#134
Mensagem
por faterra » Sáb Mar 18, 2006 12:25 am
Revista Força Aérea Nº 12
Transcrição de texto
OS DELTAS CONTRA A FROTA
A SAGA DOS MIRAGE E DAGGER NAS MALVINAS - V
DA CABINE DOS SEA HARRIER
No relato anterior, um piloto de Dagger conta sua dramática história. O que se segue, é a descrição do mesmo combate pelos pilotos que derrubaram a Esquadrilha RATON, o Lieutenant Commander Nige] Ward e o Tenente Steve Thomas, ambos do No. 801 Squadron operando a bordo do HMS Invincible. Thomas: "Na terceira surtida do dia (21 de maio). eu pilotava o Sea Harrier 009/ZA190 e voava na ala do Lieutenant Commander Nigel Ward. comandante do esquadrão. Estávamos patrulhando a 1.000 pés dentro dos vales. a 15 milhas a noroeste de Port Howard. quando vi dois Dagger voando com proa leste, juntos, a grande velocidade e a baixa altura. Manobrei por detrás deles, consegui acoplar e disparei um míssil na aeronave mais próxima (Piuma). O Dagger explodiu e bateu no solo. Foi aí que o líder dos Dagger (Donadille) comandou um break apontando o nariz para cima e para a direita. provavelmente para dar o fora dali! Consegui acoplar e disparei meu segundo AIM-9L. O míssil fez o que devia e explodiu sobre a raiz da asa esquerda com um clarão alaranjado. Não conseguimos ver o que aconteceu ao avião porque Ward e eu havíamos visto um terceiro Dagger cruzando à nossa frente, e que Ward conseguiu destruir com um Sidewinder. O engajamento não durou mais de um minuto. Subseqüentemente. descobrimos que meu segundo Dagger também foi destruído, mas por sorte todos os pilotos conseguiram escapar. " Ward: "O Dagger (Senn) mudou de proa para o oeste. Eu estava a 300 pés sobre o terreno. quando mergulhei atrás dele. acoplei meu míssil e disparei o AIM-9L. Não havia como errar! Segundos mais tarde o míssil atingiu o alvo, que se desintegrou como em câmara lenta. O caça bateu no chão e a tomada de ar e o bordo de ataque do lado direito se soltaram e saíram voando por entre o fogo e a fumaça. Não consegui ver uma ejeção. mas fiquei sabendo mais tarde que o piloto ejetou e sobreviveu."
FIM DO DIA
Estes combates marcaram as últimas missões do Grupo 6 de Caza naquele dramático 21 de maio. A Fuerza Aérea Argentina havia lançado 54 surtidas do continente (das 63 planejadas) e perdeu sete aeronaves, num alarmante 13 por cento de atrito! As perdas do Grupo 6 foram muito pesadas: 23 missões de escolta e ataque foram realizadas e cinco Dagger não retomaram, o que indicava um percentual de perda por surtida de 22 por cento. No continente, não se sabia o que acontecera aos cinco pilotos abatidos, mas na noite de 21/22 de maio, quatro haviam sido resgatados. Um número de fatores contribuíram para as perdas do 21 de maio. Entre elas destacava-se a falta de experiência dos pilotos de Dagger (se comparados aos de A-4B e C) e a falta de conhecimento tático em missões antinavio e de apoio mútuo quando atacados por aeronaves inimigas. Talvez o maior dos erros tenha sido o fato de atacarem os navios de guerra em vez dos transportes. Do lado positivo - apesar de não se saber na época- foi o fato dos Dagger haverem causado pesados danos à fragata Ardent. danos moderados ao destróier Antrim e danos leves a outros navios. Durante a noite os oficiais de planejamento do Grupo 6 estudaram outros meios de atacar o inimigo, principalmente no que dizia respeito ao perfil de vôo para ingressar nas ilhas escapando das PAC dos Sea Harrier.
