"Regresse a bordo!! É uma ordem!!"
por Graça Andrade Ramos actualizado às 19:55 - 17 janeiro '12
Gravação com Capitania incrimina comandante do Concordia
publicado 19:23 17 janeiro '12
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Francesco Schettino quando foi detido ao chegar a terra, dia 14 de janeiro 2012 Enzo Russo, EPA
As equipas de salvamento encontraram mais cinco vítimas mortais do naufrágio ao largo da ilha italiana de Giglio. É uma corrida contra o tempo na busca de sobreviventes, com o navio de cruzeiros a escorregar para o abismo do mar Tirreno. A detenção do comandante do navio, Francesco Schettino, foi confirmada. E, esta tarde, a divulgação da conversa telefónica entre ele e o comandante da Capitania, prova que Schettino abandonou o navio antes das operações de socorro estarem concluídas.
Segundo a gravação, o comandante da Capitania de Livorno, Gregorio de Falco, terá tido de berrar com Schettino, que se encontrava já num bote salva-vidas, e de lhe dar uma ordem direta para o forçar a regressar à ponte e supervisionar as operações de evacuação do Costa Concordia.
"Schettino?? Escute Schettino. Há pessoas presas a bordo. Agora você vai com o seu bote até ficar sob a popa do lado estibordo. Use a escada-piloto para voltar para bordo e diga-me quantas pessoas lá estão e do que precisam. Está claro??" gritou Falco, ao que Schettino respondeu que dali também podia comandar as operações e que o navio estava a afundar-se.
"O navio está a oscilar. Comandante, por favor..." diz Schettino. "Vai regressar a bordo! É uma ordem, c****!!" grita o comandante da Capitania. "Não há mais desculpas! Você declarou que abandonou o navio e a partir de agora o comandante sou eu!" afirma Falco.
Schettino mantém a recusa e acrescenta de "Está escuro e não se vê nada". "E então? Quer ir para casa Schettino? Vá para a proa do navio, use a escada piloto e diga-me o que se pode fazer, o número de pessoas que ali estão e do que precisam. Já!" grita Falco em desespero.
Na gravação Schettino acata a ordem e aos procuradores garantiu já que foi o último a abandonar o navio. Disse ainda que "salvou milhares de vidas", segundo afirmou o seu advogado à porta do Tribunal. Mas as autoridades portuárias e os passageiros testemunham que ele nunca obedeceu às ordens de Falco.
Só pelo abandono do seu posto Schettino arrisca 12 anos de cadeia. O comandante, de 52 anos, é ainda acusado de homicídio involuntário e de ter involuntariamente provocado o naufrágio ao desviar-se deliberadamente da sua rota e aproximar o navio demasiado da costa.
Schettino reconheceu já que era ele quem estava ao leme na altura do acidente e alguns rumores afirmam que o comandante aproximou o navio até 500 metros da costa "para acenar a um conhecido seu", ou de um tripulante, que estaria à espera dele no porto. A manobra de aproximação seria já uma tradição no Costa Concordia, afirmam as mesmas fontes.
11 mortos confirmados
Os corpos encontrados esta terça-feira são todos de adultos e envergavam os coletes salva-vidas. Estavam na parte submersa da popa do navio, perto de um ponto de encontro de evacuação, precisou o porta-voz da guarda costeira italiana, Cosimo Nicastro.
As suas identidades não foram verificadas. Antes de serem encontrados, sabia-se que havia 29 desaparecidos, entre eles 14 alemães, seis italianos e quatro franceses. O último balanço do naufrágio, ainda provisório, é de 11 mortos e vários desaparecidos.
Os mergulhadores fizeram explodir quatro mini-cargas explosivas junto ao casco do "Costa Concordia" para fazer outras tantas aberturas e facilitar os trabalhos de busca, afirmou um porta-voz da Marinha, Alessandro Bussonero.
"O navio fala"
O perigo cresce a cada hora e as operações de socorro poderão ter de ser abandonadas em breve. "É uma corrida contra o tempo" afirmou Bussonero. Mas equipas de socorro mantêm a esperança de encontrar ainda sobreviventes nalgum lugar seguro.
Inclinado num ângulo de 30 graus sobre estibordo, o navio continua a meter água pelo rasgão de 70 metros aberto no casco e, apesar de estar preso às rochas em três pontos, a ondulação marítima está a faze-lo escorregar para um abismo de 90 metros de profundidade, a 150 metros da costa.
Para quinta feira está prevista uma forte borrasca o que poderá fazer afundar completamente o navio e pôr fim a qualquer resgate de sobreviventes. "O navio fala e isto não é um bom sinal", dizem os mergulhadores à imprensa.
Risco ambiental
Além da eventual perda de mais vidas, se o navio mergulhar até 90 metros de profundidade as operações de extração do combustível, 2.380 toneladas de gasóleo contidas em 17 cisternas na popa, ficarão também muito mais complicadas.
té agora não se registou nenhum derrame e algumas manchas já avistadas por helicópteros poderão não provir do navio mas sim de barcos locais. No entanto o risco ambiental é sério e o ministro italiano do Meio ambiente, Corrado Clini, pediu à companhia Costa Cruzeiros que apresente até quarta-feira o plano para esvaziar os depósitos.
A operação poderá levar duas a quatro semanas, segundo uma empresa suíça especialista em socorro marítimo. A empresa proprietária do navio terá ainda dez dias para tirar o Costa Concordia do local onde se encontra.