Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Enviado: Qui Jun 04, 2009 8:01 am
O LIVRO NECESSÁRIO DE BUCHANAN.
Por Laurence M. Vance – 3 de junho de 2009.
Pat Buchanan e eu temos algumas diferenças – algumas grandes diferenças.
Ele é católico; eu sou protestante. Ele é conservador; eu sou libertário. Ele é um protecionista; eu sou pelo livre comércio. Ele difama a Wal-Mart; eu gasto a maior parte do meu dinheiro lá. Ele acredita que Alexander Hamilton foi um dos maiores dos Patriarcas Fundadores; eu prefiro, muito mais, Thomas Jefferson. Ele trabalhou para presidentes republicanos; eu desprezo presidentes republicanos. Ele favorece um governo limitado a políticas conservadoras e republicanas; eu favoreço um governo tão limitado quanto possível.
Há uma coisa, no entanto, na qual Buchanan e eu concordamos, e é alguma coisa que considero ser muito importante: a Segunda Guerra Mundial foi uma guerra desnecessária. Foi desnecessário que o Tratado de Versalhes alargasse os impérios britânico, francês, italiano e japonês às custas da Alemanha. Foi desnecessário para a Grã-Bretanha acabar com seu tratado anglo-japonês. Foi desnecessário para a Grã-Bretanha impor sanções sobre a Itália, empurrando Mussolini para uma aliança com Hitler. Foi desnecessário para a Grã-Bretanha emitir uma garantia de guerra para a Polônia. E, mais importante, foi desnecessário para 420 mil soldados americanos morrerem lutando numa guerra estrangeira.
Eu não sou o único a expressar um recém-achado acordo com Pat Buchanan. Escrevendo no The Texas Observer, Josh Rosenblatt explica:
Realmente, existem cinco Pat Buchanans.
Há o Pat Buchanan colunista. Só Deus sabe em quantos jornais e revistas Buchanan já foi publicado. Ele, também, é co-autor da revista The American Conservative.
Há o Pat Buchanan comentarista de TV. Além de ser regular no The McLaughlin Group, Crossfire, e The Capital Gang, o rosto, nacionalmente reconhecido de Buchanan tem sido visto em incontáveis outros programas de notícias.
Há o Pat Buchanan operativo político. Ele foi conselheiro nas campanhas presidenciais de Nixon, e trabalhou nas Casas Brancas de Nixon e Ford. Ele serviu sob Reagan como Diretor de Comunicações da Casa Branca.
Há o Pat Buchanan político. Em 1992 e 1996, ele buscou ser o candidato presidencial republicano. Ele foi o candidato presidencial do Partido da Reforma, em 2000.
E há o Pat Buchanan autor. Ele é autor de inúmeros livros. Nem todos foram criados iguais. Mas há um livro, no entanto, que não apenas é o melhor e mais importante livro de Buchanan; ele é um dos melhores e mais importantes livros já escritos. Estou referindo-me ao seu mais recente livro sobre a Segunda Guerra Mundial: Churchill, Hitler, and the Unnecessary War: How Britain Lost Its Empire and the West Lost the World.
Agora, eu compreendo que minha avaliação exaltada sobre o livro de Buchanan possa ser desconsiderada como exagero hiperbólico com esteróides. Mas, como alguém que é estudante da guerra e da política externa, e escreve extensivamente sobre assuntos relacionados com a guerra, e, especialmente, sobre a asneira da guerra, eu, tendo lido este livro muito, muito cuidadosamente, não posso, não devo dizer outra coisa. Eu não me lembro de, jamais, ter resenhado, ouvido falar, escrito, lido e relido qualquer livro como este.
Desde que o livro saiu no ano passado, e foi resenhado – positivamente (The American Conservative), negativamente, (The Jerusalém Post) e selvagemente (Newsweek) – muitas vezes, estou descartando uma resenha formal. Eu sabia, quando o livro saiu ano passado, eu era alguma coisa que precisava ler e escrever a respeito, mas foi, apenas, depois de eu percorrer o livro, por mim mesmo, que compreendi a coisa monumental que Pat Buchanan tinha feito.
Este livro é tão importante, tão crucial para a causa da paz, porque a Segunda Guerra Mundial, mais do que qualquer outra guerra na história do mundo, é considerada, não apenas como tendo sido necessária, mas, justa, certa e boa. Na verdade, a Segunda Guerra Mundial é conhecida como a “Boa Guerra”.