MAIS UMA BAIXA
No dia 22 de maio não houve missões de Dagger sobre as Malvinas/Falklands devido ao mau tempo. No dia seguinte as condições melhoraram um pouco, e às 08:43 dois vôos foram lançados de Rio Grande, mas tiveram que retomar devido às nuvens baixas sobre as Ilhas. Durante a tarde, por volta das 15:00, três esquadrilhas de Dagger já estavam sobre as Ilhas; PUÑAL - Major Martinez e Tenente Volponi, DAGA - Capitão Rodhe e Primeiro-Tenente Ratti e CORAL - Capitão Dimeglio, Tenente Aguirre e o Primeiro-Tenente Roman. A primeira decolagem foi efetuada de Rio Grande, as outras duas de San Julian. Alertados pelos controladores de radar da FAA de que havia patrulhas inglesas por perto, o elemento PUÑAL alijou suas bombas e retomou para o continente a baixa altura. Os dois Dagger foram detectados ao norte da Ilha Pebble pelo Lieutenant-Commander Auld, comandante do Esquadrão N.. 800 do Hermes, e seu ala, o Tenente Hale. Martinez estava voando rápido demais para que o alcançassem, mas Volponi no C-437 havia ficado um pouco para trás. Hale no ZA194 estava a cerca de duas milhas atrás de Volponi, e quando a distância caiu para 0,5 milhas (0,8 km) lançou um Sidewinder contra o jato argentino. O infeliz piloto do Grupo 6 não tentou manobras evasivas e o míssil adentrou a tubeira de seu Dagger. O caça explodiu numa bola de fogo e atingiu o solo onde desintegrou-se, a oeste da Baía Elefante, na Ilha Pebble. Volponi não teve a menor chance.
NOVAMENTE SAN CARLOS
No dia 24 de maio, a FAS planejou um total de 12 ofrags contra os navios britânicos no estreito de San Carlos. Às 11:02 a primeira esquadrilha de Dagger chegou sobre a área. Tinha o código rádio AZUL e pertencia ao Escuadrón Aeromóvil Número 1. Cada Dagger carregava dois tanques subalares de 1.700 litros e uma bomba Mk 17 na estação ventral. O número três da esquadrilha era o Capitão Carlos A. Maffeis, que descreve o ataque: "A esquadrilha AZUL da qual eu fazia parte era composta de quatro Dagger brifados para atacar alvos marítimos no Estreito de San Carlos. De acordo com minha lembrança, fomos os primeiros a chegar e até certo ponto surpreendemos os ingleses, o que talvez explique porque nós quatro saímos de lá inteiros, apesar de alguns impactos de pequeno calibre. Naquele dia eu voava o C-431 e minha posição na esquadrilha era como líder de elemento (N° 3). Meu ala era o Capitão Robles e o líder e seu ala eram o Capitão Mir Gonzalez e o Tenente Bernhardt, respectivamente. O Tenente Bernhardt seria abatido alguns dias mais tarde naquele mesmo lugar. Como sempre, ingressamos a baixa altura e após cruzarmos a Baía Ruiz Puente (Grantham Sound) e os morros próximos a ela, entramos no Estreito de San Carlos voando num rumo de sul a norte. Ao contrário dos meus três companheiros, rumei para a costa leste onde havia grande concentração de navios. Do lado oeste havia um grande transporte. Minha decisão de atacar navios menores se baseou no fato de que o gerador de minha aeronave havia pifado quatro minutos antes de avistar os alvos e com aquela pane não era possível soltar as bombas. Era uma limitação do sistema elétrico do avião e passei a ficar limitado ao uso de meus canhões de 30mm. Apertei o gatilho três vezes; as primeiras rajadas caíram curto, levantando grandes géiseres d'água, mas as seguintes podem ter impactado no alvo. Tudo isto aconteceu muito rapidamente, mas, como os outros combates, permanece gravado na minha mente. Quando os filmes dos canhões foram revelados mostraram - além do rumo de ataque de 3500, um total de seis navios, quase a metade do total que os ingleses dispunham no estreito." A esquadrilha AZUL só causou danos leves aos navios anfíbios britânicos, mas os quatro Dagger foram largamente fotografados em suas passagens. Cinqüenta minutos mais tarde, chegava sobre a área a esquadrilha PLATA de Rio Grande, cada aeronave armada com duas bombas de retardo de 500 Ib. Os pilotos eram o Capitão Dellepiane, o PrimeiroTenente Musso e o Tenente Callejo. Uma vez que as bombas foram despejadas sobre os alvos, as aeronaves fugiram rumo ao norte. A dez milhas da Ilha Pebble encontraram mais dois navios ingleses. Um deles lançou mísseis terra-ar que, julgando pelo tamanho, os pilotos argentinos relataram tratar-se dos Sea Dart. Por sorte as manobras evasivas surtiram efeito e os Dagger escaparam dos "Grandes Postes Telefônicos Brancos", que foi como os argentinos apelidaram aqueles mísseis.
