Enviado: Ter Mar 28, 2006 12:00 pm
por Clermont
TOCAIEIROS DA RÚSSIA - DOS ANOS 1950 ATÉ A PRIMEIRA GUERRA CHECHENA.
Por by Lester W. Grau, Charles Q. Cutshaw.
Em 1952, a União Soviética fechou seu sistema nacional de escolas de tocaieiros, embora o ensino de pontaria continuasse a ser ministrado aos cidadãos, através dos Jovens Pioneiros, grau obrigatório das classes fundamentais e secundárias e a difusão dos clubes de esportes civis, os DOSAAF (Organização Voluntária para o Apoio aos Exército, Força Aérea e Marinha Soviéticos). O “treinamento de tocaieiros” era limitado aos conscritos nas forças terrestres, forças do interior e do KGB, mas isso era, realmente, treinamento avançado de pontaria. As forças terrestres continuaram a salientar a importância do fogo automático supressivo (com o conseqüente alcance efetivo mais curto). A necessidade de fogo de armas leves de alcance mais longo foi reconhecido, e um “tocaieiro” fazia parte de cada pelotão de fuzileiros motorizados. Um observador, que era um dos fuzileiros do pelotão, apoiava esse tocaieiro ou escaramuçador conscrito.
Depois de 1963, os tocaieiros soviéticos começaram a treinar com os novos fuzis de tocaia semi-automáticos Dragunov (SVD) de 7,62 x 54R mm. Esse fuzil de dez tiros, monta uma luneta PSO-1 de quatro aumentos e é calibrado para além de 1300 metros, mas não é muito efetivo além dos 800 metros. O SVD não é, de modo nenhum, tão rústico e amigo do soldado quanto a família Kalashnikov de armas leves. Semelhante a muitas armas leves ocidentais, ele exige cuidadosa limpeza e irá enguiçar facilmente quando sujidade ou areia entrar em seu mecanismo. Como o velho Mosin-Nagant, a luneta SVD também é montada de tal modo que o atirador tenha a opção imediata de utilizar mirar abertas para tiros aproximados.
Até 1984, o treinamento de tocaieiros (atiradores selecionados) era conduzido ao nível regimental por oficiais do regimento que eram atiradores competentes. Eles ensinavam que os principais alvos para os tocaieiros eram oficiais inimigos, observadores avançados, cameramen de televisão; guarnições de tanques danificados, de mísseis antitanque, de canhões sem recuo, de metralhadoras; e helicópteros em vôo baixo.
Os tocaieiros eram selecionados a partir de conscritos que fossem fisicamente aptos, inteligentes, com boa acuidades visual e auditiva, e de reações rápidas. Os candidatos tinham de atingir, com consistência, um alvo a 300 metros, utilizando miras de ferro. Os candidatos a tocaieiros eram treinados para observar um setor de 200 x 1000 metros. As escolas regimentais de tocaieiros conduziam treinamentos de reforço a cada seis ou oito semanas. No início dos anos 1970, o treinamento de reforço podia durar por cinco ou seis dias. Esses cursos de curta duração cobriam o básico e, com freqüência, serviam como curso principal de tocaieiros, também.
Normalmente, um tal programa produzia alguns excelentes atiradores de precisão, mas não os tocaieiros dos batalhões da Segunda Guerra Mundial, experimentados e hábeis em organização do terreno. Esses “tocaieiros” não tinham uma verdadeira missão de tocaieiro. Outros regimentos desenvolviam mais extensos programas de tocaieiros, tais como o curso de tocaieiros de 24 dias.
Tais cursos, como o de 24 dias, eram exceções, e a maioria dos tocaieiros soviéticos era, realmente, composta de atiradores selecionados, com uma arma atraente, mas não particularmente eficiente. A guerra no Afeganistão enfatizou a necessidade por bem treinados tocaieiros e expôs a mediocridade de muitas escolas regimentais de tocaieiros. Em 1984, escolas de tocaieiros militares foram consolidadas ao nível dos exércitos e, em 1987, posteriormente consolidadas ao nível dos distritos militares. Os cursos, normalmente, duravam um mês. Os tocaieiros retiraram algumas lições da guerra no Afeganistão e incorporaram técnicas de trabalho no terreno e equipamentos dessa guerra. Por exemplo, como resultado dela, os tocaieiros, com freqüência, passaram a utilizar o bipé de uma metralhadora leve RPK para firmar seus SVDs.
As Guerras Chechenas
As guerras na Chechênia, enfatizaram o valor dos tocaieiros. Os chechenos confrontaram os russos em combate de rua, em Grozny e logo, os tocaieiros chechenos cobraram terrível tributo das forças russas. O combate estacionário, travado de edifícios desabados, assemelhava-se aos combates por Stalingrado. Dessa vez, no entanto, os “tocaieiros” russos estavam em desvantagem. Eles eram treinados para lutar como parte de um grupamento de ataque de armas combinadas, que deveria avançar rapidamente contra uma força defensora convencional. Os tocaieiros russos não estavam preparados para caçar por entre as ruínas e para ficar emboscados, durante dias sem fim. Os chechenos, por outro lado, conheciam o terreno e tinham fartura de armas de tocaieiros.
O Exército russo deixou para trás 533 fuzis de tocaia SVD, quando se retirou da Chechênia em 1992. Alguns dos chechenos e seus aliados, armados com SVDs eram desdobrados como autênticos tocaieiros, enquanto outros reuniam-se em células de três ou quatro combatentes, consistindo de um atirador de lança-rojão RPG, um metralhador e um atirador selecionado com SVD, e talvez um municiador armado com fuzil de assalto Kalashnikov. Essas células eram bem eficientes como equipes de caçadores de tanques. O fogo do SVD e da metralhadora iria reter a infantaria de apoio, enquanto o RPG engajaria a viatura blindada. Com freqüência, quatro ou cinco células iriam trabalhar juntas contra uma única viatura blindada. Uma vez que a luta se movesse para longe das cidades, para dentro das montanhas, tocaieiros chechenos tentavam engajar forças russas a longas distâncias de 900 a 1000 metros, embora o terreno e vegetação, freqüentemente, limitassem o alcance de engajamento deles. Afastados das cidades, os tocaieiros chechenos, normalmente, operavam como parte de uma equipe – o tocaieiro mais um elemento de apoio de quatro homens, armados com fuzis de assalto Kalashnikov. O elemento de apoio, normalmente, se posicionava a cerca de 500 metros, por trás do tocaieiro. Esse iria disparar um ou dois tiros contra os russos e então, mudar de posição de fogo. Se os russos disparassem contra o tocaieiro, o elemento de apoio iria atirar, aleatoriamente, para atrair o fogo contra si e permitir a escapada do tocaieiro.
As forças armadas russas tinham atiradores selecionados equipados com SVD, mas poucos tocaieiros de verdade disponíveis para a primeira guerra chechena. Eles confiavam em tocaieiros das unidades de operações especiais do MVD (Ministério do Interior) e do FSB (sucessor do KGB). Esses tocaieiros eram bem treinados, mas acostumados a operar em cidade contra alvos tipo SWAT. Eles não eram bem treinados em camuflagem no terreno, tiro de tocaia em montanhas, ou em terrenos agrestes. Eles, claramente, não estavam treinados para tocaiar onde o outro lado estivesse conduzindo ações anti-tocaieiro, ou onde projéteis de artilharia ou de morteiros estivessem caindo.
Enviado: Sáb Abr 01, 2006 1:01 pm
por Clermont
TOCAIEIROS DA RÚSSIA - O FIM DAS GUERRAS CHECHENAS, PRESENTE E FUTURO.
