Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Enviado: Qui Ago 06, 2015 11:50 am
G1
COLUNISTAS
Quinta-feira, 06/08/2015, às 07:31, por Helio Gurovitz
O Congresso não pode agir contra o país
pec aguA ruptura do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com o governo começou ontem a ter as consequências previsíveis. Ao aprovar novas regras salariais para várias carreiras do Judiciário, a Câmara desferiu o primeiro de uma série de tiros preparados contra o governo, na série de projetos que vem sendo chamada de “pauta-bomba”. É possível discutir o mérito de cada um deles individualmente. No conjunto, eles têm dois efeitos, um político e outro econômico.
Politicamente, o objetivo de Cunha é enfraquecer o governo e conduzir a presidente Dilma Rousseff a uma situação insustentável que culmine no impeachment. Muita gente ficou animada ontem com o afastamento de dois partidos da base parlamentar do governo, PDT e PTB. A votação na Câmara é pior até que o sentimento da sociedade diante da presidente DIlma. Foram 445 votos a favor, 16 contra e 6 abstenções (aproximadamente 95% versus 5%, levando em conta só os presentes, como na foto). De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada hoje, Dilma tem 8% de aprovação na população. É o pior índice da série histórica apurada pelo instituto, superando até a impopularidade de Fernando Collor às vésperas do impeachment.
Antes da derrota, o governo esboçara uma tentativa de reconciliação com os parlamentares. Tanto o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, quanto o vice-presidente e articulador político, Michel Temer, fizeram gestos para tentar acalmar o quadro. Nenhum deles teve o resultado esperado. Cunha demonstrou ontem que sua força na Câmara permanece intocada, apesar de ele ser alvo de acusações na Operação Lava Jato.
Ao longo do primeiro semestre, a força de Cunha levou à discussão e à votação de vários projetos de interesse do país. Entraram na pauta novas regras para a terceirização, a regulamentação da emenda que ampliou os direitos das empregadas domésticas, o contingenciamento do orçamento, mudanças no fator previdenciário, novas regras para aposentadorias e pensões e alguns itens da reforma política. Pode-se concordar ou discordar do resultado das votações. Mas não há o que debater quanto a seu conteúdo. São temas fundamentais.
Agora, porém, a agenda de Cunha é outra. Não parece haver preocupação alguma com o efeito dos projetos aprovados na nossa dramática situacão econômica. Só a votação de ontem terá um impacto negativo de R$ 2,5 bilhões nas contas públicas. A remuneração no Judiciário brasileiro é uma das mais escandalosas no funcionalismo público, como revelou uma reportagem publicada há dois meses na revista Época . Usar salários de promotores e juízes como base para as demais carreiras significa sacramentar uma casta de privilegiados que viverá à custa dos nossos impostos, num momento em que tudo o que o país precisa é cortar gastos públicos.
O agravamento da situação política no Congresso Nacional permite prever novas derrotas para o governo. Vêm aí votações sobre a correção do FGTS, o fim do fator previdenciário e a derrubada do veto ao reajuste das aposentadorias pelo salário mínimo. Estamos falando de uma conta que facilmente poderá atingir dezenas de bilhões, num momento em que o governo conta centavos para cumprir sua meta de superávit, já reajustada para baixo, hoje em míseros R$ 8,7 bilhões.
O afã de infligir derrotas ao governo não pode se transformar em desvario irresponsável. O dever do Congresso Nacional, num momento grave como este, é dar andamento aos grandes projetos que podem recolocar nossa economia nos trilhos. Cadê a reforma trabalhista, e o fim da CLT? Por que, em vez de acabar com o fator previdenciário, não se faz uma reforma na previdência baseada em contas individuais, capazes de eliminar o descompasso entre o que se arrecada e o que se paga em pensões e aposentadorias? Que tal acabar com nosso caos tributário e com a burocracia que inferniza qualquer um que queira trabalhar e produzir no Brasil? Essa sim seria uma verdadeira "pauta-bomba". Mudaria a percepção do mercado e contribuiria para resgatar nossa economia combalida. É absurdo que o objetivo de Cunha seja agora uma pauta apenas para ajudar a derrubar Dilma. Ele faria bem em lembrar que, mesmo que ela caia, alguém terá de governar o país depois.
FACEBOOK
TWITTER
GOOGLE+
43
Quarta-feira, 05/08/2015, às 07:44, por Helio Gurovitz
Trump é o alvo no primeiro debate
Pré-candidatos do Partido Republicano à presidência dos EUA posam para foto em encontro em New Hampshire nesta segunda-feira (3)
Começa amanhã em Cleveland, no estado de Ohio, a corrida eleitoral dos Estados Unidos. A seis meses das convenções partidárias de Iowa, a Fox News promove o primeiro debate entre 10 dos 17 pré-candidatos republicanos. Os olhos estarão voltados para aquele que não está na foto acima e será sem dúvida o alvo de todos os demais: Donald Trump. Ele mantém a liderança na média de todas as pesquisas calculada pelo site RealClearPolitics, com 23,2% .
Nas últimas duas semanas, Trump consolidou essa liderança entre os eleitores que se dizem republicanos, mesmo depois de suas declarações preconceituosas a respeito dos imigrantes mexicanos e da participação do ex-candidato e senador John McCain na Guerra do Vietnã. A contragosto, os analistas têm sido forçados a levá-lo a sério. Duas perguntas se impõem. Primeiro, por que o eleitor republicano se encantou com Trump? Segundo, até onde ele será capaz de ir?
A resposta à primeira pergunta revela como o eleitorado nem sempre segue a lógica que se espera dele. Três motivos são apontados como responsáveis por sua alta nas pesquisas, escreve o colunista James Surowiecki na revista New Yorker desta semana:
1) A retórica desbocada e nacionalista. Seu discurso inflamado e preconceituoso fez eco numa parcela do eleitorado que se sente ameaçada pelos imigrantes e não vê os demais candidatos enfrentar a questão de modo direto;
2)Sua riqueza. O próprio Trump estimou sua fortuna em US$ 10 bilhões para as autoridades eleitorais – uma estimativa absurdamente inflada. Apesar de ter nascido rico e de ter contado com a ajuda do governo para fazer sua riqueza crescer, ele é visto como um exemplo de empresário que fez sucesso graças ao trabalho;
3) Essa mesma fortuna garante que ele não precisa de doadores para fazer sua campanha. Para o eleitor, funciona como garantia de que ele não se curvará às pressões como os demais candidatos.