Mas, se isto é verdade, nós temos um problema, pois, como escreve Buchanan em sua introdução: “Foi esta guerra começada em setembro de 1939, que levou ao massacre dos judeus e de dezenas de milhões de cristãos, à devastação da Europa, stalinização de metade do continente, a queda da China para a loucura maoísta e meio século de Guerra Fria.” Como pode uma guerra que resultou nas mortes de entre 50 e 70 milhões de pessoas ser denominada uma boa guerra? Como pode uma guerra na qual dois terços daqueles que morreram eram civis, ser denominada uma boa guerra?
Onde quer que eu escreva sobre a tolice da guerra, inevitavelmente, recebo e-mail de algum guerreiro de poltrona que diz, algo como: “Seu [pacifista, apaziguador, liberal, comunista, traidor, anti-americano, peacenik, covarde]! Não sabe que se as forças armadas americanas não tivessem atuado para deter Hitler, todos nós, agora, estaríamos falando alemão?”
Maior mentira do que esta nunca foi pronunciada.
Churchill, Hitler, and the Unnecessary War, desmonta os mitos sobre a Segunda Guerra Mundial ter sido necessária e destrói os argumentos oferecidos em defesa desta guerra como uma “boa” guerra.
Mas, este não é, somente, um livro sobre a Segunda Guerra Mundial. E não poderia ser de outro jeito, pois esta guerra não foi outra coisa que uma continuação da “grande guerra civil do Ocidente.” “Isto não é paz,” disse o marechal francês Ferdinand Foch, após a “guerra para acabar com todas as guerras”, “isto é um armistício para vinte anos.” “Todas as linhas de inquérito levam de volta à Grande Guerra,” disse o diplomata e historiador americano George Kennan. “Versalhes,” escreve Buchanan, “criou não apenas uma paz injusta, mas uma paz insustentável.”
Sendo assim, os primeiros três capítulos do livro de Buchanan tratam das causas e conseqüências da Grande Guerra. Os Capítulos 4 até 12, de forma semelhante, tratam da Segunda Guerra Mundial. Buchanan aponta, em sua introdução, os dois grandes mitos sobre estas guerras: “O primeiro é que a Grande Guerra foi travada para ‘fazer o mundo mais seguro para a Democracia.’ O segundo é que a Segunda Guerra Mundial foi a ‘Boa Guerra,’ uma gloriosa cruzada para livrar o mundo do Fascismo que deu muito certo.” A primeira declaração é, agora, geralmente reconhecida como o mito que é. A segunda, entretanto, ainda é uma opinião amplamente sustentada – eis por quê a necessidade deste livro.
Os últimos três capítulos do livro lidam com as reais ambições de Hitler (“Hitler nunca desejou guerra com a Grã-Bretanha.”), Churchill como uma pobre escolha para o homem do século (as concessões de Churchill em Moscou foram, de longe, piores do que aquelas de Chamberlain em Munique.”), e a América herdando o império da Grã-Bretanha (“Dificilmente, haverá algum erro do Império Britânico que nós, ainda, não tenhamos replicado.”).
O livro é, também, uma lição de história e geografia: Boêmia, os Sudetos, Alsácia, Lorena, Danzig, Transilvânia, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Abissínia, o Império Austro-húngaro, Moravia, Sarajevo, Trianon, Trieste, o Corredor Polonês, Galícia, Tirol, Rutênia, Silésia e os Tratados de Versalhes, Trianon, Brest-Litovsk e St. Germain. E, além das usuais imagens relevantes no centro do livro, como vemos na maioria dos livros sobre as guerras mundiais, o livro de Buchanan inclui mapas muito detalhados que suplementam, maravilhosamente, o texto.
Não há relatos de batalhas, em Churchill, Hitler, and the Unnecessary War. Nenhum detalhe sobre movimentos de tropas. Nenhuma informação sobre técnicas de combate. Nenhuma teoria sobre estratégia militar. Nada em particular sobre armamentos. A questão crucial para Buchanan é: “Estas duas devastadoras guerras que a Grã-Bretanha declarou contra a Alemanha foram guerras de necessidade, ou guerras de escolha?”
A Grã-Bretanha? Sim, Grã-Bretanha, Reino Unido, o império sobre o qual o sol nunca se põe. Quer dizer que você pensou que ambas as guerras mundias foram tudo culpa da Alemanha?
Agora, nós sabemos sobre os males de Hitler e do Nazismo; o fascismo, o assassinato, o pesadelo, a destruição, a agressão, o militarismo, o racismo, o anti-semitismo, os campos da morte. Buchanan não dá desculpas para a Alemanha, de forma alguma: “Nada disto é para minimizar o mal da ideologia nazista, ou as capacidades da máquina de guerra nazista, ou os desprezíveis crimes do regime de Hitler, ou a ameaça potencial da Alemanha Nazista à Grã-Bretanha, uma vez que a guerra foi declarada.” E, da mesma forma, ele não diminui o heroísmo dos britânicos: “A questão que este livro trata não é se os britânicos foram heróicos. Isto já está estabelecido para todos os tempos. Mas, foram seus homens de estado, sábios?”