Por by Lester W. Grau, Charles Q. Cutshaw.
A primeira guerra chechena terminou mal para os russos, em 1996, e eles retornaram em 1999 para outro esforço. Os russos copiaram algo do dever de casa dos chechenos e começaram a formar seus próprios destacamentos de caçadores-matadores de dois ou três homens. Várias combinações de uma metralhadora, atirador de RPG, atirador de SVD e homens com fuzis de assalto, formavam destacamentos de caçadores-matadores que se movimentariam junto com outros destacamentos para combater os chechenos. O movimento desses destacamentos tinha de ser controlado e coordenado para fornecer um apoio mútuo e ação sincronizada.
No verão de 1999, o Exército russo reestabeleceu uma verdadeira escola de tocaieiros. O Exército conduziu uma competição de tiro, exclusivamente da corporação, para oficiais e conscritos. Foram selecionados 12 atiradores dos primeiros 52, para a classe inicial de tocaieiros. O curso salientava a pontaria, o trabalho no terreno, leitura de mapas e terminava com um exercício de tiro real de um mês inteiro, na Chechênia, operando nas montanhas em volta de Barmut. O alcance médio de tiro que os tocaieiros russos estavam realizando estava em volta de 400 metros, mas a nova escola de tocaieiros não tinha solucionado o problema dos tocaieiros do Exército. As baixas tinham de ser substituídas. Três dos doze homens da primeira classe graduada foram mortos em ação. Quatro tocaieiros da segunda classe foram hospitalizados com ferimentos. A maioria dos tocaieiros era de conscritos com dois anos de serviço, aos quais só restava, na maioria dos casos, um ano de serviço, quando foram selecionados e treinados.
Além dos tocaieiros militares dos quadros de organização das unidades de infantaria, que eram empregados como atiradores selecionados, a guerra na Chechênia viu o retorno dos tocaieiros de elite que eram parte das reservas especiais do governo e caçavam os chechenos. Esses tocaieiros evitavam portar suas armas em público, já que não desejavam que os habitantes locais os identificassem como parte da força de tocaieiros de elite. Os tocaieiros trabalhavam como parte de uma equipe – dois deles mais um elemento de segurança de cinco homens armados com fuzis de assalto Kalashnikov. Os tocaieiros entravam e saiam de posição à noite. Eles normalmente eram levados à área por batedores que a conhecessem. Os tocaieiros selecionavam suas posições à noite, mas as preparavam durante o dia. Essa preparação incluia escavação, camuflagem da posição, limpeza de áreas de fogo, e melhoramentos da posição. Ao contrário da Segunda Guerra Mundial, o par de tocaieiros não ocupava a mesma posição, ficando seus componentes a alguma distância afastados, onde eles pudessem ver um ao outro e a área de emboscada. Eles se posicionavam a cerca de 200 a 300 metros da área de emboscada, enquanto o grupo de apoio se posicionava cerca de 200 metros à retaguarda dos tocaieiros, e 500 metros para o lado. A equipe de tocaieiros permanecia em posição por uma ou duas noites.
O tocaieiro portava seu fuzil de tocaia, como também um fuzil de assalto ou submetralhadora para combate cerrado. Ele também carregava um dispositivo de observação noturna, rações secas, uma pistola de sinalização com sinal vermelho, uma granada de mão, e uma pá. Algumas vezes, ele também carregava um rádio. Nas montanhas, ele carregava um bastão de esquiador, para ajudar na escalada. Ele utilizava uma máscara para ocultar o tom da pele. Os tocaieiros não tinham intenção de ser capturados. Se o grupo de apoio falhasse em cobrir a retirada dos tocaieiros, o sinal vermelho traria fogo de artilharia sobre sua posição, e a granada de mão iria dar cabo do tocaieiro e de seus atacantes, simultaneamente *.
Os tocaieiros de elite não são conscritos do MVD ou FSB, mas pessoal profissional de contrato extenso e oficiais de grau de companhia. Boris K. é um sargento-superior que serviu como tocaieiro por dois anos, enquanto estava com os pára-quedistas no Afeganistão. Ele se graduou na escola de tocaieiros pára-quedistas e foi condecorado com a “Ordem da Estrela Vermelha” e a “Medalha por Mérito em Combate” pelo serviço no Afeganistão. Embora combatesse sozinho no Afeganistão, ele sempre combateu ao lado de outro tocaieiro profissional na Chechênia. Ele também selecionava o pessoal de seu grupo de apoio e, dependendo da missão, o tamanho deste podia se expandir para 16 homens. Os tocaieiros profissionais, freqüentemente, se afastavam do combate, em rodízio, para serem mantidos descansados.
Os tocaieiros de elite (profissionais) do MVD e do FSB são treinados nas instalações do Destacamento de Transporte Hidroviário da Polícia Especial, próximo a Moscou. Unidades especiais famosas, tais como o Destacamento Alfa do FSB e o Destacamento Vympel do MVD, também treinam lá, com regularidade. A escola e seus graduados recebem os mais recentes equipamentos de tocaieiros para testes de campanha, mas a maioria se agarra aos SVD com silenciador. Os tocaieiros profissionais na Chechênia agem sob o princípio de matar o inimigo mais perigoso primeiro. Esse é, normalmente, um tocaieiro inimigo ou um atirador de lança-chamas balístico RPO-A. Os metralhadores e atiradores de RPG, normalmente, são os próximos, seguidos pelos fuzileiros. Um tocaieiro profissional, normalmente, é equipado com um traje de camuflagem (ghillie), um fuzil de tocaia, uma submetralhadora, binóculos, um rádio, uma faca multifunção, uma ferramenta de trincheira, uma veste de combate porta-cargas, uma mochila. Um laser range finder e um periscópio também são recomendados.
Há uma porção de atividade no desenvolvimento e reequipamento com novos fuzis de tocaia russos. O ímpeto para esse desenvolvimento foi a Guerra do Afeganistão, e o desenvolvimento continuou até o dia presente. Os russos consideram o cartucho 7,62 x 54R mm, efetivo e letal até 600 metros, enquanto o 12,7 mm (.50 pol) é efetivo e letal além dos dois quilômetros. Recentemente, o 9 mm (cartucho 9 x 39 mm com bala subsônica de 16,2 gramas) se tornou popular. Inclusive, há trabalho em armas silenciadas .22 LR, para ação aproximada. Em vez de tentar produzir uma arma de tocaieiro ótima, que atue igualmente bem em todos os terrenos e alcances, os russos estão desenvolvendo uma família de armas de tocaia para diferentes terrenos e situações. A maioria das armas de tocaia russas tem silenciador.
Questões a respeito de tocaieiros no Ocidente
As recentes experiências russas mostram que o papel do tocaieiro está aumentando no moderno campo de batalha. Com a crescente demanda, surgem questões sobre o treinamento adequado, táticas, estrutura da força e emprego. Essas são também preocupações nos meios militares ocidentais.
