ascensão das tensões na Europa

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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Re: ascensão das tensões na Europa

#136 Mensagem por FOXTROT » Qua Set 26, 2012 1:58 pm

Se o ocidente pode "ocidentalizar" o oriente o contrário também é verdade, isso incomoda alguns!

Saudações




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Re: ascensão das tensões na Europa

#137 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Set 27, 2012 7:31 am

A diferença é que aqui isso significa a opressão de metade da população (as mulheres).




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
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Re: ascensão das tensões na Europa

#138 Mensagem por Túlio » Qui Set 27, 2012 7:43 pm

Gozado, não noto isso aqui no Brasil e olhem que tá assim de Muslim, acho que a bronca deles é com a Europa mesmo...




“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”

P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: ascensão das tensões na Europa

#139 Mensagem por Sterrius » Qui Set 27, 2012 8:05 pm

A imigração de mulçumanos pro brasil felizmente ocorreu antes dessa confusão toda, quando a linha turco/otomana era a predominante. Antes da arabia saudita ter dinheiro pra exportar seu modo de pensar.




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Re: ascensão das tensões na Europa

#140 Mensagem por pt » Sex Set 28, 2012 7:38 am

FOXTROT escreveu:Se o ocidente pode "ocidentalizar" o oriente o contrário também é verdade, isso incomoda alguns!

Saudações
:roll: :roll: :roll:

O mundo árabe não é oriente.
No máximo seria médio-oriente, ou oriente-medio.

Não há nenhum problema em ter influências culturais dos países do médio oriente. Você mesmo utiliza palavras que são de origem árabe, porque foram incorporadas à língua portuguesa.
O costume português de receber bem as visitas, é uma clara influência do periodo islâmico, já que o Corão manda tratar bem os visitantes.

O problema a que assistimos é outro e não tem nada que ver com a relação entre a Europa e o mundo árabe (E FRISO MUNDO ÁRABE E NÃO MUNDO ISLÂMICO).
E este problema é um problema interno entre muçulmanos moderados e muçulmanos extremistas.

É um problema que podemos encontrar até na alta idade média na peninsula ibérica.
Os muçulmanos extremistas, acham que os muçulmanos moderados não podem ter um estilo de vida mais liberal, porque o consideram mais ocidentalizado.

Nos tempos idos dos séculos IX X e XI, na peninsula ibérica, os muçulmanos eram muito mais modernos, muito mais liberais, muito mais cultos, e tecnologicamente muito mais avançados que os cristãos ditos ocidentais.

Os cavaleiros dos reinos cristãos viajavam até aos reinos muçulmanos para comprar armas, porque as armas que eles faziam eram muito melhores.

Tudo isso acabou, mas o que muitos esquecem é que acabou por culpa da guerra entre dois grupos muçulmanos que se odiavam de morte.
E o problema é o mesmo de hoje. A interpretação fanática e literal do Corão, versus uma interpretação não literal, adaptada à realidade.

Enquando que na peninsula, os fanáticos obrigavam as crianças a decorar o Corão, os outros exigiam que as crianças aprendessem a ler (a taxa de literacia em alguns casos era de quase 90% e uma pessoa que não soubesse ler tinha dificuldade em arranjar emprego).



Portanto, o problema não é entre cultura ocidental e cultura árabe.
O problema é entre os árabes muçulmanos. São eles que têm que decidir quem ganha. E não podemos impedir os países europeus de tomar partido.

Ao tomar partido pelos setores mais extremistas, acreditando que assim se está a aplacar a ira dos muçulmanos, serve apenas para dar força aos extremistas.

E desenganem-se os que pensam que isto tem que ver com a Europa. Se a Europa não existisse, eles estariam a rebentar-se contra as embaixadas brasileiras, para impedir a pouca-vergonha que é o Carnaval, algo que insulta as raizes mais sagradas dos ensinamentos do profeta.




