"Migrantes não porão um pé em Itália." Salvini declara guerra a resgate no Mediterrâneo
"Os migrantes não porão um pé em Itália." O ministro do Interior Matteo Salvini afirma que os portos italianos vão continuar fechados a migrantes e pede por sansões contra ONG que resgatem migrantes e os levem para Itália.
Barcos de patrulha italianos bloqueiam o navio do Mare Ionio, depois do resgate de 49 migrantes EPA/ELIO DESIDERIO
DN / Lusa
19 Março 2019 — 14:34
navio Mare Jonio, do projeto Mediterranea Saving Humans resgatou 50 migrantes esta terça-feira no Mediterrâneo, perto da costa da Líbia. Matteo Salvini, o ministro do Interior italiano, avisou que não vai deixar o navio atracar em porto algum do país.
O navio de bandeira italiana pertencente ao projeto de vigilância do Mediterrâneo, e que também faz parte da organização não-governamental (ONG) Open Arms, informou sobre o resgate de 50 pessoas, incluindo 12 menores, que estavam num bote pneumático a 42 milhas da costa da Líbia.
A diferença com outros casos em que ONG resgataram migrantes no Mediterrâneo é que desta vez o barco tem bandeira italiana e, portanto, Salvini não pode apelar à responsabilidade de outros países.
A este respeito, o ministro enviou durante a noite de segunda-feira uma diretiva para as autoridades italianas, na qual referiu que "quem quer que auxilie migrantes sem documentos em águas que não são de responsabilidade italiana, sem que Roma tenha coordenado a intervenção, viola a ordem e a segurança do Estado italiano".
O ministro atacou ainda a tripulação do navio "por não ter obedecido às autoridades e por ter decidido autonomamente ir para Itália apenas por razões políticas, já que a Líbia estava mais próxima".
Matteo Salvini confirmou esta terça-feira, em declarações para o canal televisivo italiano Sky TG24 que os resgatados terão direito à comida e às roupas que necessitarem, mas que o Ministério do Interior nunca autorizará o desembarque. "Os migrantes não porão um pé em Itália," disse o ministro do Interior.
Salvini também acusou a organização não-governamental Open Arms de ajudar "aqueles que gerem o tráfico de seres humanos". O ministro do Interior insistiu em "haver sansões para aqueles que violam explicitamente regulamentos de resgate internacionais, europeus e nacionais," numa diretriz sobre as leis relativas a operações de resgate publicada na manhã de terça-feira.
O ministro do Interior já tinha declarado repetidamente que as águas italianas estão fechadas às ações de resgate de migrantes das ONG, numa tentativa de forçar o resto da Europa a aceitar mais requerentes de asilo. "Os portos foram e permanecem fechados," escreveu Salvini no Twitter.
Por seu lado, o autarca de Lampedusa, Toto Martello, pediu para deixarem esses migrantes desembarcarem no porto da cidade e denunciou que nos últimos meses continuaram a desembarcar pessoas sem que o Ministério do Interior dissesse alguma coisa.
O Mare Jonio assegurou terem resgatado os migrantes duas vezes, "de naufrágio e do risco de serem capturados e levados para voltar a sofrer as torturas e os horrores que tentavam fugir".
Sobre as condições dos migrantes, a ONG disse que foi solicitada a transferência de urgência para um hospital de um migrante, que se encontra em estado grave.
A ONG explicou que as pessoas a bordo estiveram no mar por quase dois dias e, embora as condições de saúde estejam bastante estáveis, estão todas muito cansadas e com problemas de desidratação.
"Pedimos formalmente a Itália, nosso Estado de bandeira e o Estado cuja responsabilidade legal e geográfica recai, para indicar um porto de desembarque para essas pessoas", acrescentaram.
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