Quando se trata da Grande Guerra, os homens de estado britânicos foram qualquer coisa, menos sábios:
Buchanan dá cinco razões por quê o governo da Grã-Bretanha, na época, “transformou a guerra européia de 1º de agosto, numa guerra mundial”: para preservar a França como grande potência, para defender a honra britânica, para reter seu controle do governo, germanofobia e ambição e oportunismo imperiais.
O custo da asneira britânica: 700 mil soldados britânicos mortos, mas 200 mil de todo o império. E para quê?
A caricatura da Alemanha como o mais militarista dos países é somente, isto. Buchanan aponta que, entre Waterloo e a Grande Guerra, a Alemanha, apenas, tinha se envolvido em três guerras, enquanto a Grã-Bretanha tinha se engajado em dez.
A Grande Guerra, como Buchanan cita o historiador britânico John Keegan, foi “um conflito desnecessário. Desnecessário porque a cadeia de eventos que levou à sua eclosão podia ter sido rompida em qualquer momento durante as cinco semanas que precederam o primeiro choque de armas, tivessem a prudência ou boa-vontade comum encontrado uma voz.”
E, então, há a Segunda Guerra Mundial:
A conclusão de Buchanan será dura para alguns engolirem: “Foi a Grã-Bretanha que transformou ambas as guerras européias em guerras mundiais.”
Churchill, Hitler, and the Unnecessary War é um livro necessário.
Ele é necessário porque conta a real história do “apaziguamento” do primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain de Hitler em Munique. Porque os alemães Sudeten na Tchecoslováquia – um conglomerado católico-protestante, multicultural, multilingual, multiétnico, que jamais havia existido antes – “odiavam o regime de Praga e não tinham lealdade alguma para uma nação onde eram cidadãos de segunda classe” (existiam mais alemães na Tchecoslováquia do que eslovacos), Chamberlain, corretamente, e não sozinho, “não acreditava que manter o domínio tcheco sobre três milhões de alemães infelizes valia uma guerra.”
Ele é necessário porque demonstra que o maior equívoco na história britânica não foi Munique, mas a garantia de guerra polonesa que empenhou a Grã-Bretanha numa luta em nome de uma ditadura polonesa que havia pensado em efetuar um ataque preventivo contra a Alemanha, assinado, como Stalin, um pacto de não-agressão com Hitler, e se juntado ao desmembramento da Tchecoslováquia, após o Pacto de Munique. Aqui, Buchanan não está sozinho. Lloyd George considerou isto “um jogo assustador” e “pura loucura”. O antigo Primeiro Lorde do Almirantado, Cooper, registrou em seu diário: “Nunca antes em nossa história, deixamos nas mãos de uma das menores potências a decisão se a Grã-Bretanha vai ou não à guerra.” ”Esta foi a mais louca ação isolada que este país jamais tinha tomado,” disse um membro do Parlamento.
Ele é necessário porque demole o culto de Churchill. Winston Churchill, antes do que ser o homem indispensável do século, foi “o mais belicoso campeão da entrada britânica na guerra européia de 1914 e na guerra polaco-alemã de 1939.” Entre seus outros crimes, Churchill apaziguou Stalin – um dos maiores assassinos em massa do século XX, cujos crimes excederam aqueles de Hitler – ao concordar com sua “anexação das repúblicas bálticas,” aceitar “seus saques do pacto com o diabo com Hitler,” e fechar os olhos para o massacre de Katyn.”
Ele é necessário porque explica como Hitler nunca desejou a guerra com a Grã-Bretanha. Hitler queria poder absoluto na Alemanha. Hitler queria derrubar o Tratado de Versalhes. Hitler queria restaurar as terras da Alemanha. Hitler queria alargar o império alemão para o leste. Hitler queria limpar a Alemanha de judeus. Hitler queria destruir o bolchevismo. Hitler queria que a Alemanha conseguisse auto-suficiência na Europa. Hitler queria passar para a história como “o maior de todos os alemães”. Mas Hitler nunca quis uma guerra com a Grã-Bretanha. Para Hitler: “A Grã-Bretanha era aliada natural da Alemanha e a nação e o império que mais admirava. Ele não cobiçava as colônias britânicas. Ele não queria ou buscava uma frota para rivalizar com a Real Marinha. Ele não queria derrubar o Império Britânico. Ele estava pronto para apaziguar a Grã-Bretanha e torná-la uma amiga da Alemanha.”
