Faz uma enorme mudança no equilíbrio mundial e é mesmo muito mau para o orgulho dos EUA. Mas não é impossível. Já temos pedaços da URSS na UE e estão a dar-se bem. Acho que ganhavam as duas partes.FoxHound escreveu:Multimilionário liberal quer ser primeiro-ministro e levar o seu país para a zona do euro.
Mikhail Prokhorov, multimilionário russo que dirige o partido Causa Justa (ou Causa de Direita), declarou hoje que está pronto a ser primeiro-ministro da Rússia e quer ver o seu país na região de Schengen e na zona do euro.
“Acho que darei conta do trabalho de primeiro-ministro. Trata-se de uma espécie de diretor-geral, só que de um grande país”, afirmou ele numa conferência de imprensa.
Porém, Prokhorov assinalou que “não posso ser primeiro-ministro com programas em que não acredito”.
O multimilionário anunciou que no programa do seu partido irá propor a criação de uma Grande Europa com a integração da Rússia na região de Schengen e na zona do euro.
“O resultado da simbiose deve ser a formação de um novo pólo com poder de concorrência da economia mundial, sem as fraquezas inerentes à Europa e Rússia quando separadas”, acrescentou.
Segundo ele, “cada país, no processo da formação do mundo, deve ter uma estratégia agressiva de desenvolvimento. Não falo por todo o mundo, mas tenho um plano definido para a Rússia. Ele será exposto pormenorizadamente no meu programa, mas o sentido consiste em que é preciso voltar à velha nova ideia da criação da Grande Europa de Lisboa até Vladivostoque”.
“Considero que o nosso país deve dar um passo decisivo para a aproximação com a Europa, que é constituído por dois postulados importantes. O primeiro é a adesão a Schengen e o segundo consiste em entrar na zona do euro”, precisou um dos homens mais ricos da Rússia e do mundo.
Prokhorov considera, ao contrário dos dirigentes russos, que “o rublo está ligado aos lucros do petróleo e gás e não tem possibilidades de se transformar sequer numa divisa regional”.
A realização desta ideia, defende este político, contribuirá para a superação da crise sistémica que atravessa a economia global.
“No futuro, o mundo irá desenvolver-se em torno de três potentes centros: América com a América Latina, Grande Europa e China com a Região Asiática. Este modelo é o mais equilibrado e levará a humanidade a movas etapas”, considerou.
Mikhail Prokhorov acusou as autoridades de regionais de terem retirado os cartazes com propaganda do seu partido.
Segundo alguns analistas políticos russos, o Partido Causa Justa é um projeto elaborado no Kremlin a fim de neutralizar as forças políticas liberais que contestam a política dos atuais Presidente e primeiro-ministro russos, Dmitri Medvedev e Vladimir Putin.
http://darussia.blogspot.com/
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Dificilmente acho que isso vai acontecer digamos próximo do impossivel.
RÚSSIA
Moderador: Conselho de Moderação
- tflash
- Sênior
- Mensagens: 5426
- Registrado em: Sáb Jul 25, 2009 6:02 pm
- Localização: Portugal
- Agradeceu: 11 vezes
- Agradeceram: 31 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Kids - there is no Santa. Those gifts were from your parents. Happy New Year from Wikileaks
- Bourne
- Sênior
- Mensagens: 21087
- Registrado em: Dom Nov 04, 2007 11:23 pm
- Localização: Campina Grande do Sul
- Agradeceu: 3 vezes
- Agradeceram: 21 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
É.... Nem os países do euro se entendem e os membros mais fracos estão em dificuldades. Imagina com a Rússia. Era um pulo ir de briga política para guerra de fato.P44 escreveu:O que o Vodka faz...a esse pobre rapaz!

Adotar o euro não significa apenas abrir mão de um dos símbolos de soberania, mas adotar um pacote de medidas que deixa o país de fora de decisões importantes. O que não parece provável que os russos aceitam. Ainda mais quando se vê que a integração política da UE está muito aquém do que deveria ser e estoura em outros lugares como no endividamento dos países e insolvência para os mais fracos.
-
- Sênior
- Mensagens: 2012
- Registrado em: Ter Jul 24, 2007 1:14 pm
- Agradeceu: 38 vezes
- Agradeceram: 16 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Nada ver, não foi isso que os russos me falaram,ou vai me dizer que você amigo intimo do ministro da defesa da Russia Anatoliy Eduardovich Serdyukov ou de algum adido militar russo no brasil para dizer que não tinha dinheiro para vir ao país, não vieram por que tinha coisa mais importante a fazer para os seus soldados principalmente nos seus serviços no cáucaso do que ficar perdendo tempo em competição.A Rússia não veio aos jogos militares realizados aqui no Brasil por falta de dinheiro. Pelo mesmo motivo, os EUA enviaram uma equipe reduzida. Somente China e Coréia do Sul vieram com equipe completa.
Mesmo porque os Jogos mundias militares não tem relevancia mundial sendo que muita gente sequer sabia que existia.
-
- Sênior
- Mensagens: 2012
- Registrado em: Ter Jul 24, 2007 1:14 pm
- Agradeceu: 38 vezes
- Agradeceram: 16 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Bem lembrado, sem contar que os países que pertenceram ao antigo pacto de vársovia nem de longe querem ver os russos por perto eles nem se incomodam de a Russia ficar na esfera de influência chinesa contanto que não fiquem por perto.Adotar o euro não significa apenas abrir mão de um dos símbolos de soberania, mas adotar um pacote de medidas que deixa o país de fora de decisões importantes. O que não parece provável que os russos aceitam. Ainda mais quando se vê que a integração política da UE está muito aquém do que deveria ser e estoura em outros lugares como no endividamento dos países e insolvência para os mais fracos.
tive a opurtunidade de perguntar para um polonês sobre a Russia e a China ele me disse essas palavras " Que morram abraçados bem longe onde eu moro, não são nada mais do que dois trogloditas na face da terra."
- cabeça de martelo
- Sênior
- Mensagens: 40608
- Registrado em: Sex Out 21, 2005 10:45 am
- Localização: Portugal
- Agradeceu: 1207 vezes
- Agradeceram: 3033 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
FoxHound escreveu:Mesmo porque os Jogos mundias militares não tem relevancia mundial sendo que muita gente sequer sabia que existia.
Eu não sabia que isso existia, nem sei se há participação portuguesa.

- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Eu já tinha ouvido falar nisso, mas não sabia do que se tratava. Eu pensava que era alguma coisa, realmente militar. Tipo, competição de táticas de infantaria e coisas assim. Nunca pensei que se tratasse de jogo de voleibol, judô e outras coisas "paisanas".cabeça de martelo escreveu:FoxHound escreveu:
Eu não sabia que isso existia, nem sei se há participação portuguesa.
Pra ver voleibol e judô, a gente já vê na Olimpíada, né mesmo?
- cabeça de martelo
- Sênior
- Mensagens: 40608
- Registrado em: Sex Out 21, 2005 10:45 am
- Localização: Portugal
- Agradeceu: 1207 vezes
- Agradeceram: 3033 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Soultrain vendo o tópico sobre a politica expansionista chinesa na ásia eu não tenho tanta a certeza. Acho que o PA é para consumo interno (orgulho nacional) e ao mesmo tempo para pressionar os vizinhos a não levantar muitas ondas em relação às exigências territoriais chinesas.soultrain escreveu:Antes que se crie o mito...
Uma potência substituta não usa os métodos da que substitui, porta aviões é coisa do passado, a China só vai ter para acomodar egos de Almirantes antigos.
Sem dúvida!Agora pensem no que tem acontecido no mundo actualmente, a China não precisa de PA's para dar um nó Gordio a qualquer país do mundo, precisa de boa informação! e de controlo de informação. Não digo mais nada.
Vou dar um exemplo abstracto e surreal:
Imaginem o que está a acontecer em Londres, imaginem a possibilidade de serem os serviços secretos chineses a orquestrarem tudo e quem aplica (os jovens Ingleses) nem sonhar que estão a ser manipulados...
A teoria da conspiração é um pouco diferente (pelo menos as que eu tenho ouvido/lido), mas um caso bastante palpavel e perfeitamente possivel. Como já disseste em relação a áfrica, os chineses estão a mostrar a sua agressividade empresarial e é com isso que estão a dominar. Os meus tios vão todos os anos à China a uma grande exposição (uma espécie de FIL) e todos os anos fazem inúmeros negócios. Eles não vão lá por causa dos lindos olhos castanhos dos chineses, mas sim pela forte capacidade empresarial chinesa de responder a qualquer pedido em qualquer área de negócio. Segundo eles, os chineses conseguem ser mais organizados que os alemães e ao mesmo tempo muito adaptáveis a qualquer situação. É com isso que eles vão dominar neste século.
- FOXTROT
- Sênior
- Mensagens: 7803
- Registrado em: Ter Set 16, 2008 1:53 pm
- Localização: Caçapava do Sul/RS.
- Agradeceu: 278 vezes
- Agradeceram: 113 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
terra.com.br
Armênia luta para preservar identidade após colapso da URSS
14 de agosto de 2011 •
A Armênia é conhecida mundialmente por seus grandes poetas, artistas e músicos. Um grande império no passado, estendendo-se por quase um terço do atual território turco, partes da Geórgia, do Irã e do Azerbaijão, os armênios perderam mais de 70% de sua terra em sucessivas ondas de dominações, batalhas entre persas, mongóis, otomanos e russos, além de um terrível genocídio perpetrado pelo Império Otomano que dizimou entre 600 mil e 1,5 milhões de pessoas.
A Armênia foi o primeiro país a adotar o cristianismo em 301 e a igreja ortodoxa armênia tem fortíssima influência no país e na diáspora armênia espalhada entre Rússia, Irã, Geórgia, EUA, Europa, Argentina, Brasil e Austrália. O país é extremamente conservador - questões de honra familiar são tomadas com extrema seriedade, a expectativa é que as mulheres se casem jovens e virgens e que os homens sejam os mantenedores da família.
O país era uma das repúblicas da ex-União Soviética (URSS) e grande parte da arquitetura urbana da Armênia ainda é original dos anos da cortina de ferro - grandes blocos funcionais e com pouco caráter servem tanto para abrigar prédios públicos quanto moradias muitas vezes alocadas em função dos número de membros de uma família.
O país é o mais pobre do Cáucaso, com um PIB de pouco mais de US$ 9 bilhões. Problemas de infraestrutura e falta de trabalho levam grande parte dos jovens do país a buscarem melhores oportunidades na Rússia, maior investidor e centro de referência cultural para os armênios. Os russos possuem bases militares no país e controlam as fronteiras aeroportuárias com o Irã. Além disso, o exército russo é responsável por patrulhar a garantir a segurança nas fronteiras fechadas entre a Armênia, Turquia e Azerbaijão.
Além de todos os problemas, Armênia e Azerbaijão encontram-se em virtual estado de guerra por um pequeno enclave de etnia armênia cedido ao Azerbaijão por Stalin e conhecido pelo nome de Nagorno-Karabakh - um território que se declara independente, mas tem pretensões de se unir ao resto dos armênios, enquanto o Azerbaijão e o resto do mundo o consideram parte integral do território azeri.
