18/06/2009 - 22h56
Homem morre em protesto no Haiti; general brasileiro nega responsabilidade
colaboração para a Folha Online
Uma pessoa morreu baleada nesta quinta-feira no centro da capital do Haiti durante um velório que se transformou em manifestação de seguidores do ex-presidente Jean Bertrand Aristide. Eles enfrentaram soldados da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), liderada pelo Brasil, mostraram imagens de TV. O general brasileiro Floriano Peixoto, comandante da missão, afirmou que o tiro fatal não partiu de suas tropas.
A porta-voz da Minustah, Sophie Boutaud de la Combe disse que as tropas brasileiras dispararam sete tiros de advertência para afastar a multidão, que agiu de forma agressiva, e que depois os soldados foram enviados de volta para a base. "Os capacetes azuis teriam sido atacados a pedradas por manifestantes provenientes de vários bairros da cidade", explicou.
Segundo a agência de notícias Associated Press, não há evidências sobre quem matou a vítima. A agência informou que não foram vistas armas entre os manifestantes.
O incidente aconteceu quando milhares de pessoas participavam dos funerais do padre Gérard Jean-Juste, ligado ao ex-presidente haitiano Jean Bertrand Aristide. O religioso, famoso por seu trabalho entre os pobres no Haiti e em Miami, morreu há duas semanas na Flórida.
Segundo os manifestantes, o homem que morreu durante a manifestação foi "abatido por soldados brasileiros da Minustah", o que é negado pelo comandante brasileiro.
"Verdadeiramente, não atribuo esta possibilidade de que a tropa tenha atirado com munição real contra a população", disse o general brasileiro em Porto Príncipe, horas após o incidente. "Todos os [soldados] envolvidos garantiram que não deram tiros contra a multidão".
O general Floriano Peixoto lembrou que suas tropas no Haiti "têm soldados altamente capacitados" e acostumados a lidar com protestos, e carregam armas não letais para lidar com este tipo de situação. Segundo o ele, em muitos casos os protestos são infiltrados por "elementos de fora do contexto original" da manifestação e que têm "segundas intenções".
Jovens que se dispersaram em pequenos grupos após os tiros depositaram o corpo da vítima no palácio presidencial haitiano, enquanto outros grupos recorriam à violência nas ruas, atirando pedras contra carros estacionados nos arredores.
Nas últimas duas semanas, estudantes também se manifestam em Porto Príncipe para exigir aumento do salário mínimo no Haiti. Um veículo com inscrições da ONU foi incendiado nesta quarta-feira por manifestantes que reclamam a saída das forças internacionais.
Missão contestada
Um dos países mais pobres do mundo, o Haiti tem sua segurança garantida por tropas estrangeiras lideradas pelo Brasil que foram enviadas ao país em 2004, após o caos que se seguiu à deposição do presidente Jean Bertrand Aristide. A missão foi criada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 30 de abril de 2004, por meio da resolução 1542.
Os seguidores de Aristide são contrários à presença da força da ONU.
Nesta quarta-feira, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado brasileiro, o haitiano Frantz Dupuche, membro da Papda (Plataforma Haitiana em Defesa de um Desenvolvimento Alternativo), disse que a atuação da missão de paz é "um fracasso".
Dupuche afirmou que uma delegação de trabalhadores haitianos, da qual faz parte, chegou ao Brasil nesta terça-feira (16) para denunciar excessos perpetrados pelos soldados das tropas da ONU. Ele disse que a violência civil não diminuiu após a intervenção das tropas,
O Brasil tem 1.200 soldados dos 7.000 da Minustah. Segundo o Ministério da Defesa do Brasil, o país gastou cerca de R$ 577 milhões durante os quatro anos de atuação no Haiti.
Com France Presse e Associated Press
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mund ... 3257.shtml