O FRACASSO DA ESQUADRILHA ORO
Um pouco mais tarde, a esquadrilha ORO que havia decolado de San Julian, com o Major Puga, o Capitão Diaz e o Tenente Castillo, rumava na direção de San Carlos pela costa norte de West Falkland, tentando se esconder dos radares ingleses. Antes de passar pela Ilha Pebble, os três Dagger foram detectados pela fragata HMS Broadsword que estava em missão de guarda e navio de defesa avançada (junto com os destróieres tipo 42 HMS Coventry). O controlador do navio rapidamente vetorou uma PAC de Sea Harrier do No. 800 Squadron, composta pelo Lieutenant -Commander Auld, no XZ457, e pelo Tenente Smith, no ZA193. Os caças da Fleet Air Arm subiram para obter melhor vista do ambiente e para poderem mergulhar sobre os aviões inimigos, ganhando velocidade para igualar a vantagem dos argentinos. Os Dagger tentaram escapar alijando suas cargas externas, mas o ataque foi cuidadosamente planejado. Auld lançou seus dois AIM-9L. O primeiro acertou o avião de Puga que explodiu e caiu no mar. O Major Puga conseguiu ejetar nos segundos finais de sua aeronave. "Estávamos voando muito baixo sobre as ondas. Vimos dois Sea Harrier no último momento e tentamos escapar, mas sem sucesso. Eu vi o avião de Castillo explodindo, ao mesmo tempo que sentia um míssil atingir minha aeronave. Tentei ganhar altura puxando o manche para trás, mas a aeronave começou a girar - com as chamas enchendo a cabine. De repente uma asa começou a se dobrar. Ejetei com 90º de inclinação, paralelo à superftcie do mar. Não perdi a consciência e me lembro perfeitamente da puxada causada pela abertura do pára-quedas. Minha primeira reação foi estar surpreso por estar vivo e agradeci a Deus por isso. O velame ainda não estava totalmente inflado quando bati na água." O drama de Puga ainda não havia terminado: ferido, ele ainda passaria diversas horas na água gelada tentando manter sua cabeça acima das ondas. Finalmente conseguiu nadar até a Ilha Pebble, onde passou a noite numa praia de pedras, sendo finalmente encontrado por uma patrulha chefiada por um Tenente dos Fuzileiros Navais argentino. No dia 29 de maio, ele, Raul Diaz, diversos outros soldados e o corpo do Tenente Volponi foram evacuados numa ousada operação de resgate chefiada pelo Capitão Uriona, do Grupo 9, num DHC-6 Twin Otter. O relógio de Puga havia parado às 11:08, quando se ejetou, e até hoje ele o mantém assim, para se lembrar daqueles dramáticos momentos. O segundo Sidewinder de Auld atingiu o C-430 do Capitão Diaz. Ele ejetou e o Dagger caiu no mar ao norte da Ilha Pebble, perto de onde caiu o avião de Puga. Smith lançou um AIM-9L na direção de Castillo em condições perfeitas, atingindo o C-410 que, envolto em chamas, atingiu o solo do lado oeste da Baía Elefante, matando o piloto argentino. Durante alguns segundos, os dois Sea Harrier perseguiram um quarto Dagger que achavam fazer parte da mesma esquadrilha. Na verdade era a aeronave do número três da esquadrilha PLATA, que conseguira escapar. Mais uma vez o Grupo 6 sofria nas mãos da combinação Sea Harrier/AIM-9L Sidewinder. A esquadrilha ORO havia sido totalmente dizimada sem esboçar reação. Aquele tipo de atrito não poderia durar por muito mais tempo, ou o Grupo logo não teria mais aviões ou nem mesmo pilotos. Seis dos oito pilotos abatidos por Sea Harriers durante a Batalha de San Carlos (21-27 de maio) foram salvos graças à cadeira de ejeção Martin-Baker Mk JM-6 zero-zero.
METADE DO CAMINHO
Nos dias seguintes os Dagger praticamente não voaram, devido ao mau tempo e a uma reestruturação da estratégia de combate do Grupo 6. No dia 25 de maio, duas seções foram lançadas de Rio Grande, às 11 :00 e 11 :02, com os códigos NANDU e FUEGO. Voariam missões de reconhecimento armado sobre o lado sul do estreito, mas acabariam não encontrando nada. No dia seguinte, a esquadrilha Llama realizou uma missão de bombardeio picado através de nuvens, tentando atingir concentrações de tropas britânicas perto de Porto San Carlos. Não houve fogo antiaéreo, mas tampouco houve danos causados pelas bombas de alto arrasto. No dia 27 a cabeça de praia estava consolidada e as tropas inglesas começavam a avançar em várias direções. Este período de sete dias (21-27 de maio) ficou conhecido como a Batalha de San Carlos. É considerada uma vitória britânica, apesar dos esforços dos pilotos argentinos. Esforços corajosos, mas sem resultados. O Grupo 6 contribuiu com um total de 47 surtidas de escolta/cobertura e ataque para aquele esforço (21 de San Julian e 26 de Rio Grande), perdendo ao todo nove aeronaves e três pilotos. Alguns Dagger tinham sido atingidos por projéteis de pequeno calibre ou por estilhaços e apesar de haverem conseguido retomar às suas bases, ficaram indisponibilizados por algum tempo. Os resultados colhidos pelo Grupo foram imperceptíveis.
