Página 81 de 154

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 12:44 pm
por Bourne
LeandroGCard escreveu:Esta é uma informação nova para mim.

Havia mesmo mais gente passando fome na Europa Ocidental antes da criação da UE do que existe hoje?

Lendo as notícias daqui de baixo do equador a impressão que se tem é bem diferente.

Leandro G. Card
Xovem,

Muita gente vivia abaixo da linha da pobreza e passava fome na Europa até os anos 1980s. Portugal, Espanha, Sul da Itália e países distantes do centro industrial, moderno e com rede de proteção social funcional. A Comunidade Econômica Européia - CEE tinha como um dos objetivos reduzir a distância do centro e os periféricos. E conseguiu. A partir do euro que desandou e criou uma situação artificial de crescimento. A partir de crise financeira mundial que a fragilidade foi revelada e a periferia quebrou. Ainda assim, a situação na média dos mais pobres é menos ruim do que nos anos 1970s.

Do outro lado da cortina de ferra, a URSS financiava o desenvolvimento dos países socialistas da Europa. É claro que a liberdade política era bem limitada. De uma forma ou outra, deram certo e permitem uma economia e sociedade relativamente moderna e capaz de se integrar a UE. Em alguns aspectos com grandes vantagens em relação aos primos pobres da parte ocidental.

Nos Estados Unidos até idos dos anos 1960 era comum boia-fria, precarização do trabalho e os pobres tinham uma vida ruim. Não só negros segregados, brancos tradicionais tinham sérios problemas em se inserir na economia e sociedade americana. Os EUa que tu vê hoje são fruto das preocupações e reformas emergiram a partir dos anos 1960s com a construção da "grande sociedade", aprofundadas no governo Clinton e Obama. Porém tem problemas sérias que países como Alemanha e Japão não tem.

Artigo interessante

http://www.redalyc.org/pdf/2850/285022042011.pdf

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 12:47 pm
por hades767676

Ocidente "passou dos limites" no caso da Ucrânia, afirma Putin


Moscou 18 mar (EFE).- O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta terça-feira que no caso da Ucrânia o Ocidente "passou dos limites".

"Tudo tem seus limites, e no caso da Ucrânia nossos sócios ocidentais os ultrapassaram, se comportaram de maneira grosseira, irresponsável e pouco profissional, disse Putin em seu discurso diante dos parlamentares russos reunidos no Kremlin.

O presidente acrescentou que no Ocidente se sabia perfeitamente que na Ucrânia e na Crimeia vivem milhões de russos.

"Até que ponto é preciso se perder o faro político e o sentido para não prever todas as consequências de suas ações", disse Putin em alusão ao apoio do Ocidente aos "nacionalistas, neonazistas, russófobos e antissemitas" ucranianos que derrubaram o governo do presidente Viktor Yanukovich.

O governante afirmou que a Rússia se viu em uma situação que não poderia retroceder: "se um teto é comprimido com uma mola, uma hora ela voltará a se estender com força, isso é algo que é preciso se lembrar sempre".

Putin denunciou que o Ocidente não renunciou a sua política de isolamento da Rússia que vem realizando nos últimos séculos.

"Permanentemente tentam nos levar para as cordas pelo fato de que temos uma posição independente, a defendemos, chamamos as coisas por seu nome e não somos hipócritas", afirmou

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 12:52 pm
por LeandroGCard
pt escreveu:Desculpe, mas você está a falar a sério, ou está a brincar ?

É que se você estivesse a falar a sério isso implicaria que de baixo do equador, ninguém percebeu como ficou a Europa depois da II guerra mundial...
Desculpe-me você, mas a União Européia foi criada pelo tratado de Maastricht em 1993. O próprio Euro só passou a existir em 1999, dando início à integração econômica que existe hoje (com os estados nacionais finalmente abdicando de parte importante de suas prerrogativas em função da união), e a esta altura a situação europeia não tinha mais absolutamente nada a ver com a crise do pós-guerra.