Trump é hoje o candidato mais procurado no Google em quase todos os distritos eleitorais americanos . Cresceu em todos os estratos econômicos e classes sociais que costumam votar nos republicanos, segundo análise de John Cassidy. Mas ninguém considera esse desempenho sustentável. É comum, a esta altura do calendário eleitoral, que a liderança seja assumida por candidatos que depois cedem a dianteira a adversários. Em agosto de 2007, ano anterior à eleição de Obama, o republicano McCain era o terceiro colocado nas pesquisas para as primárias republicanas, mas acabou escolhido candidato. O líder na época era o ex-prefeito de Nova York, Rudolf Giuliani, que depois teve de abandonar a disputa. Antes das primárias de 2012, despontaram os nomes do governador do Texas, Rick Perry, da deputada Michelle Bachman e do empresário Herman Cain – mas quem ganhou foi Mitt Romney.
No blog The Upshot, Nate Cohn prevê três possíveis cenários para a candidatura Trump . No primeiro, ela apenas implode após alguma gafe ou declaração desastrada no debate. No segundo, ele começará a ser atacado na imprensa, vários escândalos de seu passado virão à tona e decepcionarão o eleitor que hoje tem dele uma imagem ilusória. No terceiro, ele mantém a liderança, segue adiante nas primárias – mas é incapaz de conquistar a maioria dos eleitores, já que também é o candidato com maior rejeição entre os republicanos, como Nate Silver descreveu no site Five Thirty Eight.
Como já escrevi, Trump é um mentiroso contumaz, grosseiro, preconceituoso (até racista), tem um ego descontrolado e uma relação turbulenta com a imprensa. Volta e meia se envolve em brigas com jornalistas que contestam suas mentiras, como Tim O’Brian ou Mark Singer. Mas precisa estar no noticiário para manter sua marca em alta. Sabe usar a imprensa como ninguém para favorecer seus negócios, enquanto a imprensa tem uma enorme dificuldade de lidar com suas bravatas e não sabe direito como tratr sua candidatura.
O fenômeno Trump é mais importante por traduzir o divórcio entre o establishment político (incluindo aí a imprensa) e a sociedade americana. Em sua coluna no New York Times, David Brooks afirma que apenas três em dez americanos se dizem representados em Washington. É um clima propício, diz Brooks, para outsiders e populistas que consigam se conectar com esse eleitor alienado. No discurso de Trump, o problema não é que as elites políticas sejam corruptas, mas sim incompetentes. “O problema é que não temos uma classe de liderança tão inteligente, competente, durona e bem-sucedida quanto Donald Trump”, escreve Brooks. É um discurso que, com certeza, também teria tudo para dar certo também no Brasil.
FACEBOOK
TWITTER
GOOGLE+
4
Terça-feira, 04/08/2015, às 07:05, por Helio Gurovitz
A reação do PT dá força às acusações
DirceuA reação do Partido dos Trabalhadores (PT) ontem à prisão de José Dirceu repete um padrão: negar as acusações e posar de vítima. Primeiro, o deputado Sibá Machado, líder do partido na Câmara, criticou a “perseguição” ao PT. Depois, a direção nacional do partido divulgou uma nota que pode ser classificada naquela categoria criada pelo então diretor de redação do Washington Post, Ben Bradlee, para qualificar manifestações do governo diante das denúncias do caso Watergate. É uma “non-denial denial”, uma negativa que não nega nada.
O PT afirma apenas que todas as doações ao partido foram feitas legalmente e estão registradas na Justiça Eleitoral. A questão não é obviamente para onde o dinheiro foi, mas de onde ele veio. Era dinheiro sujo de propinas do petrolão. Sobre isso, o partido nada diz. Se houve mudança, foi na discrição com que alguns “companheiros” reagiram à prisão de Dirceu. Não houve punhos para o alto, "desagravos" ou uma conclamação à militância, com em outros momentos. Mesmo assim, entre os petistas ainda vigora o sentimento de perseguição.
Quem tem mais a perder com isso é o próprio PT. As provas contra DIrceu estão aí, diante de todos. Sua consultoria recebeu dinheiro de fornecedores da Petrobras. Quatro delatores confessaram que era propina, contrapartida por contratos na empresa, intermediadas pelo ex-diretor Renato Duque, indicado por Dirceu. Duque agora negocia colaborar com a Justiça e certamente terá mais histórias para contar. Se o caso do mensalão, embora evidente, dava margem para os advogados de Dirceu exercerem um alto grau de criatividade nas interpretações, o petrolão traz provas bem mais robustas e consistentes contra ele. Simplesmente, não há como refutá-las. Daí a tentativa do advogado Roberto Podval, ontem, de transformá-lo em vítima, ao falar – que novidade... – em "julgamento político” e "bode expiatório".
O PT não é o único partido atingido pelo petrolão. Políticos do PMDB, PP e de vários outros partidos também estão na mira da Justiça. O argumento da perseguição ao PT carece, portanto, de qualquer sentido. O que a política exige do partido, e não é de agora, é uma condenação clara aos corruptos e a expulsão deles. Não basta a presidente Dilma vir a público dizer que “não compactua com malfeitos”. Seria preciso já ter expulsado os condenados do mensalão, expulsar os do petrolão, emitir notas claras de repúdio veemente, com o nome de todos. Agora, nem sal grosso será capaz de desvincular o PT do escândalo. Em vez disso, a cada nova prisão de petistas, somos apresentados a mais uma “non-denial denial”.
Posar de vítima pode fazer sentido num cenário em que toda sujeira vai para baixo do tapete. Diante do funcionamento exemplar da Justiça brasileira no petrolão, não faz nenhum. Por que o PT faz isso? Só há duas explicações logicamente razoáveis. A primeira é dada pela militância anti-petista: todo o partido se transformou em uma “quadrilha de corruptos” e funciona à base de uma “omertà” mafiosa, que transforma os presos em “heróis da causa”. A segunda explicação é a absoluta incompetência para entender as novas condições políticas do país, criadas pelo mensalão e pelo petrolão. Dependendo da preferência política do interlocutor, será possível achar plausível qualquer uma das duas explicações. A esta altura, pouco importa. Em qualquer caso, o futuro do PT está a cada dia mais evidente. O partido diminuirá de tamanho nas urnas – isso já aconteceu na última eleição e, segundo as pesquisas de opinião, se repetirá na próxima. Perderá poder e influência. Será uma sombra do que já foi. José Dirceu estava certo ao afirmar que “a Lava Jato será a pá de cal no PT”.
