VASSALO E SILVA - prisioneiro do ditador -
Sexta, 15 Agosto 2008 00:00
Na senda de pensamento sobre a intenção de homenagem ao ditador na que se deseja continuar a ser a sossegada freguesia de Vimieiro, é mais que actual e pertinente sublinhar a intervenção há cerca de um mês, em programa específico da RTP “GOA - o último adeus”, por parte do deputado do CDS, Narana Coissoró.
Em detalhada análise aos últimos tempos de Portugal na Índia, debruça-se aquele deputado sobre as atribulações de que foi vítima, por parte de Salazar, Manuel António Vassalo e Silva, oficial-general, arma de Engenharia, comandante geral das Forças Expedicionárias no Extremo Oriente após a 2.ª Grande Guerra, e último governador-geral de Goa, Damão e Diu.
Enquanto vagas sucessivas de dezenas de milhar de sathiagris avançavam ameaçadoramente sobre as nossas escassas tropas, Salazar, peremptório e fanático, dava ordens determinantes para que nem um só soldado se rendesse, o que seria na sua vesga e cristalizada visão, traição à Pátria a sancionar sem recurso possível.
Vassalo e Silva, ante a eminente chacina dos três mil militares por si comandados, desobedece às ordens do velho caduco e aceita a rendição. Enquanto tal, a rádio oficial portuguesa no Continente, continuava a proclamar “Goa é nossa. Quem manda é Portugal”. Espectáculo de estertor e enlouquecimento.
Feito prisioneiro em 1961 pelas forças da União Indiana, durante cinco meses, com todos os seus militares, o velho “Botas” recusava a sua extradição para Portugal, como castigo. Deixava de ser prisioneiro da União Indiana para o ser da sua própria Pátria!
O incrível, o inominável, aconteceu depois quando Narana Coissoró, publicamente nesse pequeno círculo de entrevistados na RTP, afirmou que Salazar encomendou uma… POÇÃO VENENOSA destinada a Vassalo e Silva, a levar por um emissário, pessoa do seu conhecimento que, por razões pessoais não mencionou. Este escusou-se, com redobrados cuidados, não aceitando a incumbência letal.
Não é acintoso nem demasiado forte, qualificar este acto hediondo de satânico, de perversão de carácter, de ódio indegerido. Isto deve funcionar de chamada de atenção aos que, ou por ignorância ou mal intencionados, tentam branquear um passado sombrio; que ele era bom, má era a PIDE. Mas, afinal, quem criou a serpente, quem foi o seu obreiro, teria sido a oposição? A morte não nos limpa; após ela, seremos os mesmos na memória da vida.
Muito recentemente - 22 de Junho último -, foi este general, homenageado na Lourinhã, na sua freguesia natal (Atalaia), tendo sido descerrada uma singela lápide em sua memória, numa praceta que passou a designar-se Praceta General Vassalo e Silva, e aonde marcaram presença a Escola Prática de Infantaria de Mafra, a Banda Filarmónica local e a Associação Nacional Prisioneiros de Guerra na índia, esta representada pelo General Jorge Silvério.
E, como disse no acto, o presidente da Câmara Municipal da Lourinhã “a capitulação das tropas na índia não foi uma traição à Pátria mas uma defesa de três mil militares que lá estavam e que sabiam que iam ser fuzilados. Foi uma tentativa de defesa daquilo que era indefensável”.
Assim o não pensava o velho louco, para quem a morte das tropas seria um assunto de “lana caprina”.
O senil ditador foi-o de Portugal e não somente da sua terra e seria estultícia ou brincadeira pouco ingénua ser referendado por um enésimo do universo dos portugueses. “A raia dos medos”, “Quando os lobos uivam” e tantos outros casos tenebrosos da história recente, não são para esvanecer como duendes etéreos ou para relegar ao panteão do esquecimento.
Extremismos de sinal contrário a nada conduzem de construtivo. Em democracia e não como em tempos pidescos, é consignada a livre expressão e manifestação a pessoas ou partidos, sejam eles ou não da nossa simpatia, e, para afirmar isto, não se torna necessário ser advogado de ninguém. A parte contrária pode igualmente ter as suas manifestações em paz: ilegal é a contra manifestação, a proibição de outros se manifestarem, como aconteceu tristemente entre nós, em que um arruaceiro incitava ao ódio, à violência.
Sejam de fora ou de dentro ou, ainda, dos dois lados, certos escribas fazem-se esquecidos de que, na contra manifestação, havia escória vinda de fora, como uma pessoa de Seia e skinheads em saudação nazista.
Aliás, o que importa são os princípios.
Um único Galileu fez frente ao resto da humanidade de então, onde era convicção universal o geocentrismo - todo o Universo volteava em redor da Terra em homenagem aos humanos-.
E venceu: o geocentrismo foi banido de vez, muito embora a sua coragem e conhecimentos o levassem ao limiar das fogueiras da Inquisição, para tocha humana.
H. Pereira dos Santos
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