Dizer que a união europeia nasceu com os tratados setoriais e parciais assinados por meia dúzia de países na década de 50 é o mesmo que dizer que todos os países das Américas fazem parte de algum tipo de união político-econômica só porque em existem alguns acordos assinados por alguns países entre si desde sabe-se lá desde quantos anos atrás. Se fosse assim, a integração das Américas já existiria no mínimo desde a fundação da OEA, criada em 1948. Mas todo mundo sabe que não é nada disso.


Leandro G. Card

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 1:02 pm
por pt
LeandroGCard escreveu:Desculpe-me você, mas a União Européia foi criada pelo tratado de Maastricht em 1993. O próprio Euro só passou a existir em 1999, dando início à integração econômica que existe hoje (com os estados nacionais finalmente abdicando de parte importante de suas prerrogativas em função da união), e a esta altura a situação europeia não tinha mais absolutamente nada a ver com a crise do pós-guerra.
Você está desculpado.
Eu entendo que a distância crie estes equivocos.

Ninguém aqui distingue entre a CEE, Comunidade Economica Europeia a que Portugal aderiu em 1984, da UE, União Europeia, que introduziu alterações no quadro legal da Comunidade.

Eu poderia prosseguir, mas acho que isto está esclarecido, e não tem ligação direta com a questão ucraniana

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 1:03 pm
por DSA
EDSON escreveu:O Europeu tem que ser orgulhoso de ser europeu e não de ser submisso aos americanos.

Fiz um comentário estes dias sobre a capacidade alemã para ver se nossos amigos portugueses se indi guinavam contra. Mas não, ninguém reclamou, queria mexer com o brio deles mas nada.

Europa se levante e se liberte dos grilhões da submissão da América.
O que voce diz vale como sua opinião !
não tenho nada que me indignar ou guinar contra, com o que voce diz!

entendeu?

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 1:07 pm
por Bourne
LeandroGCard escreveu:Desculpe-me você, mas a União Européia foi criada pelo tratado de Maastricht em 1993. O próprio Euro só passou a existir em 1999, dando início à integração econômica que existe hoje (com os estados nacionais finalmente abdicando de parte importante de suas prerrogativas em função da união), e a esta altura a situação europeia não tinha mais absolutamente nada a ver com a crise do pós-guerra.

Dizer que a união europeia nasceu com os tratados setoriais e parciais assinados por meia dúzia de países na década de 50 é o mesmo que dizer que todos os países das Américas fazem parte de algum tipo de união político-econômica só porque em existem alguns acordos assinados por alguns países entre si desde sabe-se lá desde quantos anos atrás. Se fosse assim, a integração das Américas já existiria no mínimo desde a fundação da OEA, criada em 1948. Mas todo mundo sabe que não é nada disso.


Leandro G. Card
Mas aí, ignora os o meio século de preparação em políticas comuns sociais e econômicas para abrir caminho a integração com políticas de redução da desigualdade, convergência estrutural, homogenização das legislações, integração industrial entre outras. Jogando tudo como se fosse um acordo de livre comercio. O que não é e nunca foi. Os arquitetos da UE demoraram décadas para abrir caminho política e viabilizar a estrutura atual. O tratado de Maastricht foi apenas mais uma fase no aprofundamento das relações.

The European Economy since 1945:
Coordinated Capitalism and Beyond
Barry Eichengreen

Imagem

Paper | 2008 | $30.95 / £21.95 | ISBN: 9780691138480
520 pp. | 6 x 9 | 22 line illus. 39 tables.
Bem diferente do mercosul em que assinaram o tratado de assunção todos pomposos, defendendo que fariam em cinco anos o que a UE demorou 50. É claro que foi fracasso e até hoje não passou de uma integração mal feita, esquizofrênica que não vai além de acordos de liberalização comercial.

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 1:17 pm
por Sd Young Guns 2
pt escreveu:
hades767676 escreveu:Alguns desses países da Europa beiram o ridículo, orçamento militar russo é quase o dobro do francês, sem falar da quantidade de armamentos, diferença gritante e pra fechar sem o apoio dos EUA a França não teria mínimas condições de atacar a Líbia, o que dirá um gigante como a Rússia. essas declarações só servem pra consumo interno, para deixa os franceses felizes... :mrgreen:
:shock: :shock: :shock: :shock: :shock: :shock:

Da última vez que vi, os russos estavam a comprar a decadente e ridicula tecnologia francesa ...

