Clermont escreveu:
Pelo menos em matéria de combate de infantaria, eu ainda gostaria de saber no que, exatamente, o Exército brasileiro de 2020 armado com fuzil IA2, cem porcento nacional, será superior em autosuficiencia logística, independência estratégica e conhecimento tecnológico em relação ao Exército brasileiro de 1980, armado com fuzil FAL-FN, fabricado sob licença da Bélgica. Ou então, em relação ao que teria sido um hipotético Exército brasileiro de 2020 armado com fuzil HK-416, fabricado sob licença da Alemanha...
Não consigo lembrar se alguém já explicou isso, tintim por tintim, aqui neste tópico...
Desculpes a demora, Clermont véio, mas só agora posso
tentar responder:
Há várias razões para se desenvolver um fuzil como o IA-2, ao invés de simplesmente se passar outra vez ao licenciamento de arma estrangeira (afinal, só no século XX fabricamos sob licença tanto o Mauser 98 quanto o FAL). Por exemplo:
Desenvolvimento tecnológico.
Precisamos pesquisar e desenvolver as ligas de aço mais adequadas ao invés de receber tudo pronto e sem saber os porquês disso e daquilo; idem com relação aos polímeros, não é qualquer um que serve para um Fz sem que ele "abra o bico", como dizem alguns colegas. Obtive, como mencionei páginas atrás, muitos relatos de INCIDENTES de tiro (enguiços) dos Fzs do lote-piloto (mas é para isso que existem lotes-piloto, não?) porém sequer UM de ACIDENTE de tiro (tipo o Fz estourar nas fuças do Operador). Será que o polímero usado nas Psts Taurus serviria sem problemas? Ademais, tanto as ligas desenvolvidas quanto os polímeros encontram aplicação na indústria civil...
Interatividade
A Imbel está tendo de aprender a
conversar com a tropa, coisa velha para, por exemplo, as empresas de Israel. Saber o que tem de bom, ruim e o que poderia ser melhor em suas armas. O conhecimento (
feedback) obtido é proveitoso para ambas as partes e seria zero ou pouco mais do que isso com arma estrangeira. Houve ainda o envolvimento do CTEx, no momento em que se começou a pensar que o IA-2 era um beco sem saída. Temos então uma Instituição de Pesquisa interagindo com uma Empresa, a qual até então não falava com ninguém.
Domínio total sobre a arma
Não há royalties a serem pagos a cada Fz vendido nem permissões de exportação a serem solicitadas a nenhum governo estrangeiro, caso nos seja feito um pedido do exterior. A conveniência ou não de atendê-lo será decidida exclusivamente por autoridades Brasileiras. Ademais, se pode mexer no que interessar. Como exemplo, aquele pessimamente posicionado eixo de basculamento (desmontagem de primeiro escalão) era um "limão"; já que somos os desenvolvedores da arma, virou "limonada": como descrevi no artigo publicado no PD, agora há um botão no próprio eixo com duas finalidades, ou seja, se pressionado com o indicador da "mão que atira", o carregador simplesmente cai da arma, enquanto a "mão que recarrega" já está indo apanhar outro. Agiliza-se o recarregamento da arma sem desfazer a empunhadura e a visada. Desconheço outra arma do gênero com essa característica, se algum colega conhece, por favor, me informe. A outra é, se pressionado e girado, passa-se à desmontagem de segundo escalão, ou seja, podemos retirar a parte superior da arma para ter acesso total ao mecanismo. E este é apenas
um exemplo do que se pode fazer quando se tem completo domínio sobre a arma.
Domínio sobre as características operacionais
Ao contrário dos Fzs Mauser 98 e FAL, desenvolvidos para Europeus, o IA-2 foi especificado para operar dentro dos parâmetros biotípicos do Soldado Brasileiro e das nossas condições climatológico-ambientais. Há coisas ainda por melhorar, como o comprimento da coronha e aquele horrendo seletor de regime de fogo. Mas, como a arma é de desenvolvimento endógeno, ou seja, sabemos todos os "comos" e "porquês", é bem mais simples de alterar para melhor qualquer parâmetro que nos pareça indesejável, inadequado ou simplesmente passível de melhoramento.
Haveria mais, porém creio que, para começar, já está tri. Aliás, se rolar um debate legal, este post pode ser o embrião de um novo artigo sobre a arma, desta vez buscando respostas a possíveis questionamentos a serem feitos pelos colegas junto à Imbel e ao CTEx...