O lugar certo para os tocaieiros no moderno campo de batalha permanece um tópico para debate. Em muitos exércitos ocidentais, há armas de tocaieiros nas salas de armamentos, mas nenhum cargo para tocaieiros no quadro de organização. Se um comandante de companhia ou batalhão deseja alguns tocaieiros à sua disposição, ele tem de entrar com os fundos para treinamento e enviar seus candidatos à tocaieiros para longe, em longos cursos. Uma vez que o tocaieiro retorne, ele tem de continuar com seu treinamento na base da unidade. O treinamento em base exige recursos adicionais, um esquema de treino separado, e uma raia de tiro de mil metros. Postos militares mais antigos podem ter raias de tiro de mil metros, mas postos mais novos tem raias muito mais curtas e, quando as raias antigas existem, elas tem pobre manutenção. Uma vez que o tocaieiro sai em rodízio, um novo precisa ser adestrado no seu rastro. Já que tocaieiros não são uma especialidade reconhecida em muitos exércitos, não há vantagens nas promoções para um tocaieiro distinguido, e a promoção, normalmente, finda a carreira dele. O Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos tem lidado com esse problema tornando os tocaieiros parte do pelotão de reconhecimento, e criando a especialidade ocupacional militar (MOS, ou Military Occupational Specialty) de batedor/tocaieiro (Scout/Sniper).
A norma soviética/russa era ter um tocaieiro no quadro de organização de cada pelotão, mas ele era, normalmente, treinado localmente, dentro do regimento. As deficiências dos tocaieiros no Afeganistão promoveram a necessidade por escolas centralizadas de tocaieiros, mas treinamento de qualidade para estes não apareceu até 1999. A maioria das unidades terrestres soviéticas e russas não precisavam de tocaieiros tanto quanto precisavam de atiradores selecionados. A questão primordial era onde os tocaieiros deveriam ser designados – nos batalhões ou numa reserva central, ou ambos?
As táticas de tocaieiros também estão em questão. Muitos exércitos ocidentais desdobram tocaieiro e observador juntos. O observador porta um fuzil de assalto para proteger o tocaieiro. Os soviéticos/russos tentaram essa norma com seus tocaieiros, orgânicos dos pelotões de fuzileiros motorizados. Isso não funcionou efetivamente para eles, fosse no Afeganistão ou na Chechênia. O tocaieiro de pelotão, eventualmente, terminava como parte de uma equipe de caçadores-matadores de dois ou três homens, que empregava o tocaieiro como um atirador selecionado. Tocaieiros de elite (profissionais) trabalhavam aos pares com uma equipe de segurança os apoiando. Muitos exércitos ocidentais utilizam a norma de um tocaieiro isolado com um único assistente para segurança.
O fuzil ideal para o tocaieiro é outra questão. Caçadores de animais que agem com fuzis de luneta, com freqüência, erram tiros próximos por não poderem enquadrar o animal rapidamente na luneta, e não há miras abertas debaixo dela. Os soviéticos/russos, consistentemente, tem desenhado armas para tocaia com miras abertas, prontamente disponíveis debaixo das lunetas. Muitas armas de tocaieiros ocidentais carecem dessa característica elementar. Mesmo com miras abertas, os tocaieiros russos portam uma arma automática (fuzil de assalto ou submetralhadora) como backups de emergência. O pendor russo por armas semi-automáticas (e automáticas) se estende às armas para tocaia. Apenas recentemente, eles começaram a explorar a inerente precisão das armas de tocaia com ação de ferrolho, mas o exército ainda terá de adquirir uma. O calibre ideal e características para um fuzil de tocaieiro, continuam como questão de debate no Exército russo e nos outros.
Tocaieiros russos e ocidentais tem acesso aos mesmos tipos de equipamento (laser range finder, binóculos, rádios e outros). O periscópio de campanha, que foi muito valioso para os tocaieiros soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial, desapareceu para reaparecer rapidamente após a luta inicial em Grozny, já que os tocaieiros, com freqüência, precisavam explorar o campo de batalha sem expor suas cabeças e mãos.
O tiro de tocaia é, de novo, um tópico quente no Exército dos Estados Unidos. Durante a Operação Anaconda, no montanhoso vale Sharikot do Afeganistão, tocaieiros do 3º Batalhão do Regimento de Infantaria Ligeira Canadense da Princesa Patrícia (PPCLI, ou Princess Patricia’s Canadian Light Infantry), destruíram alvos inimigos em distâncias além da capacidade dos fuzis de assalto americanos. Os fuzis calibre .50 canadenses provaram-se muito efetivos e criaram uma demanda por fuzis .50 nas mãos das tropas americanas nessa região. Enquanto o Exército americano reexamina a missão e o papel dos tocaieiros em suas unidades de infantaria, a experiência russa e a recente experiência canadense irão, com certeza, moldar o debate.
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* Os chechenos tinham - e ainda tem - uma farta variedade de "brincadeiras" com as quais se divertir às custas da pele de seus prisioneiros russos. A maioria, aprendida com os "mujahedeen" no Afeganistão...
Enviado: Qua Jun 20, 2007 1:55 pm
por Clermont
O TOCAIEIRO EM PERSPECTIVA.
Por Martin Pegler – Out of Nowhere, A History of the Military Sniper.
Desde que a espécie humana inventou, pela primeira vez, armas lançadoras de projéteis, ela tem devotado considerável tempo, esforço e despesas tentando fazer arremessar suas pedras, flechas, balas e granadas, mais longe, mais rápido e mais precisamente. A escolha de um indivíduo como alvo por um arqueiro é tão antiga quanto o uso das armas em si mesmas, como o esqueleto de um antigo bretão, escavado em Maiden Castle demonstra, pois, encravado em sua espinha, está o dardo de ferro de uma balista romana. Se ele foi alvejado por acidente ou desígnio, é impossível dizer, mas não há dúvida no caso do rei Ricardo I, O Coração-de-Leão, durante a Cruzada de 1199, quando um besteiro mercenário suíço, chamado Peter de Basle, disparou um dardo bem mirado que atingiu o rei no ombro. Ricardo, logo depois, morreu da infecção do ferimento. Naturalmente, tais eventos eram, indubitavelmente, raros, e mesmo 300 anos depois, quando o handgonne, ou primitivo mosquete-de-mão, tinha se tornado mais comum na guerra, seu uso para o propósito específico de matar à longa distância, era virtualmente desconhecido. Embora algumas vezes tenha sido relatado que Leonardo Da Vinci utilizou uma arma raiada para ajudar a repelir os sitiadores de Florença, durante o cerco de 1520, parece não haver nenhuma prova autêntica disso. No entanto, parece certo que outro grande artista, Benvenuto Cellini, atuou como um atirador de precisão enquanto soldado do Papa Clemente VII, em 1527. Lutando juntamente com outros defensores da Cidade Santa, durante o cerco de Roma, ele utilizou um pesado mosquete de mecha, de grande calibre. Escrevendo posteriormente de suas experiências, ele salientou:
“Eu só vou dar um indicação que irá espantar todos os bons atiradores de todo grau, a de que, quando eu carregava minha arma com pólvora pesando um quinto da bala, eu alvejava em ponto-em-branco até há duzentos passos. Meu temperamento natural era melancólico, e enquanto eu estava tendo esses divertimentos, meu coração saltava de alegria, e descobri que podia trabalhar melhor do que ao gastar meu tempo inteiro no estudo.”
Um dos tiros que ele disparou, quase com certeza, matou o Condestável de Bourbon, embora Cellini admitisse que o pesado nevoeiro do dia tornava a precisão da mira muito difícil e um grande elemento de sorte estivesse envolvido. Tais relatos devem ser mantidos em proporção, é claro, pois os mosquetes de alma lisa da época não eram, em geral, adequados para tiro preciso de longo alcance. No entanto, isso não deve desconsiderar, inteiramente, o uso primitivo de armas de fogo para tais atividades, pois a organização de eventos de tiro ao alvo era um fato regular na Europa, e com certeza, estava bem estabelecido na Holanda e nos Estados Alemães por volta do séc. XVI, onde mosquetes raiados e de alma lisa eram utilizados para competições de tiro. O termo geralmente utilizado para esses homens era o de scharfschützen, ou “atiradores afiados” (”sharpshooters” em inglês).