A Armênia é um dos países que melhor preservou os costumes, a burocracia e a arquitetura da URSS - chega a ser mais fácil ver os traços do antigo país na Armênia do que na própria Rússia.
Armênia luta para preservar identidade após colapso da URSS
14 de agosto de 2011 •
A Armênia é conhecida mundialmente por seus grandes poetas, artistas e músicos. Um grande império no passado, estendendo-se por quase um terço do atual território turco, partes da Geórgia, do Irã e do Azerbaijão, os armênios perderam mais de 70% de sua terra em sucessivas ondas de dominações, batalhas entre persas, mongóis, otomanos e russos, além de um terrível genocídio perpetrado pelo Império Otomano que dizimou entre 600 mil e 1,5 milhões de pessoas.
A Armênia foi o primeiro país a adotar o cristianismo em 301 e a igreja ortodoxa armênia tem fortíssima influência no país e na diáspora armênia espalhada entre Rússia, Irã, Geórgia, EUA, Europa, Argentina, Brasil e Austrália. O país é extremamente conservador - questões de honra familiar são tomadas com extrema seriedade, a expectativa é que as mulheres se casem jovens e virgens e que os homens sejam os mantenedores da família.
O país era uma das repúblicas da ex-União Soviética (URSS) e grande parte da arquitetura urbana da Armênia ainda é original dos anos da cortina de ferro - grandes blocos funcionais e com pouco caráter servem tanto para abrigar prédios públicos quanto moradias muitas vezes alocadas em função dos número de membros de uma família.
O país é o mais pobre do Cáucaso, com um PIB de pouco mais de US$ 9 bilhões. Problemas de infraestrutura e falta de trabalho levam grande parte dos jovens do país a buscarem melhores oportunidades na Rússia, maior investidor e centro de referência cultural para os armênios. Os russos possuem bases militares no país e controlam as fronteiras aeroportuárias com o Irã. Além disso, o exército russo é responsável por patrulhar a garantir a segurança nas fronteiras fechadas entre a Armênia, Turquia e Azerbaijão.
Além de todos os problemas, Armênia e Azerbaijão encontram-se em virtual estado de guerra por um pequeno enclave de etnia armênia cedido ao Azerbaijão por Stalin e conhecido pelo nome de Nagorno-Karabakh - um território que se declara independente, mas tem pretensões de se unir ao resto dos armênios, enquanto o Azerbaijão e o resto do mundo o consideram parte integral do território azeri.
A Armênia é um dos países que melhor preservou os costumes, a burocracia e a arquitetura da URSS - chega a ser mais fácil ver os traços do antigo país na Armênia do que na própria Rússia.
"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
- prp
- Sênior
- Mensagens: 9085
- Registrado em: Qui Nov 26, 2009 11:23 am
- Localização: Montes Claros
- Agradeceu: 138 vezes
- Agradeceram: 430 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
PoRa, um PIB de 9 BI é muito pouquinho né. Dá mais ou menos o do Piauí. 

- rodrigo
- Sênior
- Mensagens: 12891
- Registrado em: Dom Ago 22, 2004 8:16 pm
- Agradeceu: 221 vezes
- Agradeceram: 424 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Medvedev demonstra a capacidade militar russa:
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
-
- Sênior
- Mensagens: 2012
- Registrado em: Ter Jul 24, 2007 1:14 pm
- Agradeceu: 38 vezes
- Agradeceram: 16 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Genial Rodrigo,principalmente ele detonando Mujahideen parabemsMedvedev demonstra a capacidade militar russa:
- Túlio
- Site Admin
- Mensagens: 62304
- Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
- Localização: Tramandaí, RS, Brasil
- Agradeceu: 6528 vezes
- Agradeceram: 6899 vezes
- Contato:
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Lembrar de VLADIVOSTOK e todas as riquezas minerais que ali tem, fora a madeira. E ali do klado está quem? A CHINA!!!
BRICs my ass!!!
BRICs my ass!!!
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
-
- Sênior
- Mensagens: 2012
- Registrado em: Ter Jul 24, 2007 1:14 pm
- Agradeceu: 38 vezes
- Agradeceram: 16 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Noticias Fresquinhas do bastidores da desintegração da URSS.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Documentos secretos revelam a verdade por trás do colapso soviético
Os comunistas radicais deram um golpe contra Mikhail Gorbachev 20 anos atrás, e a União Soviética caiu pouco depois. Documentos antes desconhecidos, obtidos pelo “Spiegel”, mostram como o último líder soviético estava desesperado enquanto lutava para se manter no poder –e como ele implorou à Alemanha por dinheiro para salvar seu país.
Há um momento determinado –uma única decisão- que algumas pessoas ainda guardam contra Mikhail Gorbachev hoje, 20 anos depois.
Gorbachev, o último líder do Partido Comunista Soviético e último presidente da União Soviética, sua mulher e seu círculo de confiança mais próximo sobreviveram à tentativa de golpe da KGB, dos comandantes das forças armadas e do ministro do interior. Eles tiveram permissão para voltar para Moscou da prisão domiciliar imposta na casa de férias de Gorbachev em Foros, na Crimeia. Seu avião pousou na capital às 2h15 da manhã, hora local, no dia 22 de agosto de 1991.
Nos três dias anteriores, cerca de 60.000 pessoas tinham acampado na frente da Casa Branca russa, o assento parlamentar da República Soviética, que tinha se tornado o reduto dos defensores de Gorbachev. Quando ouviram no rádio que ele havia sido liberado da prisão domiciliar na península da Crimeia, eles deram vivas, gritaram “presidente, presidente” e esperaram a chegada de Gorbachev, que na época estava com 60 anos.
Contudo, Gorbachev, que só foi liberado por que os líderes do golpe tinham ficado com medo de seu próprio povo e não se aventuraram a invadir a Casa Branca, chocou seus camaradas russos em júbilo. Em vez de pedir para ser levado do aeroporto diretamente para junto de seus partidários, e em vez de saborear o momento de vitória e celebrar a derrota dos conspiradores, ele mandou o motorista levá-lo à sua datcha. Ele passou o resto da noite em casa e foi trabalhar no Kremlin na manhã seguinte.
Pelos padrões de hoje, foi uma gafe de relações públicas sem tamanho. Mas os três dias de prisão domiciliar na península da Crimeia não havia apenas confundido o país, também prejudicado o equilíbrio interno de Gorbachev –e especialmente da mulher dele, Raisa Maximovna Gorbachova.
Passado eliminado
A mulher de Gorbachev foi quem pagou o maior preço pelos três dias. No voo de volta para Moscou, ela precisou se deitar. Tinha hematomas nos olhos, a fala estava prejudicada e sentia um lado do corpo paralisado. Os médicos diagnosticaram um derrame, que depois se concluiu ter sido um ataque severo de hipertensão.
O estresse daqueles dias, quando a União Soviética estava chegando ao fim após quase 69 anos de existência, foi demais para os Gorbachev. Quem agora brilhava como novo astro político em Moscou não era o diretor do Kremlin, mas seu antigo protegido, Boris Yeltsin. Imediatamente após o golpe, Yeltsin proibiu todas as atividades do Partido Comunista Soviético, do qual Gorbachev havia sido secretário-geral até então. E, com o movimento de secessão entre as repúblicas soviéticas não russas, Gorbachev se tornou um presidente sem um Estado. Logo, o que restava do centro da República da União Soviética seria a Rússia, que Gorbachev não mais controlava.
Raisa Gorbachova passou os dias pós-golpe na varanda da datcha do presidente. Foi em um desses dias que ela apagou seu passado, queimando 52 cartas que seu marido havia escrito a ela em viagens oficiais. Eram “cartas de nossa juventude”, como Gorbachev disse mais tarde, cartas que a mulher tinha guardado a vida toda. Mas após suas experiências em Foros, ela ficou com medo, inclusive daqueles que assumiriam o poder no futuro. Ela chorou ao jogar no forno as cartas cuidadosamente preservadas, dizendo ao marido que queria impedir que pessoas de fora se metessem em suas vidas.
Gorbachev, que estava igualmente perdido sobre o que ia acontecer com sua família e o país nas próximas semanas, e que respeitava as opiniões da mulher, seguiu seu exemplo e começou a queimar outros documentos.
Ele jogou 25 cadernos nas chamas. Eles incluíam notas que havia feito quando estava no cargo, detalhes do dia-a-dia da vida política, descrições dos políticos e vários projetos. O único que guardou foi seu diário privado. Quase 20 anos se passaram antes dele citar esse incidente, em uma entrevista de fevereiro de 2011 ao jornal que ele publica, “Novaya Gazeta”.
Arquivo contém milhares de documentos
Os documentos oficiais de seus quase seis anos no cargo foram preservados. Gorbachev levou-os quando anunciou sua renúncia como presidente soviético no final do ano e doou-os para a fundação que tem seu nome. Desde então, cerca de 10.000 documentos estão armazenados na sede da fundação em Leningrad Prospect 39, em Moscou. Eles incluem os arquivos de seus assessores de política externa, Vadim Zagladin e Anatoly Chernyaev.
Os papeis ilustram o período final do experimento comunista. Eles incluem as minutas das negociações com líderes estrangeiros, as recomendações dos assessores de Gorbachev escritas à mão, as observações para conversas de telefone e gravações dessas conversas, notas confidenciais de embaixadores e registros estenográficos de debates no politburo.
Nenhuma das questões com as quais o auto-proclamado reformista da União Soviética foi confrontado nesses anos ficou de fora.
Há memorandos nos quais o líder soviético é aconselhado sobre como pôr fim à guerra no Afeganistão ou como lidar com os judeus que emigravam, ou explicar para ele por que deveria se recusar a se reunir com o líder palestino Yasser Arafat (“Nada real pode ser esperado dele”), ou por que deveria evitar levar Mathias Rust, jovem aviador alemão que pousou ilegalmente um pequeno avião perto da praça Vermelha, à justiça e em vez disso recebê-lo no Kremlin (“Há questões sobre seu estado psicológico”).
Há relatos de fontes de dentro do Partido Comunista da Alemanha Oriental, descrevendo como estavam as condições na Alemanha Oriental e detalhando quem ainda era confiável no politburo em Berlim Oriental. E há relatórios igualmente meticulosos sobre o que a revista francesa “Paris Match” escreveu sobre Raisa Gorbachova, ou o que a cantora russa Alla Pugacheva disse a uma revista alemã sobre a política de perestroica de Gorbachev.
Burocracia ineficiente
A leitura dos documentos é uma volta no tempo. De uma só vez, eles revelam os muitos problemas do sistema calcificado, desde a rebelião de agricultores e mineiros até intelectuais exigindo eleições democráticas. O povo dos Estados bálticos, os georgianos e os moldávios estavam se revoltando contra os russos, enquanto o fim da doutrina Brejnev –a política externa da União Soviética que ditava que os países não poderiam deixar o Pacto de Varsóvia- estava surgindo na Europa Oriental.
