A propaganda começou exatamente nesse contexto. Autobiografias e livros publicados com a contribuição de comandantes alemães no pós-guerra eram um espetáculo arbitrário e cômico de autoelogios sobre suas "imensas" capacidades táticas e operacionais na Frente Oriental. No entanto, havia a evidente contradição de atribuir suas derrotas militares ao maior bode expiatório da história: o Bigode. Afinal, todo mundo odiava o sujeito, e ninguém contestaria tais absurdos. Além disso, essas obras reforçavam a narrativa de "ondas humanas soviéticas ilimitadas", como se a Alemanha nunca tivesse munição suficiente para cada soldado soviético. Não fosse por isso, diziam, teriam vencido a guerra.Túlio escreveu: Qui Mar 20, 2025 5:00 pmA AGITPROP não pode parar, lembres das noticias de "grandes vitórias na Frente Oriental" quando os soviéticos já estavam entrando em Berlim: tem jeito não, é o mesmo pessoal de volta, e com as mesmas manias...
O que teve início na Alemanha nazista agora se reflete na propaganda do Ocidente. Se foram derrotados, a culpa seria das "ondas humanas" dos Orcs/Vatniks, como no caso mencionado aqui, em uma analogia à Batalha de Bakhmut:
Pode-se traçar um paralelo desde a Guerra da Coreia: os chineses, supostamente usando "ondas humanas", teriam empurrado os americanos de volta para além do Paralelo 38. Não fosse por isso, toda a Península Coreana seria "livre". No entanto, qualquer pessoa que se considere entusiasta de história militar ou defesa deveria saber que o termo "ataque de onda humana" é quase sempre propaganda, e não um conceito militar preciso. Na história oficial do Exército dos EUA sobre a Guerra da Coreia, é improvável que o termo apareça (embora seja comum em panfletos simplificados para o público). A ideia de uma massa densa de infantaria superando rifles, metralhadoras e artilharia já estava obsoleta muito antes desse conflito.
O Exército Voluntário do Povo (PVA) chinês adotou estratégias que lhes garantiram algum sucesso contra posições aliadas durante a Guerra da Coreia, baseadas em fatores como:





O que os chineses fizeram — assim como outros exércitos enfrentando adversários com superioridade de fogo — foi empregar táticas de infiltração e choque. Isso envolve enviar pequenos grupos de soldados para se aproximarem furtivamente de pontos fracos na defesa inimiga, preferencialmente à noite, em mau tempo ou em terreno acidentado (ou uma combinação dos três). Em um momento oportuno, esses grupos avançam, buscando romper as linhas e criar caos, forçando a unidade inimiga a recuar em desordem. Propagandistas podem descrever isso como "ataque de onda humana", mas, na realidade, depende tanto da dispersão quanto de táticas baseadas em poder de fogo — uma massa densa de homens não seria furtiva o suficiente para se aproximar antes do ataque final.
A infiltração não é exclusividade dos chineses; é uma tática antiga, usada por muitos exércitos. Os alemães a empregaram com sucesso nos últimos anos da Primeira Guerra Mundial. Os japoneses a utilizaram na Segunda Guerra Mundial, às vezes com êxito, às vezes com fracassos desastrosos. Uma "carga Banzai" bem executada, segundo a doutrina do Exército Imperial Japonês, deveria incluir infiltração, mas muitos comandantes locais falharam na execução ou enfrentaram condições adversas e contramedidas eficazes.
Na Coreia, o terreno acidentado e o clima que prejudicava a visibilidade frequentemente favoreciam a infiltração. No final de 1950, as forças da ONU (EUA, Coreia do Sul e aliados) estavam sobrecarregadas e vulneráveis a essas táticas. Ainda assim, os chineses nem sempre dependiam de infiltração; muitas vezes, tinham poder de fogo suficiente para adotar táticas convencionais, especialmente na defesa.
Essa doutrina foi desenvolvida por Lin Biao, que liderou a principal etapa do esforço de guerra do Partido Comunista Chinês (em Manchúria), combinando ideias de Clausewitz, manuais soviéticos e clássicos militares. Qualquer um familiarizado com Clausewitz sabe que 500 homens dispersos, enviados em duas ondas, são superiores a 1.000 enviados de uma só vez, pois reservas frescas têm vantagem sobre tropas desgastadas e descoordenadas. Lin Biao recomendava usar 2/3 de uma força para atacar uma linha, mantendo 1/3 em reserva para explorar pontos fracos em ondas dispersas sucessivas. Ele desencorajava táticas de "onda humana" e defendia a formação dispersa 3-3. Em um telegrama a todos os comandos de campo, esclareceu que "ataque concentrado" não significava tropas aglomeradas, mas várias ondas de soldados dispersos, precedidas por reconhecimento.
Embora pareça inteligente, quem conhece as doutrinas de Suvorov ou do Japão identifica os problemas. Contra um inimigo com superioridade em apoio de fogo, a vitória depende de rapidez e surpresa. Reconhecimento extensivo, múltiplas ondas no mesmo ponto e reservas podem comprometer isso. O PLA enfrentou dificuldades para adotar essas diretrizes — uma forma polida de dizer que os comandantes as ignoravam. Sabendo que o Kuomintang (KMT) e, mais tarde, a artilharia americana os dizimariam se não avançassem rápido, eles frequentemente ordenavam ataques frontais sem reconhecimento prévio. Surpreendentemente, isso às vezes funcionava.
Frequentemente, essa era a melhor coisa a fazer e funcionava - o PLA observou o seguinte sobre a infantaria dos EUA:
Algumas dessas visões podem ser lidas aqui: https://web.archive.org/web/20080413081 ... 1/sn36.htm. . . abandon all their heavy weapons, leaving them all over the place, and play opossum.... Their infantrymen are weak, afraid to die, and haven't the courage to attack or defend. They depend on their planes, tanks, and artillery. At the same time, they are afraid of our fire power. They will cringe when, if on the advance they hear firing. They are afraid to advance farther.... They specialize in day fighting. They are not familiar with night fighting or hand to hand combat.... If defeated, they have no orderly formation. Without the use of their mortars, they become completely lost. . . they become dazed and completely demoralized.... At Unsan they were surrounded for several days yet they did nothing. They are afraid when the rear is cut off. When transportation comes to a standstill, the infantry loses the will to fight.
Essa visão só começou a mudar recentemente, especialmente no caso soviético. Muitos documentos soviéticos foram desclassificados, permitindo que historiadores, inclusive ocidentais, escrevessem livros sobre a Frente Leste. Isso tem gerado um revisionismo histórico, revelando que grande parte do que foi relatado — e, na época, considerado a única versão dos eventos na Frente Oriental — pelos generais alemães sobreviventes não passava de uma narrativa distorcida.
A chamada "Trindade Inquestionável" — Rommel, Guderian (autor de Panzer Leader) e Manstein (autor de Lost Victories) —, especialmente os dois últimos, que escreveram autobiografias atribuindo toda a culpa a Hitler, está enfrentando um escrutínio significativo por causa disso.