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Re: ascensão das tensões na Europa

#141 Mensagem por FOXTROT » Sex Set 28, 2012 9:01 am

Não discordo dos seus argumentos PT, porém, você tem que reconhecer quem em nada ajuda os EUA e os Europeus invadirem países como Afeganistão, Iraque, Líbia e apoiar revoltas no mundo árabe.

Saudações




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Re: ascensão das tensões na Europa

#142 Mensagem por Bourne » Sex Set 28, 2012 9:22 am

Os árabes não pensam de forma homogênea. Muitos deles gostariam de se livrar dos párias e não se importam com que o faça ou ajude a fazer. Muitas das revoltas da primavera árabe são revoltas contra os governos autoritários e clama por uma democracia árabe. muitas deles apoiadas pelos ocidentais ou ditadores isolados. Não só pró-ocidente e muito menos a favor dos extremistas. Ainda China, Índia e Rússia tem problemas com muçulmanos radicias. O mundo árabe e islâmico é complicado.




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Re: ascensão das tensões na Europa

#143 Mensagem por pt » Sex Set 28, 2012 12:59 pm

FOXTROT escreveu:Não discordo dos seus argumentos PT, porém, você tem que reconhecer quem em nada ajuda os EUA e os Europeus invadirem países como Afeganistão, Iraque, Líbia e apoiar revoltas no mundo árabe.

Saudações
Esse é o problema.

Aceitar como um fato consumado, que esses movimentos estão na origem do problema e não são consequência deles.

Se quiser encontrar razões para a atual situação seria mais fácil acusar os ingleses (e não os americanos) que foram os responsáveis principais pela chegada ao poder da casa Saud e por via indireta do Wahabismo.

Mas ainda assim, poderia acusar completamente os ingleses ?
Veja que os ingleses apoiaram-se na casa da Saud, mas os emires que quiseram continuar autonomos, continuaram autónomos. E por isso existe hoje o Koweit, o Qatar, o Bahraim, os vários Emirados que depois se federaram nos atuais UAE e o Omã.
Os ingleses apoiaram e apoiaram-se em quem parecia ter mais hipóteses para ajudar a derrotar o império otomano.
E o império otomano do ponto de vista religioso era relativamente liberal.
Tradicionalmente os otomanos davam liberdade religiosa dentro do império, pelo que um muçulmano tinha direitos idênticos aos dos cristãos da Síria do Líbano e da Palestina.
Logo, quem odiava mais os otomanos eram os muçulmanos mais conservadores e radicais, daí a casa de Saud.

O problema é do mundo árabe e é muito muito antigo. Encontramos este problema desde a alta idade média.
É preciso por na cabeça de uma vez por todas, que este problema existiria sempre entre muçulmanos, existisse América e Inglaterra ou não. Se esses países não existissem, outros seriam apontados como responsáveis.

Inclusivé o Brasil.
Não faltaria quem em fórums como este dissesse que estava tudo certo, mas que o Brasil também tinha culpa, porque não proibia o Carnaval.


Não adianta beijar os pés dos islâmicos radicais. Eles não são anti-americanos, eles apenas acham que eles são detentores da verdade com a sua interpretação literal do Corão.
Quem se levantar contra eles, sofre as consequências. Quando não houver europeus e americanos para fazer frente, eles encontrarão outro inimigo.




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Re: ascensão das tensões na Europa

#144 Mensagem por gaia » Dom Set 30, 2012 8:00 pm

O Pt , tem razão , no mundo árabe existem diversas correntes , sunitas e xiitas , etc .
Como entre judeus também tem correntes diferentes , e muito agressivas , e racistas .

Os fundamentalistas , e os mais radicais , continuam com uma visão do mundo muito primitiva para os nossos olhos ocidentais .

Como disse ,e bem , o Carnaval do Brasil , é uma grande afronta ao profeta . Se querem continuar com esta festa .....

Actualmente a europa está numa situação muito perigosa , crise profunda , tudo pode acontecer , um pouco como antes da WWII.

Subida continua de impostos , ataque aos ricos ,classe média , empresas , etc.