O que o ex-ministro francês disse é óbvio.
O Putin, como Hitler, não entende qualquer linguagem diplomática.
Ele é um homem da KGB.

A linguagem de Putin como de Hitler é a linguagem da violência.
Putin só entende essa linguagem.

A questão neste momento, é qual a melhor mensagem a enviar.
Existe quem nos Estados Unidos considere que a melhor forma de responder a Putin, é iniciar um rápido programa de ajuda militar à Ucrânia.
Garantir que não haverá invasão da Ucrânia Oriental, garantindo também que Putin ganha a Crimeia, mas acabará por perder a Ucrânia.


Mas o politico em causa não representa o governo da França ...
E a notícia não foi verificada e provavelmente veio dos sites russos do costume.
Pó PT para de papo escroto de Putin é Hitler e ocidente é a Beleza democrata. Isso é igual mantra pra lavagem da mente. Repita uma mentira varias vezes até que ela se torne verdade pra alguns, mas não passa de mentiras.
O Ocidente é tão corrupto e criminoso quanto a Russia na sua maioria, tão livre que espiona até seus iguais e ousa a criar desculpas.
Inventa armas nunca achadas, pra entrar em uma nação pregando democracia e liberdade... Fora a morte do Sadan! Quer melhor maneira de se livrar de alguém que lhe possa a criar problemas, com sua morte justificando que a justiça do Iraque que a processou e imputar o crime. Libia depois de Kadafi ta um orgulho enorme numa paz e unidade de ser invejado, com o fraco marionete que não controla nem suas calças.
Apertar a mão do Ocidente e o mesmo que apertar a mão de um psicopata. Hoje são grandes amigos mas o futuro é...
Talvez a grande revolta do Ocidente e a Russia não ter bombardeado a Crimeia como a Otan e USA, como justificar para o publico interno isso.
Fora o pavor do movimento separatistas na Europa ganharem força, afinal o 3 grandes do Euro: Alemanha, França e Itália tem esse problema fora Espanha, Bélgica, Inglaterra
Por ultimo se na Europa a corrupção é quase nada com ela esta nessa posição? Como Portugal ta nessa posição se o desvio de dinheiro e corrupção são pequenos...?

Que dizer quando vejo a SWAT e outras forças americanas compram armas russas é oque...? Se eles são tão superiores porque comprar armas e equipamento na Europa. É a Europa sei...

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 1:20 pm
por hades767676
Eefeito cascata? Segundo a BBC a Transdniestria (na Moldova) pediu incorporação a Federação Russa.

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 1:27 pm
por cabeça de martelo
Sd Young Guns 2 escreveu:
Que dizer quando vejo a SWAT e outras forças americanas compram armas russas é oque...? Se eles são tão superiores porque comprar armas e equipamento na Europa. É a Europa sei...
O resto do texto deixo em paz porque apoia ou é contra quem quer, agora este último parágrafo é que captou a minha atenção. Importa-se de dizer quais são as unidades SWAT e outras forças nos EUA que usam armas Russas? Não estou a mandar bocas, eu simplesmente desconheço por completo quem faz isso. Eu sei que no ENORME mercado civil Norte-Americano os produtos Made in Russia fazem bastante sucesso (bem como produtos Made in Bulgária e China), mas a forças de segurança desconhecia que tinham conseguido vender material.

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 1:36 pm
por Sd Young Guns 2
cabeça de martelo escreveu:
Sd Young Guns 2 escreveu:
Que dizer quando vejo a SWAT e outras forças americanas compram armas russas é oque...? Se eles são tão superiores porque comprar armas e equipamento na Europa. É a Europa sei...
O resto do texto deixo em paz porque apoia ou é contra quem quer, agora este último parágrafo é que captou a minha atenção. Importa-se de dizer quais são as unidades SWAT e outras forças nos EUA que usam armas Russas? Não estou a mandar bocas, eu simplesmente desconheço por completo quem faz isso. Eu sei que no ENORME mercado civil Norte-Americano os produtos Made in Russia fazem bastante sucesso (bem como produtos Made in Bulgária e China), mas a forças de segurança desconhecia que tinham conseguido vender material.