Gorbachev, que tinha sido autoridade da província de Stavropol, segurava o leme do país, observando-o sufocar como resultado de seu enorme tamanho e a recusa de sua burocracia em mudar de rumo. Os documentos também mostram que, mesmo sob Gorbachev, a burocracia estava ineficiente como sempre.
O assessor de Gorbachev Anatoly Chernyaev, por exemplo, reclama dos líderes incompetentes do movimento comunista global, como o diretor do Partido Comunista francês Georges Marchais (“cavalo morto”) e Gus Hall, do Partido Comunista EUA (“um filisteu com conceitos plebeus”). Ainda assim, Moscou pagava milhões para seus representantes em torno do mundo.
Nessa época, as lojas na União Soviética estavam sem ovos e açúcar, e até a vodca estava em falta. As condições eram tão ruins que, em setembro de 1988, Chernyaev teve que submeter um pedido escrito para que uma conexão telefônica fosse instalada no apartamento de seu motorista Nikolai Nikolayevich Maikov, para que o secretário-geral pudesse alcançá-lo.
O “Spiegel” também é mencionado repetidamente nos documentos internos do arquivo de Gorbachev. Por exemplo, um memorando de junho de 1987 revela que Chernyaev ficou claramente revoltado com as 54 questões que jornalistas do “Spiegel” enviaram ao líder do Kremlin, que ele caracterizou como “bastante insolentes”. Ele suspeitava que o “Spiegel” pretendia conduzir a entrevista que tinha solicitado a Gorbachev como “um interrogatório”. No memorando, Chernyaev escreve que o Kremlin deveria “é claro, não reagir” ao pedido. O pedido está carimbado com “devolução com negativa”. De fato, a entrevista não aconteceu. Hoje, 24 anos depois, está claro o motivo.
Ainda é tabu
Gorbachev mais tarde usou alguns dos documentos em seus livros, para desgosto da atual liderança do Kremlin. Mas muitos dos documentos são tabus até hoje. Em parte porque se relacionam a decisões ou pessoas sobre as quais Gorbachev ainda não deseja discutir. Mas a maior parte porque não se encaixam com a imagem que Gorbachev fez de si mesmo, ou seja, de um reformista avançando com determinação, gradualmente redesenhando seu enorme país de acordo com suas ideias.
Durante uma visita de pesquisa à Fundação Gorbachev, o jovem historiador russo Pavel Stroilov, que atualmente mora em Londres, secretamente copiou cerca de 30.000 páginas do material arquivado e disponibilizou-as ao “Spiegel”.
Os documentos revelam algo que Gorbachev prefere manter em silêncio: que foi movido a agir pela situação do Estado soviético moribundo e que frequentemente perdia as coisas no caos. Eles também mostram que ele tinha duas caras e, contrário às suas declarações, algumas vezes fazia acordos com os radicais do partido e militares.
Em outras palavras, o líder do Kremlin fez o que muitos estadistas aposentados fazem: retocou sua imagem para que transmitisse a de um honesto reformista.
http://codinomeinformante.blogspot.com/ ... -results=7
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Documentos secretos revelam a verdade por trás do colapso soviético
Os comunistas radicais deram um golpe contra Mikhail Gorbachev 20 anos atrás, e a União Soviética caiu pouco depois. Documentos antes desconhecidos, obtidos pelo “Spiegel”, mostram como o último líder soviético estava desesperado enquanto lutava para se manter no poder –e como ele implorou à Alemanha por dinheiro para salvar seu país.
Há um momento determinado –uma única decisão- que algumas pessoas ainda guardam contra Mikhail Gorbachev hoje, 20 anos depois.
Gorbachev, o último líder do Partido Comunista Soviético e último presidente da União Soviética, sua mulher e seu círculo de confiança mais próximo sobreviveram à tentativa de golpe da KGB, dos comandantes das forças armadas e do ministro do interior. Eles tiveram permissão para voltar para Moscou da prisão domiciliar imposta na casa de férias de Gorbachev em Foros, na Crimeia. Seu avião pousou na capital às 2h15 da manhã, hora local, no dia 22 de agosto de 1991.
Nos três dias anteriores, cerca de 60.000 pessoas tinham acampado na frente da Casa Branca russa, o assento parlamentar da República Soviética, que tinha se tornado o reduto dos defensores de Gorbachev. Quando ouviram no rádio que ele havia sido liberado da prisão domiciliar na península da Crimeia, eles deram vivas, gritaram “presidente, presidente” e esperaram a chegada de Gorbachev, que na época estava com 60 anos.
Contudo, Gorbachev, que só foi liberado por que os líderes do golpe tinham ficado com medo de seu próprio povo e não se aventuraram a invadir a Casa Branca, chocou seus camaradas russos em júbilo. Em vez de pedir para ser levado do aeroporto diretamente para junto de seus partidários, e em vez de saborear o momento de vitória e celebrar a derrota dos conspiradores, ele mandou o motorista levá-lo à sua datcha. Ele passou o resto da noite em casa e foi trabalhar no Kremlin na manhã seguinte.
Pelos padrões de hoje, foi uma gafe de relações públicas sem tamanho. Mas os três dias de prisão domiciliar na península da Crimeia não havia apenas confundido o país, também prejudicado o equilíbrio interno de Gorbachev –e especialmente da mulher dele, Raisa Maximovna Gorbachova.
Passado eliminado
A mulher de Gorbachev foi quem pagou o maior preço pelos três dias. No voo de volta para Moscou, ela precisou se deitar. Tinha hematomas nos olhos, a fala estava prejudicada e sentia um lado do corpo paralisado. Os médicos diagnosticaram um derrame, que depois se concluiu ter sido um ataque severo de hipertensão.
O estresse daqueles dias, quando a União Soviética estava chegando ao fim após quase 69 anos de existência, foi demais para os Gorbachev. Quem agora brilhava como novo astro político em Moscou não era o diretor do Kremlin, mas seu antigo protegido, Boris Yeltsin. Imediatamente após o golpe, Yeltsin proibiu todas as atividades do Partido Comunista Soviético, do qual Gorbachev havia sido secretário-geral até então. E, com o movimento de secessão entre as repúblicas soviéticas não russas, Gorbachev se tornou um presidente sem um Estado. Logo, o que restava do centro da República da União Soviética seria a Rússia, que Gorbachev não mais controlava.
Raisa Gorbachova passou os dias pós-golpe na varanda da datcha do presidente. Foi em um desses dias que ela apagou seu passado, queimando 52 cartas que seu marido havia escrito a ela em viagens oficiais. Eram “cartas de nossa juventude”, como Gorbachev disse mais tarde, cartas que a mulher tinha guardado a vida toda. Mas após suas experiências em Foros, ela ficou com medo, inclusive daqueles que assumiriam o poder no futuro. Ela chorou ao jogar no forno as cartas cuidadosamente preservadas, dizendo ao marido que queria impedir que pessoas de fora se metessem em suas vidas.
Gorbachev, que estava igualmente perdido sobre o que ia acontecer com sua família e o país nas próximas semanas, e que respeitava as opiniões da mulher, seguiu seu exemplo e começou a queimar outros documentos.
Ele jogou 25 cadernos nas chamas. Eles incluíam notas que havia feito quando estava no cargo, detalhes do dia-a-dia da vida política, descrições dos políticos e vários projetos. O único que guardou foi seu diário privado. Quase 20 anos se passaram antes dele citar esse incidente, em uma entrevista de fevereiro de 2011 ao jornal que ele publica, “Novaya Gazeta”.
Arquivo contém milhares de documentos
Os documentos oficiais de seus quase seis anos no cargo foram preservados. Gorbachev levou-os quando anunciou sua renúncia como presidente soviético no final do ano e doou-os para a fundação que tem seu nome. Desde então, cerca de 10.000 documentos estão armazenados na sede da fundação em Leningrad Prospect 39, em Moscou. Eles incluem os arquivos de seus assessores de política externa, Vadim Zagladin e Anatoly Chernyaev.
Os papeis ilustram o período final do experimento comunista. Eles incluem as minutas das negociações com líderes estrangeiros, as recomendações dos assessores de Gorbachev escritas à mão, as observações para conversas de telefone e gravações dessas conversas, notas confidenciais de embaixadores e registros estenográficos de debates no politburo.
Nenhuma das questões com as quais o auto-proclamado reformista da União Soviética foi confrontado nesses anos ficou de fora.
Há memorandos nos quais o líder soviético é aconselhado sobre como pôr fim à guerra no Afeganistão ou como lidar com os judeus que emigravam, ou explicar para ele por que deveria se recusar a se reunir com o líder palestino Yasser Arafat (“Nada real pode ser esperado dele”), ou por que deveria evitar levar Mathias Rust, jovem aviador alemão que pousou ilegalmente um pequeno avião perto da praça Vermelha, à justiça e em vez disso recebê-lo no Kremlin (“Há questões sobre seu estado psicológico”).
Há relatos de fontes de dentro do Partido Comunista da Alemanha Oriental, descrevendo como estavam as condições na Alemanha Oriental e detalhando quem ainda era confiável no politburo em Berlim Oriental. E há relatórios igualmente meticulosos sobre o que a revista francesa “Paris Match” escreveu sobre Raisa Gorbachova, ou o que a cantora russa Alla Pugacheva disse a uma revista alemã sobre a política de perestroica de Gorbachev.
Burocracia ineficiente
A leitura dos documentos é uma volta no tempo. De uma só vez, eles revelam os muitos problemas do sistema calcificado, desde a rebelião de agricultores e mineiros até intelectuais exigindo eleições democráticas. O povo dos Estados bálticos, os georgianos e os moldávios estavam se revoltando contra os russos, enquanto o fim da doutrina Brejnev –a política externa da União Soviética que ditava que os países não poderiam deixar o Pacto de Varsóvia- estava surgindo na Europa Oriental.
Gorbachev, que tinha sido autoridade da província de Stavropol, segurava o leme do país, observando-o sufocar como resultado de seu enorme tamanho e a recusa de sua burocracia em mudar de rumo. Os documentos também mostram que, mesmo sob Gorbachev, a burocracia estava ineficiente como sempre.
O assessor de Gorbachev Anatoly Chernyaev, por exemplo, reclama dos líderes incompetentes do movimento comunista global, como o diretor do Partido Comunista francês Georges Marchais (“cavalo morto”) e Gus Hall, do Partido Comunista EUA (“um filisteu com conceitos plebeus”). Ainda assim, Moscou pagava milhões para seus representantes em torno do mundo.
Nessa época, as lojas na União Soviética estavam sem ovos e açúcar, e até a vodca estava em falta. As condições eram tão ruins que, em setembro de 1988, Chernyaev teve que submeter um pedido escrito para que uma conexão telefônica fosse instalada no apartamento de seu motorista Nikolai Nikolayevich Maikov, para que o secretário-geral pudesse alcançá-lo.