A europa , está à beira de grandes transformações , e muito perigosas .




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Re: ascensão das tensões na Europa

#145 Mensagem por U-27 » Seg Out 01, 2012 8:00 pm

Nao é so aos maometanos que o carnaval incomoda e ofende...




"A religião católica contém a Verdade total revelada por Deus e não dizemos isso com arrogância nem para desafiar ninguém. Não podemos diminuir esta afirmação" Dom Hector Aguer

http://ridingaraid.blogspot.com.br/ meu blog
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Re: ascensão das tensões na Europa

#146 Mensagem por Boss » Seg Out 01, 2012 11:25 pm

No máximo a Europa vira uma federação, aniquilando os mais fracos em prol de um governo central, provavelmente dominado pela Alemanha, e em menor grau, por França e Reino Unido.

Seria um espetáculo para uma análise do federalismo, já que seria sua experiência mais ampla, com países centenários e com culturas, línguas e históricas ricas e distintas, ao contrário de federações como a americana, a australiana e a brasileira, que basicamente reuniram posses da ex-metrópole sob um único nome, mas que compartilhavam o idioma e boa parte da cultura (no caso brasileiro, as Províncias do Império - e a única que não seguia esse padrão, a Cisplatina, se tornou independente).

Seria interessante ver como funcionaria.




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Re: ascensão das tensões na Europa

#147 Mensagem por prp » Ter Out 02, 2012 1:21 am

O Brasil nunca foi uma federação. :wink:




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Re: ascensão das tensões na Europa

#148 Mensagem por Boss » Ter Out 02, 2012 2:02 am

Não sei. Eu acho que sempre fomos, mesmo durante o Império.

Claro que uma versão capada do conceito, longe do americano, mas fomos e somos.

A União Européia redefiniria o conceito.




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Re: ascensão das tensões na Europa

#149 Mensagem por marcelo l. » Sáb Out 06, 2012 12:56 pm

Nem sempre os tribunais emitem sentenças teratológicas que devolvem as moças para os maridos espancadores, há sim mudanças em alguns casos que irritam práticas religiosas consagradas como a circuncisão ser considerada uma lesão corporal e violar o direito de escolher a religião na vida adulta.

Teve direito em Colonia até de uma passeata que uniu judeus e muçulmanos.

http://www.swissinfo.ch/eng/swiss_news/ ... d=33188666

Moves by two Swiss hospitals to suspend the practice of circumcising boys in the wake of an adverse court ruling about the procedure in Germany have sparked heated debate amongst legal experts in Switzerland.

The children’s hospitals of Zurich and St Gallen announced they had suspended the practice after the Cologne district court ruled last month that circumcision for religious purposes amounted to willful bodily harm which could be punishable under criminal law.

“We only carry out one or two circumcisions for religious reasons per month, so we can very well take the time to evaluate the situation and to take a decision,” a spokesperson for Zurich Children’s Hospital said, adding that circumcisions for medical reasons were not affected by the moratorium.

“We are evaluating the legal situation in Switzerland, but also the ethical aspects. There are, for example, complicated situations where the mother of a child wants the circumcision but the father does not.”

Religious groups in Switzerland, including Jews and Muslims for whom circumcision is a religious ritual, and Christian churches, have condemned the decision by the hospitals as an attack on religious freedom.

Marcel Niggli, professor of criminal law at Fribourg University told swissinfo.ch the two hospitals had “overreacted”, and questioned why they were acting in response to a ruling in Germany which had no legal implications in Switzerland.

He said that although Swiss and German laws were similar in that they are based on the principle that medical procedures do not constitute inflicted injury when they are carried out to better a person’s health, “a court decision in Germany is not more important [to Switzerland] than one in China or Argentina”.

But professor Martin Killias, a criminologist at Zurich University, said the German ruling was simply a “point of ignition” for a debate which had been brewing for some time. He said the hospitals had “absolutely” taken the right decision in suspending the practice of circumcision.