FACEBOOK
TWITTER
GOOGLE+
66
Segunda-feira, 03/08/2015, às 05:43, por Helio Gurovitz
As diferenças entre Cunha e Renan
Eduardo Cunha (esq.) e Renan Calheiros concedem entrevista coletiva na Câmara
Os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros (foto), são responsáveis pelo período inédito de produtividade que o Congresso Nacional viveu no primeiro semestre. Claro que não foi por dever cívico que Renan e Cunha puseram Câmara e Senado para trabalhar como nunca. Foi para atrapalhar a vida do PT e da presidente Dilma Rousseff, de quem se tornaram adversários políticos.
Os motivos para o afastamento deles do governo são conhecidos de todos. Cunha enfrentou e venceu Dilma e o PT na eleição para a presidência da Câmara no início do ano. Renan foi preterido na montagem do ministério e na articulação política do governo do segundo mandato. Para complicar, os dois passaram a ser investigados na Operação Lava Jato, com autorização do Supremo Tribunal Federal.
Cunha rompeu oficialmente com o governo após a revelação do depoimento em que ele é acusado de ter recebido US$ 5 milhões de propina. Renan, também acusado de receber propina, tem adotado um tom menos belicoso desde que foi derrotado em sua tentativa e barrar a indicação do jurista Luiz Fachin para o Supremo Tribunal Federal. Aliados em seus objetivos ao longo do primeiro semestre, suas posições no tabuleiro e seus interesses começam se afastar. Importante levar em conta que os dois são animais políticos bastante diferentes. Têm origens diferentes, histórias diferentes, estilos diferentes e, sobretudo, ambições diferentes. No segundo semestre, é provável que essas diferenças se tornem mais importantes para os desdobramentos políticos do que foram no primeiro.
Cunha surgiu na política carioca como aliado do governador Anthony Garotinho, com quem depois rompeu. Agressivo, sempre foi extremamente dedicado e minucioso ao lidar com sua agenda, hoje de matriz conservadora e orientação evangélica. Galgou degraus graças a uma capacidade de ler o terreno político e de combater os adversários por todos os meios, com muita energia e nenhum pudor. Não é à toa que é conhecido por apelidos como “meu malvado favorito” ou “Voldemort”. Embora seja extremamente eficiente nos bastidores, Cunha não tem nada de discreto. Qualquer um que conversa com ele sabe que está diante de um ego inflado, de alguém que um dia quer governar o país.
Renan é quase o oposto disso. Tem uma fala suave e um jeito naturalmente mais conciliador que combativo. Comedido, Renan prefere a política dos gabinetes e conchavos ao enfrentamento diante das câmaras de TV. É um representante da linhagem de caciques regionais, mais preocupados em manter seus feudos intactos e “levar a rapadura para casa” do que com os holofotes. Renan é, acima de tudo, um sobrevivente. Desde que seu nome apareceu na cena nacional, no governo Fernando Collor, ele já foi atingido por repetidos escândalos e denúncias. Conseguiu resistir a tudo sem perder a pose. Na certa, vê o petrolão apenas como mais uma bala da qual precisa se desviar.
Para o PT e para Dilma, é mais fácil lidar com alguém como Renan. Seus acenos durante o recesso parlamentar podem abrir o caminho para um cenário menos conflituoso no Senado, diante da pauta-bomba que o governo terá de enfrentar agora para levar adiante seu ajuste fiscal. Renan adoraria sair da história como o responsável pelo bom-senso e pelo resgate da sensatez econômica num momento de crise. E saberá cobrar seu preço para isso.
Cunha é o rival mais complicado para o governo. Todos os seus atos – o último deles, a criação da CPI do BNDES – não deixam dúvidas de que seu objetivo, velado ou não, é o impeachment de Dilma. No primeiro semestre, seu interesse político serviu para desatravancar uma agenda de vários projetos importantes para o país, goste-se ou não do resultado. Agora, esse interesse será atravancar a vida do governo. Isso poderá ter consequências nefastas, caso implique um retrocesso na agenda fiscal essencial para o Brasil resgatar um mínimo de credibilidade no mercado.
Ao mesmo tempo, Cunha está, até o momento, mais vulnerável que Renan nas investigações da Lava Jato. Deputados de seu próprio partido consideram que ele não deve permanecer no cargo, caso venha a se tornar réu – e é difícil que isso não aconteça. Seu jeito agressivo gera resistências. A reação contrária vem na mesma medida. Um operador político competente precisa saber a hora de se recolher. No caso de Cunha, pode ter passado da hora. A esta altura, a não ser que haja um supresa imprevista, é difícil que ele passe incólume aos desdobramentos da Lava Jato.
FACEBOOK
TWITTER
GOOGLE+
21
Domingo, 02/08/2015, às 08:31, por Helio Gurovitz
Alice no país das maradilmas
Lewis Carroll_literaturaEm minha coluna na revista Época desta semana, escrevi uma fábula baseada numa história que todos conhecem e completa 150 anos em 2015: “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carroll (foto). Em minha fábula, a menina Alice está descansando no parque, aí um estranho coelho branco a atrai para um buraco. Depois de despencar por quilômetros, ela cai num país que cresce a galope. Obras de rodovias, ferrovias, portos, três das maiores hidrelétricas do mundo e a maior obra hídrica da história. É um país que tirou dezenas de milhões de pessoas da miséria, expandiu água, luz e gás e se prepara para um “novo ciclo de desenvolvimento”, nas palavras de sua presidente. Ela busca um segundo mandato e afirma: “Você plantou o que vai colher no segundo mandato – e há mais coisas a plantar”. Adivinhou? Sim, Alice caiu no ano de 2014, em plena campanha eleitoral brasileira. Todas as informações e frases foram extraídas do horário eleitoral do ano passado.