O “Spiegel” também é mencionado repetidamente nos documentos internos do arquivo de Gorbachev. Por exemplo, um memorando de junho de 1987 revela que Chernyaev ficou claramente revoltado com as 54 questões que jornalistas do “Spiegel” enviaram ao líder do Kremlin, que ele caracterizou como “bastante insolentes”. Ele suspeitava que o “Spiegel” pretendia conduzir a entrevista que tinha solicitado a Gorbachev como “um interrogatório”. No memorando, Chernyaev escreve que o Kremlin deveria “é claro, não reagir” ao pedido. O pedido está carimbado com “devolução com negativa”. De fato, a entrevista não aconteceu. Hoje, 24 anos depois, está claro o motivo.
Ainda é tabu
Gorbachev mais tarde usou alguns dos documentos em seus livros, para desgosto da atual liderança do Kremlin. Mas muitos dos documentos são tabus até hoje. Em parte porque se relacionam a decisões ou pessoas sobre as quais Gorbachev ainda não deseja discutir. Mas a maior parte porque não se encaixam com a imagem que Gorbachev fez de si mesmo, ou seja, de um reformista avançando com determinação, gradualmente redesenhando seu enorme país de acordo com suas ideias.
Durante uma visita de pesquisa à Fundação Gorbachev, o jovem historiador russo Pavel Stroilov, que atualmente mora em Londres, secretamente copiou cerca de 30.000 páginas do material arquivado e disponibilizou-as ao “Spiegel”.
Os documentos revelam algo que Gorbachev prefere manter em silêncio: que foi movido a agir pela situação do Estado soviético moribundo e que frequentemente perdia as coisas no caos. Eles também mostram que ele tinha duas caras e, contrário às suas declarações, algumas vezes fazia acordos com os radicais do partido e militares.
Em outras palavras, o líder do Kremlin fez o que muitos estadistas aposentados fazem: retocou sua imagem para que transmitisse a de um honesto reformista.
http://codinomeinformante.blogspot.com/ ... -results=7
-
- Sênior
- Mensagens: 2012
- Registrado em: Ter Jul 24, 2007 1:14 pm
- Agradeceu: 38 vezes
- Agradeceram: 16 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Continua
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Documentos expõem relação entre Mikhail Gorbachev e Helmut Kohl
O Ocidente elogiou Gorbachev por não ter resistido violentamente ao fim da União Soviética. Na verdade, até hoje não se sabe se o líder do Kremlin não autorizou de fato ações militares contra georgianos, azeris e lituanos, que se rebelaram contra o governo central em Moscou entre 1989 e 1991. Quando tropas soviéticas reprimiram violentamente as manifestações, 20 pessoas foram mortas na Geórgia, 143 no Azerbaijão e 14 na Lituânia, isso para não mencionar as guerras e as rebeliões em Nagorno-Karabakh, no Trans-Dniester e na Ásia Central.
Muita gente não se esqueceu da tragédia ocorrida na capital da Geórgia, Tbilisi, na noite de 8 para 9 de abril de 1989, quando soldados russos usaram pás afiadas e gás venenoso para dissolver uma passeata de protesto na cidade.
Gorbachev alega que só ficou sabendo do incidente seis horas depois. Ele não deu às forças armadas ou ao serviço de inteligência ordens claras para que fosse exercida moderação durante o conflito, mesmo sabendo como eram precárias as relações entre russos e georgianos. Ele tampouco responsabilizou qualquer pessoa pelo ocorrido mais tarde. Ainda hoje ele afirma que a identidade de quem deu as ordens para o uso da violência em Tbilisi é “um grande mistério”.
Mas quando Gorbachev reuniu-se com Hans-Jochen Vogel, que à época era o presidente da agremiação de centro-esquerda alemã Partido Social Democrata (em alemão, Sozialdemokratische Partei Deutschlands, ou SPD), em 11 de abril, dois dias após a supressão sangrenta dos protestos, ele procurou justificar a sua abordagem dura. Mais tarde ele fez com que fosse apagado o seguinte trecho da transcrição publicada em russo da sua conversa com Vogel:
“Você ouviu falar dos acontecimentos na Geórgia. Notórios inimigos da União Soviética se reuniram lá. Eles abusaram do processo democrático, gritaram palavras de ordem provocadoras e chegaram até a pedir o envio de tropas da Otan à república. Nós tivemos que adotar uma abordagem firme ao lidarmos com esses aventureiros e defendermos a perestroika – a nossa revolução”.
Os “notórios inimigos da União Soviética” eram na verdade civis pacíficos. Dentre os 20 georgianos mortos em Tbilisi, 17 eram mulheres.
Uma declaração dada em uma reunião do politburo em 4 de outubro de 1989, na qual Gorbachev ficou sabendo que 3.000 manifestantes haviam sido mortos na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em junho daquele ano, demonstra que ele estava preparado para enfrentar resistências aos seus planos de reforma e que não tinha necessariamente descartado a necessidade de recorrer a ações violentas. Gorbachev afirmou:
“Nós precisamos ser realistas. Eles têm que se defender, e nós também. Três mil pessoas, e daí?”.
Este trecho não constava das minutas da reunião que foram publicadas mais tarde.
“Nós só interviremos se houver derramamento de sangue”
Em 1990 e 1991, Gorbachev pôde concluir que pouquíssimos políticos importantes do Ocidente questionariam o papel desempenhado por ele nos conflitos sangrentos com as repúblicas soviéticas que almejavam obter a independência. Naquelas semanas, a única preocupação de norte-americanos e europeus ocidentais era saber se os soviéticos retirar-se-iam de fato da Europa Oriental. Como resultado disso, eles permitiram que Gorbachev mentisse desavergonhadamente, como quando Moscou tentou acabar com o movimento pela independência das repúblicas bálticas no último minuto.
Em janeiro de 1991, sob pressão do serviço de inteligência e das forças armadas, Gorbachev aparentemente concordou com aquilo que já era uma iniciativa vã: proclamar que o governo da Lituânia estava sob o controle de Moscou. Conforme havia ocorrido no passado em Budapeste e em Praga, “trabalhadores” leais à União Soviética pediriam a Moscou que enviasse tropas para socorrê-los, e foi precisamente essa a versão que transpirou. Em 13 de janeiro, unidades especiais do exército e de forças de segurança soviéticas avançaram em tanques até o prédio da rede de televisão estatal em Vilnius, invadiram as instalações da estação e mataram 14 pessoas.
Em uma conversa por telefone com o então presidente dos Estados Unidos, George Bush, dois dias antes, Gorbachev havia negado terminantemente que Moscou interferiria em Vilnius.
Bush: Eu estou preocupado com os problemas internos do seu país. Como pessoa que está de fora, tudo o que posso dizer é o seguinte: se você for capaz de evitar o uso da força, isso beneficiará as suas relações conosco, e não só conosco.
Gorbachev: Nós só interviremos se houver derramamento de sangue ou rebeliões que ameaçarem não só a nossa constituição, mas também vidas humanas. Neste momento eu estou sofrendo uma pressão tremenda para decretar o controle presidencial sobre a Lituânia. Eu ainda estou evitando isso, e somente no caso de uma ameaça muito séria tomarei tais medidas.
Helmut Kohl, o chanceler alemão que, em nome do seu governo, vinha fazendo incessantemente uma campanha pelo direito à autodeterminação das populações nacionais soviéticas, recusou-se a fazer qualquer crítica a Gorbachev. Quando os dois líderes conversaram por telefone cinco dias após os acontecimentos sangrentos de Vilnius, ele só mencionou de passagem a ação militar soviética:
Gorbachev: Agora todo mundo está começando a indagar: Gorbachev está abandonando a sua rota? O novo Gorbachev acabou, e ele se inclinou para a direita? Eu posso dizer com toda a honestidade: Nós não modificaremos a nossa política.
Kohl: Como político, eu compreendo que há momentos nos quais manobras evasivas são inevitáveis para que se possa atingir certos objetivos políticos.
Gorbachev: Helmut, eu estou familiarizado com a sua avaliação desta situação, e eu respeito muito isso. Até logo.
Mas Gorbachev perdeu a sua última parcela de credibilidade junto ao seu povo naqueles dias. “Ele está do lado daqueles que cometeram assassinato em Vilnius”, escreveu um profundamente desapontado Anatoly Chernyaev, o seu confidente mais próximo, no seu diário. Chernyaev ditou para a sua secretária uma longa carta a Gorbachev que soa como um acerto de contas:
“Mikhail Sergeyevich!
O seu discurso no Soviete Supremo (sobre os acontecimentos de Vilnius) sinalizou o fim. Aquilo não foi um pronunciamento de um grande estadista. Foi um discurso confuso e claudicante. Você não está disposto a dizer o que de fato pretende fazer. E você aparentemente não sabe o que o povo pensa sobre a sua pessoa – nas ruas, nas lojas e nos ônibus. Eles só falam a respeito de 'Gorbachev e os seus asseclas'. Você alegou que desejava mudar o mundo, mas está agora destruindo esse trabalho com as suas próprias mãos”.
A secretária pegou a carta, mas a seguir acusou Chernyaev de trair Gorbachev. A carta não foi mandada, e acabou desaparecendo dentro de um cofre.
“Kohl não é o maior dos intelectuais”
O ex-chanceler alemão Helmut Kohl é mencionado de uma forma particularmente proeminente nos documentos de Gorbachev. Kohl estava à época muito agradecido ao líder russo pelo fato de Gorbachev ter se recusado a enviar tanques a Berlim Oriental para impedir o colapso da Alemanha Oriental no outono de 1989. Ele também não se opôs à reunificação alemã no ano seguinte. Na verdade, para a consternação de muitos dos seus camaradas no governo, Gorbachev sequer se opôs à ideia de uma Alemanha reunificada ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Kohl pôde pagar o favor em 1991, e era exatamente isso que Gorbachev esperava dele. Durante aquele período, Kohl se constituía, sob vários aspectos, na última esperança de Gorbachev.
O líder soviético havia aparentemente se esquecido de que durante anos viu o chanceler alemão como um político provinciano e medíocre. Em 1º de novembro de 1989, quando recebeu Egon Krenz – o sucessor do líder alemão-oriental Erich Honecker e o último líder comunista da Alemanha Oriental – no Kremlin, ele lhe disse:
“Ao que parece Kohl não é o maior dos intelectuais, mas ele goza de certa popularidade no seu país, especialmente entre os cidadãos comuns”.
A mensagem parece ter sido: Ele não é uma pessoa com a qual você precisa se preocupar. O próprio Gorbachev havia ignorado Kohl durante anos. Ele via o líder alemão como um fantoche dos norte-americanos e, durante muito tempo, Gorbachev procurou deliberadamente evitar a Alemanha Ocidental durante as suas viagens à Europa.
As minutas da reunião entre Krenz e Gorbachev foram mais tarde publicadas em Moscou, e recentemente passaram a ser acessíveis ao público na Alemanha. No entanto, o trecho relativo a Kohl não se encontra na versão russa. Gorbachev ficou tão embaraçado com o que disse que fez com que essa parte fosse apagada.