“I think they are opening a debate and there are obviously several points to be considered,” Killias told swissinfo.ch. “Beyond criminal law, it simply asks the question whether hospitals want to do that? I could imagine that hospitals could say that according to our view this is against our ethical standards in medicine.”

cont.




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Re: ascensão das tensões na Europa

#150 Mensagem por marcelo l. » Ter Out 16, 2012 10:43 pm

É uma noite quente em Atenas, as freiras acabaram de ultrapassar a fileira de policiais. Elas não tiveram que se esforçar muito. A tropa de choque do lado de fora do teatro Chytirio tenta principalmente impedir que os manifestantes antifascistas alcancem os neonazistas, as freiras e os padres que vieram protestar na abertura da peça Corpus Christi, e não o contrário. Então, quando uma velhinha de hábito preto passa pelos escudos e capacetes pra discursar sobre blasfêmia e sodomia pros anarquistas e ativistas do outro lado, ninguém tenta impedi-la.

Esta é a noite de estreia de Corpus Christi, peça de 1998 do dramaturgo iconoclasta Terrence McNally que mostra Jesus e seus discípulos como homens gays na parte rural do Texas. Essa não deveria ser a primeira apresentação. A estreia na noite anterior foi violentamente fechada por uma gangue de capangas do partido fascista Aurora Dourada, que avisou: “em qualquer caso em que o sentimento religioso dos gregos for insultado, a Aurora Dourada vai reagir de forma dinâmica”.

“De forma dinâmica” significa, na prática, que membros do público e jornalistas foram espancados, ameaçados e chamados de “bichas” e “viados”, e a polícia — que, de acordo com algumas pesquisas, tem 50% da sua força composta por partidários da Aurora Dourada — permitiu que isso acontecesse. Eventualmente os fascistas conseguiram trancar os atores dentro do teatro e a noite de estreia foi adiada. Adiada, mas não cancelada. Parece que é preciso mais do que ameaças de ter o cérebro espalhado pela calçada enquanto a polícia não faz nada pra que o elenco desista de apresentar a peça.

Nesta noite, 200 anarquistas e antifascistas vieram proteger o teatro. Agora, há um impasse. Os fascistas do Aurora Dourada estão de um lado, junto com um punhado de padres e freiras idosos reunidos como um bando de corvos chacoalhando seu crucifixos pra tudo e todos; e os antifascistas estão do outro, atrás de um muro bem sólido de escudos da tropa de choque.

Imagem

Noite passada, a polícia de Atenas simplesmente olhou pro outro lado enquanto os fascistas espancavam os frequentadores do teatro do lado de fora da Corpus Christi. Hoje, a polícia resolveu montar um bloqueio. O que mudou? Pode ter algo a ver com o fato de que um bando de repórteres, câmeras e agências de notícia de toda a Grécia apareceram pra ver o que ia acontecer. Na noite de estreia, quando algumas câmeras chegaram, Manolis V, um blogueiro da revista Lifo, fotografava padres rasgando cartazes da Corpus Christi, quando se viu cercado por neonazistas.

“Eu disse que trabalhava pra Lifo, achando que isso ia me proteger. Mas eles começaram a gritar: 'Essa bicha trabalha pra Lifo, venham ver essa bicha!' Eles me encurralaram, começaram a me xingar e a puxar minha barba, e um parlamentar da Aurora Dourada cuspiu na minha cara. Eles estavam por toda parte.” Pelo telefone, Manolis pareceu perturbado.

"Consegui sair do meio deles, que continuaram gritando: 'Foge, seu bicha, seu chupa-rola'. Eu me voltei pra olhar depois de metade de um quarteirão, aí um outro parlamentar da Aurora Dourada veio e me deu um soco no rosto. Ele dizia: 'Chora, menininha, chora, sua bicha'."

A Aurora Dourada criou uma comoção no YouTube no começo do ano quando o parlamentar Ilias Kasidiaris atacou um político de esquerda ao vivo na TV, e eles parecem não ver mesmo nenhum problema em parlamentares eleitos como representantes do povo socando a cara de jornalistas conhecidos no meio da rua.