DE VOLTA AO ESTREITO
No dia 28 de maio, a Força Aérea tentou apoiar as tropas de terra em Goose Green e Darwin, que estavam sendo ameaçadas pelo avanço de tropas páraquedistas inglesas. A FAS planejou 10 missões entre as quais uma de Dagger. O objetivo eram as tropas em terra e os navios que as apoiavam com fogo naval. Para a infelicidade das tropas argentinas, as condições meteorológicas não foram favoráveis para operações aéreas, uma vez que as ilhas estavam sob os efeitos de uma área de baixa pressão que produzia grandes quantidades de chuva, neve e neblina. Os quatro Dagger não conseguiram encontrar uma brecha no mau tempo e tiveram que retomar à base.
No dia seguinte o tempo melhorou um pouco e a FAS emitiu diversas ordens de missão. As primeiras aeronaves a chegarem na área de operações foram as do elemento LIMON , composto do Capitão Mir Gonzalez e do Tenente Bemhardt, ambos de Rio Grande. Sua missão era de reconhecimento armado e carregavam três bombas de alto arrasto de 500 lb. cada. A dupla chegou ao Estreito de San Carlos mas não encontrou nenhum navio. O líder achou melhor guardar as bombas para outra missão e retomou para casa. Mas naquele exato momento, Mir Gonzalez viu uma silhueta de um grande navio ao norte. Segundos mais tarde, Juan Domingo Bernhardt, voando no C-436 a alguma distância atrás do líder, foi atingido por um míssil terra-ar Rapier e espatifou-se contra as águas do Estreito de San Carlos. Quase duas horas mais tarde, a esquadrilha PUMA, formada por dois Dagger (o terceiro havia abortado), se aproximou do estreito voando ao norte da Ilha Pebble. Os pilotos viram uma patrulha de Sea Harrier à sua direita e, acreditando que logo seriam atacados, alijaram suas cargas e retomaram à San Julian. Na verdade, os aviões ingleses pertenciam ao No. 800 Squadron e realizavam um ataque ao aeródromo de Pebble, e não viram os caças argentinos. Bemhardt foi o quinto e último piloto perdido pelo Grupo 6 de Caza durante o conflito, e o C-436 o último avião a ser derrubado. Tais perdas em somente nove dias de combate tiveram um efeito devastador na moral da unidade, especialmente quando se considerou os parcos resultados obtidos.
Muitos dias se seguiram, nos quais as condições climáticas atrapalharam a saída das missões. No dia 4 de junho a situação nas Malvinas/Falklands estava começando a ficar desesperadora e a FAS decidiu lançar diversas surtidas de apoio aéreo aproximado às forças de terra. Nuvens baixas (com um teto mínimo de 150 pés (45rn) e um teto máximo de 500 pés (150 m)) e fortes chuvas impediram os ataque a baixa altura. A FAA decidiu atacar de nível médio ou em bombardeio picado. Uma surtida foi planejada para o Escuadrón Aeromóvil Número 2 e os pilotos escolhidos foram o Comodoro Villar, o Capitão Demierre e os Primeiro-Tenentes Musso e Roman. Cada Dagger carregava duas bombas de alto arrasto de 500 Ib. Às 16:30 as quatro aeronaves estavam sobre o alvo perto do Monte Kent. Num mergulho de 60" soltaram suas bombas por entre as nuvens, mas não puderam observar o resultado e retomaram à San Julian. No dia seguinte, às 14:46, o elemento FIERRO retomou às ilhas armado somente com 250 projéteis de munição incendiária para os canhões DEFA de 30mm. Após uma corrida de reconhecimento através do Estreito, na qual não encontraram nenhum navio inimigo, retomaram para o continente sem maiores problemas. Às 15:30 a esquadrilha NENE com três Dagger estava sobre West Falkland para realizar uma missão de reconhecimento armado sobre a Baía Rei George, desde o sul. Percorreram cada reentrância e cada braço de terra procurando um destróier do Tipo 42 presumivelmente em missão de guarda.
ATAQUE AO PLYMOUTH
Finalmente o tempo mudou e o dia 8 de junho amanheceu com céu azul. Na sala de comando da FAS, em Comodoro Rivadavia, os rádios chegavam a cada segundo: os britânicos estavam formando uma nova cabeça de praia em Port Pleasant, a cerca de 27 quilômetros de Port Stanley. Dois navios de desembarque estavam transferindo mantimentos e equipamento para as tropas em terra, com toda a calma do mundo, como se estivessem em tempo de paz! Aparentemente não haviam tomado precauções contra ataques aéreos. O Brigadeiro Crespo estava consciente do massacre que os Sea Harrier poderiam fazer a seus caças se eles não fossem mantidos longe da região de Port Pleasant. A ofrag era razoavelmente simples e incluía aeronaves dos Grupos 6 e 6, além dos Mirage III do Grupo 8 que realizariam missões de despiste simulando ataques de caça bombardeiros visando atrair as PAC inglesas para San Carlos. Uma seção de Dagger também realizaria esta tarefa.