Quebrando o gelo com “Helmut”
No verão de 1990, depois que os dois líderes negociaram os detalhes da reunificação alemã, o relacionamento entre Gorbachev e Kohl mudou. O gelo foi finalmente quebrado quando Gorbachev e a sua mulher, Raisa, viajaram à Alemanha em novembro, visitando os Kohl na residência destes em Oggersheim, no oeste da Alemanha, e passeando com eles pela Catedral de Speyer que ficava perto. Eles chegaram até a jantar no restaurante favorito de Kohl, o Deidesheimer Hof. Os dois líderes passaram a se chamar informalmente pelo primeiro nome naquela ocasião, que foi o grande marco no relacionamento dos dois.
Gorbachev precisava do influente chanceler alemão, agora que a situação estava ficando complicada na Rússia. Havia carência de tudo nos mercados russos – carne, manteiga, leite em pó – e a popularidade de Gorbachev estava em queda.
Naqueles meses, Gorbachev recorria ao telefone com frequência cada vez maior para discutir a situação com o seu “amigo Helmut”, que de repente transformou-se no seu assessor político. Os dois usavam uma linha telefônica especial, e essas conversas entre Moscou e Bonn praticamente não foram mencionadas mais tarde nos livros de Gorbachev. Nas suas memórias, Kohl também só as menciona brevemente.
Essa hesitação se torna clara para quem lê as transcrições, a maioria das quais preparada por tradutores que também tinham que prestar contas à KGB. As conversações são repletas de reclamações de Gorbachev, como os gritos de socorro de um homem que se afoga – palavras que o outrora orgulhoso líder soviético se empenhou em varrer para debaixo do tapete duas décadas mais tarde.
Naquela época, no entanto, ele desejava que Kohl encorajasse o Ocidente a salvar a União Soviética. Ele queria que o chanceler alemão retratasse o iminente colapso como uma catástrofe que poderia lançar o mundo inteiro em um estado de caos. É claro que ele também esperava obter ajuda para lutar contra o seu mais duro rival, Boris Yeltsin.
Os dois líderes conversaram por telefone mais uma vez na noite de 20 de fevereiro de 1991. Kohl telefonou para Gorbachev, depois que Yeltsin, em uma declaração na televisão no dia anterior, exigiu que Gorbachev renunciasse ao seu cargo no Kremlin. Gorbachev jamais publicou essa conversa, também, porque ela revela até que ponto ele subestimou o seu rival e como avaliou incorretamente a situação:
Kohl: Alô, Mikhail. Você renunciou, conforme Yeltsin está exigindo?
Gorbachev: Eu creio que ele sente que está perdendo autoridade e ficando cada vez mais isolado. O discurso dele ontem foi um ato de desespero ou um erro estúpido. Yeltsin é, por natureza, um destruidor. Ele não tem nada de construtivo a oferecer. Ele está explorando a atual situação difícil, e está também tentando criar uma luta política.
Kohl: Isso beneficiará você.
Gorbachev: Na reunião de hoje do Soviete Supremo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, uma pessoa disse que tais métodos não são dignos de um homem que ocupa um cargo como o de Yeltsin. Ele provavelmente terá que retirar as suas palavras. O presidente do Cazaquistão e o presidente do Soviete Supremo da Ucrânia já se distanciaram de Yeltsin.
Kohl: Isso é vantajoso para você. Eu sinto que você está se sentindo melhor agora. Estou satisfeito com isso.
Menos de quatro meses mais tarde, mais de 45 milhões de russos elegeram o supostamente acabado Yeltsin para ser o primeiro presidente da Federação Russa, a maior república soviética. Esse fato marcou o início de uma liderança dupla e prenunciou o fim do império soviético. Em uma conversa telefônica em 30 de abril, Kohl assegurou ao líder do Kremlin:
Kohl: Eu estou fazendo tudo o que posso para obter apoio para você aqui na Europa Ocidental. E farei o mesmo em Washington, onde estarei daqui a duas semanas. Você precisa entender que certas pessoas aqui estão expressando opiniões sombrias sobre a sua situação.
Gorbachev: Sim, estou consciente disso.
Kohl: Para resumir, o que se tem dito é mais ou menos o seguinte: sim, Gorbachev é um político forte, mas ele será incapaz de alcançar as metas que planejou. Nessa situação, é extremamente importante criar um ambiente psicológico diferente. É por isso que eu necessito de informação autêntica de você, Mikhail. Você precisa me dizer como está de fato a situação.
Gorbachev: Sabe, Helmut, existem muitos indivíduos dentre os nossos amigos norte-americanos que estão sussurrando coisas a respeito da “situação de Gorbachev”. Eles estão dizendo, por exemplo: vejam, Gorbachev apoia a preservação da união, enquanto Yeltsin poderá conceder a independência aos Estados bálticos e a outras repúblicas. Yeltsin apoia a propriedade privada, enquanto que Gorbachev é favorável a uma economia mista. Yeltsin mostrar-se-á mais preocupado com as questões internas e, portanto, ele não atrapalhará os norte-americanos em várias partes do mundo. Essas recomendações não são confiáveis. Bush e o seu secretário de Estado, (James) Baker, ainda estão sustentando a posição anterior, mas eles estão sofrendo crescentes pressões. É claro que eu tenho que superar essas dificuldades.
Kohl: Você pode confiar em mim, Mikhail. Eu deixarei isso suficientemente claro para os líderes europeus ocidentais e norte-americanos.
Em 5 de julho, quando Yeltsin já era o presidente de facto da Rússia, aguardando apenas a cerimônia de posse, Kohl reuniu-se com Gorbachev na residência de verão do Partido Comunista Ucraniano, em Mezhgorye. Naquele momento, nenhum dos dois líderes tinha como saber que, um semestre mais tarde, a Ucrânia já seria um país independente.
Quando era levado de carro do aeroporto de Kiev para Mezhgorye, Kohl reexaminou o pior cenário possível:
Kohl: Eu pensei no seguinte: O que aconteceria se Gorbachev deixasse o poder subitamente e Yeltsin assumisse o seu lugar? Eu tenho que dizer que o simples fato de pensar nisso me horroriza. É claro que o país não pode ser deixado nas mãos de um homem desse tipo.
Gorbachev: Nós certamente concordamos quanto a isso.
Kohl: O que você fará, Mikhail, quando os Estados bálticos finalmente deixarem a união?
Gorbachev: É claro que eles podem fazer isso. É difícil modificar as ideias deles sobre soberania. Eles se recusam a engajar-se em qualquer conversa razoável. Se eles quiserem de fato sair, só existe uma maneira de fazer tal coisa – a abordagem constitucional. Mas eles estão apavorados diante da ideia de seguir a rota constitucional normal.
Kohl: Você realmente não manterá esses Estados na união por meio da força. Por outro lado, é preciso que fique claro para os Estados bálticos que não existe outra opção a não ser aquela prescrita pela constituição. E o apoio verbal do Ocidente a eles não muda nada em relação a isso.
Nem o russo nem o alemão publicariam mais tarde essa conversa, porque a opinião de Kohl em relação a Yeltsin era tão devastadora quanto a de Gorbachev. Algo que o chanceler alemão também preferiu não ver impresso foi o fato de ele ter feito uma distinção clara entre o seu apoio público ao princípio da autodeterminação dos Estados bálticos e a sua posição real. Kohl não apoiava de fato a saída das repúblicas soviéticas bálticas da união, e ele exigiu que tais decisões fossem aprovadas pelo parlamento em Moscou – algo, que na época, já era uma coisa impossível.
Kohl: Só mesmo um burro poderia achar que a destruição da união beneficiaria alguém. O colapso da União Soviética seria uma catástrofe para todo mundo. Quem apoiar isso está ameaçando a paz. Nem todos me compreendem em relação a essa questão. Mas você pode ter certeza de que eu não mudarei a minha opinião quanto a isso... A rota de reforma de Gorbachev precisa ser consistentemente apoiada. Se Yeltsin vier a nós, eu direi a mesma coisa a ele. Eu lhe direi que ele não terá nenhuma chance caso não coopere com você. Os norte-americanos têm dito a mesma coisa a ele.
Gorbachev: Não, eles estão praticamente encorajando Yeltsin. Aos olhos dos norte-americanos, Yeltsin é um reformista.
Kohl: Se Yeltsin for a Alemanha, será uma visita de trabalho. O meu objetivo mais importante é que vocês não se ataquem.
Gorbachev: Quem sabe não seria uma boa ideia não convidá-lo em nome do chanceler alemão? Outra pessoa deveria convidá-lo, e a seguir o chanceler poderia juntar-se à reunião como se por acidente.
Kohl: Boa ideia.
O objetivo de Gorbachev de prejudicar as chances de novos avanços por parte de Yeltsin e de contar com a participação de Kohl, caso possível, é compreensível sob um ponto de vista humano. Entretanto, politicamente, esse foi um objetivo absurdo.
E parece ainda mais absurdo o fato de que Gorbachev ainda desejava ser visto como o líder de uma potência mundial, ainda que estivesse sendo obrigado a suplicar por auxílio por trás dos bastidores.
“Nós precisamos de dinheiro para as despesas atuais”
Duas semanas depois, ele viajou a Londres para participar, pela primeira vez, de um encontro de cúpula das sete principais nações industrializadas, e para pedir que o seu país fosse aceito nesse clube de pesos-pesados econômicos. Kohl havia pavimentado o caminho de Gorbachev para Londres, apesar das objeções dos norte-americanos e dos japoneses. Na realidade, porém, Gorbachev viajou a Londres para suplicar por um auxílio de pelo menos US$ 30 bilhões para salvar a cambaleante União Soviética e o seu presidente.
Muitos dos relatórios redigidos naquelas semanas – nenhum dos quais Gorbachev mais tarde publicaria – indicam que ele deve ter percebido a situação como sendo humilhante.
Na reunião em Kiev, ele criticou veementemente um homem da comitiva de Kohl que tornar-se-ia um dos seus principais contatos nas próximas semanas: Horst Köhler, o futuro presidente alemão, que na época era um secretário de Estado do Ministério das Finanças alemão e “sherpa” (representante pessoal) de Kohl na reunião de cúpula do G-7.
Quando Köhler pediu que os soviéticos se submetessem às regras do Fundo Monetário Internacional, o líder do Kremlin disparou: “A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas não é nenhuma Cosa Rica. A direção que a história tomará a partir de agora dependerá da maneira como vocês configurarem as suas relações conosco”.
Quanto à ideia de um Plano Marshall para a União Soviética, Gorbachev a descreveu como sendo um “retorno à velha arrogância, segundo a qual o trem econômico soviético não pode subir a montanha sem a locomotiva capitalista”.
Na realidade, essa locomotiva era a única opção que restava aos soviéticos. A confiança deles em Kohl naquelas semanas era ilimitada. De fato, eles estavam praticamente eufóricos, acreditando que a situação dos soviéticos melhoraria devido ao bom relacionamento com o poderoso chanceler alemão. Em Kiev, Chernyaev, o assessor de Gorbachev, observou:
“A nova amizade com os alemães recebeu mais uma grande pá de cimento. Tudo vai bem no que se refere ao fator soviético-alemão. Isso determinará o destino tanto da Europa quanto da política global.