É isso mesmo Cabeça, Apoia e é contra quem quer o complicado é que pessoas não tem noção e passa do limite, com suas palavras fossem a soberana. Que o Ocidente fosse o paraiso sem ter com repreender
Quanto as armas eu vou dar um procurado aqui em casa, porque e tenho o jornal americano guardado sobre as compras.

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 1:44 pm
por cabeça de martelo
Uma coisa eu posso garantir-te, Portugal não é o paraiso nem o inferno na terra, digamos que é o limbo... :twisted: :lol: :oops:

Fico a aguardar. :wink:

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 2:04 pm
por cassiosemasas
a poderosa industria da propaganda russa agindo!!!! :twisted: :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:
Imagem

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 2:08 pm
por rodrigo
A rendição da Crimeia

Plebiscito na Crimeia foi uma farsa maliciosamente articulada e financiada por Vladimir Putin.

O plebiscito na Crimeia foi uma farsa maliciosamente articulada e financiada por Vladimir Putin. As manifestações ocorridas na Ucrânia nos últimos meses, as mais graves desde a independência do país, em 1991, têm razões muito mais profundas do que a recusa do Presidente deposto, Yanukovich, em assinar acordo comercial com a União Europeia. A população estava cansada da falta de oportunidades, das deficiências dos sistemas educacional e de saúde, do patrulhamento ideológico, das violações de direitos humanos e do uso da força no país. O Estado, que deve ser “protetor”, nas mãos do ex-presidente Yanukovich, assumiu o papel de “Estado-Criminoso” e, ao fazê-lo, se colocou em posição inaceitável e perdeu totalmente sua legitimidade.

Uma vez deposto o Presidente, o país ficou sem liderança. O Parlamento ucraniano não conseguiu manter a unidade do país e a hegemonia territorial ficou fragilizada quando a Crimeia ameaçou com a sua separação. A Criméia é considerada uma província “semiautônoma” da Ucrânia. As divisões territoriais remontam a episódios muito anteriores à crise atual. O país, desde o colapso da União Soviética, em 1991, quando conquistou sua independência, está dividido entre o leste e oeste, separação que se reflete também na cultura, na língua e nos laços comerciais.

O russo é falado abertamente em partes do leste e do sul do país. Em algumas áreas, incluindo a península da Criméia, ele é o idioma mais usado. Nas regiões ocidentais, próximas à Europa, o ucraniano é a língua principal e parte da população se identifica com a Europa central. A Ucrânia, portanto, tem laços econômicos, como de outros matizes, tanto com a União Europeia, quanto com a Rússia.

Quando o povo foi às ruas reclamar do governo e destituiu seu Presidente deu por encerrado o contrato social que existia no país, que se justifica somente no interesse racional do ser humano de abdicar da liberdade que possuía no “estado de natureza” para obter os benefícios da ordem política, calcada no respeito e na promoção da condição humana (individual e coletiva).

Rompido o contrato social, o governo é ilegítimo e novo contrato deve ser celebrado pelo povo e novos governantes. E até que isto ocorra, o Estado está à deriva e o poder de volta às mãos do povo. E por esta razão, o povo a Crimeia decidiu que era chegado o momento de decidir seu próprio futuro, isto é, de autodeterminar-se: permanecer parte integrante da Ucrânia ou tornar-se um novo país independente. A Carta da ONU assegura e garante que todos os povos têm o direito de autodeterminação, escolhendo livremente sua condição política e de perseguir seu desenvolvimento econômico, social e cultural sem intervenção ou influência externa de outros países. Todas as pessoas, onde quer que estejam, têm direito a uma nacionalidade e ninguém deve ser arbitrariamente privado dela, nem ter negado o direito de mudá-la.

Contudo, existe diferença entre “autodeterminação” e “anexação” a outro país independente.