Ele é necessário porque confirma que Hitler não era uma ameaça aos Estados Unidos. A Luftwaffe alemã perdeu a Batalha da Inglaterra para a Real Força Aérea; a Marinha alemã não era páreo para a Real Marinha britânica (“Marinha – que necessidade temos dela?,” disse Hitler em 1936). No começo da guerrra, a Alemanha tinha, apenas, dois couraçados. O Bismarck ainda não havia sido construído – e seria afundado em sua primeira viagem. Não havia navios de tropas, barcaças de desembarque, ou transportes para tanques e artilharia. Se Hitler não podia cruzar o Canal da Mancha e conquistar a Grã-Bretanha, como poderia ter sido ameaça para a América? Buchanan desconsidera os supostos planos da Alemanha “para construir uma massiva frota, desenvolver bombardeiros transatlânticos, e buscar bases navais” como “história em quadrinhos”. A verdade histórica é que “não havia nenhum plano alemão conhecido para adquirir os milhares de navios necessários para transportar e comboiar um tal exército através do Atlântico.” E, como aponta Buchanan, sobre os bombardeiros alemães: “Uma viagem por sobre o Atlântico de ida e volta exigiria vinte horas de vôo para lançar uma carga de cinco toneladas sobre Nova York.” E, mesmo hoje em dia, se a Força Aérea dos Estados Unidos não tem um bombardeiro que possa voar direto do meio-oeste para a Alemanha sem reabastecimento, como poderiam os bombardeiros alemães, nos anos 1940, terem, possivelmente, bombardeado os Estados Unidos e retornado à Alemanha, quando o reabastecimento ar-ar ainda não havia sido inventado?
Foi necessário que dezenas de milhões fossem massacrados para impedir Hitler de massacrar milhões?
Certamente que não.
Mas, não aceite a palavra de Pat Buchanan para isso quando nós temos a palavra do próprio Churchill:
E, se a Segunda Guerra Mundial foi desnecessária, então, o quanto foram desnecessárias as guerras no Iraque e no Afeganistão?
Churchill, Hitler and the Unnecessary War – compre, leia, cite com freqüência. E, na próxima vez que alguém tentar justificar alguma intervenção militar americana apelando para a “Boa Guerra”, pergunte-lhe o que foi tão bom sobre ela.
_______________________________
Laurence M. Vance escreve de Pensacola, Flórida. Ele é autor de Christianiy and War and Other Essays Against the Warfare State. Seu mais recente livro é The Revolution that Wasn’t.
Por Laurence M. Vance – 3 de junho de 2009.
Pat Buchanan e eu temos algumas diferenças – algumas grandes diferenças.
Ele é católico; eu sou protestante. Ele é conservador; eu sou libertário. Ele é um protecionista; eu sou pelo livre comércio. Ele difama a Wal-Mart; eu gasto a maior parte do meu dinheiro lá. Ele acredita que Alexander Hamilton foi um dos maiores dos Patriarcas Fundadores; eu prefiro, muito mais, Thomas Jefferson. Ele trabalhou para presidentes republicanos; eu desprezo presidentes republicanos. Ele favorece um governo limitado a políticas conservadoras e republicanas; eu favoreço um governo tão limitado quanto possível.
Há uma coisa, no entanto, na qual Buchanan e eu concordamos, e é alguma coisa que considero ser muito importante: a Segunda Guerra Mundial foi uma guerra desnecessária. Foi desnecessário que o Tratado de Versalhes alargasse os impérios britânico, francês, italiano e japonês às custas da Alemanha. Foi desnecessário para a Grã-Bretanha acabar com seu tratado anglo-japonês. Foi desnecessário para a Grã-Bretanha impor sanções sobre a Itália, empurrando Mussolini para uma aliança com Hitler. Foi desnecessário para a Grã-Bretanha emitir uma garantia de guerra para a Polônia. E, mais importante, foi desnecessário para 420 mil soldados americanos morrerem lutando numa guerra estrangeira.
