Humala, líder de um nebuloso movimento etnocacerista - em referência ao general Cáceres, herói da independência peruana -, que tomou uma cidade no sul do país, matando cinco policiais, antes de ser preso.
Chávez tentou dois golpes de Estado, antes de ser eleito em pleito normal. Uma vez eleito, passou a usar métodos copiados da primeira etapa do hitlerismo para acumular poder. Essa prática recrudesceu depois da vitória no referendo de agosto do ano passado. Primeiro, fez o Congresso - que controla - aprovar uma lei que amordaça os meios de comunicação e considera crime contra o Estado qualquer manifestação pública contra o governo. Em dezembro, completou o processo de subjugação do Judiciário, nomeando para a Suprema Corte 17 de seus partidários. Há dias, iniciou um processo de reforma agrária, expropriando "manu militari" propriedades produtivas.
Os países andinos - Peru, Equador e Bolívia - estão passando por graves crises econômicas, sociais e de governabilidade, das quais Chávez se aproveita para exportar a sua "revolução bolivariana", que, apesar das íntimas ligações do coronel com Fidel Castro, parece mais uma forma primitiva de fascismo. Só uma coisa é certa: o "bolivarianismo" de Chávez é um movimento antidemocrático, autoritário, com tendência totalitária. E o desprezo de Chávez pela democracia está demonstrado na mensagem anual que encaminhou ao Congresso, na semana passada. Ao dizer que está seguro de sua reeleição em 2006 - o que lhe garantiria o poder até 2013 pelas regras atuais, que, como já se viu, podem ser mudadas à sua vontade -, afirmou: "A alternância de poder não é indispensável nos sistemas políticos."
Está na hora de os países do hemisfério se unirem para conter esse caudilho megalômano que se pretende a reencarnação de Simon Bolívar.
"Os guerreiros não caem se ajoelham e levantam ainda mais fortes."
TOG: 22 anos de garra, determinação e respeito.