“Caí e ele me chutou. Meus óculos já eram. Eu gritava: 'Polícia, socorro, eles estão me batendo'”, diz Manolis. “Os policiais viraram as costas e fingiram que não estavam vendo. Quando consegui me mexer, um deles me mandou um beijo.”

Era hora de entrarmos. Pra entrar no teatro, tínhamos que passar por três fileiras de policiais da tropa de choque vestidos com armadura completa e também por portas trancadas duas vezes até um pequeno pátio abaixo do palco. Estava muito quieto ali. Alguns atores, contrarregras e jornalistas fugiam pra fumar no terraço, beber refrigerante e olhar nervosamente a multidão que aumentava do lado de fora dos portões.

Encenar Corpus Christi sempre vai provocar controvérsia. Antes que os leitores de fora da Grécia digam alguma coisa, o tipo de fanatismo que fez esse teatro ser ocupado pela polícia dificilmente é algo exclusivo dos neonazistas helênicos. Quase toda produção de Corpus Christi nos Estados Unidos, incluindo o revival de 2010, foi agraciada com multidões nervosas gritando abusos homofóbicos em nome da religião, e a apresentação original em Los Angeles foi um dos estopins das guerras culturais americanas dos anos 90. O diretor Laertis Vasiliou explica: “Isso foi há 15 anos. Vivemos em 2012, achávamos que não havia nada a temer.”

“Mas a noite passada fora do teatro foi como a Noite de Cristal, sabe, durante o Terceiro Reich na Alemanha.” Laertis, 38 anos, parece que não dorme há uma semana, o que é verdade — pelo menos não na sua própria cama. O diretor teme pela sua segurança e ainda não foi capaz de voltar pra casa, enquanto isso, tem se escondido na casa de amigos e parentes em várias partes da cidade.

“As pessoas que vieram assistir à peça estavam com os ingressos na mão e foram espancadas. Espancadas! Elas foram espancadas por esses capangas extremistas e jogadas pra fora. Não pudemos abrir os portões do teatro, daí fizemos um ensaio. Esperamos que a apresentação aconteça hoje.” Enquanto atores e a equipe do teatro trabalham no pequeno palco, Laertis fuma um cigarro atrás do outro, dando longas tragadas como um homem que tenta sair de uma bad trip.

“Isso é muito triste no país onde o teatro e a democracia nasceram, neste país, nesta rua. Você sabe qual o nome desta rua? É Rua Iera Odos. Sabe o que isso significa?” Balançou a cabeça. “Significa 'Rua Sagrada'. E por que se chama assim? Porque dois mil anos atrás, na Grécia Antiga, as pessoas vinham até aqui pra ver os mistérios encenados, pra ver os festivais de teatro, e há mais de 2.500 anos, esta rua tem o mesmo nome. Esta é a rua do teatro, e eles decidiram fechar o teatro.”

“Tenho sido ameaçado. Eles ameaçaram minha vida, minha família tem sido ameaçada, meus pais. Recebo mensagens no meu celular, no meu telefone fixo. Minha vida está sendo ameaçada aqui. Vim da Albânia pra Grécia 20 anos atrás, e a Albânia tinha o regime mais horrível do bloco oriental, um regime totalitário, mas nem mesmo lá eles conseguiram fechar o teatro.” Nesse momento, Laertis para e, de repente, começa a chorar.

“Vinte anos atrás”, ele diz, tentando manter a voz estável, “vim pra Atenas porque minha mãe era de origem grega. Noite passada eles berravam meu nome e diziam: 'Seu maldito albanês, saia daí e vamos te enterrar vivo. Vamos arrancar sua cabeça. Vamos te cortar em pedacinhos, seu albanês de merda.' Eu deixei este país orgulhoso em 2005 e em 2008, com dois prêmios internacionais de teatro. Em 2012, eles querem me matar. Por quê? O que foi que eu fiz? Sério, o que foi que eu fiz?”. Uma das razões que faz com que a chamada imigração ilegal seja tão alta na Grécia é que, mesmo pra filhos de imigrantes nascidos aqui, é quase impossível conseguir a cidadania. Laertis não tem documentos, apesar de estar aqui há 20 anos. Legalmente, ele não é uma pessoa.

