Bolovo escreveu:Toda empresa faz uma grande modernização em seu maquinário quando muda sua linha de produção para a de um produto mais novo.
Isso não é verdade, ou não deveria ser.
É uma coisa que ocorre sim bastante no Brasil, pelo simples motivo de que quando se traz um novo produto pronto de fora ele foi desenvolvido para utilizar o maquinário, as técnicas e os componentes existentes na seu país/empresa de origem, e por isso acaba sendo preciso praticamente construir uma nova fábrica e desenvolver uma nova cadeia de fornecedores para produzi-lo aqui. E isso não é bom e sim muito ruim porque eleva desnecessariamente os prazos e investimentos necessários para iniciar a produção, fazendo com que o produto final acabe mais caro do que no fabricante original (mesmo se as condições econômicas do Brasil fossem iguais). E pior ainda, inibe os investimentos posteriores em produtos novos porque os administradores da empresa ficam com a impressão de que os custos para colocar novos produtos em produção são sempre absurdamente elevados (impressão esta que é generalizada em nosso país exatamente por este motivo), fazendo com que aconteça o que mais vemos por aqui, a insistência em fabricar coisas velhas e já abandonadas há muito tempo lá fora por anos e anos à fio, muito além do que se deveria (veja o exemplo do FAL). E este ciclo é péssimo em todos os sentidos, sendo uma das principais causas do atraso tecnológico e industrial de nosso país.
Não é o que ocorre lá fora e nas poucas indústrias realmente saudáveis do Brasil. Nestas o desenvolvimento dos novos produtos é contínuo, mas logicamente busca aproveitar ao máximo a infra-estrutura industrial e o parque de fornecedores já existentes, e as novidades são incorporadas aos poucos, tendo sempre o claro objetivo de obter vantagens de mercado frente à concorrência (quase sempre observada a nível mundial) e não simplesmente conseguir fabricar o que já se faz em algum outro lugar do mundo. Muito dificilmente se constroem fábricas inteiras do zero, o que se faz é substituir de forma progressiva e contínua os equipamentos e processos das fábricas existentes, atualizando-as conforme a tecnologia avança (ao invés do que ocorre aqui, quando a fábrica assim que construída pode até ser moderníssima mas logo depois começa seu processo de obsolescência e permanece a mesma e cada vez mais defasada por décadas
, sofrendo apenas o cada vez mais difícil processo de manutenção.
Os eventuais problemas dos produtos da Imbel decorrem exatamente dela ter se acostumado com este processo de trazer produtos de fora, e ser administrada com esta visão em mente. E o I1A2 é uma excelente oportunidade de quebrar este ciclo pernicioso, com a empresa desenvolvendo um produto importante do zero aproveitando ao máximo sua própria experiência e seu próprio parque industrial, e tendo a chance de perceber exatamente onde eles estão defasados e precisam de fato ser modernizados para atender às demandas atuais do mercado. Mas para isso suas eventuais falhas precisam sim ser apontadas, e a empresa chamada à corrigi-las, sem medo de quando necessário fazer os investimentos necessários. E para isso seria importantíssimo que o produto visasse desde o início o mercado internacional, onde as demandas por características técnicas e qualidade são maiores e permitiriam uma visão melhor do que está bom e do que precisa melhorar.
Não será bom nem para o I1A2 e nem para o país se nossas FA´s ficarem contemporizando e passando a mão na cabeça da Imbel, aceitando um produto de qualidade muito inferior apenas pelo fato dele ser nacional. É preciso cobrar sim para que o produto seja o mais competitivo possível, e ele deveria desde sempre seguir
continuamente as tendências internacionais do setor e buscar o sucesso de vendas lá fora. Mas vai ser muito pior ainda simplesmente abandonar o seu desenvolvimento e trazer as máquinas mais modernas disponíveis no planeta hoje, para depois ficar mais uma vez produzindo aqui por décadas e décadas algo estrangeiro que pode até ser o supra-sumo em termos de armamento neste momento, mas que vai inexoravelmente ser ultrapassado pelos avanços conceituais e de tecnologia nos próximos anos.
Leandro G. Card