Pelo final do século XVIII a palavra ”sniper” estava sendo utilizada em cartas mandadas para casa por oficiais ingleses servindo na Índia, alguns dos quais passaram a se referir a um dia duro de tiroteios como “going out to sniping”. A narceja (”snipe”) é um pássaro de vôo rápido com plumagem salpicada de preto e marrom e um vôo tortuoso, particularmente errático que tornava difícil ver e, ainda mais difícil de atingir. Era preciso um esportista habilidoso com uma arma de pederneira para abater uma narceja em vôo. Um tal notável atirador era considerado acima da média e, inevitalvelmente, durante o século XVIII, o termo ”snipe shooting” (tiro à narceja) foi simplificado para ”sniping”. No entanto, dentro do contexto militar, soldados que eram particularmente hábeis atiradores, eram referidos como ”sharpshooters” ou ”marksmen” (atiradores distintos), mas nunca como ”snipers”, e esse uso parece ter surgido da imprensa durante os meses iniciais da Grande Guerra de 1914. Dessa data em diante, a palavra implicava um soldado equipado com um fuzil que era, geralmente (mas não exclusivamente), dotado de mira telescópica, que disparava em alvos militares de uma posição oculta. Tristemente, como o sargento Harry Furness, do Exército britânico da Segunda Guerra Mundial, observa, o termo tem sido tão abusado que alguns dicionários o estão utilizando como um termo secundário para “assassino”. De tempos em tempos, nos Estados Unidos, indivíduos desequilibrados, tem atirado aleatoriamente em pessoas, a curto alcance, utilizando fuzis de caça, um evento amplamente referido pela imprensa como ”sniping”. Tal terminologia imprecisa presta um desserviço ao altamente treinados e dedicados tocaieiros militares que estavam, e ainda estão, lutando por seus países. Um estabelecimento de treinamento de tocaieiros na Virgínia, ficou tão irritado com o abuso da palavra que convidou membros da imprensa para uma demonstração. Eles foram solicitados a localizar um tocaieiro camuflado no campo, o que, sem surpresa, eles foram incapazes de fazer. A um sinal, o atirador invisível disparou contra um alvo há uns 200 metros distante, colocando o tiro direto através da testa de uma imagem. Os espantados jornalistas foram prontamente informados de que isso era ”sniping” e foram solicitados a utilizar o termo “atirador” em subseqüentes matérias da imprensa.
As habilidades requeridas do verdadeiro tocaieiro são inúmeras e o treinamento é intenso. Na média, mais de um terço dos candidatos potenciais fracassam na rigorosa seleção para se tornarem um tocaieiro profissional. Para serem aprovados eles tem de dominar uma série de habilidades interrelacionadas que irão lhes permitirem sobreviver, com freqüência sozinhos, nos mais hostis ambientes de combate. Camuflagem, movimento, observação, leitura de mapas, transmissões, coleta de informações e tiro preciso tem de ser dominadas. É também um pré-requisito ter a habilidade para permanecer alerta em ambientes estreitos e desconfortáveis por dias sem fim, tanto como ter forte disciplina pessoal e paciência ilimitada. Entre tais exigências é de fundamental importância que todos se tornam atiradores altamente competentes. Eles terão de dominar não apenas estimativa de alcance, com precisão de uns poucos metros à 700 ou 800 metros, mas também aquelas das mais difíceis das habilidades, análise de ventos, temperatura e umidade, e movimento de alvos. Somando-se a isso, está a extrema tensão de trabalhar constantemente à beira ou dentro, do território inimigo e com o conhecimento de que eles estão sempre cercados por soldados para os quais o conceito de “rendição” é estranho no que concerne à tocaieiros. É um fato de que o destino de um tocaieiro capturado é, quase inevitavelmente, a morte. Como alguém comentou, como uma questão de fato, se ele fosse pego, iria “se tornar a principal fonte de diversão do dia seguinte”. Há muitos relatos de atiradores de fuzil capturados durante a Guerra de Independência Americana sendo, sumariamente, executados, embora isso fosse estritamente contra as regras aceitas de guerra, e uma interessante nota no The New York Times mostrava o modo pelo qual atiradores de precisão eram considerados durante a Guerra Civil Americana, o primeiro conflito no qual eles foram, especificamente, empregados. Comentando sobre o uso inicial dos atiradores de precisão do coronel Berdan (Berdan’s Sharpshooters) pelo Exército da União, o escritor salientou os principais perigos para os atiradores de precisão em batalha, “pelos quais eles correm o risco de serem isolados pela cavalaria, ou executados, como certamente seriam se pegos”. Esse comentário sobre o destino deles é esclarecedor nessa data inicial e dá uma visão sobre a antipatia que os soldados comuns tem para os atiradores de precisão. Sempre tem sido o caso de que a infantaria sob fogo de tocaieiros irá chegar a extremos para encontrar e matar seus atacantes, mesmo se isso incluir pedir fogo de artilharia, assalto direto de tanques, ou até metralhamento terrestre por aeronaves. George Mitchell, um infante australiano, servindo em Galípoli, escreveu em seu diário: “7 de maio. O turco recebe muito pouca piedade de nós. Sempre que um tocaieiro é pego ele é passado pela baioneta, imediatamente.” Harry Furness, após balear um oficial alemão de alta patente, foi sujeitado uma barragem de artilharia de tal extensão e ferocidade que, em várias ocasiões, foi arremessado para fora de sua toca e atirado ao chão. Ele escapou, atordoado, surdo e abalado, apenas por pura sorte. Em lugar algum foi o ódio aos tocaieiros mais abertamente demonstrado do que na guerra na Frente Oriental, entre 1941 e 1945, onde os tocaieiros, invariavelmente, portavam uma pistola, não para defesa pessoal, mas para se prevenirem de cair vivos nas mãos do inimigo.
OS EFEITOS DO TIRO DE TOCAIA.