A missão de ataque do Grupo 6 foi formada por seis Dagger divididos em duas esquadrilhas: PERRO, formada pelo Capitão Rodhe, o Primeiro- Tenente Gabari e o Primeiro-Tenente Ratti, e GATO, com o Capitão Cimatti, o Major Martinez e o Primeiro-Tenente Antonietti. As duas esquadrilhas decolaram por volta das 13:00 de Rio Grande e cada aeronave levava duas bombas Mk 82 de 500 Ib., cofres de munição completos e dois tanques subalares de 1.700 litros cada. Logo após a decolagem, Antonietti colidiu com um pássaro, o que causou rachaduras em seu pára-brisas forçando-o a abortar a missão. Os cinco caças continuaram em sua rota, encontrando no caminho um Learjet (T-23) do Grupo 1 Aerofotográfico, que operava como auxílio à navegação. O pequeno birreator com sistemas de navegação no estado da arte levou os Dagger até a costa sudoeste de West Falkland, de onde eles optaram por assumir uma rota rumo ao noroeste. Os Dagger planejavam cruzar o estreito e então curvar para o leste, e após cruzar East Falkland atacariam Port Pleasant do oeste. O clima havia piorado, com chuva, neve e nuvens baixas forçando a formação a se desviar um pouco de sua rota. Por volta das 14:00 ao voarem sobre o estreito rumo ao nordeste, tiveram uma grande surpresa: às suas costas, estava a fragata HMS Plymouth. O navio navegava para a relativa segurança do alto mar, após passar a noite bombardeando a costa. A formação do Grupo 6 já havia sido detectada pela fragata. Os Dagger curvaram rumo ao norte para ganhar distância para o ataque ao navio, que aumentava a velocidade tentando alcançar a proteção de águas mais abertas. Os Dagger atacaram por bombordo a urna velocidade de 550 nós. Rodhe estava na direita, Ratti no centro e Gabari na esquerda. Atrás deles em linha de frente vinham Cimatti e Martinez. Apesar da antiaérea de 20mm e de um míssil Sea Cat disparado em sua direção, as aeronaves continuaram seu ataque. O Plymouth recebeu impactos de 30mm e cinco bombas de 500 Ib. de oito lançadas. Para sorte da tripulação nenhuma das cinco MIe 82 explodiu, apesar de um tiro de 30mm que atingiu uma carga de profundidade ter iniciado um fogo na popa. A água entrou pelo buraco e o navio ademou em 6°. Somente um dos Dagger foi levemente avariado por estilhaços, e Ratti não conseguiu soltar suas bombas devido a uma avaria no gerador. Após o ataque, os caças do Grupo 6 rumaram para o sudoeste e no início de seu retomo foram perseguidos por caças Sea Harrier sem resultado. Ao retomarem para Rio Grande, os cinco pilotos foram recebidos como heróis, já que naquele dia os argentinos acreditavam que o navio havia afundado, o que não ocorrera.