O que se viu na Crimeia foi um plebiscito inconstitucional à luz do direito ucraniano, ao qual a Crimeia deve se submeter, e ilegítimo segundo o direito internacional. A província da Crimeia, enquanto parte do território da Ucrânia, não pode ser anexada a outro país. Existem inúmeras implicações geopolíticas, administrativas e institucionais em jogo. Dai por que os resultados do plebiscito realizado na Crimeia são inaceitáveis tanto pelos ucranianos, quanto pela comunidade internacional.

Dito de outra forma, o plebiscito ocorrido na Crimeia, “per se”, é inaceitável. Leva-se a plebiscito uma consulta ao povo para que este diga se quer ou não tal lei, antes que seja promulgada. Diferentemente do referendo que é a consulta feita ao povo após a entrada em vigor de certa lei ou medida do governo. A pergunta proposta ao povo da Crimeia foi se este queria ou não ver seu território anexado à Rússia. Contudo, essa pergunta tem vício constitucional interno. Enquanto província da Ucrânia, apenas seu Parlamento poderia propor um plebiscito e a pergunta deveria ser se o povo da Crimeia quer ou não se tornar independente da Ucrânia. Realizado o plebiscito e dito sim, a Crimeia separar-se-ia da Ucrânia e uma vez transformada em unidade geopolítica independente, com “governo, território e povo” próprios, poderia buscar sua anexação à Rússia, em novo plebiscito.

Somente, assim, estariam cumpridas as formalidades legais constitucionais internas e poder-se-ia esperar o reconhecimento da “independência” e da subsequente “anexação” pela comunidade internacional.

O plebiscito na Criméia sobre sua adesão ou não ao estado russo foi um equívoco orquestrado pelos interesses de Vladimir Putin, o qual trará consequências desastrosas nas relações norte-norte. A corruptocracia russa fez da Crimeia uma região refém, tomou suas terras e sua gente sem cerimônias. Ademais, enfrentou os Estados Unidos e a União Europeia sem pudores e mostrou para o mundo que ainda é possível temer a Rússia.

A resposta vai ser imediata. A União Europeia e os Estados Unidos vão responder à rendição da Crimeia mudando o tom das conversas com Moscou, congelando os bens que seus principais expoentes políticos-partidários-empresariais têm no exterior, sem falar do não reconhecimento da anexação que permanecerá na história como um dos atos mais ignóbeis dos tempos modernos pós-guerra fria.

Maristela Basso é advogada e professora de Direito Internacional da USP

http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI ... da+Crimeia

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 2:11 pm
por cabeça de martelo
Ok cassiosemasas, deu para rir e muito! :lol:

Re: Ucrânia

Enviado: Ter Mar 18, 2014 2:21 pm
por FOXTROT
rodrigo escreveu:A rendição da Crimeia

Plebiscito na Crimeia foi uma farsa maliciosamente articulada e financiada por Vladimir Putin.

O plebiscito na Crimeia foi uma farsa maliciosamente articulada e financiada por Vladimir Putin. As manifestações ocorridas na Ucrânia nos últimos meses, as mais graves desde a independência do país, em 1991, têm razões muito mais profundas do que a recusa do Presidente deposto, Yanukovich, em assinar acordo comercial com a União Europeia. A população estava cansada da falta de oportunidades, das deficiências dos sistemas educacional e de saúde, do patrulhamento ideológico, das violações de direitos humanos e do uso da força no país. O Estado, que deve ser “protetor”, nas mãos do ex-presidente Yanukovich, assumiu o papel de “Estado-Criminoso” e, ao fazê-lo, se colocou em posição inaceitável e perdeu totalmente sua legitimidade.

Uma vez deposto o Presidente, o país ficou sem liderança. O Parlamento ucraniano não conseguiu manter a unidade do país e a hegemonia territorial ficou fragilizada quando a Crimeia ameaçou com a sua separação. A Criméia é considerada uma província “semiautônoma” da Ucrânia. As divisões territoriais remontam a episódios muito anteriores à crise atual. O país, desde o colapso da União Soviética, em 1991, quando conquistou sua independência, está dividido entre o leste e oeste, separação que se reflete também na cultura, na língua e nos laços comerciais.