Embora seja um exagero dizer que o resultado de uma batalha inteira possa ser moldado como resultado da tocaia, ela, com freqüência, teve efeitos profundos na habilidade de um lado ou outro atuar efetivamente. Durante a Guerra Civil Americana, na Batalha de Gettysburg, em 1863, dois atiradores de precisão confederados, atuando sobre o Little Round Top, mataram dois generais da União, feriram gravemente um terceiro, matando, então, um coronel e mais quatro outros oficiais superiores. Isso causou consternação no campo da União e a artilharia foi chamada para tentar desalojá-los, com pouco sucesso, salientando os dois principais problemas para a infantaria. O primeiro era encontrar o tocaieiro e o segundo, lidar com ele. Nunca foi mais verdadeiro o velho adágio, “é preciso um ladrão para pegar outro ladrão”. “Contra-tocaia”, a busca e matança de tocaieiros inimigos, tornou-se a principal prioridade de todo exército. Uma vez que os tocaieiros inimigos fossem silenciados, os bem-sucedidos tocaieiros poderiam se concentrar em encontrar alvos específicos, e as tarefas vitais de observação e coleta de informações poderiam ser empreendidas. Essas tarefas tem crescentemente se tornado o núcleo do papel do tocaieiro. Então, por quê a infantaria teme tanto o tocaieiro, e dispende tanto tempo e esforço em tentar erradicá-lo? A resposta jaz na complexa psicologia da guerra, onde um infante aceita com um certo fatalismo as chances de morte ou ferimento, se ocorrerem, como as fortunas caprichosas e impessoais do combate. Isso é considerado como estando fora do controle do indivíduo e a maioria dos homens estão mentalmente protegidos por sua crença inata de que “isso não vai acontecer comigo”. Naturalmente, camaradas são mortos e feridos, o que é má-sorte deles, mas poucos soldados irão aceitar de que eles podem se tornar a próxima baixa, acreditando que suas chances de sobrevivência são, razoavelmente boas. A aparição do tocaieiro muda tudo num instante. Repentinamente, todo mundo é o alvo e a guerra se torna pessoal. Soldados de linha de frente acham isso muito duro de aceitar, sendo tanto assustador quanto debilitante. Uma bala que vêm, aparentemente, de lugar nenhum e mata com precisão cirúrgica é enervante ao extremo. O amigo de um soldado estava falando com alguém em um segundo, para estar jazendo ao seus pés no próximo, e pior, tais eventos, com freqüência, aconteciam longe do calor da batalha, onde homens acreditavam estar comparativamente à salvo. Cair debaixo de fogo de tocaieiros era uma experiência profundamente debilitadora para a maioria dos soldados. Um veterano das Malvinas, Ken Lukowiak, escreveu, vividamente, de sua primeira experiência em ser um alvo:
“Nós atravessamos outro campo e nos aproximamos de uma cerca-viva. Ao chegar na cerca, viramos para a esquerda e começamos a segui-la até o canto do campo. Uma bala passou pelo meu rosto. Foi tão perto que cheguei a senti-la fisicamente. Todos nós, automaticamente, mergulhamos no chão, e rastejamos até a sebe em busca de cobertura. Uma voz gritou, “Alguém pode ver o inimigo?” Lentamente, um por um, começamos a olhar por cima da sebe. Não havia nada lá. Apenas, um campo aberto e outro campo vazio além dele. Outro tiro zuniu, Tony gritou e caiu ao chão. O medo começou a colocar pensamentos na minha mente. Se ele pôde ser atingido por trás da sebe, então eu também podia. Onde eu iria ser atingido? Na cabeça? No peito? Eu fiquei ciente de que estava me pondo em estado de pânico. Comecei a tentar me acalmar falando comigo mesmo. Se era para eu ser atingido, então eu ia ser atingido, isso era tudo e não havia nada que eu pudesse fazer. Alguém falou, “é a porra de um tocaieiro”.
O choque de, repentinamente, se tornar um alvo, assustava os soldados mais do que qualquer outra coisa. Não eram somente indivíduos que ficavam desmoralizados, mas enquanto os homens se acovardavam nas tocas ou trincheiras, relutantes em obedecerem quaisquer ordens que implicassem em se exporem ao fogo preciso de um inimigo invisível, as cadeias de comando se rompiam e a disciplina sofria. Pouco se admira que a vida de um tocaieiro capturado fosse, em geral, considerada como perdida. Um raro vislumbre durante a Grande Guerra da reação dos infantes ao capturarem um tocaieiro está contida na lacônica entrada de diário pelo tenente S. F. Shingleton, um oficial na Real Artilharia de Campanha, que anotou, em 16 de julho de 1916, “Os Royal Scots pegaram e enforcaram um tocaieiro. Canhoneio e grande quantidade de tiro de tocaia”. Um tocaieiro britânico teve uma experiência similar após desalojar um tocaieiro alemão de uma casa durante o avanço através da França, em 1944. O alemão ficou sem munição, atirou seu fuzil pela janela e caminhou pela porta de trás com as mãos levantadas. Um oficial britânico, cujos homens tinham sofrido gravemente do preciso disparo do tocaieiro, caminhou à frente, baleou e matou o alemão com seu revólver. Em ocasiões, mesmo alguns oficiais superiores deixaram claro que não aprovavam, inteiramente, o tiro de tocaia na guerra. Em 1944, o general Omar Bradley deixou saber que ele não desaprovava os tocaieiros serem tratados “um pouco mais duramente” do que era a norma. Afinal de contas, “um tocaieiro não pode sentar por aí, atirar e então [esperar] a captura. Não é assim que se participa do jogo.”
Talvez mais curioso seja o desapreço que muitos soldados de linha de frente mostram para com seus próprios tocaieiros, pois, uma das grandes ironias da vida de um tocaieiro era o fato de que ele, com freqüência, era detestado quase tanto pelo seu próprio lado quanto pelo inimigo. Isso se originou nas trincheiras de 1914-18 e se devia, simplesmente, à explosiva retribuição que era lançada sobre as cabeças dos infelizes ocupantes se um tocaieiro estivesse operando em seu próprio setor. Isso podia se manifestar como um furacão de granadas de canhão ou de morteiros de trincheira, enquanto enraivecidos soldados inimigos tentavam vingar a morte de um camarada, freqüentemente, infligindo pesadas baixas na infantaria residente, que, com muita razão, acreditava que não merecia aquilo. Há, também, um lado mais sombrio e profundo do aberto desapreço que muitos homens tem pelo tocaieiro e sua profissão. Na vida civil, todos somos levados a considerar a vida humana como sagrada, porém esse conceito fundamental da vida humana precisa ser suspenso em tempo de guerra. Geralmente, a maioria dos soldados pode abandonar suas crenças de tempo de paz, quando confrontados com o ato de matar para sobreviver ou para proteger camaradas, e uma tal escolha é considerada como moralmente aceitável. Mesmo assim, o conceito de um soldado deliberadamente rastreando uma presa humana como se faria com um animal era, para a maioria dos infantes, repugnante. Uma razão para o desconforto dos soldados combatentes era, indubitavelmente, que entre eles, o tocaieiro era único em, literalmente, ter a possibilidade de conter a vida ou a morte em suas mãos e, repentinamente, a morte ficava pessoal. Um tocaieiro alemão escreveu que só tinha uma única regra quando em ação de tocaia, e essa era que, uma vez que enquadrasse um alvo no seu retículo ele iria atirar, independente de quem o indivíduo fosse ou o que estivesse fazendo. Poucos os outros soldados que jamais tiveram o questionável luxo de decidir quem ou quando matar. Para o soldado mediano, a guerra era uma questão de obedecer ordens, portanto a maioria era capaz de tratar a luta como um trabalho relativamente impessoal, a ser feito tão rapidamente e com o menor risco possível. Em parte devido a natureza reservada de seu trabalho, e os tocaieiros serem instruídos para nunca falarem sobre o que fizeram ou aonde foram, eles começaram a adquirir uma reputação de assassinos à sangue-frio. Frederick Sleath, um oficial de tocaieiros que serviu na França durante a Grande Guerra de 1914, comentou que os infantes de linha não se misturavam facilmente com seus tocaieiros, “pois havia algo sobre eles que os punham à parte dos homens comuns e tornavam os soldados desconfortáveis”. Esse comentário é ecoado pelos anos pela infantaria que compreende pouco do trabalho que um tocaieiro faz, vendo-os, apenas, como caçadores sem princípios à solta, e tendo pouca apreciação pelo trabalho vital que eles cumprem em proteger seus próprios homens dos tocaieiros oponentes. Com freqüência, o desapreço era palpável, com os homens, deliberadamente, afastando-se dos tocaieiros quando eles estavam em descanso e se recusando a se misturar socialmente com eles. Ainda assim, os tocaieiros de linha de frente são o único método eficaz de contra-tocaia, e a infantaria sabe disso, pois, quando aferrada por um inimigo invisível, o primeiro chamado era, invariavelmente, “mandem um tocaieiro pra cá”. Em 1944, um tocaieiro britânico relembra de estar rumando para as linhas alemãs, cedo da manhã, passando por tocas contendo uma companhia de seus próprios homens. Eles o sacanearam enquanto caminhava, emputecendo-o ao ponto de que ele utilizou sua faca de combate para abrir o estômago de uma vaca morta, ali perto, sujeitando os homens, que não podiam se mover de suas tocas, ao fedor muito desagradável que emanava dela. Tocaieiros fuzileiros navais, no Vietnam, eram, com freqüência, saudados coma as palavras, “aí vêm o Matador Incorporado”, um comentário aceito estoicamente.