ÚLTIMA TENTATIVA
No dia 13 de junho a situação nas Ilhas já era crítica. As forças britânicas avançavam inexoravelmente rumo à Stanley. Na sua última missão diurna, a FAS resolveu mandar o maior número de missões possível para as Ilhas a fim de fustigar as tropas inglesas e ganhar tempo para as forças argentinas. Poucas aeronaves no entanto estavam 100 por cento disponíveis devido ao atrito, ao clima de inverno com altas taxas de umidade e ao desgaste normal de operação. O pessoal do Grupo 6 planejou quatro missões, suas últimas. (O Escuadrón Aeromóvil Número 2 havia se mudado para Rio Gallegos havia alguns dias.) A missão seguiria a ofrag de número 1317 e uma esquadrilha composta por três Dagger decolou às 11:10 com a tarefa de bombardear tropas inglesas na base do Monte Longdon. O número três foi obrigado a abortar, pois não conseguira recolher o trem após a decolagem. Quando os dois Dagger restantes alcançaram a zona de combate encontraram fortes chuvas e nuvens pesadas. Através de buracos na camada conseguiram ver um helicóptero Sea King e dois Sea Harrier. Foi quando a voz do controlador de terra os informou que os dois contatos estavam se dirigindo rapidamente na direção deles. Acreditando estarem na iminência de serem interceptados, os dois Dagger abandonaram o ataque e escaparam sem engajar os caças ingleses. A ordem 1318 resultou na decolagem de três Dagger pilotados pelo capitão Dimeglio, pelo Tenente Aguirre Faget e pelo Primeiro-Tenente Roman. Antes de deixarem Rio Gallegos, Aguirre foi obrigado a abandonar a missão, com problemas nos freios. Os dois pilotos restantes desviaram-se de sua rota de aproximação e localizaram um helicóptero britânico 45 milhas náuticas ao sul do Estreito de San Carlos. Era um Lynx HAS Mk 2 do No. 815 Squadron pertencente ao HMS Cardiff. Os dois caças atacaram sabendo que o helicóptero naval já deveria ter alertado todas as defesas na área. Dimeglio e Roman fizeram várias passagens com os canhões, mas não obtiveram sucesso. Com pouco combustível, os frustrados pilotos do grupo 6 tiveram que voltar para Rio Gallegos. A ordem de número 1323 designou o nome código ZEUS para a esquadrilha composta por três Dagger, dos quais um foi forçado a permanecer no continente por problemas técnicos. Outro teve que retomar quando estava a 60 milhas náuticas (110 km) do alvo, devido a oscilações acima dos 1250/300 RPM no motor Atar. O piloto foi forçado a voar sobre 450 milhas (725 km) de oceano congelado com uma turbina que poderia parar a qualquer momento. O outro avião teve que retomar pouco depois devido à proximidade de uma patrulha de Sea Harriers. A última ordem para os Dagger era a de número 1324 e sua missão compreendia, assim como as outras, três Dagger e levava o código VULCANO. Esta esquadrilha teve problemas com a meteorologia e com um elemento de Sea Harrier. Foram forçados a abandonar o ataque planejado quando os aviões ingleses partiram atrás deles, uma vez que os Dagger não estavam configurados para o combate ar-ar. Por volta das 16:40 o último Dagger da Vulcano pousou em Rio Gallegos.
ESCOLTANDO OS CANBERRA
Durante a fase final do conflito, os Mirage do Grupo 8 realizaram um total de 15 missões de cobertura aérea sem entrar em combate com os Sea Harrier. Vale a pena lembrar que as quatro missões de despiste realizadas no dia 8 de junho abriram caminho para os ataques das primeiras vagas de Skyhawk e de Dagger, sem que estes fossem interceptados. Se é que houve uma missão de escolta verdadeiramente dramática, foi aquela que ocorreu na noite de 13 de junho e que resultou na última missão da guerra. Às 19:00 do domingo, 13 de junho, o telefone tocou no posto de comando da Base Aérea de Rio Gallegos. Duas ordens de missão (números 1326 e 1327) mandavam que fosse feita uma surtida de ataque com um elemento de Canberra do Grupo 2 de Bombardeo para atacar posições inglesas em East Falkland, além de solicitar uma escolta por um elemento de Mirage do Grupo 8 de Caza. Os dois bombardeiros haviam chegado mais cedo da Base Aeronaval de Trelew para que seu vôo até o alvo fosse encurtado. O planejamento da missão de escolta foi bastante complicado devido aos problemas de alcance. Era necessário que as rotas fossem computadas com precisão, assim como os pontos de encontro e os horários a fim de que os Mirage conseguissem efetivamente proteger os bombardeiros dos Sea Harrier durante as fases de aproximação e de ataque. Todas as tripulações estavam presentes ao briefing para estabelecerem os procedimentos a serem seguidos.
Logo em seguida, o elemento de Canberra sob o código BACO decolou rumo ao leste. A primeira aeronave levava o Capitão Pastran (piloto) e o Capitão casado (navegador/bombardeador), e a Segunda o Tenente Rivollier (piloto) e o Primeiro-Tenente Anino no assento da direita. Quatorze minutos mais tarde decolavam os Mirage com código PLUTON. O líder era o Major Sánchez e seu ala, o Capitão Gonzalez. A noite estava extremamente escura sem lua e a 5.000 pés (1.525m) havia uma espessa camada que se estendia durante todo o caminho até as ilhas. Assim que alçaram vôo, os dois Mirage III atingiram sua altitude de cruzeiro, iniciando sua travessia até as Malvinas/Falklands com suas luzes de navegação apagadas e em completo silêncio-rádio. Devido à escuridão, os dois interceptadores estavam voando em cobrinha mantendo a posição com o radar - o ala mantendo a posição e o líder utilizando o seu aparelho Cyrano IIbis. Voando em total silêncio-rádio, e com o mundo exterior na mais completa escuridão, somente com o silvo dos motores a quebrar o silêncio da noite, os pilotos estavam à mercê da desorientação espacial caso desconfiassem de seus instrumentos e resolvessem agir por seus instintos. No entanto, os dois pilotos do elemento PLUTON eram extremamente experientes. Voavam a cerca de 30.000 pés (9.145 m) e à medida que se aproximavam da costa sul de West Falkland, a cobertura de nuvens ficava mais rala. Através de um buraco nas nuvens os pilotos conseguiram ver alguns clarões de intensidade variada, parecia uma tempestade, mas ocorria somente num ponto de East Falkland e com uma espécie de ritmo. Nos seus radares Cyrano os Mirage III detectaram os Canberra a cerca de 40.000 pés à sua frente e se aproximando do alvo.
