Feridas da guerra ainda abertas.
Após 43 anos, família recebe cartas de sargento americano morto no Vietnã
Família recebe cartas de sargento morto no Vietnã há 43 anos
Steve Flaherty escreveu para parentes e amigos aos 22 anos; cartas estavam com autoridades do Vietnã Foto: AFP
Há 43 anos, o sargento do Exército dos EUA Steve Flaherty escreveu quatro cartas para familiares e amigos das selvas do Vietnã. No último sábado, essas cartas chegaram aos seus destinatários. Flaherty morreu no Vale de A Shau em 25 de março de 1969, aos 22 anos.
Antes que ele fosse encontrado por americanos, soldados vietnamitas confiscaram quatro cartas que ele levava junto ao corpo, segundo Robert Destatte, funcionário aposentado do Departamento de Defesa dos EUA, especialista em prisioneiros de guerra e soldados desaparecidos em ação.
As cartas foram enviadas para o coronel vietnamita Nguyen Phu Dat para que fossem usadas em propaganda política na Rádio Hanoi.
"Acredita-se que Dat lia parte das cartas de Flaherty no ar para tentar persuadir soldados americanos a se recusarem a ir para a guerra", diz Destatte.
Em 2011, Destatte viu uma menção sobre a existência dessas cartas no website Bo Dat Viet ("A Nação Vietnamita") e deu início à busca por elas. Com a ajuda da polícia americana, ele encontrou Marta Gibbons, cunhada do sargento Flaherty e o resto de sua família.
Troca oficial
As cartas foram entregues ao secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, durante uma reunião com seu colega vietnamita, Phuong Quang Thanh, em Hanói, em junho.
Em troca, Panetta entregou a Thanh o diário do soldado Vu Dinh Doan, que havia sido tomado por um marine americano em 1966. Foi a primeira troca oficial de objetos de guerra entre os dois países.
Também foram incluídas na troca cartas escritas por outros soldados americanos mortos no Vietnã, mas suas identidades só serão reveladas depois que as famílias forem encontradas. Em uma de suas cartas, Flaherty escreveu o seguinte: "Tivemos de arrastar muitos corpos de mortos e feridos (...) não creio que seja nunca capaz de esquecer essa guerra sangrenta. Sinto as balas passarem por mim a todo momento. Nunca tive tanto medo em toda minha vida."
Em outras passagens, ele conta à família sobre as armadilhas dos inimigos e os colegas mortos. "Se o papai ligar, diga a ele que cheguei muito perto da morte, mas estou bem, eu tive muita sorte", escreveu ele. "Escreverei de novo em breve."
Biografia
Steve Flaherty
O sargento nasceu em Oiso, no Japão, filho de um americano e uma japonesa. Após ser deixado em um orfanato, terminou sendo adotado pelos Flaherty quando tinha nove anos e foi viver com a família nos EUA.
Ele cresceu em Columbia, na Carolina do Sul, e era conhecido em sua escola por suas habilidades no beisebol. Em 1966, foi para o Bryan College, no Tennessee, onde recebeu uma bolsa por ser bom nesse esporte.
Segundo seu tio, Kenneth Cannon, olheiros entraram em contato com ele logo em seguida, propondo que jogasse profissionalmente, mas Flaherty preferiu entrar para o Exército em outubro de 1967. Ele juntou-se à 101 ª Divisão Aerotransportada e foi enviado para o Vietnã no ano seguinte.
O obituário de Steve Flaherty de Columbia, S.C. publicado no Jornal do estado em 30 de março de 1969.
Destinatários
A família de Flaherty recebeu as quatro cartas do soldado no sábado. Elas estavam dirigidas para a sua mãe, uma família vizinha aos Flaherty, a família de um colega de escola do soldado e Betty Buchanan, irmã menor de Coleen, uma moça com a qual ele teve um relacionamento pouco antes de ir para o Vietnã.
A família Flaherty pretende doar as cartas para um museu da Carolina do Sul. "É um milagre que essas cartas tenham aparecido após todo esse tempo", disse Cannon à agência de notícias Associated Press no domingo.
"Elas estão em condição muito boa para terem 40 anos e sei que Steve ficaria feliz em saber que elas chegaram em casa."
BBC, via Terra/montedo.com