Os tocaieiros também sentiam que suas ações causavam muita inquietude entre a população civil, particularmente nos países Aliados, e um ar de segredo, geralmente, cobria suas ações, com poucos detalhes de seus feitos jamais sendo reportados. Durante pesquisas, apenas três artigos de imprensa puderam ser achados relacionados, especificamente, a tocaieiros, todos em jornais provinciais, e apenas um, realmente, tinha uma entrevista e fotografia de um tocaieiro, o praça Francis Miller do 5º Batalhão do Regimento de Yorkshire Oriental (5º East Yorkshire). Poucos tocaieiros em serviço iriam concordar com tal cobertura pública, mesmo chegando a recusar ter suas fotografias tiradas para uso na imprensa. Eles detestam publicidade e o conhecimento de que as pessoas em casa poderão conhecer e desaprovar seu ofício. Essa atitude é compreensível e tem muito a ver com os tradicionais ideais de travar uma guerra “esportiva”. De fato parece não ter sido o caso de civis em casa serem críticos do trabalho empreendido pelos tocaieiros, já que a retaliação de qualquer espécie contra o inimigo era considerada como positiva por aqueles que não tinham a habilidade para dar o troco. A viúva de um tocaieiro britânico que serviu de 1944 á 1945, disse que ela sabia o que ele fez durante a guerra e embora ele raramente falasse de suas experiências, ele sabia que ela aprovava:
“Noite após noite, nós agüentamos o bombardeio deles [alemães] e muitas pessoas que eu conhecia foram mortas, mães, guris, velhos. O fato de que Jack estava dando aos Jerries um pouco de seu próprio remédio, era um tônico para todos nós. Aqueles que sabiam que ele era um tocaieiro diziam “Diga a ele para pegar um dos bastardos para mim”.
Ainda assim, havia uma curiosa inconsistência sobre isso, pois dentro de suas próprias seções, os tocaieiros, geralmente, tinham um seco senso de humor sobre seu papel, e é preciso que se diga que eles pouco faziam para melhorar suas imagem, apreciando sua quieta notoriedade. Como o sargento Furness explicou, a maioria era de fortes individualistas, freqüentemente tipos solitários que tinham o temperamento certo para tal trabalho. “Todos os tocaieiros eram voluntários, nunca aconteceu de soldados que eram conhecidos por serem bons atiradores serem destacados para ingressarem na seção de tocaieiros. Você nunca acharia a 'alma da festa' em uma seção de tocaieiros”. Seu sargento-mor-regimental lhe disse que ele era o mais anti-social graduado que ele jamais tinha encontrado, o que divertiu Harry, mas talvez falasse mais sobre o temperamento do sargento-mor do que dos tocaieiros. A maioria era de homens quietos e cautelosos, pois essa era uma profissão que não permitia a pressa e isso também refletia em seus hábitos sociais. Uma minoria era de fumantes, já que isso afetava adversamente a habilidade deles em controlar a respiração para o tiro e rebaixava seus níveis de aptidão, e a maioria era de, apenas, bebedores moderados. Esses hábitos contidos os punham em oposição aos seus contemporâneos da infantaria que agarravam qualquer oportunidade para se saciar na esbórnia. Adicionado a isso, estava o fato de que, por razões operacionais, os tocaieiros viviam juntos e não compartilhavam os deveres normais de linha de frente, a maioria trabalhando em segredo, portanto o fato de que eles não tinham a confiança de sua própria infantaria era quase uma conseqüência inevitável que eles aceitavam filosoficamente. Às vezes eles podiam, até mesmo, aprovar os apelidos dados a eles por seus camaradas. Os tocaieiros do Batalhão de Hallamshires aceitavam, com algum orgulho, serem chamados de seus “ceifadores” por um oficial de quem eram fãs. Alguns elevaram suas habilidades em travar guerra psicológica a novas alturas, como o tocaieiro da Segunda Guerra Mundial, sargento John Fulcher, escreveu. Ele próprio, um índio sioux, comentou que “metade dos garotos no grupo de tocaieiros eram índios, incluindo dois sioux das Black Hills. Eu ouvi alguns dos outros GIs se referindo a nós como “selvagens”. Eles diziam, “o bando de guerra vai sair pro escalpo”. Eles diziam isso em admiração, e era desse modo que aceitávamos isso.” De fato, Fulcher e seus índios, ocasionalmente, escalparam alemães mortos, deixando-os ostensivamente colocados como aviso aos outros. Veio a informação de que qualquer tocaieiro ou índio capturado seria executado no ato. Mesmo no final dos anos 1980, uma seção de tocaieiros de um batalhão de infantaria de linha britânico era universalmente conhecida como “A Colônia dos Leprosos”.
DANDO O TIRO.
Como os tocaieiros operacionais se reconciliavam com natureza fundamental de sua profissão? A resposta jaz nos traços da personalidade dos homens, aliado a um misto de treino efetivo, entusiasmo, profissionalismo e pura determinação. Em algum momento, todos os tocaieiros tinham de tomar a decisão de puxar o gatilho, e todos reagiam ao desafio com diferentes emoções. O tocaieiro da Grande Guerra, Charles Burridge do Real Regimento da Rainha de West Surrey, contou ao autor que ainda podia ver o olhar de surpresa no rosto do primeiro alemão que baleou, e isso o assombrava. Outros assumiam um ponto de vista mais pragmático. O praça Francis Miller, cuja exuberante atitude para a tocaia na Segunda Guerra Mundial era, talvez atípica do tocaieiro comum, comentou que matar alemães, para ele era como um guri indo caçar ratos. Sem surpresa, estes homens que haviam caçado por esporte eram bem menos movidos pela emoção do evento do que pela pura excitação de conseguir um abate limpo. O tenente-coronel John George, um experiente caçador, recordava o momento em que baleou seu primeiro soldado japonês em Guadalcanal:
"Eu enquadrei seu queixo com a massa de mira – uma medida calculada para plantar a bala em algum lugar de seu peito em um alcance de 320 m. Então eu dei a última libra ou tanto das três libras da pressão no gatilho, uma “puxada gentil”. A mira assentou de volta, em tempo para eu ver a bala atingir o japa e espalhar areia atrás dele. Eu não posso lembrar o menor traço de pensar que eu havia acabado de matar um homem pela primeira vez. Tudo que eu lembro é de uma intensa excitação – a mesma que experimenta alguém que abate uma grande presa arduamente procurada como troféu.”