Quebrando o silêncio-rádio, chamaram a estação radar das Ilhas e o controlador confirmou que os clarões provinham do fogo de artilharia das peças em terra e dos navios ingleses que martelavam as posições argentinas ao redor de Stanley.
Ainda assim, o radar continuava operacional. Não havia PACs de Sea Harrier na área, o que fez com que os pilotos dos Mirage relaxassem um pouco. O radar argentino guiou os Canberra na direção de seus objetivos. Logo o primeiro bombardeiro passou pelo ponto inicial, seguido pouco depois pelo segundo. Não tardava e as bombas logo estavam caindo sobre as coordenadas preestabelecidas, a concentração de tropas perto do QG inglês na base do Monte Kent. Do relativo conforto de sua cabine, o major Sánchez conseguia discernir com perfeição os fortes clarões causados pelas bombas dos Canberra. A pouca distância dali ele notou um míssil sendo disparado e que deveria estar com problemas, pois girava para todo o lado. O mesmo não aconteceu com os mísseis que se seguiram; os ingleses haviam disparado quatro ou cinco deles ao mesmo tempo, e subiam quase na vertical. O Major Sánchez avisou o Capitão Gonzalez pelo VHF alertando-o do perigo. No entanto, os mísseis pareciam haver adquirido o elemento de Canberra, e provavelmente o BACO 2. O Tenente Rivollier, avisado do perigo pelo rádio, lançou diversos flares e pacotes de chaff e imediatamente iniciou uma série de curvas evasivas de alta performance. Finalmente ele conseguiu escapar dos mísseis que se perderam na escuridão da noite. A atenção de Sánchez havia sido afetada pelos recentes acontecimentos, mas não a ponto de evitar que sua visão periférica distinguisse um novo grupo de mísseis sendo disparados. Eles estavam às 12:00 horas, muito mais baixo mas subindo com grande rapidez. O piloto argentino conseguia distinguir as chamas avermelhadas saindo das tubeiras dos mísseis claramente, enquanto os foguetes rumavam para seus alvos. Um dos mísseis em especial cresceu rapidamente e parecia ter acoplado seu Mirage. Sánchez estava a 30.000 pés (9. 145m) e numa velocidade de Mach 0.92, e realizando uma curva ampla com o nariz numa proa de 45°. O míssil estava do lado interno da curva, mas um pouco mais baixo do que a aeronave. Sánchez reduziu o motor, apertou a curva enquanto iniciava uma forte espiral descendente. Seus olhos colaram no ponto de luz que crescia rapidamente vindo em sua direção e que agora estava no meio de um círculo imaginário traçado pelo Mirage. Sánchez notou que o clarão que vinha de Port Stanley não estava mais lá e a terra e o céu se mesclavam assustadoramente, fazendo com que fosse quase impossível discernir para que lado ficava o céu. De repente a regra do jogo exigia que se voasse olhando para fora da cabine esquecendo os instrumentos. Sánchez logo identificou os primeiros sinais da desorientação espacial à medida que a espiral descendente do Mirage continuava. Subitamente o míssil explodiu numa bola de fogo, enquanto os estilhaços da cabeça explosiva saíam para todos os lados pintando o céu de vermelho e deixando uma trajetória de arcos avermelhados que caíam lentamente de volta para a terra. O Mirage de Sánchez não havia sido atingido e o piloto respirou fundo aliviado, porém não por muito tempo. Um míssil ainda maior, provavelmente um Sea Dart, subia na direção das aeronaves argentinas a grande velocidade. Para sorte de Sánchez, o míssil passou pelo seu lado direito sem explodir. Temporariamente fora de perigo, ele arriscou uma rápida olhada nos instrumentos e notou que a descida o havia trazido para um pouco abaixo dos 15.000 pés (4.575m) e para o oeste da rota prevista. Ele rapidamente restabeleceu contato com o radar de Port Stanley e ouviu do controlador que os dois Mirage estavam na tela mas que sobrevoavam Goose Green. O GCI avisou também que o Capitão Gonzalez estava muito mais baixo e que se descesse mais entraria na zona de alcance dos mísseis Blowpipe ou Stinger e da antiaérea inimiga. O elemento de Mirage logo recuperou para sua altitude de cruzeiro, ao mesmo tempo que tentava falar com os Canberra. A única resposta veio do BACO 2, que disse que havia algum tempo estava tentando falar com seu líder mas sem sucesso. Os pilotos solicitaram a ajuda do controlador, mas a resposta era o que todos temiam: BACO 1 havia desaparecido da tela do radar. O Canberra (B-108) havia sido destruído por um míssil Sea Dart lançado pelo destróier HMS Exeter. O piloto, Capitão Pastran, ainda teve tempo de se ejetar. Ao aterrar na ilha foi logo capturado pelos ingleses, enquanto o navegador, incapaz de deixar o avião, despencou com o Canberra até que este explodisse contra o Monte Kent. As três aeronaves sobreviventes retomaram sem incidentes para o continente, pousando às 23:55 EM RIO GRANDE.