“Eles não entendem que nada vai impedir minha liberdade de expressão. Se eles não me querem mais na Grécia, vou pegar a minha família e partir.” O esforço pra conter as lágrimas deixa o rosto de Laertis feio. “Sabe, é difícil pra uma pessoa ouvir os outros te xingando e dizendo 'Sai daí, seu maldito albanês, vamos enfiar uma estaca na sua bunda até sair pela boca e colocar você do lado de fora do teatro pra que todo mundo veja.' Me sinto ameaçado. Você não se sentiria ameaçada?”

Fora do teatro, mais membros da Aurora Dourada aparecem. A atmosfera fica ainda mais tensa. Mais tarde, alguns deles tentariam atacar os antifascistas, mas, diferente de ontem, a polícia se vê obrigada a impedi-los de bater na oposição. O mais interessante é que nenhum dos lados trouxe suas próprias tropas de choque. Os verdadeiros carecas barra-pesada de camiseta preta do Aurora Dourada, que têm esfaqueado e brutalizado imigrantes em Atenas e seus arredores nos últimos meses, não deram as caras nesta noite.

Ao invés disso, os membros da Aurora Dourada que apareceram são caras mais velhos, magricelas com bigodes suspeitos e adolescentes. Um deles grita algo ameaçador pra mim em grego enquanto cruzo a terra de ninguém, e depois se desculpa quando digo que sou jornalista inglês. Alguns capangas de extrema-direita prosperam com a atenção da mídia — a Liga de Defesa da Inglaterra me vem à mente —, mas não a Aurora Dourada. Eles querem fazer seu trabalho longe de olhares indiscretos. No meio da zona neutra, onde as câmeras se posicionam pra tentar conseguir imagens dos dois lados, um alegre ônibus turístico aparece de repente, pequeno e branco, pintado pra se parecer com um trem e atravessando o impasse como se estivesse levando visitantes pra praia. Está completamente vazio. O letreiro diz: “Tour Atenas!”.

Imagem

A freira fascista continua vociferando à distância. Ela tem uma semelhança irritante com a minha avó que, entre muitas qualidades nobres, também é uma pequena e rotunda fanática religiosa mediterrânea cujo passatempo favorito e esfregar imagens de Jesus na cara de qualquer um que argumente sobre os direitos dos gays. Claro, minha avó não tem um exército de homens fardados na retaguarda dela, mas bem que ela gostaria.

A freira diz pros antifascistas que tentam argumentar com ela, que os gregos nativos e os cristãos são as verdadeiras “vítimas, vítimas” e que a Aurora Dourada são os “verdadeiros patriotas” que impedem que a sociedade grega se despedace. O que é um argumento interessante, considerando que o desemprego na Grécia está acima de 25% — 54% entre os jovens —, há greves gerais mês sim, mês não no país e dificilmente há dias em que partes significativas de Atenas não estejam em chamas. Sério. Noite passada não consegui que meu tradutor me acompanhasse pra ver um banco pegando fogo no norte da cidade porque já era tarde e provavelmente outro banco pegaria fogo no dia seguinte.

“Acho que não existe mais nenhuma lei neste país”, diz Manolis. “Todo mundo tem medo da Aurora Dourada ou está mancomunado com ela e é quase impossível saber a diferença.”

Estávamos tendo essa conversa na frente de uma fila de policiais da tropa de choque, que começavam a nos lançar olhares extremamente dúbios. Hora de partir. Quando finalmente chegamos ao apartamento, recebemos uma mensagem de texto dizendo que a produção de Corpus Christi de Atenas tinha finalmente estreado. Com casa lotada.

http://www.vice.com/pt_br/read/os-fasci ... o-seu-lado




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