O russo é falado abertamente em partes do leste e do sul do país. Em algumas áreas, incluindo a península da Criméia, ele é o idioma mais usado. Nas regiões ocidentais, próximas à Europa, o ucraniano é a língua principal e parte da população se identifica com a Europa central. A Ucrânia, portanto, tem laços econômicos, como de outros matizes, tanto com a União Europeia, quanto com a Rússia.

Quando o povo foi às ruas reclamar do governo e destituiu seu Presidente deu por encerrado o contrato social que existia no país, que se justifica somente no interesse racional do ser humano de abdicar da liberdade que possuía no “estado de natureza” para obter os benefícios da ordem política, calcada no respeito e na promoção da condição humana (individual e coletiva).

Rompido o contrato social, o governo é ilegítimo e novo contrato deve ser celebrado pelo povo e novos governantes. E até que isto ocorra, o Estado está à deriva e o poder de volta às mãos do povo. E por esta razão, o povo a Crimeia decidiu que era chegado o momento de decidir seu próprio futuro, isto é, de autodeterminar-se: permanecer parte integrante da Ucrânia ou tornar-se um novo país independente. A Carta da ONU assegura e garante que todos os povos têm o direito de autodeterminação, escolhendo livremente sua condição política e de perseguir seu desenvolvimento econômico, social e cultural sem intervenção ou influência externa de outros países. Todas as pessoas, onde quer que estejam, têm direito a uma nacionalidade e ninguém deve ser arbitrariamente privado dela, nem ter negado o direito de mudá-la.

Contudo, existe diferença entre “autodeterminação” e “anexação” a outro país independente.

O que se viu na Crimeia foi um plebiscito inconstitucional à luz do direito ucraniano, ao qual a Crimeia deve se submeter, e ilegítimo segundo o direito internacional. A província da Crimeia, enquanto parte do território da Ucrânia, não pode ser anexada a outro país. Existem inúmeras implicações geopolíticas, administrativas e institucionais em jogo. Dai por que os resultados do plebiscito realizado na Crimeia são inaceitáveis tanto pelos ucranianos, quanto pela comunidade internacional.

Dito de outra forma, o plebiscito ocorrido na Crimeia, “per se”, é inaceitável. Leva-se a plebiscito uma consulta ao povo para que este diga se quer ou não tal lei, antes que seja promulgada. Diferentemente do referendo que é a consulta feita ao povo após a entrada em vigor de certa lei ou medida do governo. A pergunta proposta ao povo da Crimeia foi se este queria ou não ver seu território anexado à Rússia. Contudo, essa pergunta tem vício constitucional interno. Enquanto província da Ucrânia, apenas seu Parlamento poderia propor um plebiscito e a pergunta deveria ser se o povo da Crimeia quer ou não se tornar independente da Ucrânia. Realizado o plebiscito e dito sim, a Crimeia separar-se-ia da Ucrânia e uma vez transformada em unidade geopolítica independente, com “governo, território e povo” próprios, poderia buscar sua anexação à Rússia, em novo plebiscito.

Somente, assim, estariam cumpridas as formalidades legais constitucionais internas e poder-se-ia esperar o reconhecimento da “independência” e da subsequente “anexação” pela comunidade internacional.

O plebiscito na Criméia sobre sua adesão ou não ao estado russo foi um equívoco orquestrado pelos interesses de Vladimir Putin, o qual trará consequências desastrosas nas relações norte-norte. A corruptocracia russa fez da Crimeia uma região refém, tomou suas terras e sua gente sem cerimônias. Ademais, enfrentou os Estados Unidos e a União Europeia sem pudores e mostrou para o mundo que ainda é possível temer a Rússia.

A resposta vai ser imediata. A União Europeia e os Estados Unidos vão responder à rendição da Crimeia mudando o tom das conversas com Moscou, congelando os bens que seus principais expoentes políticos-partidários-empresariais têm no exterior, sem falar do não reconhecimento da anexação que permanecerá na história como um dos atos mais ignóbeis dos tempos modernos pós-guerra fria.
Maristela Basso é advogada e professora de Direito Internacional da USP
USP?

Outrora prestigiada instituição de ensino superior......professores com essa visão, lamentável! :shock:

Saudações

http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI ... da+Crimeia