‘Talvez tenha sido mera coincidência’
27/06/2012
Vz.ru
Embora condenado pela comunidade internacional, abate de avião turco na Síria pode não ter sido proposital, segundo especialista russo em defesa antiaérea.
Em uma coletiva de imprensa na última segunda-feira (25), o vice-primeiro-ministro turco, Bülent Arinç, disse que o avião de reconhecimento turco RF-4E desaparecido dois dias antes havia sido derrubado pela defesa antiaérea síria.
“Não há dúvida alguma de que os sírios atacaram propositadamente nosso avião que, aliás, sobrevoava o espaço aéreo internacional”, disse o governante turco. “Além disso, a Síria tentou, sem sucesso, derrubar uma outra aeronave turca que chegou ao local para localizar os destroços da primeira”, completou.
Como era de se esperar, o fato teve grande repercussão internacional e a Turquia ganhou apoio de seus aliados da Otan. Durante uma reunião extraordinária da Aliança do Atlântico Norte, o secretário-geral do grupo, Anders Fogh Rasmussen, disse que todos os países da Otan condenaram veementemente o abate do avião turco.
“Trata-se de outro ato de desrespeito pelas normas internacionais, princípios da segurança e respeito pela vida humana”, declarou Rasmussen.
As autoridades sírias, por sua vez, insistem que a aeronave turca foi derrubada no espaço aéreo sírio. De acordo com o porta-voz da diplomacia síria, o avião infrator não foi atingido por um míssil, mas sim pelo fogo da artilharia, cujo raio de alcance é menor.
“As informações que temos mostram que nosso avião foi atingido por um míssil guiado a laser ou por detecção de calor”, rebate Arinç.
Para esclarecer algumas dúvidas em torno da questão, o jornal russo “Vzgliad” conversou com Said Aminov, executivo do site “Vestnik PVO” (Jornal da Defesa Antiaérea) e especialista em defesa antiaérea.
Vzgliad: O senhor acredita que o avião turco violou propositadamente o espaço aéreo sírio?
Said Aminov: Quando uma aeronave entra no espaço aéreo de um país, os radares integrados a seu sistema antiaéreo entram em ação, revelando a localização do objeto. É difícil dizer se o avião turco tinha a missão de verificar o nível de prontidão da defesa antiaérea síria. Talvez tenha sido mera coincidência.
V: Que meios poderiam ter sido usados para abater o avião turco?
SA: É difícil dar uma resposta inequívoca, ninguém viu nada. A hipótese mais provável é que a aeronave tenha sido derrubada por um canhão antiaéreo 57 mm S-60 ou por um canhão autopropulsado Chilka, fornecidos em grandes quantidades à Síria pela URSS.
V: Será que sistemas de defesa antiaérea tão obsoletos são eficazes contra alvos aéreos modernos?
SA: No Vietnã, esses sistemas foram muito eficazes e desde então nada mudou. No caso do avião turco, esses sistemas não tiveram nenhumas dificuldades se atuaram em condições de boa visibilidade e com o apoio de radares.
V: Em relação à defesa antiaérea síria, o que esse fato representa?
SA: Ao contrário da Líbia, a Síria não poupou esforços para modernizar seu sistema de defesa antiaéreo. Mesmo assim, a Síria não poderá resistir, durante longo tempo, a uma coalizão de países que reúnem um potencial militar moderno, por mais forte que seja seu sistema de defesa antiaérea e por mais profissional que seja seu pessoal.
Entrevista feita por Roman Kretsul
“Segundo os vídeos disponíveis na internet, é bem possível que o avião turco tenha sido abatido pelo fogo de artilharia”
Analista militar tenente-general Leonid Ságuin
“Não parece que o avião turco foi abatido por um Buk ou um Pechora [sistemas de defesa antiaérea de fabricação soviética em serviço na Síria]. O avião turco voou a uma altitude muito baixa e foi derrubado pelo fogo de artilharia”
Diretor do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, Ruslan Púkhov
A Síria possui canhões autopropulsados Chilka e Pancir-S1.
O canhão antiaéreo autopropulsado Chilka é destinado a lutar contra alvos aéreos a uma distância de até 2,5 km e foi importado pela Síria em grandes quantidades da URSS nos tempos soviéticos.
No entanto, o número exato de Chilka em serviço na defesa antiaérea do país é desconhecido.
Já o sistema antiaéreo autopropulsado Pancir-C1, o qual a Síria tem cerca de 36, possui canhões e mísseis antiaéreos.
Além disso, a defesa antiaérea síria conta com canhões antiaéreos soviéticos obsoletos S-60, capazes de atingir alvos a uma distância de até 4 km.
A versão completa do artigo em russo está disponível em vz.ru
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