Eu não sou o único a expressar um recém-achado acordo com Pat Buchanan. Escrevendo no The Texas Observer, Josh Rosenblatt explica:
Um dos mais desconcertantes (ainda que pobremente publicizados) efeitos dos últimos oito anos de política externa americana é que, agora, sou forçado a admitir que há coisas com as quais Pat Buchanan e eu concordamos. Era muito mais fácil durante o reino do primeiro Presidente Bush, quando Buchanan era o feliz guerreiro cultural, cuspindo fogo por todo o país, atacando gays, feministas, liberais e outras formas de vida degeneradas por onde passava, e eu podia odiar o homem e dormir confortavelmente. Agora, parece que toda vez que ligo na MSNBC, lá está Buchanan, condenando a Guerra do Iraque do segundo Presidente Bush, verberando contra seus equivocados esforços no Afeganistão, lamentando sua postura de cowboy para com o Irã e a Rússia. E, antes que eu perceba o que está acontecendo, estou balançando a cabeça e pensando, “Talvez Pat Buchanan não seja um cara tão ruim assim, afinal de contas.” Inevitavelmente, acabo desligando a TV, com raiva de mim mesmo, imaginando meu pai se revirando no túmulo.
Realmente, existem cinco Pat Buchanans.
Há o Pat Buchanan colunista. Só Deus sabe em quantos jornais e revistas Buchanan já foi publicado. Ele, também, é co-autor da revista The American Conservative.
Há o Pat Buchanan comentarista de TV. Além de ser regular no The McLaughlin Group, Crossfire, e The Capital Gang, o rosto, nacionalmente reconhecido de Buchanan tem sido visto em incontáveis outros programas de notícias.
Há o Pat Buchanan operativo político. Ele foi conselheiro nas campanhas presidenciais de Nixon, e trabalhou nas Casas Brancas de Nixon e Ford. Ele serviu sob Reagan como Diretor de Comunicações da Casa Branca.
Há o Pat Buchanan político. Em 1992 e 1996, ele buscou ser o candidato presidencial republicano. Ele foi o candidato presidencial do Partido da Reforma, em 2000.
E há o Pat Buchanan autor. Ele é autor de inúmeros livros. Nem todos foram criados iguais. Mas há um livro, no entanto, que não apenas é o melhor e mais importante livro de Buchanan; ele é um dos melhores e mais importantes livros já escritos. Estou referindo-me ao seu mais recente livro sobre a Segunda Guerra Mundial: Churchill, Hitler, and the Unnecessary War: How Britain Lost Its Empire and the West Lost the World.
Agora, eu compreendo que minha avaliação exaltada sobre o livro de Buchanan possa ser desconsiderada como exagero hiperbólico com esteróides. Mas, como alguém que é estudante da guerra e da política externa, e escreve extensivamente sobre assuntos relacionados com a guerra, e, especialmente, sobre a asneira da guerra, eu, tendo lido este livro muito, muito cuidadosamente, não posso, não devo dizer outra coisa. Eu não me lembro de, jamais, ter resenhado, ouvido falar, escrito, lido e relido qualquer livro como este.
Desde que o livro saiu no ano passado, e foi resenhado – positivamente (The American Conservative), negativamente, (The Jerusalém Post) e selvagemente (Newsweek) – muitas vezes, estou descartando uma resenha formal. Eu sabia, quando o livro saiu ano passado, eu era alguma coisa que precisava ler e escrever a respeito, mas foi, apenas, depois de eu percorrer o livro, por mim mesmo, que compreendi a coisa monumental que Pat Buchanan tinha feito.
Este livro é tão importante, tão crucial para a causa da paz, porque a Segunda Guerra Mundial, mais do que qualquer outra guerra na história do mundo, é considerada, não apenas como tendo sido necessária, mas, justa, certa e boa. Na verdade, a Segunda Guerra Mundial é conhecida como a “Boa Guerra”.
Mas, se isto é verdade, nós temos um problema, pois, como escreve Buchanan em sua introdução: “Foi esta guerra começada em setembro de 1939, que levou ao massacre dos judeus e de dezenas de milhões de cristãos, à devastação da Europa, stalinização de metade do continente, a queda da China para a loucura maoísta e meio século de Guerra Fria.” Como pode uma guerra que resultou nas mortes de entre 50 e 70 milhões de pessoas ser denominada uma boa guerra? Como pode uma guerra na qual dois terços daqueles que morreram eram civis, ser denominada uma boa guerra?
Onde quer que eu escreva sobre a tolice da guerra, inevitavelmente, recebo e-mail de algum guerreiro de poltrona que diz, algo como: “Seu [pacifista, apaziguador, liberal, comunista, traidor, anti-americano, peacenik, covarde]! Não sabe que se as forças armadas americanas não tivessem atuado para deter Hitler, todos nós, agora, estaríamos falando alemão?”
Maior mentira do que esta nunca foi pronunciada.
Churchill, Hitler, and the Unnecessary War, desmonta os mitos sobre a Segunda Guerra Mundial ter sido necessária e destrói os argumentos oferecidos em defesa desta guerra como uma “boa” guerra.