No voo de retorno a Moscou, Gorbachev disse:
“Kohl... fará tudo para nos ajudar a crescer novamente e para que nos tornarmos uma superpotência moderna. Bem, ele está bastante ansioso em relação à Ucrânia (em Kiev, Kohl reuniu-se também com a liderança ucraniana). Mas para ele não se trata mais do Lebensraum de Hitler”.
No início de setembro, cerca de três semanas após o golpe de agosto, a situação financeira da União Soviética era tão precária que Gorbachev chamou de lado o então ministro alemão das Relações Exteriores, Hans-Dietrich Genscher, quando este visitava Moscou, e, abandonando qualquer senso de orgulho, lhe disse:
Gorbachev: Nós precisamos de dinheiro para as atuais despesas, de forma que possamos continuar vivendo e mantendo as importações enquanto estão em andamento as negociações sobre a reestruturação das nossas dívidas de curto prazo. Eu pretendo discutir isso hoje com Kohl pelo telefone.
Genscher: Eu não sei se você deveria falar sobre uma questão tão delicada pelo telefone. Eu posso enviar agora ao chanceler um telegrama criptografado, de forma que somente ele possa lê-lo.
Gorbachev: Nós precisamos de dois bilhões de dólares. Talvez você possam adiantar meio bilhão dos pagamentos que nós deveremos receber de vocês em outubro, e tiraremos a outra metade das nossas reservas. Nós esperamos obter o outro bilhão do Oriente Médio. Eu enviei (o vice-diretor da KGB) Primakov para lá com esta missão.
Genscher: Eu não conto com a autoridade necessária para dar uma resposta. Mas eu passarei tudo isso imediatamente ao chanceler.
Kohl enviou Köhler a Moscou. Gorbachev, que já estava prevendo cenários horríveis diante do apoio hesitante do Ocidente, reuniu-se com Köhler em 12 de setembro.
Gorbachev: O que está acontecendo com a assistência à União Soviética? Nós estamos negociando, avaliando as opções e fazendo os cálculos. Isso é simplesmente imperdoável. Faz lembrar a República de Weimar na Alemanha. Enquanto os democratas brigavam entre si, Hitler chegou ao poder sem nenhum esforço especial. Países estrangeiros nos devem cerca de US$ 86 bilhões, o que é aproximadamente a quantia da qual precisamos neste momento. Eu espero que vocês cheguem às conclusões necessárias diante daquilo que eu disse.
Köhler: O chanceler me autorizou a lhe informar que nós aprovamos o primeiro pedido, ou seja, de fornecimento de um bilhão de marcos alemães. No que se refere ao pedido do outro bilhão, nós não temos escolha a não ser envolvermos os nossos parceiros na União Europeia e no G-7. A busca de opções está complicada devido às grandes expectativas financeiras da parte soviética.
Gorbachev: Vocês não puderam encontrar uma forma de conceder empréstimos em condições mais favoráveis? Talvez até mesmo empréstimos sem juros?
Köhler: Isso é muito difícil. Eu tentarei convencer os meus parceiros (no G-7) de que o seu país ainda merece confiança para crédito financeiro. Para isso, porém, eu preciso de detalhes sobre a sua dívida externa e as possibilidades de venda das suas reservas de ouro.
Gorbachev: As previsões de safras não são boas. Eu falei com (o presidente cazaque Nursultan) Nazarbayev pouco antes da sua chegada. Ele me disse que a safra na área das terras recém-incorporadas à agricultura está ainda pior do que previram até mesmo as estimativas mais modestas.
Köhler: Segundo agências norte-americanas, a safra do seu país será de 190 milhões de toneladas de grãos neste ano, contra 230 milhões no ano passado. Uma diferença enorme.
Gorbachev: Seria bom se nós conseguíssemos colher 180 milhões de toneladas... Durante a Guerra do Golfo (após a invasão do Kuait por Saddam Hussein), todos se uniram e coletaram grandes montantes para apoiar o esforço de guerra. Quase US$ 100 bilhões. Mas quando se trata de apoiar esse processo histórico em um país enorme, um processo do qual todo o mundo depende, nós começamos a hesitar.
Köhler: Os norte-americanos venceram aquela guerra sem tirar um único dólar do próprio bolso.
Gorbachev: E quanto a tudo o que a União Soviética fez pelo mundo? Quem está levando em consideração esses números? Quanto dinheiro foi economizado devido à nossa perestroika e à nossa forma de pensar? Centenas de bilhões de dólares foram economizados para o resto do mundo!
Köhler: Não há tempo a perder. É uma questão se semanas, ou mesmo de dias. Um dos erros de cálculo da sua perestroika foi subestimar o lado econômico da questão.
Mas o plano de injetar bilhões de dólares em Moscou com a ajuda alemã, e salvar desta forma Gorbachev, não teve sucesso. Quando os ucranianos afirmaram a sua declaração de independência com um referendo em 1º de dezembro de 1991 e elegeram o seu próprio presidente, os dados foram lançados. Sete dias mais tarde, a Rússia, a Ucrânia e a Belarus formaram a Comunidade dos Estados Independentes, à qual se juntaram oito repúblicas não eslavas.
A União Soviética estava sendo liquidada. A Alemanha comemorava o Natal quando Gorbachev renunciou à presidência em 25 de dezembro e a União Soviética chegou a um fim pacífico. Ele enviou uma carta a Bonn naquele mesmo dia:
“Caro Helmut!
Embora os acontecimentos não tenham corrido da forma que eu achava que seria a mais correta e vantajosa, eu não perdi a esperança de que o processo ao qual eu dei início seis anos atrás acabará sendo concluído com sucesso, e que a Rússia e os outros países que atualmente integram uma nova comunidade virão a se transformar em países modernos e democráticos.
Com todo o carinho, Raisa e eu desejamos a Hannelore (Kohl) e a toda à sua família saúde, prosperidade e felicidade.
Seu, Mikhail”.
Nessa carta, Gorbachev é novamente aquele estadista integral. Isso explica por que a carta foi um dos poucos documentos daquele fatídico ano de 1991 que o fracassado reformista russo mais tarde publicaria.
http://codinomeinformante.blogspot.com/ ... -results=7
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Documentos expõem relação entre Mikhail Gorbachev e Helmut Kohl
O Ocidente elogiou Gorbachev por não ter resistido violentamente ao fim da União Soviética. Na verdade, até hoje não se sabe se o líder do Kremlin não autorizou de fato ações militares contra georgianos, azeris e lituanos, que se rebelaram contra o governo central em Moscou entre 1989 e 1991. Quando tropas soviéticas reprimiram violentamente as manifestações, 20 pessoas foram mortas na Geórgia, 143 no Azerbaijão e 14 na Lituânia, isso para não mencionar as guerras e as rebeliões em Nagorno-Karabakh, no Trans-Dniester e na Ásia Central.
Muita gente não se esqueceu da tragédia ocorrida na capital da Geórgia, Tbilisi, na noite de 8 para 9 de abril de 1989, quando soldados russos usaram pás afiadas e gás venenoso para dissolver uma passeata de protesto na cidade.
Gorbachev alega que só ficou sabendo do incidente seis horas depois. Ele não deu às forças armadas ou ao serviço de inteligência ordens claras para que fosse exercida moderação durante o conflito, mesmo sabendo como eram precárias as relações entre russos e georgianos. Ele tampouco responsabilizou qualquer pessoa pelo ocorrido mais tarde. Ainda hoje ele afirma que a identidade de quem deu as ordens para o uso da violência em Tbilisi é “um grande mistério”.
Mas quando Gorbachev reuniu-se com Hans-Jochen Vogel, que à época era o presidente da agremiação de centro-esquerda alemã Partido Social Democrata (em alemão, Sozialdemokratische Partei Deutschlands, ou SPD), em 11 de abril, dois dias após a supressão sangrenta dos protestos, ele procurou justificar a sua abordagem dura. Mais tarde ele fez com que fosse apagado o seguinte trecho da transcrição publicada em russo da sua conversa com Vogel:
“Você ouviu falar dos acontecimentos na Geórgia. Notórios inimigos da União Soviética se reuniram lá. Eles abusaram do processo democrático, gritaram palavras de ordem provocadoras e chegaram até a pedir o envio de tropas da Otan à república. Nós tivemos que adotar uma abordagem firme ao lidarmos com esses aventureiros e defendermos a perestroika – a nossa revolução”.
Os “notórios inimigos da União Soviética” eram na verdade civis pacíficos. Dentre os 20 georgianos mortos em Tbilisi, 17 eram mulheres.
Uma declaração dada em uma reunião do politburo em 4 de outubro de 1989, na qual Gorbachev ficou sabendo que 3.000 manifestantes haviam sido mortos na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em junho daquele ano, demonstra que ele estava preparado para enfrentar resistências aos seus planos de reforma e que não tinha necessariamente descartado a necessidade de recorrer a ações violentas. Gorbachev afirmou:
“Nós precisamos ser realistas. Eles têm que se defender, e nós também. Três mil pessoas, e daí?”.
Este trecho não constava das minutas da reunião que foram publicadas mais tarde.
“Nós só interviremos se houver derramamento de sangue”
Em 1990 e 1991, Gorbachev pôde concluir que pouquíssimos políticos importantes do Ocidente questionariam o papel desempenhado por ele nos conflitos sangrentos com as repúblicas soviéticas que almejavam obter a independência. Naquelas semanas, a única preocupação de norte-americanos e europeus ocidentais era saber se os soviéticos retirar-se-iam de fato da Europa Oriental. Como resultado disso, eles permitiram que Gorbachev mentisse desavergonhadamente, como quando Moscou tentou acabar com o movimento pela independência das repúblicas bálticas no último minuto.
Em janeiro de 1991, sob pressão do serviço de inteligência e das forças armadas, Gorbachev aparentemente concordou com aquilo que já era uma iniciativa vã: proclamar que o governo da Lituânia estava sob o controle de Moscou. Conforme havia ocorrido no passado em Budapeste e em Praga, “trabalhadores” leais à União Soviética pediriam a Moscou que enviasse tropas para socorrê-los, e foi precisamente essa a versão que transpirou. Em 13 de janeiro, unidades especiais do exército e de forças de segurança soviéticas avançaram em tanques até o prédio da rede de televisão estatal em Vilnius, invadiram as instalações da estação e mataram 14 pessoas.
Em uma conversa por telefone com o então presidente dos Estados Unidos, George Bush, dois dias antes, Gorbachev havia negado terminantemente que Moscou interferiria em Vilnius.
Bush: Eu estou preocupado com os problemas internos do seu país. Como pessoa que está de fora, tudo o que posso dizer é o seguinte: se você for capaz de evitar o uso da força, isso beneficiará as suas relações conosco, e não só conosco.
