LeandroGCard escreveu: PRick escreveu:Você está confundindo evolução da vida, com a existência humana, o homem pode ir além da sua natureza, mas isso não é evolução da vida. Como podemos ver os vários tipo de hominideos apenas comprova tal fato. O que você chama de evolução, eu chamo de existência. O homem é o único animal que tem uma "segunda vida", quer dizer além da vida biológica, ele tem a capacidade de apreender, gerar conhecimento, fazer cultura e transmitir esse conhecimento, papel da cultura humana.
Não Prick, não estou confundindo, pelo contrário.
Compreendo e concordo perfeitamente com esta questão de que a capacidade humana de gerar uma cultura (dada pela língua falada e a habilidade de criar e interpretar símbolos abstratos, o que inclui a escrita) nos diferencia dos animais, e que a evolução da cultura humana não segue exatamente as mesmas regras da evolução biológica da vida. Mas acho que você mesmo concorda que embora não submetida exatamente às mesmas regras a evolução da cultura humana existe, assim como a evolução biológica.
Mas a questão é que não existem regras universais e abstratas para a evolução da cultura humana, porém, existem para a chamada evolução da vida biológica. Marx fala isso claramente,afirmando que as regras universais para a história humana, não são capazes de explicar como ela se desenvolve e nem poderiam indicar a direção, ele apenas constada, até hoje a direção foi essa, e faz uma previsão.
O ponto que eu levantei é relativo à crença bastante disseminada de que a evolução, tanto da vida quanto da cultura humana, tem um caráter “determinístico”, mais especificamente no sentido do progresso de formas inferiores para formas superiores. Este conceito é errado em biologia (qualquer estudioso da área vai te dizer isso), e não vejo nenhuma razão para acreditar que também não esteja errado se aplicado à evolução cultural.
Certamente, não existe determinismo e evolutivo para a cultura humana, já o determinismo para a evolução depende do caráter que você quer dar a ele, se a determinação for no sentido de que as leis não podem ser contrariadas, eu concordo, agora, no aspecto que você fala, teríamos que debater o que entendemos por evolução.
É comum se dizer, por exemplo, que os mamíferos substituíram os dinossauros por serem uma forma de vida mais evoluída (avançada). Isto não é correto, para as condições ambientais e ecológicas do período mesozóico os dinossauros eram melhor adaptados que os mamíferos, e em muitos aspectos eram também fisiologicamente mais avançados do que eles. Tanto que ambos os grupos surgiram praticamente juntos no início desta era (mais provavelmente no final da anterior), e os dinossauros e seus afins (pterossauros e diversas famílias de répteis aquáticos) é que vieram a dominar o período. Apenas um evento aleatório e imprevisível (a queda de um enorme meteoro e a mudança das concentrações de gases na atmosfera) é que levou ao fim do reinado dos dinos e abriu espaço para a irradiação evolutiva dos mamíferos, ou hoje a raça dominante no planeta poderia ser descendente dos celurossauros ao invés dos primatas. E, da mesma forma, ao surgirem os dinossauros não eram mais avançados que os répteis mamaliformes que dominavam a terra no final da era paleozóica e que foram extintos em outro evento aleatório, a Grande Extinção Permiana (o maior evento de extinção que já pôde ser identificado na história da vida na Terra).
Continuando acima, aí depende o que entendemos por evolução, se for algo inerente ao grau de complexidade, me parece que está ocorrendo isso, os mamíferos são muito mais complexos que os Dinossauros, do mesmo modo que o Homem é o animal mais complexo, porque gera cultura. Assim, a evolução estaria ligada a capacidade cerebral. Agora, quanto a ser mais adaptado ou não ao meio, seria um outra maneira de definir evolução. Esse termo foi cunhado pela antropologia do século XIX, carregada pela idéia de progresso. Assim, se julgou as culturas humanas, como mais ou menos desenvolvidas, mais ou menos complexas, por isso os Ìndios são os selvagens.
De forma análoga (embora não necessariamente igual), na evolução das sociedades humanas os eventos aleatórios imprevisíveis representam um papel tão importante quanto qualquer tendência econômica, geográfica ou étnica. Da morte prematura de Alexandre o Grande à ascensão de Stalin na Rússia ou à derrota dos nazistas na SGM, séries encadeadas de eventos aleatórios tem tanta importância na determinação da história quanto quaisquer questões econômicas, e isto não permite que se possa considerar a história como uma sequência de progressos de estágios mais primitivos para os mais avançados. A cultura greco/romana (que alguns consideram erroneamente como a origem da nossa própria) não era mais avançada do que a do Império Persa Aquemênida que Alexandre derrotou, e a ascenção da primeira sobre a última na área do mediterrâneo não foi um progresso. Da mesma forma a sociedade medieval não representou um avanço sobre a cultura imperial clássica (assíria, persa, romana). Desta forma a evolução da sociedade humana, assim como da vida biológica, embora sujeita a algumas leis determinísticas é na verdade melhor descrita como uma série de flutuações aleatórias do que como um progresso em direção a sistemas mais avançados. Por isso afirmar que o capitalismo é o avanço supremo, ou mesmo que é um avanço em si, apenas por ser o sistema dominante no cenário atual ou por ser concomitante com a aceleração do progresso técnico-científico (e não a sua causa como muitos parecem pensar, pois esta aceleração começou antes do capitalismo tomar forma), não é uma afirmação sustentável. E da mesma forma a previsão de que o socialismo o sucederá também não.
