Crise na Crimeia pode acelerar aproximação entre UE e Ucrânia
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Reunião de cúpula em Bruxelas se centrará em marcar a posição europeia no conflito do Mar Negro. Ex-repúblicas soviéticas da Geórgia e da Moldávia também podem entrar no cabo de guerra entre Moscou e Ocidente.
A crise da Ucrânia será, sem dúvida, o tema dominante da conferência dos chefes de Estado e governo da União Europeia, nesta quinta-feira (20/03). De forma demonstrativa, na reunião Kiev firmará a seção política do acordo de associação com o bloco europeu – as partes econômica e alfandegária serão ratificadas mais tarde.
A assinatura do acordo estava programada para novembro passado, mas foi cancelada pelo então presidente ucraniano, Viktor Yanukovytch, em respeito aos interesses da Rússia. A decisão desencadeou as manifestações oposicionistas em Kiev que levaram à queda do regime.
Segundo o cientista político alemão Werner Weidenfeld, em meio à crise na Crimeia, os europeus emitem, assim, um sinal decidido. "Nota-se que agora a UE está pressionando pelo cumprimento do cronograma", afirma.
Tudo indica, portanto, que a Ucrânia vai se aproximando do Ocidente em tempo recorde. De fato: para diversos observadores na UE, não há alternativa para o país, em especial depois da secessão da Crimeia. O acordo de associação seria apenas um primeiro passo no sentido de uma futura cooperação estreita.
O comissário europeu para a Ampliação e Política de Vizinhança, Stefan Füle, abriu ainda mais o jogo, numa entrevista ao jornal alemão Die Welt, ao apresentar à Ucrânia a perspectiva de se tornar membro pleno da UE, a longo prazo.
"Se queremos mudar essa parte da Europa Oriental, devemos empregar o elemento mais forte de que a UE dispõe, que é a ampliação", afirmou. "A UE tem uma força incomparavelmente transformadora e estabilizadora."
Resistência à ampliação do bloco
Em Bruxelas, no entanto, nem todos estão de acordo com esse posicionamento tão direto do comissário tcheco. Segundo a Comissão Europeia, ainda não há uma posição comum quanto a uma adesão ucraniana. Também no Parlamento Europeu ouvem-se vozes críticas quanto à uma ampliação do bloco em direção ao Leste.
"Não acho nada bom", opinou o deputado alemão Manfred Reul, presidente da bancada conservadora-cristã (CDU/CSU) no Parlamento Europeu. "E qualquer um que pense um pouco, sabe que o momento não é nada apropriado."
Segundo ele, é preciso fazer de tudo para proporcionar apoio e confiabilidade à Ucrânia, mas a oferta de filiação não ajuda o país em nada. Pelo contrário, afirma: "Despertam-se expectativas totalmente impossíveis de realizar".
Reul argumenta que não se pode integrar ao bloco um país que não preencha realmente os rigorosos critérios para adesão, e atualmente não há como prever quando Kiev estará em condições para tal. Além disso, prossegue, a esta altura o anúncio de uma eventual adesão "não vai impressionar nem um pouco" o presidente russo, Vladimir Putin.
Manifestação pró-Ucrânia no Parlamento Europeu: até onde vai a solidariedade?
Símbolo de peso do Ocidente
Weidenfeld discorda. Para o cientista política, seria uma mensagem forte para a Rússia, a UE embarcar em negociações de filiação com a Ucrânia. "No momento, trata-se, de certa forma, de uma linguagem simbólica, para demonstrar: 'Até que ponto os Estados Unidos e a União Europeia estão dispostos a cuidar da Ucrânia?'"
Seja como for, a coisa não iria muito além de um símbolo: "As negociações para filiação naturalmente se estenderiam por anos. Mesmo num caso extraordinário como o da Ucrânia, a UE não pode simplesmente estalar os dedos e proclamar: 'Pronto: e agora ela se tornou membro'", afirma.
Nesse ínterim, até mesmo Füle recuou, declarando, num comunicado à DW, que "uma adesão da Ucrânia não está em cogitação, no momento". Ele repetiu, assim, o que a Comissão Europeia já vem dizendo nos últimos meses.
Moldávia e Geórgia na mira
É possível também interpretar a atitude reticente da UE em relação à Ucrânia como rejeição de uma eventual inclusão de outros Estados do Leste Europeu que se sentem ameaçados pela retórica de Putin de uma hegemonia russa.
Isso se aplica em especial à Geórgia e à República da Moldávia, que gostariam de poder contar com maior respaldo do bloco europeu. Elas temem que a crise da Ucrânia possa se alastrar por seus territórios. Conflitos territoriais e étnicos, há muito latentes, poderiam eclodir e ser instrumentalizados por Putin, com o fim de
ampliar sua influência na região.
Logo após a Moldávia declarar independência, em 1991, sua região leste, a Transnístria, se separara, e agora insiste numa adesão à Federação Russa. Há apenas poucas semanas, os habitantes de outra região separatista moldávia, a Gagaúzia, votaram pela inclusão na união aduaneira russa. Na Abkházia e na Ossétia do Sul, o russo já é uma das línguas oficiais. Em 2008, durante a Guerra do Cáucaso, ambas declararam unilateralmente sua secessão da Geórgia, com ajuda de Moscou.
Agora, a Rússia poderia continuar tentando interceptar o curso pró-Ocidente da Geórgia e da Moldávia. Elas desejam um acordo de associação com a UE, como a Ucrânia, porém ao mesmo tempo são economicamente muito dependentes de Moscou, que tenta, por todos os meios, desacreditar a associação com a UE entre a população georgiana e moldávia.
Para Weidenfeld, porém, nada disso é argumento para iniciar negociações de filiação com os dois Estados: "Não faz sentido achar que agora a UE vai acolher todos os países onde possa haver algum problema", ironizou o cientista político.