#1476
Mensagem
por Reginaldo Bacchi » Qua Abr 27, 2011 11:44 am
Prick escreveu:
Gente, esse tópico está parecendo com o do Novo Fuzil, o EB queria um substituto do Cascavel, fez as especificações, o resultado final parece muito bom, um projeto sólido e moderno capaz de ser modificado mais tarde para futuras versões. Era isso que o EB buscava.
Qualquer plataforma tem que ser coerente com a doutrina de emprego, deve haver uma sinergia entre o projeto e o que se buscava nele no emprego operacional. É claro em tudo tem um custo benefício, poderíamos ter uma veículo 8X8, com canhão de 105 mm, porém, com custos muito maiores.
Bacchi responde:
É um prazer ler um elogio para o trabalho do EB neste projeto, depois de tantas criticas.
Apesar do famoso dito de que “Quod abundat non nocet” vou tomar sua assertiva com um “granus salis”.
Existe uma crença muito difundida em vários exércitos do Mundo, que veículos de reconhecimento muito poderosos podem levar ao subalterno sedento de glória, a se envolver em combates não necessários, esquecendo sua função principal que é a de fornecer informação sobre a força adversaria.
Esta sempre foi uma crença do exército britânico, mas não seguida pelo exército estadunidense, onde suas poderosas unidades reconhecimento (Cavalry Squadrons – valor regimento de cavalaria brasileiro) são mobiliados com o carro de combate M1 Abrams e VBTP Bradley.
Em todo o caso o exército brasileiro em função de sua doutrina e experiência anterior com o Cascavel e Urutu, resolveu adotar um 6X6, e um canhão de 90 mm (apesar de um 90 mm superior em poder de fogo ao Cockerill Mk do Cascavel).
Eu respeito com muito agrado esta decisão.
Prick escreveu:
Talvez por isso o Bacchi esteja surpreso com algumas colocações aqui. Vejam a incoerencia, fazer um canhão para disparar mísseis! Os EUA fizeram o M-60 A2, uma dessas coisas incoerentes, tinha um canhão de 152mm para disparar mísseis.
Os soviéticos desenvolveram mísseis para serem disparados de seus MBT´s porque possuem uma desvantagem real, dado que a tecnologia usada nos canhões torna o peso do MBT um fator limitante para usar munição cinética de maior velocidade.
Agora, os ocidentais adotarem isso, seria uma incoerência, um aumento de custos e dor de cabeça logística. A grande vantagem do MBT é ser capaz de ampla gama de utilização, então qualquer coisa que diminua sua versatilidade não tem sentido. O MBT deve ser capaz de se movimentar no TO sem a necessidade de apoio de outras plataformas.
Oras para que fazer um canhão para disparar mísseis, para isso não é necessário um canhão, vc tem um despesa alta na plataforma, e ainda vai usar uma munição mais cara, que não precisa de plataforma dedicada. O míssil AT é uma arma de infantaria, para ser usada de modo despojado ou em plataformas leves. Dando um poder de fogo maior a elas, sem que isso implique num aumento de custos na plataforma.
O MBT é o oposto, todo o esforço é dedicado a plataforma, de tal forma que ela seja quase invulnerável, e que use uma munição relativamente mais barata e que possa ter grande autonomia, tanto de combustível como de munição, por isso, o binômio canhão e metralhadora.
Cada um no seu quadrado, eu diria que fazer um MBT ter armamento de míssil para ser diparado por canhões de 120 mm, é algo como tentarmos colocar uma torre de MBT num Guarani. Ou que ele tenha um canhão de 120 mm instalado nele.
Bacchi responde:
Eu não estou surpreso - como escrevi anteriormente sobre este assunto, acho a decisão tomada pelo exército soviético, de uma logica irretorquivel – existia um problema: a munição APDSFS não resolvia o problema a grande distancia (apesar de alguns discordarem dessa afirmação) e resolveram isto de uma maneira que considero brilhante.
A solução do problema deve ser analisado no contexto da época: estamos falando de 20.05.1968 quando foi dada partida a este programa de míssil anti carro guiado para o canhão de 125 mm do carro de combate T-64 - ou seja: há 40 anos atrás!!!
