A INDÚSTRIA SUECA DE CAÇAS - MINHA VISÃO
Após passar incólume por duas guerras mundiais, a indústria aeronáutica da Suécia, no que tange a CAÇAS, era quase uma nulidade, tendo produzido poucos e apenas razoáveis caças. Mas o fim da 2GM mostrou aos Suecos que a guerra agora se decidia no ar e que não se podia contar apenas com material importado - o que sentiram na pele ao se verem episodicamente embargados pelos EUA em uma encomenda de Mustangs - e sim com meios de fabricação própria. E a Guerra Fria começava...
A retórica Sueca de neutralidade não era muito mais do que isso, ao menos em termos militares. O material militar que compravam era Ocidental. Aliás, a tale de neutralidade foi rompida na Guerra de Inverno, quando Russos e Finlandeses se pegaram, tendo a Suécia apoiado política e militarmente a Finlândia, com aeronaves e uma força expedicionária.
Mas o fato era que os Suecos agora viam muita gente de cara feia uns para os outros e por cima de suas fronteiras. Se o terceiro grande conflito viesse, dessa vez a neutralidade não seria tão fácil. Então partiram para seus próprios jatos, que seriam a garantia de controle de seus céus e de interdição de seu território às forças terrestres inimigas (claramente soviéticas. Basta ver que o que os Suecos não fabricavam - como turbinas e depois mísseis ar-ar - vinham inicialmente da Inglaterra e depois dos EUA, arquiinimigos da URSS).
Com um inimigo (não-declarado, claro) tão poderoso ao lado, a Suécia representava um mercado tão grande para caças que podiam se dar ao luxo de fabricarem apenas para sua própria Flygvapnet, claramente especificados apenas por e para ela. Isso também ajudava sua imagem internacional de País não-alinhado e pacifista. É só ver, exportaram poucos caças e apenas para a vizinhança, Finlândia, Noruega e Áustria, que eu me lembre.
Então, usando ainda o VIGGEN (que a Suécia não exportou, mantendo-o exclusivamente para si), imaginaram um caça menor, mais ágil e capaz de cumprir todas as missões (de Guerra Fria) das diferentes versões do '37 (e do Draken, que ainda voava) por um custo menor e desempenho muito superior. E foi aí que desandou...
Pois enquanto os Suecos ignoravam olimpicamente o mercado mundial de caças, ianques, soviéticos (depois Russos), Franceses, Ingleses e quem mais conseguisse produzir um jato de combate se engalfinhavam por encomendas e clientes fiéis. A Suécia pouco ligava, a Guerra Fria lhe permitia consumir sozinha toda a sua produção, sendo as poucas exportações praticamente incidentais. Em 1982 era feita a primeira encomenda para 30 caças JAS39, repito, desenhados especificamente para cumprir os requisitos da Flygvapnet. Problemas de aviônicos, fly-by-wire (FCS) e software retardaram consideravelmente o programa. Em pleno desenvolvimento de seu novo avião para a Guerra Fria esta
acabou, com a queda da URSS e a simbólica derrubada do Muro de Berlim. Os Suecos parecem ter simplesmente ignorado a mudança no cenário internacional e mantiveram intactas as especificações de seu novo caça. Ademais, com o fim da Guerra Fria, começavam a aparecer no mercado quantidades cada vez maiores de jatos de segunda mão ainda em ótimo estado e florescia uma indústria de updates/upgrades para eles. Passamos por isso com o AMX...
E o problema era mesmo grande. De um lado os Suecos tinham um caça estupendo para as
suas necessidades mas pouco atraente para a maioria dos operadores estrangeiros (não tinha sequer capacidade REVO), acostumados às características de aeronaves como F-16 ou Mirage 2000 e isso era agravado por sua falta de tradição nos mercados mundiais. Mesmo seus vizinhos, como Dinamarca e Noruega, haviam se voltado para o F-16, enquanto a Finlândia substituia seus Drakens por F/A-18...
Partiram então para melhorar/'mundializar' o caça, dando-lhe capacidades como REVO, e passando a chamá-lo de Gripen C/D. A Flygvapnet o adquiriu (ao custo de 'encostar' os 'A/B') e saiu à cata de encomendas num mercado já praticamente saturado de concorrentes com fortíssima tradição entre os operadores. O sucesso - se assim podemos chamar - parece bastante modesto, 26 unidades vendidas à África do Sul e 12 à Tailândia - aparentemente reduzidas à metade por problemas orçamentários. Outros 28 parecem ter sido arrendados (leasing) à Hungria e República Tcheca (14 para cada um).
Então veio essa idéia de radicalizar, oferecendo um caça realmente de padrão mundial, com bom alcance e capacidades ainda melhores, mantendo baixos os custos de operação/manutenção, o chamado Gripen NG. Problemas:

A falta de tradição no mercado mundial continuava e continua.

Não têm sequer um protótipo para mostrar, apenas um demonstrador de sistemas derivado de um Gripen B.

Com a Grande Crise, encolheram os orçamentos militares, inclusive
O DA PRÓPRIA SUÉCIA! Se tornou inviável 'encostar' também os C/D para encomendar um número consistente de NG. Ademais, as necessidades de caças da Flygvapnet nunca foram tão modestas como agora, ao menos desde o entreguerras...

Há um dura concorrência de caças já desenvolvidos mas com muito tempo de vida (e espaço para desenvolvimentos futuros) pela frente, como o RAFALE e o TYPHOON, para ficar apenas na Europa. Sem contar a ameaça do F-35 no horizonte...

O Gripen NG, por mais que a SAAB diga o contrário, será necessariamente um
NOVO CAÇA! Isso é indiscutível! Podiam até trocar o nome. Uma turbina maior exige grandes mudanças na fuselagem que, conjugada a asas diferentes, novas entradas de ar e maior quantidade de combustível interno, exige grandes ensaios estruturais e aerodinâmicos. E novos softwares, fly-by-wire (FCS), possivelmente novos canards e principalmente, pelas modificações aerodinâmicas, novos ensaios para TODOS os armamentos e pods empregados.
É OUTRO CAÇA!
Agora, a pergunta do milhão:
E NÓS COM ISSO?
Bueno, a meu ver há duas formas de apreciar esta questão:

36 encomendas firmes (mesmo com possíveis opções para chegar a mais de cem) não deslancham programa algum. Há mesmo dúvidas se chegaríamos a comprar tudo isso. Há também dúvidas sobre nossa capacidade de participar como sócios plenos no desenvolvimento do NOVO CAÇA e de seus aviônicos. Há apreensão sobre a turbina Norteamericana. Há apreensão até sobre a saúde financeira da SAAB nestes tempos. Mas há sobretudo apreensão sobre repetirmos a saga do AMX...

Por outro lado, seria uma chance inédita: participar do desenvolvimento de um caça de última geração (4G). Os chamados 5G estão todos envoltos em dúvidas, o Raptor até hoje não está operacional; o F-35 é uma incógnita e parece ter custo altíssimo, seja de aquisição, seja de operação, seja de manutenção (problemas que o Raptor também apresenta); o PAK-FA, após apoteótico lançamento, simplesmente sumiu das manchetes; o misterioso 5G Chinês não se sabe em que vai dar. E por aí vai.
Mas isso - o mico de ajudar a fazer um caça que apenas nós (ao menos num primeiro momento) vamos usar - poderia ter suas vantagens, que sequer vou enumerar de tantas vezes que foi dito aqui. Limito-me a dizer que seria necessário dar SUSTENTABILIDADE ao programa, garantindo uma grande encomenda - três ou quatro vezes o número normalmente citado, 36 - firme (além de pelo menos igual número de opções) e investir pesado na nossa capacidade de desenvolver/produzir sob licença o que não é Sueco no avião. Turbina, radar, FBW, ECM, ECCM, etc.
Estaríamos num bom caminho. Eu seria NG-BR desde criancinha num cenário desses!
Pena que o cenário aqui é e sempre foi o de canhões x manteiga (na mídia e discursos políticos) e do desprezo pelo desenvolvimento tecnológico (governo e empresários). E aí complica.
Querem minha opinião? Vamos de prateleira de novo!
É o que penso.
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