BALANÇO FINAL
Esta missão foi a derradeira para o Grupo 8 no conflito. A unidade realizou um total de 45 missões de cobertura aérea e de despiste sobre as ilhas e outra 46 sobre o continente e sobre o mar territorial. Foram perdidas duas aeronaves e um piloto em combate. Apesar dos problemas de alcance que evitaram que os Mirage disputassem o espaço aéreo com os Sea Harrier, seus resultados foram duramente criticados por alguns departamentos da FAA. Havia também um plano que previa que os Mirage III seriam os "regra três" dos Skyhawk e dos Dagger, caso o conflito se estendesse. Mas ainda assim sua contribuição para a defesa do espaço aéreo do continente não pode ser desprezada. Depois da guerra, o Grupo 8 voltou a executar suas missões de rotina. A crise econômica que assolou a Argentina exigiu grandes cortes na Força Aérea. O número de horas de vôo por piloto diminuiu de forma constante, e no final de 1984 atingiu a irrisória marca de cinco horas por piloto por mês. Os aviões ainda realizam deslocamentos periódicos para Rio Gallegos, onde realizam treinamento e cobertura aérea. Os Mirage da FAA foram relocados para o Grupo 6 de Caza, mas continuam com as mesmas missões.
Quanto aos Dagger, entre 1º de maio e 13 de junho, o Grupo 6 de Caza voou um total de 133 surtidas de combate (de um total de 160 planejadas), 88 das quais resultaram em combates. O Dagger foi a aeronave baseada no continente que sofreu o maior número de perdas -11 aparelhos - com seis pilotos tendo que ejetar e cinco mortos em combate.
QUADRO DE PERDAS
Data / Matrícula / Local / Piloto / Derrubado por
1 maio / 1-015 / Pebble Island PrimerTen.Perona (Ejetou) / Sea Harrier-AIM-9L (Flt LI. P.C. Barton, RAF)
1 maio / 1-019 / Perto de Port Stanley Capo Garcia-Cuerva (Morto) / Sea Harrier(Danos)-Antiaérea Argentina-35mm
1 maio / C-433 / Lively Island Primer Ten. Ardiles (Morto) / Sea Harrier-AIM-9L (Flt Lt Penfold RAF)
21 maio / C-428 / Estreito de San Carlos Ten. P.I. Bean (Morto) / Sea Wolf (provavelmente HMS Broadsword)
21 maio / C-409 / West Fa1kland Primer Ten. H. Luna (Ejetou) / Sea Harrier-AIM-9L (Lt Cdr Frederiksen)
21 maio / C-404 / West Falk1and Mayor Piuma (Ejetou) / Sea Harrier-AIM-9L (Lt Thomas)
21 maio / C-403 / West Falk1and Capitan Donadille (Ejetou) / Sea Harrier-AIM-9L (Lt Thomas)
21 maio / C-407 / West Falkland PrimerTen. Senn (Ejetou) / Sea Harrier-AIM-9L (Lt Cdr Ward)
23 maio / C-437 / Perto de Pebble Island Ten. Volponi (Morto) / Sea Harrier-AIM-9L (Lt Hale)
24 maio / C-419 / Perto de Pebble Island Mayor Puga (Ejetou) / Sea Harrier- AIM-9L (Lt Cdr Auld)
24 maio / C-430 / Perto de Pebble Island Capitan Diaz (Ejetou) / Sea Harrier-AIM-9L (Lt Cdr Auld)
24 maio / C-410 / Pebble Island Ten. Castillo (Morto) / Sea Harrier-AIM-9L (Lt Smith)
29 maio / C-436 / Estreito de San Carlos Ten. Bernhardt (Morto) / Rapier
Editado pela última vez por
faterra em Sáb Mar 18, 2006 12:41 pm, em um total de 1 vez.
Um abraço!
Fernando Augusto Terra