Caímos no mesmo problema acima, os Romanos poderiam não ser como civilização superiores aos Persas, como os Europeus não eram superiores ao Chineses no século XVII, porém, o que Marx fala? Que o modo de produção romano e europeu era mais eficiente que o dos Persas e Chineses, por isso prevaleceram. Um dos motivos foi que essas civilizações incorporaram em sua gênese a importância da tecnologia. Me parece que essa é a diferença evolutiva principal, o Capitalismo cedo percebeu que não era possível aumentar de modo significativo a produção, sem revolucionar sistematicamente a tecnologia aplicada ao meio social. A idéia de evolução está intimamente ligada a capacidade tecnológica de uma dada sociedade. E o sistema capitalismo foi o que melhor fez isso, não o único, mas como Marx notou, não é possível a convivência de dois modos de produção distintos, o mais eficiente do ponto de vista econômico prevalece.
Quanto a parte da oposição entre fato e agente histórico, isso não tem sentido para quem pensa história como processo, o homem individualmente falando, só é significativo na história humana, quando representa uma classe social ou mesmo lidera uma corrente do processo histórico, como Marx bem notou, no materialismo histórico, o processo é obtido por meio da dialética, quer dizer por meio do conflito, porém, a síntese que nasce do conflito, não é caótica, tem sentido.
Como a maioria das pessoas que apenas leu ou pegou Marx de terceiros, você comete o mesmo erro, Marx foi um historiador, filósofo, sociólogo, mas também foi um ideólogo. Assim, é preciso separarmos os livros de Marx, o Manifesto Comunista é um texto ideológico, político. O CAPITAL é uma análise do capitalismo de sua época.
O livro chave para entendermos Marx, enquanto historiador e cientista político, chama-se A Ideologia Alemã. Infelizmente a primeira edição completa do maior livro de historiografia já escrito, só foi publicado em 1932.
Nele Marx estuda como se deveria estudar história, ou seja, o que é História, alguma coisa desse livro acabou no famoso Grundrisse. Não existe qualquer determinismo histórico nesses livros, Marx apenas faz uma previsão lógica, que o próximo modo de produção teria que superar o capitalismo.
[]´s
De fato nunca me dei ao trabalho de estudar profundamente a obra de Karl Marx (como fiz por exemplo com relação à teoria da evolução biológica), até porque em geral acho os livros de autores da área de humanas muito maçantes e repetitivos, e depois de ler “O Capital” vi que Marx não foge a esta regra (reconheço que esta não é uma falha destes autores mas minha, como engenheiro me sinto mais à vontade com textos mais diretos, tipo demonstrações de fórmulas exatas).
Mas a menos que todos (ou pelo menos a maioria) dos comentaristas e dos autores que se referem a Marx em suas obras estejam errados sobre o que ele realmente disse (e acho isto muito pouco provável), mantenho minha opinião de que ele incorre em diversos erros que invalidam muitas de suas conclusões. E um exemplo é esta história de prever a superação inevitável do capitalismo pelo marxismo, que seria uma "previsão lógica" em um campo onde previsões lógicas não são possíveis.
Mas isto não é de fato um demérito para Marx, temos que colocar sua obra em perspectiva. Ele era um autor do século XIX escrevendo sobre assuntos bastante complexos (história, economia, sociologia, etc...) à partir de uma base de conhecimentos muito imperfeita se comparada à que temos hoje, e sujeito à visão e aos preconceitos de sua sociedade sobre um mundo que sequer podia ter conhecido melhor, dadas as dificuldades de comunicação e acesso à informação de sua época. Seria um verdadeiro milagre se ele tivesse podido nestas condições produzir uma obra perfeita e imune a correções mesmo um século depois. O mesmo se aplica, por exemplo, a Charles Darwin, seu mérito em apontar um caminho para a continuação dos estudos é universalmente reconhecido, mesmo que sua teoria como ele propôs tenha sido reconhecida como incorreta e substituída por outra mais aperfeiçoada e muito diferente em diversos aspectos (o neo-darwinismo).
Na minha opinião é disso que o pensamento de esquerda precisa, de um "neo-marxismo" que não tenha medo de apontar os erros de Marx (e manter os seus acertos), e incorpore os avanços do conhecimento que surgiram desde que ele escreveu sua obra.
Isso já existe faz tempo, desde Rosa de Luxemburgo e Antonio Gransci sugiram como pensadores, em oposição a Lenin. Depois vieram muitos outros que culminaram com as história das mentalidades de Braudel. Porém, como foram em sua grande maioria acadêmicos e pensadores, nunca tiveram os instrumentos que a URSS teve para difundir sua leitura mecanicista do marxismo.
[]´s
Um grande abraço,
Leandro G. Card