Para a maioria dos tocaieiros, disparar seu primeiro tiro de combate era o culminar de meses de estudo, prática e puro trabalho duro, e eles estavam, simplesmente, fazendo exatamente aquilo o que o seu treinamento os tinha ensinado a fazer. Mesmo tocaieiros que tinham considerável experiência de combate podiam descobrir que o teste de suas habilidades estava no limite de uma assustadora experiência. O praça dos Fuzileiros Navais americanos Daniel Cass e seu observador, praça Carter, estavam em uma crista em Okinawa tentando imaginar como lidar com ninhos de metralhadora japoneses, alguns há 1100 m de distância. Cass nunca tinha disparado em tais alcances antes, mas os fuzileiros navais estavam sofrendo pesadas baixas e ele tinha pouca escolha além de tentar, usando toda a habilidade e treinamento que pudesse reunir:
“Nós não tínhamos tempo para mais nada”, eu resmunguei, suando por cada poro em meu corpo. Respiração profunda. Segurar. Retículo, retículo, pressionar. Carter grunhiu “tudo certo!” enquanto meu primeiro projétil mergulhava na barricada inimiga. O fogo de metralhadora cessou. Vários minutos depois, figuras corriam das barricadas como ratos expulsos de um celeiro. Foi quando dei um profundo suspiro de alívio. Eu tinha feito o meu trabalho, não tinha? Abaixo no chão do vale, fuzileiros navais estavam começando a se pôr, cautelosamente, de pé. Um deles se voltou e acenou, nos agradecendo. Eu me senti muito bem com isso. Eu tinha dado um tiro danado de bom.”
Enquanto alguns tocaieiros consideravam seu trabalho como um exercício de técnica em lidar com as difíceis exigências do tiro, outros descobriam que matar nunca ficava fácil. Harry Furness disse que seu primeiro tiro foi bem instintivo enquanto “um grupo de alemães corria através da rua, na minha frente. Eu ergui meu fuzil e assestei a mira em um, dando um pouco de tempo para ele correr. Eu disparei e ele caiu, instantaneamente.” Essa seria a única vez que ele iria ver o resultado de seu trabalho de perto, pois, enquanto seu grupo de combate avançava, ele teve de saltar por cima do alemão morto, a quem ele relembra como sendo um jovem cabo, loiro e de boa aparência.” Ele detestou a experiência intensamente e nunca a repetiu deliberadamente. Fulcher relembra que o sombrio comportamento de sua seção voltou para assombrá-lo no tempo de paz:
“Mais tarde, muito mais tarde, quando os tempos eram de normalidade de novo, tudo isso me incomodou. Eu acordava algumas vezes, suando dos pesadelos. Mas naquela época e lugar, matar era um fato diário da vida... escalpar instilava o medo nos alemães. Isso os fazia supercautelosos e sem disposição para correr riscos. Isso ajudou a salvar vidas de GIs.”
James Gibbore serviu no Vietnam e escreveu francamente sobre seus sentimentos enquanto alvejava sentinelas inimigas:
“Você começa a tremer, seus joelhos começam a enfraquecer e você descobre que está mais e mais difícil respirar... você tenta se manter firme mas seu retículo balança por toda parte, você está tão excitado. Na sua mente você está pensando, o quão longe ele está? Onde eu enquadro? Um pouco mais alto, um pouco mais baixo? Eu sabia que se apenas ferisse um desses VC [vietcong] e não o matasse instantaneamente, ele iria gritar de dor, acordando e abalando o acampamento inteiro.”
O treinamento de Gibbore, e sua feroz determinação em ter sucesso, asseguravam que ele fez exatamente o que foi treinado para fazer, mas isso criava espectros em sua mente que o tempo não iria apagar:
“Você podia, você iria apertar o gatilho? Eu podia, eu iria tirar a vida de um homem, só porque ele era o inimigo? Eu iria ficar calmo o bastante para fazer todas essas coisas sobre as quais eu só tinha falado? Você podia fazer isso? Pense nisso. Agora, tente pensar como seria carregar essa imagem na sua mente todos os dias de sua vida. Esse foi o momento em que eu soube que havia involuído de um homem para algum tipo de animal... uma coisa. Eu nunca errei um tiro. Quatorze homens jaziam mortos... Eu contei cada um que abati enquanto puxava o gatilho contra eles. Essa é uma das imagens que minha mente carrega, e vai carregar por todos os dias da minha vida.”
Alguns, simplesmente, não se desempenhavam efetivamente e eram enviados de volta para retomar seus deveres normais de infantaria, enquanto outros foram incapazes de se ajustar mentalmente e se tornaram casos médicos. Joe Ward relembra de ver um camarada tocaieiro no Vietnam, olhos vidrados, contemplando o nada, esquecido do mundo em volta dele, incapaz de continuar lidando com sua profissão escolhida. Mesmo assim, a vasta maioria foi capaz de reconciliar seu dever com sua consciência e o “escudo dos tocaieiros”, embora invisível e anônimo, foi altamente eficiente pois há centenas, se não milhares de ex-militares vivos, hoje em dia, que agora estariam ocupando uns poucos palmos de terra em uma distante cova de guerra, se não fosse pela habilidade dos tocaieiros de seus batalhões. Como um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial disse, “toda vez que eu matava um tocaieiro inimigo, eu salvava as vidas de alguns de meus companheiros, embora muitos desses bundões jamais soubessem disso.”
Durante os conflitos do final do século XX, as expectativas das habilidades dos tocaieiros tinham crescido juntamente com o avanço da tecnologia que lhes permitia ver e atirar mais longe e mais precisamente do que nunca antes. Não que todas as guerras modernas sejam travadas ao longo de regras de combate organizadas, no entanto, e muitas, agora, envolvem complexas facções internas, linhas de combate muito fluídas e grandes distâncias. Operacionalmente esses conflitos são muito difíceis e, realmente, distinguir amigo de adversário é, às vezes, quase impossível. Durante a guerra civil angolana (1975-89), um irregular americano, empregado como tocaieiro, observou, desconcertado, enquanto soldados angolanos oponentes confraternizavam, ao passo que seus respectivos “conselheiros”, soviéticos, cubanos e franceses, sentavam para partilhar uma refeição. “Eu me perguntava que diabos estava acontecendo, e para quem, de fato, eu estava trabalhando. Eu comecei a ficar muito intranqüilo sobre aonde isso estava me levando.” Tocaieiros americanos na Somália estavam, às vezes, inseguros sobre contra qual lado disparar, se deviam abrir fogo por medo de matar soldados das facções erradas. Enquanto a guerra aberta ainda tenha ocorrido em lugares tais como as Malvinas ou o Golfo, “guerras limitadas”, como elas se tornaram conhecidas, ficaram mais freqüentes e pontos-quentes tais como o Vietnam, Somália, Bósnia ou Chechênia, se tornaram territórios férteis para o tocaieiro. Nessas chamadas “guerras sujas”, muitos tocaieiros foram utilizados para operações cobertas, onde eles eram lançados de helicóptero em localizações remotas, equipados com comida, munição e transmissões, e ordenados a criar tantos danos quanto pudessem. Essas missões, com freqüência, eram envolvidas em segredo e os tocaieiros sabiam que se os planos saíssem errados, eles podiam esperar pouca ou nenhuma ajuda à caminho. Adequadamente equipados, e com lançamentos pré-planejados de suprimentos, eles eram esperados sobreviver por dias ou semanas, relatando informações de volta para os quartéis-generais e semeando a destruição sempre que possível. Tal trabalho coberto, com pouca ou nenhuma sanção oficial, simplesmente reforçava para tocaieiro o fato de que, por mais altamente treinado que fosse, ele era dispensável. James Gibbore foi ordenado a tomar parte em uma missão clandestina e estava, compreensivelmente, alarmado em seu “briefing”:
“Essa missão é importante. Nós temos que mostrar ao VC que ele não está à salvo mesmo em lugares onde não se supunha que estivéssemos. Forças americanas não são permitidas estarem em qualquer lugar dentro dos países do Laos e do Camboja. Nós queremos atingir o Viet Cong onde ele nunca iria esperar que nós estivéssemos. Você não deve ser avistado. E acima de tudo não seja capturado! Nenhuma ajuda será enviada para você. Sua missão é, discretamente, pegar tantos VC quanto puder, usando a equipe das forças especiais como apoio.”