Conforme afirma o pesquisador russo Vasiliy Fofanov:
Sobre a munição APDSFS soviética:
“… USSR has pioneered the use of APFSDS ammunition in tanks loads with the introduction of T-62 medium tank. With their extremely high speed and long direct-fire range these rounds could be effectively used at substantial range in spite of the antiquated fire control of T-62. Opposite to the popular belief, it was not however a preferred anti-tank round until the end of seventies, with HEAT being considered more versatile, accurate, and powerful. This, as well as very modest advances in NATO armor protection during this period, resulted in the Soviet APFSDS rounds not changing much in appearance until the 80s, with only evolutionary changes in internal composition; they were nevertheless sufficient for dealing with contemporary NATO armor thanks to significant potential offered by 125mm gun. …”;
e mais:
“…The principal difference of most Soviet APFSDS rounds from the Western ones was that the former used bore-riding fins and the sabot had only one area of contact with the barrel, while the latter overwhelmingly use spool shaped sabots that touch the barrel in two areas and therefore can afford to have sub caliber fins. At first glance there are advantages and disadvantages to both approaches. In Soviet model, the sabot can be made much lighter and therefore the loss of gunpowder energy on acceleration of parasitic mass is smaller. On the other hand, large bore-riding fins produce a high ballistic drag causing severe deceleration of the projectile in flight and affecting stability. The developments of the last decades have shown that the Western approach seems to be more sound. Newest 125mm rounds have moved away from bore-riding fins, and there are many foreign variants of 125mm APFSDS rounds utilizing spool-shaped sabots. …”.
e sobre a introdução dos misseis como complementação da APDSFS:
“...Opposite to the popular belief in the West that it is similar in capability to the abortive US Shillelagh program, it is actually a far more mature weapons system, that drastically extended the traditionally unremarkable range of Soviet MBTs to the point where they actually outranged any NATO ground-based weapons system, as well as providing them with viable anti-helicopter weapon, and augmenting the penetrating power of their guns. However, this was a very expensive system. By means of example, T-64B MBT was over 20% more expensive than the T-64B1 model whose only difference was the lack of 9K-112 suite. The price of each 9M-112 missile was roughly equivalent to the price of a civil car. In addition the system was beyond the grasp of an average recruit and normally only officers were authorized to handle it. Finally, there were problems with missile's preparation for fire due to a peculiar way it was adapted for the T-64 autoloader (the weapon actually consisted of two parts that were snapped together as part of the loading sequence; this also precluded the installation of this system in T-72 tanks that have a different autoloader design). …”.
O resultado foi tão bom, que com modificações, foi estendido ao T-72 (e seu sucessores), ao canhão de 100 mm do T-54/55 e ao de 115 mm do T-62.
Em suma um programa muito bem conduzido, com excelentes resultados.
O programa do Shillelagh para o M60 Patton pode em parte ser explicado pela assertiva de Fofanov: ‘...Opposite to the popular belief, it was not (Nota de RJSB: a APDSFS) however a preferred anti-tank round until the end of seventies, with HEAT being considered more versatile, accurate, and powerful. …”.
O Shillelagh tinha cabeça de guerra HEAT, e na fase anterior ao aparecimento dos computadores de tiro, da estabilização dos espelhos dos periscópios etc, míssil anti carro guiado permitia altíssimos valores de “first hit probabilty”, não conseguidos com as munições cinéticas da época.
Mais uma vez estamos falando do passado. O programa do Shillelagh começou em Janeiro 1958 (há 50 anos), com testes de tiro começando em Novembro 1965.
Devido ao missíl guiado não ser uma arma eficiente contra alvos não blindados, posições defensivas, tropas em desdobramento, foi decidido associar ao míssil um canhão capaz de disparar munição AE (HE) para enfrentar estas ameaças normais de um campo de batalha.
Este canhão de 152 mm contribuiu para o fracasso do Shillelagh. Foi decidido não utilizar estojo metálico para o tiro de 152 mm e sim propelente inteiramente consumivel no disparo. Isto nunca aconteceu, ficando resíduos não queimados no tubo.
Este fato, combinado com problemas de guiagem do Shillelagh decretaram o fracasso deste sistema, no M60A1EI e M60A2, no MBT 70 (que devia substitui-lo), e no CCL Sheridan.
Um programa de ótimas intenções, muito bem equacionado, levado ao fracasso por problemas puramente técnicos.
Prick, tudo deve ser levado a época em que aconteceu, para se fazer um juízo adequado.
Bacchi