Gorbachev: Nós só interviremos se houver derramamento de sangue ou rebeliões que ameaçarem não só a nossa constituição, mas também vidas humanas. Neste momento eu estou sofrendo uma pressão tremenda para decretar o controle presidencial sobre a Lituânia. Eu ainda estou evitando isso, e somente no caso de uma ameaça muito séria tomarei tais medidas.
Helmut Kohl, o chanceler alemão que, em nome do seu governo, vinha fazendo incessantemente uma campanha pelo direito à autodeterminação das populações nacionais soviéticas, recusou-se a fazer qualquer crítica a Gorbachev. Quando os dois líderes conversaram por telefone cinco dias após os acontecimentos sangrentos de Vilnius, ele só mencionou de passagem a ação militar soviética:
Gorbachev: Agora todo mundo está começando a indagar: Gorbachev está abandonando a sua rota? O novo Gorbachev acabou, e ele se inclinou para a direita? Eu posso dizer com toda a honestidade: Nós não modificaremos a nossa política.
Kohl: Como político, eu compreendo que há momentos nos quais manobras evasivas são inevitáveis para que se possa atingir certos objetivos políticos.
Gorbachev: Helmut, eu estou familiarizado com a sua avaliação desta situação, e eu respeito muito isso. Até logo.
Mas Gorbachev perdeu a sua última parcela de credibilidade junto ao seu povo naqueles dias. “Ele está do lado daqueles que cometeram assassinato em Vilnius”, escreveu um profundamente desapontado Anatoly Chernyaev, o seu confidente mais próximo, no seu diário. Chernyaev ditou para a sua secretária uma longa carta a Gorbachev que soa como um acerto de contas:
“Mikhail Sergeyevich!
O seu discurso no Soviete Supremo (sobre os acontecimentos de Vilnius) sinalizou o fim. Aquilo não foi um pronunciamento de um grande estadista. Foi um discurso confuso e claudicante. Você não está disposto a dizer o que de fato pretende fazer. E você aparentemente não sabe o que o povo pensa sobre a sua pessoa – nas ruas, nas lojas e nos ônibus. Eles só falam a respeito de 'Gorbachev e os seus asseclas'. Você alegou que desejava mudar o mundo, mas está agora destruindo esse trabalho com as suas próprias mãos”.
A secretária pegou a carta, mas a seguir acusou Chernyaev de trair Gorbachev. A carta não foi mandada, e acabou desaparecendo dentro de um cofre.
“Kohl não é o maior dos intelectuais”
O ex-chanceler alemão Helmut Kohl é mencionado de uma forma particularmente proeminente nos documentos de Gorbachev. Kohl estava à época muito agradecido ao líder russo pelo fato de Gorbachev ter se recusado a enviar tanques a Berlim Oriental para impedir o colapso da Alemanha Oriental no outono de 1989. Ele também não se opôs à reunificação alemã no ano seguinte. Na verdade, para a consternação de muitos dos seus camaradas no governo, Gorbachev sequer se opôs à ideia de uma Alemanha reunificada ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Kohl pôde pagar o favor em 1991, e era exatamente isso que Gorbachev esperava dele. Durante aquele período, Kohl se constituía, sob vários aspectos, na última esperança de Gorbachev.
O líder soviético havia aparentemente se esquecido de que durante anos viu o chanceler alemão como um político provinciano e medíocre. Em 1º de novembro de 1989, quando recebeu Egon Krenz – o sucessor do líder alemão-oriental Erich Honecker e o último líder comunista da Alemanha Oriental – no Kremlin, ele lhe disse:
“Ao que parece Kohl não é o maior dos intelectuais, mas ele goza de certa popularidade no seu país, especialmente entre os cidadãos comuns”.
A mensagem parece ter sido: Ele não é uma pessoa com a qual você precisa se preocupar. O próprio Gorbachev havia ignorado Kohl durante anos. Ele via o líder alemão como um fantoche dos norte-americanos e, durante muito tempo, Gorbachev procurou deliberadamente evitar a Alemanha Ocidental durante as suas viagens à Europa.
As minutas da reunião entre Krenz e Gorbachev foram mais tarde publicadas em Moscou, e recentemente passaram a ser acessíveis ao público na Alemanha. No entanto, o trecho relativo a Kohl não se encontra na versão russa. Gorbachev ficou tão embaraçado com o que disse que fez com que essa parte fosse apagada.
Quebrando o gelo com “Helmut”
No verão de 1990, depois que os dois líderes negociaram os detalhes da reunificação alemã, o relacionamento entre Gorbachev e Kohl mudou. O gelo foi finalmente quebrado quando Gorbachev e a sua mulher, Raisa, viajaram à Alemanha em novembro, visitando os Kohl na residência destes em Oggersheim, no oeste da Alemanha, e passeando com eles pela Catedral de Speyer que ficava perto. Eles chegaram até a jantar no restaurante favorito de Kohl, o Deidesheimer Hof. Os dois líderes passaram a se chamar informalmente pelo primeiro nome naquela ocasião, que foi o grande marco no relacionamento dos dois.
Gorbachev precisava do influente chanceler alemão, agora que a situação estava ficando complicada na Rússia. Havia carência de tudo nos mercados russos – carne, manteiga, leite em pó – e a popularidade de Gorbachev estava em queda.
Naqueles meses, Gorbachev recorria ao telefone com frequência cada vez maior para discutir a situação com o seu “amigo Helmut”, que de repente transformou-se no seu assessor político. Os dois usavam uma linha telefônica especial, e essas conversas entre Moscou e Bonn praticamente não foram mencionadas mais tarde nos livros de Gorbachev. Nas suas memórias, Kohl também só as menciona brevemente.
Essa hesitação se torna clara para quem lê as transcrições, a maioria das quais preparada por tradutores que também tinham que prestar contas à KGB. As conversações são repletas de reclamações de Gorbachev, como os gritos de socorro de um homem que se afoga – palavras que o outrora orgulhoso líder soviético se empenhou em varrer para debaixo do tapete duas décadas mais tarde.
Naquela época, no entanto, ele desejava que Kohl encorajasse o Ocidente a salvar a União Soviética. Ele queria que o chanceler alemão retratasse o iminente colapso como uma catástrofe que poderia lançar o mundo inteiro em um estado de caos. É claro que ele também esperava obter ajuda para lutar contra o seu mais duro rival, Boris Yeltsin.
Os dois líderes conversaram por telefone mais uma vez na noite de 20 de fevereiro de 1991. Kohl telefonou para Gorbachev, depois que Yeltsin, em uma declaração na televisão no dia anterior, exigiu que Gorbachev renunciasse ao seu cargo no Kremlin. Gorbachev jamais publicou essa conversa, também, porque ela revela até que ponto ele subestimou o seu rival e como avaliou incorretamente a situação:
Kohl: Alô, Mikhail. Você renunciou, conforme Yeltsin está exigindo?
Gorbachev: Eu creio que ele sente que está perdendo autoridade e ficando cada vez mais isolado. O discurso dele ontem foi um ato de desespero ou um erro estúpido. Yeltsin é, por natureza, um destruidor. Ele não tem nada de construtivo a oferecer. Ele está explorando a atual situação difícil, e está também tentando criar uma luta política.
Kohl: Isso beneficiará você.
Gorbachev: Na reunião de hoje do Soviete Supremo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, uma pessoa disse que tais métodos não são dignos de um homem que ocupa um cargo como o de Yeltsin. Ele provavelmente terá que retirar as suas palavras. O presidente do Cazaquistão e o presidente do Soviete Supremo da Ucrânia já se distanciaram de Yeltsin.
Kohl: Isso é vantajoso para você. Eu sinto que você está se sentindo melhor agora. Estou satisfeito com isso.
Menos de quatro meses mais tarde, mais de 45 milhões de russos elegeram o supostamente acabado Yeltsin para ser o primeiro presidente da Federação Russa, a maior república soviética. Esse fato marcou o início de uma liderança dupla e prenunciou o fim do império soviético. Em uma conversa telefônica em 30 de abril, Kohl assegurou ao líder do Kremlin:
Kohl: Eu estou fazendo tudo o que posso para obter apoio para você aqui na Europa Ocidental. E farei o mesmo em Washington, onde estarei daqui a duas semanas. Você precisa entender que certas pessoas aqui estão expressando opiniões sombrias sobre a sua situação.
Gorbachev: Sim, estou consciente disso.
Kohl: Para resumir, o que se tem dito é mais ou menos o seguinte: sim, Gorbachev é um político forte, mas ele será incapaz de alcançar as metas que planejou. Nessa situação, é extremamente importante criar um ambiente psicológico diferente. É por isso que eu necessito de informação autêntica de você, Mikhail. Você precisa me dizer como está de fato a situação.
Gorbachev: Sabe, Helmut, existem muitos indivíduos dentre os nossos amigos norte-americanos que estão sussurrando coisas a respeito da “situação de Gorbachev”. Eles estão dizendo, por exemplo: vejam, Gorbachev apoia a preservação da união, enquanto Yeltsin poderá conceder a independência aos Estados bálticos e a outras repúblicas. Yeltsin apoia a propriedade privada, enquanto que Gorbachev é favorável a uma economia mista. Yeltsin mostrar-se-á mais preocupado com as questões internas e, portanto, ele não atrapalhará os norte-americanos em várias partes do mundo. Essas recomendações não são confiáveis. Bush e o seu secretário de Estado, (James) Baker, ainda estão sustentando a posição anterior, mas eles estão sofrendo crescentes pressões. É claro que eu tenho que superar essas dificuldades.
Kohl: Você pode confiar em mim, Mikhail. Eu deixarei isso suficientemente claro para os líderes europeus ocidentais e norte-americanos.
Em 5 de julho, quando Yeltsin já era o presidente de facto da Rússia, aguardando apenas a cerimônia de posse, Kohl reuniu-se com Gorbachev na residência de verão do Partido Comunista Ucraniano, em Mezhgorye. Naquele momento, nenhum dos dois líderes tinha como saber que, um semestre mais tarde, a Ucrânia já seria um país independente.
Quando era levado de carro do aeroporto de Kiev para Mezhgorye, Kohl reexaminou o pior cenário possível:
Kohl: Eu pensei no seguinte: O que aconteceria se Gorbachev deixasse o poder subitamente e Yeltsin assumisse o seu lugar? Eu tenho que dizer que o simples fato de pensar nisso me horroriza. É claro que o país não pode ser deixado nas mãos de um homem desse tipo.
Gorbachev: Nós certamente concordamos quanto a isso.
Kohl: O que você fará, Mikhail, quando os Estados bálticos finalmente deixarem a união?
Gorbachev: É claro que eles podem fazer isso. É difícil modificar as ideias deles sobre soberania. Eles se recusam a engajar-se em qualquer conversa razoável. Se eles quiserem de fato sair, só existe uma maneira de fazer tal coisa – a abordagem constitucional. Mas eles estão apavorados diante da ideia de seguir a rota constitucional normal.
