Amigos;
Transcrevo aqui parte com a entrevista do Comandante da PM de Goiás, coronel Edson Araújo, concedida ao Jornal Opção de Goiânia. A íntegra poderá ser acessado no link logo abaixo da postagem. Sei que a realidade em Goiás pode parecer distante dos foristas de outras regiões do Brasil e do exterior, mas, pelo menos, o comandante expõe um ponto de vista que pode ser parecido com os demais comandantes das outras PMs.
Lembrando que o coronel Edson atuou inclusive na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) e já foi comandante da Força Nacional de Segurança Pública. Interessante escancarar a realidade da segurança pública em Goiás, no que tange o triste dilema do Entorno do Distrito Federal, uma região considerada a mais violenta do Brasil.
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“Estão liberando as drogas no Brasil de forma irresponsável”
Comandante-geral da PM diz que, na prática, as drogas estão liberadas no Brasil; sobre o caso Valério Luiz, ele diz que envolvimento de PMs, caso seja comprovado, terá posicionamento “duríssimo” da parte dele
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O coronel Edson Araújo se encontra, certamente, em um dos postos mais atribulados do governo. Como comandante-geral da Polícia Militar do Estado, ele se vê envolto por vários desafios ao mesmo tempo: enfrenta a pressão da opinião pública tanto pela alta demanda em tempos de recrudescimento da violência — nunca se matou tanto em Goiás — como pelo envolvimento da tropa que comanda em situações no mínimo constrangedoras nos últimos anos: assim mostram casos como as operações Sexto Mandamento e Monte Carlo, assim caminham também investigações sobre as mortes do radialista Valério Luiz e do advogado Davi Sebba Ramalho.
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Experiente em altos postos na corporação — já havia sido comandante-geral no governo Alcides, entre 2004 e 2006 — e também na participação em governos — atuou inclusive na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), o comandante é também um grande defensor da PM e insiste que o papel que a instituição desempenha é único e fundamental. “Tudo no Estado pode falir, mas a PM é a rainha das instituições, tem de estar pronta para dar sustentação”, resume, não sem antes defender a tropa, cuja imensa maioria, ele assegura, é constituída de homens valorosos e íntegros.
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Em sua segunda entrevista ao Jornal Opção — a primeira foi em janeiro deste ano, logo após assumir o posto — ele fala de assuntos polêmicos, como a relação entre Polícia Militar e Polícia Civil, a questão do desarmamento, a liberalização das drogas e até sobre o padrão de vestimentas e aparência das policiais militares. Mais: ele diz que pediu pressa à delegada Adriana Ribeiro na investigação do caso Valério Luiz, para que possa tomar as devidas providências caso haja mesmo indícios de envolvimento de policiais.
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Euler de França Belém — O sr. trabalhou como assessor especial de Ricardo Balestreri, na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). O que esse período significou para sua carreira?
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Depois de atuar em alguns cargos no governo do Estado, chegando a comandante-geral da corporação por dois anos. Quando saí do comando, no governo Alcides Rodrigues, fui convidado pelo Ministério da Justiça para ir para a Senasp. Lá atuei na Força Nacional por um período curto, cerca de dois meses e, então, tive o convite do dr. Ricardo, então secretário, para sua assessoria especial. Tive a oportunidade de conhecer o Brasil todo representando a secretaria. Participei do staff da Conferência Nacional de Segurança Pública secretariada por Regina Miki, hoje titular da Senasp. Conseguimos muita coisa boa nessa conferência, embora praticamente nada tenha saído do papel. Decidimos sobre a necessidade de um Conselho Nacional de Segurança Pública forte, que fosse reformulado, que se concretizou, mas não com a evidência que deveria ter. Falamos também, na época, de um Ministério da Segurança Pública — já que temos até Ministério da Pesca —, de se implementar uma política nacional para o setor e muitas outras medidas. Na Senasp, construímos uma possibilidade de reformular o sistema estadual de segurança pública que, na minha visão bem como na do dr. Ricardo, de que esse que temos está falido. O Brasil é o único país que tem uma polícia dicotomizada, duas meias polícias que não se entendem, duas metades que não conversam.
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Euler de França Belém — E o que o sr. sugere?
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A sugestão vem dos estudos que fizemos: que tivéssemos a situação que há em todos os países do mundo, com mais de uma polícia, mas de ciclo completo. A proposta do dr. Ricardo Balestreri era de que a Polícia Militar fosse responsável, inclusive como polícia judiciária pelos delitos com penas previstas de até quatro anos, de menor potencial ofensivo, enquanto a Polícia Civil se incumbiria dos crimes acima de quatro anos, mais complexos, como homicídios. Isso desoneraria a Polícia Civil das questões mais corriqueiras do dia a dia, que estão mais próximas da PM. A lavratura do TCO [termo circunstanciado de ocorrência] poderia ser feita pelo policial militar na rua, evitando que o cidadão, em caso de roubo de carro, por exemplo, tivesse de ir até a delegacia e fazer outro procedimento. Não tem de ter burocracia assim. Isso está inviabilizando o sistema e impedindo, por exemplo, a Polícia Civil de se dedicar a casos complexos, por desviar seu foco para coisas pequenas. Nesse novo cenário, ela seria como a Polícia Federal do Estado, cuidado de casos realmente graves e críticos. Quanto mais agilidade tivermos, melhor, com polícias autônomas, que não dependessem uma da outra. Isso poderia ser feito por territórios, como é feito na Europa. Não se criaria a situação que temos aqui, em que há uma interdependência e uma concorrência que, infelizmente, não é positiva. Pelo contrário, é destrutiva.
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Entrevista na íntegra:
http://www.jornalopcao.com.br/posts/ent ... esponsavel