Apesar de ordens como essas, a maioria dos tocaieiros jamais titubeou em suas tarefas, independente do quão pesadamente estivessem as chances contra eles. Na Somália, dois tocaieiros do Exército dos Estados Unidos, sargento-mestre Gary Gordon e o sargento Randall Shughart foram em auxílio de um helicóptero americano abatido, com o pleno conhecimento de que eles tinham insuficiente munição de fuzil para manter os insurgentes afastados por muito tempo, e ambos recorreram ao uso de suas pistolas no momento em que foram avassalados e mortos. Apesar disso, suas ações salvaram a tripulação e ambos foram, postumamente, recompensados com a mais alta condecoração da América, a Medalha de Honra.
Re: Tocaieiros alemães da Segunda Guerra Mundial
Enviado: Qua Jun 18, 2008 1:14 pm
por Clermont
VASSILY ZAITSEV.
Voz da Rússia – Sessenta Anos de Stalingrado.
A Segunda Guerra Mundial estava no seu auge. A inteligência do Exército soviético descobriu que o comando nazista estava muito preocupado com a atividade dos tocaieiros soviéticos. Um especialista de alto gabarito tinha sido despachado de Berlim para Stalingrado. Sua tarefa era neutralizar tantos tocaieiros soviéticos quanto possível. No dia seguinte à sua chegada, o tocaieiro alemão matou dois tocaieiros soviéticos. Isso era um desafio, e Vassily Zaitsev, um dos melhores tocaieiros no Exército soviético, decidiu responder a ele. Um duelo entre os dois tocaieiros começou e entrou para a história da arte militar.
Nascido na Sibéria, Vassily Zaitsev juntou-se às expedições de caça de seu avô, na idade de quatro anos. Ele caçava esquilos com um arco feito em casa. Quando completou doze anos, recebeu um fuzil, com o qual passou a caçar, desde então.
De fato, nem todo bom atirador pode se tornar um tocaieiro. Uma coisa é atingir alvos numa raia de tiro ou numa galeria e outra, bem diferente, é engajar-se em duelos contra atiradores inimigos. A arte do tiro de tocaia exige, não só coragem, mas também paciência sobre-humana, calma, capacidade de observação, obstinação, rapidez de pensamento. Um tocaieiro precisa ser capaz de cumprir pequenas tarefas táticas.
Vassily Zaitsev, habilmente, ocultava suas posições, todas as vezes. Os alemães não podiam divisá-lo, e mesmo seus camaradas de armas, o perdiam de vista. Ele se disfarçava como uma rocha coberta de musgo, como um fardo de trigo, ou um toco de árvore, ou uma chaminé de uma casa incendiada.
Quando a guerra começou, Zaitsev tinha 26 anos. Ele foi considerado um virtuoso na tocaia, mas foi enviado para servir na Marinha. Seu talento só recebeu a devida atenção, em setembro de 1942, e em 21 de outubro, Zaitsev juntou-se a um grupo de tocaieiros em Stalingrado...
Era bem cedo da manhã, quando ele começou a procurar o novo super-atirador nazista. Zaitsev camuflou-se em sua posição, como se usasse o chapéu de Fortunato, não um capacete com cobertura verde. (”Chapéu de Fortunato” é uma lenda medieval, um chapéu mágico que transportava seu dono à qualquer parte. Clermont também é cultura...).
Ele se perguntava onde estaria o tocaieiro de Berlim. Vassily conhecia as manhas dos tocaieiros nazistas; ele podia distinguir, facilmente, os atiradores mais experimentados dos noviços, julgando pelo modo de seus disparos e camuflagem. Ele podia, também, ver quais deles eram medrosos e quais eram inimigos obstinados e resolutos. Mas o caráter de seu novo adversário era um mistério para ele. Era difícil determinar onde o tocaieiro nazista tinha assumido sua posição. Evidentemente, o recém-chegado mudava de posição, com freqüência e buscava por Vassily, também. E, então, Zaitsev soube que o inimigo tinha destruído a mira telescópica do fuzil de seu amigo e ferido outro tocaieiro soviético. Os dois homens eram tocaieiros experimentados que, freqüentemente, tinham levado vantagem em duros engajamentos com o inimigo. Não havia dúvida de que tinham encontrado o super-atirador nazista que estavam procurando.
O duelo continuou por vários dias e ambos os lados se observavam, cuidadosamente. Ao contrário do alemão que trabalhava sozinho, Zaitsev tinha um parceiro, Nikolai Kulikov. Eles estudaram cada detalhe do terreno, levando em conta cada uma das ruas vizinhas, as ruínas dos edifícios, as carcaças dos automóveis – todos os lugares que o inimigo podia utilizar como abrigo.
O tocaieiro nazista começou com uma tentativa de trapacear suas contrapartes russas, com o uso de um truque de criança – ele fincou uma pá com um capacete nela.. Mas Zaitsev era sabido demais para cair nessa. Portanto, o primeiro dia foi passado com tentativas para tapear, um ao outro. No segundo dia, o alemão se ocultou nas ruínas e começou a aguardar, pacientemente, por sua chance. Mas Zaitsev e seu parceiro tinham nervos de aço.
Observando cada metro quadrado do território inimigo, com seu binóculo, Zaitsev observou uma placa de aço, inclinada sobre o canto de uma casa, e coberta com tijolos. Este era um abrigo ideal para um tocaieiro. Mas, como o inimigo poderia ser forçado a se revelar? Agora, tinha chegado o momento para Zaitsev testar o quão forte eram os nervos do inimigo. Ele pôs sua luva num pau e o fincou, fora de sua trincheira. O alemão mordeu a isca e abriu fogo. No entanto, Zaitsev não pode tirar o tocaieiro de sua posição, portanto, ele teve de rastejar para outro lugar. Mas, quanto alcançou o novo abrigo, descobriu que não era bom: o sol brilhava direto nos seus olhos. Sendo assim, ele teve de esperar de novo.
O duelo terminou no quarto dia. O parceiro de Zaitsev abriu fogo, para atrair a atenção do alemão, para si, mas este ignorou o truque. Umas poucas horas depois, quando Kulikov ergueu seu capacete sobre a trincheira, os nervos do inimigo cederam, e ele disparou. Kulikov reagiu com um gemido, como se tivesse sido ferido. O alemão acreditou, ergueu sua cabeça para fora do abrigo e tomou uma bala de Zaitsev, direto na testa.
“O duelo durou três dias, mas terminou em nossa vitória, em questão de segundos,” disse Zaitsev, descrevendo o duelo. “O alemão estava bem-preparado para ele. Já tinha liquidado dois tocaieiros soviéticos antes disso. Mas, com a ajuda de meus camaradas-de-armas, também tocaieiros, cujas posições estavam próximas às minhas, eu consegui liquidá-lo. Eu não sabia que tipo de tocaieiro eles tinham trazido para Stalingrado, mas quando o tiramos de seu abrigo, descobrimos que ele era o chefe da escola de tocaieiros, baseada em Berlim. No total, liquidamos 242 nazistas em Stalingrado. Meus amigos e pupilos, também, eliminaram muitos deles. Eu treinei trinta tocaieiros que mataram 1126 nazistas durante a guerra.
No Dia da Vitória, Vassily Zaitsev se permitiu disparar uma bala, à toa. Ele disparou para o ar, para saudar nossa vitória, juntando-se aos outros soldados soviéticos que disparavam uma salva de suas armas, de vários calibres, fora do edifício do Reichstag, em Berlim, em 9 de maio de 1945.