Kohl: Você realmente não manterá esses Estados na união por meio da força. Por outro lado, é preciso que fique claro para os Estados bálticos que não existe outra opção a não ser aquela prescrita pela constituição. E o apoio verbal do Ocidente a eles não muda nada em relação a isso.
Nem o russo nem o alemão publicariam mais tarde essa conversa, porque a opinião de Kohl em relação a Yeltsin era tão devastadora quanto a de Gorbachev. Algo que o chanceler alemão também preferiu não ver impresso foi o fato de ele ter feito uma distinção clara entre o seu apoio público ao princípio da autodeterminação dos Estados bálticos e a sua posição real. Kohl não apoiava de fato a saída das repúblicas soviéticas bálticas da união, e ele exigiu que tais decisões fossem aprovadas pelo parlamento em Moscou – algo, que na época, já era uma coisa impossível.
Kohl: Só mesmo um burro poderia achar que a destruição da união beneficiaria alguém. O colapso da União Soviética seria uma catástrofe para todo mundo. Quem apoiar isso está ameaçando a paz. Nem todos me compreendem em relação a essa questão. Mas você pode ter certeza de que eu não mudarei a minha opinião quanto a isso... A rota de reforma de Gorbachev precisa ser consistentemente apoiada. Se Yeltsin vier a nós, eu direi a mesma coisa a ele. Eu lhe direi que ele não terá nenhuma chance caso não coopere com você. Os norte-americanos têm dito a mesma coisa a ele.
Gorbachev: Não, eles estão praticamente encorajando Yeltsin. Aos olhos dos norte-americanos, Yeltsin é um reformista.
Kohl: Se Yeltsin for a Alemanha, será uma visita de trabalho. O meu objetivo mais importante é que vocês não se ataquem.
Gorbachev: Quem sabe não seria uma boa ideia não convidá-lo em nome do chanceler alemão? Outra pessoa deveria convidá-lo, e a seguir o chanceler poderia juntar-se à reunião como se por acidente.
Kohl: Boa ideia.
O objetivo de Gorbachev de prejudicar as chances de novos avanços por parte de Yeltsin e de contar com a participação de Kohl, caso possível, é compreensível sob um ponto de vista humano. Entretanto, politicamente, esse foi um objetivo absurdo.
E parece ainda mais absurdo o fato de que Gorbachev ainda desejava ser visto como o líder de uma potência mundial, ainda que estivesse sendo obrigado a suplicar por auxílio por trás dos bastidores.
“Nós precisamos de dinheiro para as despesas atuais”
Duas semanas depois, ele viajou a Londres para participar, pela primeira vez, de um encontro de cúpula das sete principais nações industrializadas, e para pedir que o seu país fosse aceito nesse clube de pesos-pesados econômicos. Kohl havia pavimentado o caminho de Gorbachev para Londres, apesar das objeções dos norte-americanos e dos japoneses. Na realidade, porém, Gorbachev viajou a Londres para suplicar por um auxílio de pelo menos US$ 30 bilhões para salvar a cambaleante União Soviética e o seu presidente.
Muitos dos relatórios redigidos naquelas semanas – nenhum dos quais Gorbachev mais tarde publicaria – indicam que ele deve ter percebido a situação como sendo humilhante.
Na reunião em Kiev, ele criticou veementemente um homem da comitiva de Kohl que tornar-se-ia um dos seus principais contatos nas próximas semanas: Horst Köhler, o futuro presidente alemão, que na época era um secretário de Estado do Ministério das Finanças alemão e “sherpa” (representante pessoal) de Kohl na reunião de cúpula do G-7.
Quando Köhler pediu que os soviéticos se submetessem às regras do Fundo Monetário Internacional, o líder do Kremlin disparou: “A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas não é nenhuma Cosa Rica. A direção que a história tomará a partir de agora dependerá da maneira como vocês configurarem as suas relações conosco”.
Quanto à ideia de um Plano Marshall para a União Soviética, Gorbachev a descreveu como sendo um “retorno à velha arrogância, segundo a qual o trem econômico soviético não pode subir a montanha sem a locomotiva capitalista”.
Na realidade, essa locomotiva era a única opção que restava aos soviéticos. A confiança deles em Kohl naquelas semanas era ilimitada. De fato, eles estavam praticamente eufóricos, acreditando que a situação dos soviéticos melhoraria devido ao bom relacionamento com o poderoso chanceler alemão. Em Kiev, Chernyaev, o assessor de Gorbachev, observou:
“A nova amizade com os alemães recebeu mais uma grande pá de cimento. Tudo vai bem no que se refere ao fator soviético-alemão. Isso determinará o destino tanto da Europa quanto da política global.
No voo de retorno a Moscou, Gorbachev disse:
“Kohl... fará tudo para nos ajudar a crescer novamente e para que nos tornarmos uma superpotência moderna. Bem, ele está bastante ansioso em relação à Ucrânia (em Kiev, Kohl reuniu-se também com a liderança ucraniana). Mas para ele não se trata mais do Lebensraum de Hitler”.
No início de setembro, cerca de três semanas após o golpe de agosto, a situação financeira da União Soviética era tão precária que Gorbachev chamou de lado o então ministro alemão das Relações Exteriores, Hans-Dietrich Genscher, quando este visitava Moscou, e, abandonando qualquer senso de orgulho, lhe disse:
Gorbachev: Nós precisamos de dinheiro para as atuais despesas, de forma que possamos continuar vivendo e mantendo as importações enquanto estão em andamento as negociações sobre a reestruturação das nossas dívidas de curto prazo. Eu pretendo discutir isso hoje com Kohl pelo telefone.
Genscher: Eu não sei se você deveria falar sobre uma questão tão delicada pelo telefone. Eu posso enviar agora ao chanceler um telegrama criptografado, de forma que somente ele possa lê-lo.
Gorbachev: Nós precisamos de dois bilhões de dólares. Talvez você possam adiantar meio bilhão dos pagamentos que nós deveremos receber de vocês em outubro, e tiraremos a outra metade das nossas reservas. Nós esperamos obter o outro bilhão do Oriente Médio. Eu enviei (o vice-diretor da KGB) Primakov para lá com esta missão.
Genscher: Eu não conto com a autoridade necessária para dar uma resposta. Mas eu passarei tudo isso imediatamente ao chanceler.
Kohl enviou Köhler a Moscou. Gorbachev, que já estava prevendo cenários horríveis diante do apoio hesitante do Ocidente, reuniu-se com Köhler em 12 de setembro.
Gorbachev: O que está acontecendo com a assistência à União Soviética? Nós estamos negociando, avaliando as opções e fazendo os cálculos. Isso é simplesmente imperdoável. Faz lembrar a República de Weimar na Alemanha. Enquanto os democratas brigavam entre si, Hitler chegou ao poder sem nenhum esforço especial. Países estrangeiros nos devem cerca de US$ 86 bilhões, o que é aproximadamente a quantia da qual precisamos neste momento. Eu espero que vocês cheguem às conclusões necessárias diante daquilo que eu disse.
Köhler: O chanceler me autorizou a lhe informar que nós aprovamos o primeiro pedido, ou seja, de fornecimento de um bilhão de marcos alemães. No que se refere ao pedido do outro bilhão, nós não temos escolha a não ser envolvermos os nossos parceiros na União Europeia e no G-7. A busca de opções está complicada devido às grandes expectativas financeiras da parte soviética.
Gorbachev: Vocês não puderam encontrar uma forma de conceder empréstimos em condições mais favoráveis? Talvez até mesmo empréstimos sem juros?
Köhler: Isso é muito difícil. Eu tentarei convencer os meus parceiros (no G-7) de que o seu país ainda merece confiança para crédito financeiro. Para isso, porém, eu preciso de detalhes sobre a sua dívida externa e as possibilidades de venda das suas reservas de ouro.
Gorbachev: As previsões de safras não são boas. Eu falei com (o presidente cazaque Nursultan) Nazarbayev pouco antes da sua chegada. Ele me disse que a safra na área das terras recém-incorporadas à agricultura está ainda pior do que previram até mesmo as estimativas mais modestas.
Köhler: Segundo agências norte-americanas, a safra do seu país será de 190 milhões de toneladas de grãos neste ano, contra 230 milhões no ano passado. Uma diferença enorme.
Gorbachev: Seria bom se nós conseguíssemos colher 180 milhões de toneladas... Durante a Guerra do Golfo (após a invasão do Kuait por Saddam Hussein), todos se uniram e coletaram grandes montantes para apoiar o esforço de guerra. Quase US$ 100 bilhões. Mas quando se trata de apoiar esse processo histórico em um país enorme, um processo do qual todo o mundo depende, nós começamos a hesitar.
Köhler: Os norte-americanos venceram aquela guerra sem tirar um único dólar do próprio bolso.
Gorbachev: E quanto a tudo o que a União Soviética fez pelo mundo? Quem está levando em consideração esses números? Quanto dinheiro foi economizado devido à nossa perestroika e à nossa forma de pensar? Centenas de bilhões de dólares foram economizados para o resto do mundo!
Köhler: Não há tempo a perder. É uma questão se semanas, ou mesmo de dias. Um dos erros de cálculo da sua perestroika foi subestimar o lado econômico da questão.
Mas o plano de injetar bilhões de dólares em Moscou com a ajuda alemã, e salvar desta forma Gorbachev, não teve sucesso. Quando os ucranianos afirmaram a sua declaração de independência com um referendo em 1º de dezembro de 1991 e elegeram o seu próprio presidente, os dados foram lançados. Sete dias mais tarde, a Rússia, a Ucrânia e a Belarus formaram a Comunidade dos Estados Independentes, à qual se juntaram oito repúblicas não eslavas.
A União Soviética estava sendo liquidada. A Alemanha comemorava o Natal quando Gorbachev renunciou à presidência em 25 de dezembro e a União Soviética chegou a um fim pacífico. Ele enviou uma carta a Bonn naquele mesmo dia:
“Caro Helmut!
Embora os acontecimentos não tenham corrido da forma que eu achava que seria a mais correta e vantajosa, eu não perdi a esperança de que o processo ao qual eu dei início seis anos atrás acabará sendo concluído com sucesso, e que a Rússia e os outros países que atualmente integram uma nova comunidade virão a se transformar em países modernos e democráticos.
Com todo o carinho, Raisa e eu desejamos a Hannelore (Kohl) e a toda à sua família saúde, prosperidade e felicidade.
Seu, Mikhail”.
Nessa carta, Gorbachev é novamente aquele estadista integral. Isso explica por que a carta foi um dos poucos documentos daquele fatídico ano de 1991 que o fracassado reformista russo mais tarde publicaria.
http://codinomeinformante.blogspot.com/ ... -results=7
-
- Sênior
- Mensagens: 2012
- Registrado em: Ter Jul 24, 2007 1:14 pm
- Agradeceu: 38 vezes
- Agradeceram: 16 vezes
Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Lembrando que o golpe que Gorbatchev sofreu foi iniciado em 18 agosto de 1991 e durou até 20 de agosto a data que culminou definitivamente com desintegração da URSS.
Caiu que nem um castelo de cartas.
Caiu que nem um castelo de cartas.