Mas, este não é, somente, um livro sobre a Segunda Guerra Mundial. E não poderia ser de outro jeito, pois esta guerra não foi outra coisa que uma continuação da “grande guerra civil do Ocidente.” “Isto não é paz,” disse o marechal francês Ferdinand Foch, após a “guerra para acabar com todas as guerras”, “isto é um armistício para vinte anos.” “Todas as linhas de inquérito levam de volta à Grande Guerra,” disse o diplomata e historiador americano George Kennan. “Versalhes,” escreve Buchanan, “criou não apenas uma paz injusta, mas uma paz insustentável.”
Sendo assim, os primeiros três capítulos do livro de Buchanan tratam das causas e conseqüências da Grande Guerra. Os Capítulos 4 até 12, de forma semelhante, tratam da Segunda Guerra Mundial. Buchanan aponta, em sua introdução, os dois grandes mitos sobre estas guerras: “O primeiro é que a Grande Guerra foi travada para ‘fazer o mundo mais seguro para a Democracia.’ O segundo é que a Segunda Guerra Mundial foi a ‘Boa Guerra,’ uma gloriosa cruzada para livrar o mundo do Fascismo que deu muito certo.” A primeira declaração é, agora, geralmente reconhecida como o mito que é. A segunda, entretanto, ainda é uma opinião amplamente sustentada – eis por quê a necessidade deste livro.
Os últimos três capítulos do livro lidam com as reais ambições de Hitler (“Hitler nunca desejou guerra com a Grã-Bretanha.”), Churchill como uma pobre escolha para o homem do século (as concessões de Churchill em Moscou foram, de longe, piores do que aquelas de Chamberlain em Munique.”), e a América herdando o império da Grã-Bretanha (“Dificilmente, haverá algum erro do Império Britânico que nós, ainda, não tenhamos replicado.”).
O livro é, também, uma lição de história e geografia: Boêmia, os Sudetos, Alsácia, Lorena, Danzig, Transilvânia, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Abissínia, o Império Austro-húngaro, Moravia, Sarajevo, Trianon, Trieste, o Corredor Polonês, Galícia, Tirol, Rutênia, Silésia e os Tratados de Versalhes, Trianon, Brest-Litovsk e St. Germain. E, além das usuais imagens relevantes no centro do livro, como vemos na maioria dos livros sobre as guerras mundiais, o livro de Buchanan inclui mapas muito detalhados que suplementam, maravilhosamente, o texto.
Não há relatos de batalhas, em Churchill, Hitler, and the Unnecessary War. Nenhum detalhe sobre movimentos de tropas. Nenhuma informação sobre técnicas de combate. Nenhuma teoria sobre estratégia militar. Nada em particular sobre armamentos. A questão crucial para Buchanan é: “Estas duas devastadoras guerras que a Grã-Bretanha declarou contra a Alemanha foram guerras de necessidade, ou guerras de escolha?”
A Grã-Bretanha? Sim, Grã-Bretanha, Reino Unido, o império sobre o qual o sol nunca se põe. Quer dizer que você pensou que ambas as guerras mundias foram tudo culpa da Alemanha?
Agora, nós sabemos sobre os males de Hitler e do Nazismo; o fascismo, o assassinato, o pesadelo, a destruição, a agressão, o militarismo, o racismo, o anti-semitismo, os campos da morte. Buchanan não dá desculpas para a Alemanha, de forma alguma: “Nada disto é para minimizar o mal da ideologia nazista, ou as capacidades da máquina de guerra nazista, ou os desprezíveis crimes do regime de Hitler, ou a ameaça potencial da Alemanha Nazista à Grã-Bretanha, uma vez que a guerra foi declarada.” E, da mesma forma, ele não diminui o heroísmo dos britânicos: “A questão que este livro trata não é se os britânicos foram heróicos. Isto já está estabelecido para todos os tempos. Mas, foram seus homens de estado, sábios?”
Quando se trata da Grande Guerra, os homens de estado britânicos foram qualquer coisa, menos sábios:
Os falcões britânicos buscavam uma guerra européia para aumentar o prestígio nacional e expandir o império.
Desconhecido ao Gabinete e ao Parlamento, uma pequena cabala tinha tomado a decisão fatídica para a Grã-Bretanha, o império e o mundo. Sob a batuta de Edward Grey, o secretário do exterior de 1905 até 1916, oficiais britânicos e franceses tramaram a entrada da Grã-Bretanha numa guerra franco-alemã, a partir do primeiro tiro.