FACEBOOK
TWITTER
GOOGLE+
0
Sábado, 01/08/2015, às 10:11, por Helio Gurovitz
Se ligue nos links (1 de agosto)
Edição desta quinzena da 'New York Magazine' traz na capa fotos de 35 das 46 mulheres que acusam o comediante Bill Costy de estupro1) A reportagem mais impressionante desta semana foi sem dúvida o relato, publicado na revista New York, das 35 mulheres que acusaram o comediante Bill Cosby de estuprá-las. As acusações datam dos anos 1960. O texto detecta a mudança nos valores da sociedade americana, hoje incapaz de desprezar ou dissimular tais denúncias, como no passado. O jornal britânico The Guardian preparou um guia sobre como reagir quando alguém relata ter sido vítima de estupro ou abuso sexual.
2) O blogueiro conservador Ross Douthat publicou um texto em que lamenta a falta de indignação da sociedade diante das imagens chocantes de fetos abortados que vieram à tona recentemente. Católico, Douthat sempre foi contrário ao direito ao aborto. Mesmo quem é favorável tem a aprender lendo seus textos, sempre inteligentes e bem argumentados. Pessoas mais sensíveis devem evitar clicar nos vídeos.
3) Do outro lado do espectro de valores, os liberais ficaram chocados com a invasão e furto dos dados do site de traições conjugais Ashley Madison. O New York Times noticiou a reação de Brandon Wade, o criador de outro site do tipo, para “traições éticas”, ou consentidas. No Guardian, Zoe Williams investiga as raízes do comportamento sexual liberal do célebre grupo britânico de Bloomsbury, que reuniu a escritora Virginia Woolf, o economista John Maynard Keynes e artistas como Duncan Grant ou Roger Fry. Chegou à óbvia conclusão de que o comportamento deles só foi possível porque todos eram ricos.
gore vidal4) O universo dos patrícios também está na origem do ambiente politicamente polarizado que vivemos hoje. Um novo documentário conta a história do primeiro dos debates de TV a fazer sucesso com um clima de xingamentos e ofensas ao vivo, em 1968. Os contendores eram dois legítimos representantes da elite americana: à direita, o conservador William Buckley; à esquerda, o liberal Gore Vidal (na foto). O formato fez tanto sucesso que serviu de modelo para redes como a Fox News e inspira até hoje toda sorte de tele-catch verbal nas redes sociais.
5) Se você já cansou de tanta briga inútil e prefere olhar para a frente, vale a pena ler o artigo do pensador conservador e presidente do American Enterprise Institute Arthur Brooks em defesa do otimismo. Ele acredita ser possível superar as diferenças entre as visões de mundo antagônicas e chegar a um consenso produtivo. Infelizmente, há quem discorde. Gente não menos brilhante, como o prêmio Nobel de economia Daniel Kahneman. Na entrevista que deu ao The Guardian, Kahneman afirma que, se pudesse, acabaria com a auto-confiança exagerada que turva as mentes e atrapalha todas as decisões humanas.
Donald Trump fala durante o Family Leadership Summit, em Ames, Iowa, no dia 18 de julho6) Ninguém parece tão auto-confiante quanto Donald Trump, o candidato que lidera as pesquisas de opinião para as primárias do Partido Republicano nos Estados Unidos. O New York Times decidiu investigar o lado mais rude de Trump e revela nele um tipo de grosseria de fazer corar os mais agressivos xingadores das redes sociais. Aparentemente, podemos ficar tranquilos. Suas chances de vencer são ínfimas, segundo afirmam John Cassidy na New Yorker, o estatístico Nate Silver em seu blog FiveThirtyEight e Nate Cohn no blog rival The UpShot.
7) Outro que transborda auto-confiança é o líder oposicionista venezuelano Leopoldo López, preso pela proto-ditadura do presidente Nicolás Maduro. A Foreign Policy publicou um extenso perfil de López em que investiga seu papel controverso no golpe frustrado contra Hugo Chávez em 2002.
8) Quem acompanha o mundo da matemática já ouviu falar em Terry Tao, um dos matemáticos mais brilhantes da sua geração. O perfil de Tao publicado pela revista do New York Times mostra que ele é o oposto de gente como Trump e tantos outros egos extremados. De menino prodígio capaz de resolver problemas dificílimos de matemática ainda criança, ele se tornou um pesquisador que trabalha em rede e participa de colaborações e esforços coletivos em várias áreas da ciência. Sua história desmente tudo aquilo que imaginamos ao pensar no esptereótipo do “geniozinho da matemática”. Seu colega, amigo e também matemático brilhante Jordan Ellenberg publicou um ano atrás no Wall Street Journal um artigo em que demole os estereótipos.
9) Se a colaboração em rede transformou uma ciência tida como solitária, a matemática, que dizer da economia? Na Foreign Policy, o editor David Rothkopf faz uma crítica severa aos métodos usados pelos economistas que conduzem nossas políticas públicas e informam os governos. A abundância de dados sobre todas as atividades econômicas e o uso de computadores para processá-los, diz Rothkopf, destruiu a credibilidade desses “macrossauros”.
10) Uma das ferramentas mais úteis para a análise de grandes quantidades de dados é a linguagem R, criada por estatísticos. O site Priceonomics publicou um perfil de uma celebridade entre os nerds, Hadley Wickham, o homem que desenvolveu a maioria dos recursos mais populares usados pelos programadores de R. O jornalista Simon Owens recentemente decidiu se dedicar ao trabalho de transformar montanhas de dados em narrativas atraentes. Ele deu algumas dicas a respeito no Medium.
11) O site The Verge finalmente publicou o artigo que faltava sobre o uso da internet em celulares e dispositivos móveis.Trata-se da modalidade que mais cresce no mundo todo. É também a pior, do ponto de vista da experiência do consumidor. O artigo ataca a proliferação de apps e defende o desenvolvimento de padrões abertos mais eficientes, a exemplos daqueles que tornaram a web tão popular.
Poluição na Baía de Guanabara12) Várias provas do Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro serão realizadas numa baía da Guanabara poluída. Um dos principais legados dos jogos para a cidade já foi para o vinagre. O que acontecerá com os demais, previstos para áreas como transporte e revitalização de regiões decadentes? O que outras sedes olímpicas podem ensinar ao Rio? Uma reportagem no Guardian patrocinada pela Fundação Rockefeller discute o legado da Olimpíada de Londres para a cidade. Lá a situação parece ter sido conduzida de modo mais competente, mesmo assim longe do ideal. Muitos londrinos ficaram frustrados com o que restou da Olimpíada.
