"Adorei o que fiz. Ainda adoro. Se as circunstâncias fossem diferentes - se minha família não precisasse de mim - eu voltaria em um piscar de olhos", escreve o atirador. "Não estou mentindo nem exagerando quando digo que foi divertido".
Vejam só como uma citação tirada do contexto pode sacanear uma pessoa e distorcer o que ela pretendia dizer.
Quem lê o trecho acima, conclui o quê? Que o tal sujeito é um Hannibal Lector, um psicopata, sem dúvida. Afinal, que matar o inimigo era o dever dele, não há o que contestar. Mas que ele tenha "achado divertido", que ele tenha "adorado", já é seguir por um caminho diferente. Mas, será que foi isso mesmo que ele pretendia dizer?
Dando uma olhada no original, está escrito assim:
"I loved what I did. I still do. If circumstances were different - if my family didn't need me - I'd be back in heartbeat. I'm not lyng or exaggerating to say it was fun. I had the time of my life being a SEAL."
Interpretação e bunda, todos tem uma. Eu interpreto que ele está dizendo que ter sido um SEAL foi a grande experiência da vida dele. E que a "diversão" se encontra na totalidade desta experiência, nos vários anos de carreira dele. Agora, na reserva, sem a louca adrenalina pela iminência de uma operação real ou simulada, talvez ele pense que todas as durezas e sofrimentos, bem feitas as contas, tinham lá uma dose de diversão. Mas, eu não entendo esse trecho como, explicitamente, afirmando que ele sentiu "diversão", em ter matado mais de uma centena de inimigos.
O que ele não tem - e, mais uma vez, penso que não devia ter mesmo - é arrependimento, ou lamentação pelas mortes infligidas. Por exemplo, o episódio também mencionado na reportagem brasileira, o da morte da mulher com uma bomba. Lendo o original, fica-se sabendo que ela pretendia explodir um monte de invasores americanos. O problema é que não haviam só militares americanos na área, haviam também civis iraquianos, inclusive crianças. Se o
SEAL não tivesse abatido a tal mulher, então, esses civis e essas crianças, também teriam sido vitimados, além dos fuzileiros navais americanos.
E, diante de um ato assim, quem vai criticar o autor do livro por considerar "selvagens" e "forças do mal", pessoas como a mulher com a bomba que não demonstrou a mínima preocupação em arriscar a vida de seus próprios compatriotas?
Na introdução ele menciona essa questão da curiosidade popular:
"Há outra questão que as pessoas perguntam de montão: Você se incomoda por ter matado tanta gente no Iraque? E eu conto a elas, 'não'.
E é isso que quero dizer. A primeira vez que você atira em alguém, você fica um pouco nervoso. Você imagina, 'posso mesmo atirar neste cara? Isso está mesmo direito?' Mas, depois que você mata seu inimigo, você vê que está tudo certo. Você diz, 'Grande'.
Você faz isso novamente. E de novo. Você faz isso até que o inimigo não possa mais matar você ou seus compatriotas. Você faz isso até que não sobre mais nenhum para você matar.
É isso que a guerra é."
É isso que a guerra é. Se as pessoas acham horrível -
e é horrível - então, não deviam dar seu voto a políticos que tenham a inclinação para criar guerras por razões falsas, ou irrelevantes para a real segurança do país.