Foi a decisão britânica de enviar um exército através do Canal da Mancha para lutar na Europa Ocidental, pela primeira vez, em exatos cem anos, que levou à derrota do Plano Schlieffen, quatro anos de guerra de trincheiras, a entrada da América, o colapso da Alemanha no outono de 1918, a abdicação do Kaiser, o desmembramento da Alemanha em Versalhes, a ascensão ao poder de um ex-combatente da Frente Ocidental, que, quatro após após o fim da guerra, não aceitava a derrota de sua nação.
Se a Grã-Bretanha não tivesse declarado guerra à Alemanha em 1914, o Canadá, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia e Índia também não o teriam feito. Nem o aliado da Grã-Bretanha, o Japão. Nem a Itália, que Londres atraiu com subornos secretos de território dos impérios Habsburgo e Otomano. Nem a América teria ido à guerra, se a Grã-Bretanha estivesse fora. A Alemanha teria sido vitoriosa, talvez, em meses. Não teria havido nenhum Lênin, nenhum Stálin, nenhuma Versalhes, nenhum Hitler, nenhum Holocausto.
Buchanan dá cinco razões por quê o governo da Grã-Bretanha, na época, “transformou a guerra européia de 1º de agosto, numa guerra mundial”: para preservar a França como grande potência, para defender a honra britânica, para reter seu controle do governo, germanofobia e ambição e oportunismo imperiais.
O custo da asneira britânica: 700 mil soldados britânicos mortos, mas 200 mil de todo o império. E para quê?
A caricatura da Alemanha como o mais militarista dos países é somente, isto. Buchanan aponta que, entre Waterloo e a Grande Guerra, a Alemanha, apenas, tinha se envolvido em três guerras, enquanto a Grã-Bretanha tinha se engajado em dez.
A Grande Guerra, como Buchanan cita o historiador britânico John Keegan, foi “um conflito desnecessário. Desnecessário porque a cadeia de eventos que levou à sua eclosão podia ter sido rompida em qualquer momento durante as cinco semanas que precederam o primeiro choque de armas, tivessem a prudência ou boa-vontade comum encontrado uma voz.”
E, então, há a Segunda Guerra Mundial:
Se a Grã-Bretanha não tivesse dado uma garantia de guerra à Polônia, em março de 1939, então, declarado guerra em 3 de setembro, trazendo a África do Sul, Canadá, Austrália, Índia, Nova Zelândia e Estados Unidos, uma guerra polaco-alemã nunca poderia ter se transformado numa guerra mundial de seis anos, na qual cinqüenta milhões iriam perecer.
Desta forma, o governo britânico, em pânico com um relatório falso sobre uma invasão alemã da Polônia que nem havia sido planejada, nem preparada, deu uma garantia de guerra para uma ditadura na qual não confiava, numa parte da Europa onde não tinha nenhum interesse vital, empenhando-se numa guerra que não podia vencer.
Entre 1914-1918, a Grã-Bretanha e a França, com milhões de soldados, mal tinha sido capaz de manter o exército alemão fora de Paris. Dois milhões de americanos foram necessários para romper as linhas alemãs. Agora, com uma pequena fração do Exército britânico de 1918, com os antigos aliados Rússia, Japão e Itália, agora hostis, e com a América, agora neutra, a Grã-Bretanha estava oferecendo garantias de guerra não somente para a Bélgica e Holanda, mas também para a Polônia e a Romênia.
A conclusão de Buchanan será dura para alguns engolirem: “Foi a Grã-Bretanha que transformou ambas as guerras européias em guerras mundiais.”
Churchill, Hitler, and the Unnecessary War é um livro necessário.
Ele é necessário porque conta a real história do “apaziguamento” do primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain de Hitler em Munique. Porque os alemães Sudeten na Tchecoslováquia – um conglomerado católico-protestante, multicultural, multilingual, multiétnico, que jamais havia existido antes – “odiavam o regime de Praga e não tinham lealdade alguma para uma nação onde eram cidadãos de segunda classe” (existiam mais alemães na Tchecoslováquia do que eslovacos), Chamberlain, corretamente, e não sozinho, “não acreditava que manter o domínio tcheco sobre três milhões de alemães infelizes valia uma guerra.”
Ele é necessário porque demonstra que o maior equívoco na história britânica não foi Munique, mas a garantia de guerra polonesa que empenhou a Grã-Bretanha numa luta em nome de uma ditadura polonesa que havia pensado em efetuar um ataque preventivo contra a Alemanha, assinado, como Stalin, um pacto de não-agressão com Hitler, e se juntado ao desmembramento da Tchecoslováquia, após o Pacto de Munique. Aqui, Buchanan não está sozinho. Lloyd George considerou isto “um jogo assustador” e “pura loucura”. O antigo Primeiro Lorde do Almirantado, Cooper, registrou em seu diário: “Nunca antes em nossa história, deixamos nas mãos de uma das menores potências a decisão se a Grã-Bretanha vai ou não à guerra.” ”Esta foi a mais louca ação isolada que este país jamais tinha tomado,” disse um membro do Parlamento.