13) Visto do alto, porém, tudo parece belo. Uma compilação de fotos de satélite no Instagram, publicada pelo britânico Daily Mail revela algumas das mais impressionantes obras humanas. Mais uma razão para o filósofo Allain de Botton, em seu site The Book of Life, julgar um erro dizer: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”.
FACEBOOK
TWITTER
GOOGLE+
2
de 14
COLUNISTAS
Quinta-feira, 06/08/2015, às 07:31, por Helio Gurovitz
O Congresso não pode agir contra o país
pec aguA ruptura do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com o governo começou ontem a ter as consequências previsíveis. Ao aprovar novas regras salariais para várias carreiras do Judiciário, a Câmara desferiu o primeiro de uma série de tiros preparados contra o governo, na série de projetos que vem sendo chamada de “pauta-bomba”. É possível discutir o mérito de cada um deles individualmente. No conjunto, eles têm dois efeitos, um político e outro econômico.
Politicamente, o objetivo de Cunha é enfraquecer o governo e conduzir a presidente Dilma Rousseff a uma situação insustentável que culmine no impeachment. Muita gente ficou animada ontem com o afastamento de dois partidos da base parlamentar do governo, PDT e PTB. A votação na Câmara é pior até que o sentimento da sociedade diante da presidente DIlma. Foram 445 votos a favor, 16 contra e 6 abstenções (aproximadamente 95% versus 5%, levando em conta só os presentes, como na foto). De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada hoje, Dilma tem 8% de aprovação na população. É o pior índice da série histórica apurada pelo instituto, superando até a impopularidade de Fernando Collor às vésperas do impeachment.
Antes da derrota, o governo esboçara uma tentativa de reconciliação com os parlamentares. Tanto o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, quanto o vice-presidente e articulador político, Michel Temer, fizeram gestos para tentar acalmar o quadro. Nenhum deles teve o resultado esperado. Cunha demonstrou ontem que sua força na Câmara permanece intocada, apesar de ele ser alvo de acusações na Operação Lava Jato.
Ao longo do primeiro semestre, a força de Cunha levou à discussão e à votação de vários projetos de interesse do país. Entraram na pauta novas regras para a terceirização, a regulamentação da emenda que ampliou os direitos das empregadas domésticas, o contingenciamento do orçamento, mudanças no fator previdenciário, novas regras para aposentadorias e pensões e alguns itens da reforma política. Pode-se concordar ou discordar do resultado das votações. Mas não há o que debater quanto a seu conteúdo. São temas fundamentais.
Agora, porém, a agenda de Cunha é outra. Não parece haver preocupação alguma com o efeito dos projetos aprovados na nossa dramática situacão econômica. Só a votação de ontem terá um impacto negativo de R$ 2,5 bilhões nas contas públicas. A remuneração no Judiciário brasileiro é uma das mais escandalosas no funcionalismo público, como revelou uma reportagem publicada há dois meses na revista Época . Usar salários de promotores e juízes como base para as demais carreiras significa sacramentar uma casta de privilegiados que viverá à custa dos nossos impostos, num momento em que tudo o que o país precisa é cortar gastos públicos.
O agravamento da situação política no Congresso Nacional permite prever novas derrotas para o governo. Vêm aí votações sobre a correção do FGTS, o fim do fator previdenciário e a derrubada do veto ao reajuste das aposentadorias pelo salário mínimo. Estamos falando de uma conta que facilmente poderá atingir dezenas de bilhões, num momento em que o governo conta centavos para cumprir sua meta de superávit, já reajustada para baixo, hoje em míseros R$ 8,7 bilhões.
O afã de infligir derrotas ao governo não pode se transformar em desvario irresponsável. O dever do Congresso Nacional, num momento grave como este, é dar andamento aos grandes projetos que podem recolocar nossa economia nos trilhos. Cadê a reforma trabalhista, e o fim da CLT? Por que, em vez de acabar com o fator previdenciário, não se faz uma reforma na previdência baseada em contas individuais, capazes de eliminar o descompasso entre o que se arrecada e o que se paga em pensões e aposentadorias? Que tal acabar com nosso caos tributário e com a burocracia que inferniza qualquer um que queira trabalhar e produzir no Brasil? Essa sim seria uma verdadeira "pauta-bomba". Mudaria a percepção do mercado e contribuiria para resgatar nossa economia combalida. É absurdo que o objetivo de Cunha seja agora uma pauta apenas para ajudar a derrubar Dilma. Ele faria bem em lembrar que, mesmo que ela caia, alguém terá de governar o país depois.
GOOGLE+
43
Quarta-feira, 05/08/2015, às 07:44, por Helio Gurovitz
Trump é o alvo no primeiro debate
Pré-candidatos do Partido Republicano à presidência dos EUA posam para foto em encontro em New Hampshire nesta segunda-feira (3)
Começa amanhã em Cleveland, no estado de Ohio, a corrida eleitoral dos Estados Unidos. A seis meses das convenções partidárias de Iowa, a Fox News promove o primeiro debate entre 10 dos 17 pré-candidatos republicanos. Os olhos estarão voltados para aquele que não está na foto acima e será sem dúvida o alvo de todos os demais: Donald Trump. Ele mantém a liderança na média de todas as pesquisas calculada pelo site RealClearPolitics, com 23,2% .
Nas últimas duas semanas, Trump consolidou essa liderança entre os eleitores que se dizem republicanos, mesmo depois de suas declarações preconceituosas a respeito dos imigrantes mexicanos e da participação do ex-candidato e senador John McCain na Guerra do Vietnã. A contragosto, os analistas têm sido forçados a levá-lo a sério. Duas perguntas se impõem. Primeiro, por que o eleitor republicano se encantou com Trump? Segundo, até onde ele será capaz de ir?
A resposta à primeira pergunta revela como o eleitorado nem sempre segue a lógica que se espera dele. Três motivos são apontados como responsáveis por sua alta nas pesquisas, escreve o colunista James Surowiecki na revista New Yorker desta semana:
1) A retórica desbocada e nacionalista. Seu discurso inflamado e preconceituoso fez eco numa parcela do eleitorado que se sente ameaçada pelos imigrantes e não vê os demais candidatos enfrentar a questão de modo direto;
2)Sua riqueza. O próprio Trump estimou sua fortuna em US$ 10 bilhões para as autoridades eleitorais – uma estimativa absurdamente inflada. Apesar de ter nascido rico e de ter contado com a ajuda do governo para fazer sua riqueza crescer, ele é visto como um exemplo de empresário que fez sucesso graças ao trabalho;
3) Essa mesma fortuna garante que ele não precisa de doadores para fazer sua campanha. Para o eleitor, funciona como garantia de que ele não se curvará às pressões como os demais candidatos.
Trump é hoje o candidato mais procurado no Google em quase todos os distritos eleitorais americanos . Cresceu em todos os estratos econômicos e classes sociais que costumam votar nos republicanos, segundo análise de John Cassidy. Mas ninguém considera esse desempenho sustentável. É comum, a esta altura do calendário eleitoral, que a liderança seja assumida por candidatos que depois cedem a dianteira a adversários. Em agosto de 2007, ano anterior à eleição de Obama, o republicano McCain era o terceiro colocado nas pesquisas para as primárias republicanas, mas acabou escolhido candidato. O líder na época era o ex-prefeito de Nova York, Rudolf Giuliani, que depois teve de abandonar a disputa. Antes das primárias de 2012, despontaram os nomes do governador do Texas, Rick Perry, da deputada Michelle Bachman e do empresário Herman Cain – mas quem ganhou foi Mitt Romney.
No blog The Upshot, Nate Cohn prevê três possíveis cenários para a candidatura Trump . No primeiro, ela apenas implode após alguma gafe ou declaração desastrada no debate. No segundo, ele começará a ser atacado na imprensa, vários escândalos de seu passado virão à tona e decepcionarão o eleitor que hoje tem dele uma imagem ilusória. No terceiro, ele mantém a liderança, segue adiante nas primárias – mas é incapaz de conquistar a maioria dos eleitores, já que também é o candidato com maior rejeição entre os republicanos, como Nate Silver descreveu no site Five Thirty Eight.
Como já escrevi, Trump é um mentiroso contumaz, grosseiro, preconceituoso (até racista), tem um ego descontrolado e uma relação turbulenta com a imprensa. Volta e meia se envolve em brigas com jornalistas que contestam suas mentiras, como Tim O’Brian ou Mark Singer. Mas precisa estar no noticiário para manter sua marca em alta. Sabe usar a imprensa como ninguém para favorecer seus negócios, enquanto a imprensa tem uma enorme dificuldade de lidar com suas bravatas e não sabe direito como tratr sua candidatura.
O fenômeno Trump é mais importante por traduzir o divórcio entre o establishment político (incluindo aí a imprensa) e a sociedade americana. Em sua coluna no New York Times, David Brooks afirma que apenas três em dez americanos se dizem representados em Washington. É um clima propício, diz Brooks, para outsiders e populistas que consigam se conectar com esse eleitor alienado. No discurso de Trump, o problema não é que as elites políticas sejam corruptas, mas sim incompetentes. “O problema é que não temos uma classe de liderança tão inteligente, competente, durona e bem-sucedida quanto Donald Trump”, escreve Brooks. É um discurso que, com certeza, também teria tudo para dar certo também no Brasil.
GOOGLE+
4
Terça-feira, 04/08/2015, às 07:05, por Helio Gurovitz
A reação do PT dá força às acusações
DirceuA reação do Partido dos Trabalhadores (PT) ontem à prisão de José Dirceu repete um padrão: negar as acusações e posar de vítima. Primeiro, o deputado Sibá Machado, líder do partido na Câmara, criticou a “perseguição” ao PT. Depois, a direção nacional do partido divulgou uma nota que pode ser classificada naquela categoria criada pelo então diretor de redação do Washington Post, Ben Bradlee, para qualificar manifestações do governo diante das denúncias do caso Watergate. É uma “non-denial denial”, uma negativa que não nega nada.
O PT afirma apenas que todas as doações ao partido foram feitas legalmente e estão registradas na Justiça Eleitoral. A questão não é obviamente para onde o dinheiro foi, mas de onde ele veio. Era dinheiro sujo de propinas do petrolão. Sobre isso, o partido nada diz. Se houve mudança, foi na discrição com que alguns “companheiros” reagiram à prisão de Dirceu. Não houve punhos para o alto, "desagravos" ou uma conclamação à militância, com em outros momentos. Mesmo assim, entre os petistas ainda vigora o sentimento de perseguição.
Quem tem mais a perder com isso é o próprio PT. As provas contra DIrceu estão aí, diante de todos. Sua consultoria recebeu dinheiro de fornecedores da Petrobras. Quatro delatores confessaram que era propina, contrapartida por contratos na empresa, intermediadas pelo ex-diretor Renato Duque, indicado por Dirceu. Duque agora negocia colaborar com a Justiça e certamente terá mais histórias para contar. Se o caso do mensalão, embora evidente, dava margem para os advogados de Dirceu exercerem um alto grau de criatividade nas interpretações, o petrolão traz provas bem mais robustas e consistentes contra ele. Simplesmente, não há como refutá-las. Daí a tentativa do advogado Roberto Podval, ontem, de transformá-lo em vítima, ao falar – que novidade... – em "julgamento político” e "bode expiatório".
O PT não é o único partido atingido pelo petrolão. Políticos do PMDB, PP e de vários outros partidos também estão na mira da Justiça. O argumento da perseguição ao PT carece, portanto, de qualquer sentido. O que a política exige do partido, e não é de agora, é uma condenação clara aos corruptos e a expulsão deles. Não basta a presidente Dilma vir a público dizer que “não compactua com malfeitos”. Seria preciso já ter expulsado os condenados do mensalão, expulsar os do petrolão, emitir notas claras de repúdio veemente, com o nome de todos. Agora, nem sal grosso será capaz de desvincular o PT do escândalo. Em vez disso, a cada nova prisão de petistas, somos apresentados a mais uma “non-denial denial”.