Ele é necessário porque demole o culto de Churchill. Winston Churchill, antes do que ser o homem indispensável do século, foi “o mais belicoso campeão da entrada britânica na guerra européia de 1914 e na guerra polaco-alemã de 1939.” Entre seus outros crimes, Churchill apaziguou Stalin – um dos maiores assassinos em massa do século XX, cujos crimes excederam aqueles de Hitler – ao concordar com sua “anexação das repúblicas bálticas,” aceitar “seus saques do pacto com o diabo com Hitler,” e fechar os olhos para o massacre de Katyn.”
Ele é necessário porque explica como Hitler nunca desejou a guerra com a Grã-Bretanha. Hitler queria poder absoluto na Alemanha. Hitler queria derrubar o Tratado de Versalhes. Hitler queria restaurar as terras da Alemanha. Hitler queria alargar o império alemão para o leste. Hitler queria limpar a Alemanha de judeus. Hitler queria destruir o bolchevismo. Hitler queria que a Alemanha conseguisse auto-suficiência na Europa. Hitler queria passar para a história como “o maior de todos os alemães”. Mas Hitler nunca quis uma guerra com a Grã-Bretanha. Para Hitler: “A Grã-Bretanha era aliada natural da Alemanha e a nação e o império que mais admirava. Ele não cobiçava as colônias britânicas. Ele não queria ou buscava uma frota para rivalizar com a Real Marinha. Ele não queria derrubar o Império Britânico. Ele estava pronto para apaziguar a Grã-Bretanha e torná-la uma amiga da Alemanha.”
Ele é necessário porque confirma que Hitler não era uma ameaça aos Estados Unidos. A Luftwaffe alemã perdeu a Batalha da Inglaterra para a Real Força Aérea; a Marinha alemã não era páreo para a Real Marinha britânica (“Marinha – que necessidade temos dela?,” disse Hitler em 1936). No começo da guerrra, a Alemanha tinha, apenas, dois couraçados. O Bismarck ainda não havia sido construído – e seria afundado em sua primeira viagem. Não havia navios de tropas, barcaças de desembarque, ou transportes para tanques e artilharia. Se Hitler não podia cruzar o Canal da Mancha e conquistar a Grã-Bretanha, como poderia ter sido ameaça para a América? Buchanan desconsidera os supostos planos da Alemanha “para construir uma massiva frota, desenvolver bombardeiros transatlânticos, e buscar bases navais” como “história em quadrinhos”. A verdade histórica é que “não havia nenhum plano alemão conhecido para adquirir os milhares de navios necessários para transportar e comboiar um tal exército através do Atlântico.” E, como aponta Buchanan, sobre os bombardeiros alemães: “Uma viagem por sobre o Atlântico de ida e volta exigiria vinte horas de vôo para lançar uma carga de cinco toneladas sobre Nova York.” E, mesmo hoje em dia, se a Força Aérea dos Estados Unidos não tem um bombardeiro que possa voar direto do meio-oeste para a Alemanha sem reabastecimento, como poderiam os bombardeiros alemães, nos anos 1940, terem, possivelmente, bombardeado os Estados Unidos e retornado à Alemanha, quando o reabastecimento ar-ar ainda não havia sido inventado?
Foi necessário que dezenas de milhões fossem massacrados para impedir Hitler de massacrar milhões?
Certamente que não.
Mas, não aceite a palavra de Pat Buchanan para isso quando nós temos a palavra do próprio Churchill:
Um dia, o Presidente Roosevelt disse-me que estava procurando publicamente por sugestões sobre como a guerra devia ser chamada. Eu disse, então, “A Guerra Desnecessária.” Nunca houve uma guerra mais fácil de ser parada do que esta que acabou de arruinar o que havia sobrado do mundo desde a luta anterior.
E, se a Segunda Guerra Mundial foi desnecessária, então, o quanto foram desnecessárias as guerras no Iraque e no Afeganistão?
Churchill, Hitler and the Unnecessary War – compre, leia, cite com freqüência. E, na próxima vez que alguém tentar justificar alguma intervenção militar americana apelando para a “Boa Guerra”, pergunte-lhe o que foi tão bom sobre ela.
_______________________________
Laurence M. Vance escreve de Pensacola, Flórida. Ele é autor de Christianiy and War and Other Essays Against the Warfare State. Seu mais recente livro é The Revolution that Wasn’t.