Posar de vítima pode fazer sentido num cenário em que toda sujeira vai para baixo do tapete. Diante do funcionamento exemplar da Justiça brasileira no petrolão, não faz nenhum. Por que o PT faz isso? Só há duas explicações logicamente razoáveis. A primeira é dada pela militância anti-petista: todo o partido se transformou em uma “quadrilha de corruptos” e funciona à base de uma “omertà” mafiosa, que transforma os presos em “heróis da causa”. A segunda explicação é a absoluta incompetência para entender as novas condições políticas do país, criadas pelo mensalão e pelo petrolão. Dependendo da preferência política do interlocutor, será possível achar plausível qualquer uma das duas explicações. A esta altura, pouco importa. Em qualquer caso, o futuro do PT está a cada dia mais evidente. O partido diminuirá de tamanho nas urnas – isso já aconteceu na última eleição e, segundo as pesquisas de opinião, se repetirá na próxima. Perderá poder e influência. Será uma sombra do que já foi. José Dirceu estava certo ao afirmar que “a Lava Jato será a pá de cal no PT”.
GOOGLE+
66
Segunda-feira, 03/08/2015, às 05:43, por Helio Gurovitz
As diferenças entre Cunha e Renan
Eduardo Cunha (esq.) e Renan Calheiros concedem entrevista coletiva na Câmara
Os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros (foto), são responsáveis pelo período inédito de produtividade que o Congresso Nacional viveu no primeiro semestre. Claro que não foi por dever cívico que Renan e Cunha puseram Câmara e Senado para trabalhar como nunca. Foi para atrapalhar a vida do PT e da presidente Dilma Rousseff, de quem se tornaram adversários políticos.
Os motivos para o afastamento deles do governo são conhecidos de todos. Cunha enfrentou e venceu Dilma e o PT na eleição para a presidência da Câmara no início do ano. Renan foi preterido na montagem do ministério e na articulação política do governo do segundo mandato. Para complicar, os dois passaram a ser investigados na Operação Lava Jato, com autorização do Supremo Tribunal Federal.
Cunha rompeu oficialmente com o governo após a revelação do depoimento em que ele é acusado de ter recebido US$ 5 milhões de propina. Renan, também acusado de receber propina, tem adotado um tom menos belicoso desde que foi derrotado em sua tentativa e barrar a indicação do jurista Luiz Fachin para o Supremo Tribunal Federal. Aliados em seus objetivos ao longo do primeiro semestre, suas posições no tabuleiro e seus interesses começam se afastar. Importante levar em conta que os dois são animais políticos bastante diferentes. Têm origens diferentes, histórias diferentes, estilos diferentes e, sobretudo, ambições diferentes. No segundo semestre, é provável que essas diferenças se tornem mais importantes para os desdobramentos políticos do que foram no primeiro.
Cunha surgiu na política carioca como aliado do governador Anthony Garotinho, com quem depois rompeu. Agressivo, sempre foi extremamente dedicado e minucioso ao lidar com sua agenda, hoje de matriz conservadora e orientação evangélica. Galgou degraus graças a uma capacidade de ler o terreno político e de combater os adversários por todos os meios, com muita energia e nenhum pudor. Não é à toa que é conhecido por apelidos como “meu malvado favorito” ou “Voldemort”. Embora seja extremamente eficiente nos bastidores, Cunha não tem nada de discreto. Qualquer um que conversa com ele sabe que está diante de um ego inflado, de alguém que um dia quer governar o país.
Renan é quase o oposto disso. Tem uma fala suave e um jeito naturalmente mais conciliador que combativo. Comedido, Renan prefere a política dos gabinetes e conchavos ao enfrentamento diante das câmaras de TV. É um representante da linhagem de caciques regionais, mais preocupados em manter seus feudos intactos e “levar a rapadura para casa” do que com os holofotes. Renan é, acima de tudo, um sobrevivente. Desde que seu nome apareceu na cena nacional, no governo Fernando Collor, ele já foi atingido por repetidos escândalos e denúncias. Conseguiu resistir a tudo sem perder a pose. Na certa, vê o petrolão apenas como mais uma bala da qual precisa se desviar.
Para o PT e para Dilma, é mais fácil lidar com alguém como Renan. Seus acenos durante o recesso parlamentar podem abrir o caminho para um cenário menos conflituoso no Senado, diante da pauta-bomba que o governo terá de enfrentar agora para levar adiante seu ajuste fiscal. Renan adoraria sair da história como o responsável pelo bom-senso e pelo resgate da sensatez econômica num momento de crise. E saberá cobrar seu preço para isso.
Cunha é o rival mais complicado para o governo. Todos os seus atos – o último deles, a criação da CPI do BNDES – não deixam dúvidas de que seu objetivo, velado ou não, é o impeachment de Dilma. No primeiro semestre, seu interesse político serviu para desatravancar uma agenda de vários projetos importantes para o país, goste-se ou não do resultado. Agora, esse interesse será atravancar a vida do governo. Isso poderá ter consequências nefastas, caso implique um retrocesso na agenda fiscal essencial para o Brasil resgatar um mínimo de credibilidade no mercado.
Ao mesmo tempo, Cunha está, até o momento, mais vulnerável que Renan nas investigações da Lava Jato. Deputados de seu próprio partido consideram que ele não deve permanecer no cargo, caso venha a se tornar réu – e é difícil que isso não aconteça. Seu jeito agressivo gera resistências. A reação contrária vem na mesma medida. Um operador político competente precisa saber a hora de se recolher. No caso de Cunha, pode ter passado da hora. A esta altura, a não ser que haja um supresa imprevista, é difícil que ele passe incólume aos desdobramentos da Lava Jato.
GOOGLE+
21
Domingo, 02/08/2015, às 08:31, por Helio Gurovitz
Alice no país das maradilmas
Lewis Carroll_literaturaEm minha coluna na revista Época desta semana, escrevi uma fábula baseada numa história que todos conhecem e completa 150 anos em 2015: “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carroll (foto). Em minha fábula, a menina Alice está descansando no parque, aí um estranho coelho branco a atrai para um buraco. Depois de despencar por quilômetros, ela cai num país que cresce a galope. Obras de rodovias, ferrovias, portos, três das maiores hidrelétricas do mundo e a maior obra hídrica da história. É um país que tirou dezenas de milhões de pessoas da miséria, expandiu água, luz e gás e se prepara para um “novo ciclo de desenvolvimento”, nas palavras de sua presidente. Ela busca um segundo mandato e afirma: “Você plantou o que vai colher no segundo mandato – e há mais coisas a plantar”. Adivinhou? Sim, Alice caiu no ano de 2014, em plena campanha eleitoral brasileira. Todas as informações e frases foram extraídas do horário eleitoral do ano passado.
GOOGLE+
0
Sábado, 01/08/2015, às 10:11, por Helio Gurovitz
Se ligue nos links (1 de agosto)
Edição desta quinzena da 'New York Magazine' traz na capa fotos de 35 das 46 mulheres que acusam o comediante Bill Costy de estupro1) A reportagem mais impressionante desta semana foi sem dúvida o relato, publicado na revista New York, das 35 mulheres que acusaram o comediante Bill Cosby de estuprá-las. As acusações datam dos anos 1960. O texto detecta a mudança nos valores da sociedade americana, hoje incapaz de desprezar ou dissimular tais denúncias, como no passado. O jornal britânico The Guardian preparou um guia sobre como reagir quando alguém relata ter sido vítima de estupro ou abuso sexual.
2) O blogueiro conservador Ross Douthat publicou um texto em que lamenta a falta de indignação da sociedade diante das imagens chocantes de fetos abortados que vieram à tona recentemente. Católico, Douthat sempre foi contrário ao direito ao aborto. Mesmo quem é favorável tem a aprender lendo seus textos, sempre inteligentes e bem argumentados. Pessoas mais sensíveis devem evitar clicar nos vídeos.
3) Do outro lado do espectro de valores, os liberais ficaram chocados com a invasão e furto dos dados do site de traições conjugais Ashley Madison. O New York Times noticiou a reação de Brandon Wade, o criador de outro site do tipo, para “traições éticas”, ou consentidas. No Guardian, Zoe Williams investiga as raízes do comportamento sexual liberal do célebre grupo britânico de Bloomsbury, que reuniu a escritora Virginia Woolf, o economista John Maynard Keynes e artistas como Duncan Grant ou Roger Fry. Chegou à óbvia conclusão de que o comportamento deles só foi possível porque todos eram ricos.
gore vidal4) O universo dos patrícios também está na origem do ambiente politicamente polarizado que vivemos hoje. Um novo documentário conta a história do primeiro dos debates de TV a fazer sucesso com um clima de xingamentos e ofensas ao vivo, em 1968. Os contendores eram dois legítimos representantes da elite americana: à direita, o conservador William Buckley; à esquerda, o liberal Gore Vidal (na foto). O formato fez tanto sucesso que serviu de modelo para redes como a Fox News e inspira até hoje toda sorte de tele-catch verbal nas redes sociais.
5) Se você já cansou de tanta briga inútil e prefere olhar para a frente, vale a pena ler o artigo do pensador conservador e presidente do American Enterprise Institute Arthur Brooks em defesa do otimismo. Ele acredita ser possível superar as diferenças entre as visões de mundo antagônicas e chegar a um consenso produtivo. Infelizmente, há quem discorde. Gente não menos brilhante, como o prêmio Nobel de economia Daniel Kahneman. Na entrevista que deu ao The Guardian, Kahneman afirma que, se pudesse, acabaria com a auto-confiança exagerada que turva as mentes e atrapalha todas as decisões humanas.
Donald Trump fala durante o Family Leadership Summit, em Ames, Iowa, no dia 18 de julho6) Ninguém parece tão auto-confiante quanto Donald Trump, o candidato que lidera as pesquisas de opinião para as primárias do Partido Republicano nos Estados Unidos. O New York Times decidiu investigar o lado mais rude de Trump e revela nele um tipo de grosseria de fazer corar os mais agressivos xingadores das redes sociais. Aparentemente, podemos ficar tranquilos. Suas chances de vencer são ínfimas, segundo afirmam John Cassidy na New Yorker, o estatístico Nate Silver em seu blog FiveThirtyEight e Nate Cohn no blog rival The UpShot.
7) Outro que transborda auto-confiança é o líder oposicionista venezuelano Leopoldo López, preso pela proto-ditadura do presidente Nicolás Maduro. A Foreign Policy publicou um extenso perfil de López em que investiga seu papel controverso no golpe frustrado contra Hugo Chávez em 2002.
8) Quem acompanha o mundo da matemática já ouviu falar em Terry Tao, um dos matemáticos mais brilhantes da sua geração. O perfil de Tao publicado pela revista do New York Times mostra que ele é o oposto de gente como Trump e tantos outros egos extremados. De menino prodígio capaz de resolver problemas dificílimos de matemática ainda criança, ele se tornou um pesquisador que trabalha em rede e participa de colaborações e esforços coletivos em várias áreas da ciência. Sua história desmente tudo aquilo que imaginamos ao pensar no esptereótipo do “geniozinho da matemática”. Seu colega, amigo e também matemático brilhante Jordan Ellenberg publicou um ano atrás no Wall Street Journal um artigo em que demole os estereótipos.
9) Se a colaboração em rede transformou uma ciência tida como solitária, a matemática, que dizer da economia? Na Foreign Policy, o editor David Rothkopf faz uma crítica severa aos métodos usados pelos economistas que conduzem nossas políticas públicas e informam os governos. A abundância de dados sobre todas as atividades econômicas e o uso de computadores para processá-los, diz Rothkopf, destruiu a credibilidade desses “macrossauros”.
10) Uma das ferramentas mais úteis para a análise de grandes quantidades de dados é a linguagem R, criada por estatísticos. O site Priceonomics publicou um perfil de uma celebridade entre os nerds, Hadley Wickham, o homem que desenvolveu a maioria dos recursos mais populares usados pelos programadores de R. O jornalista Simon Owens recentemente decidiu se dedicar ao trabalho de transformar montanhas de dados em narrativas atraentes. Ele deu algumas dicas a respeito no Medium.
11) O site The Verge finalmente publicou o artigo que faltava sobre o uso da internet em celulares e dispositivos móveis.Trata-se da modalidade que mais cresce no mundo todo. É também a pior, do ponto de vista da experiência do consumidor. O artigo ataca a proliferação de apps e defende o desenvolvimento de padrões abertos mais eficientes, a exemplos daqueles que tornaram a web tão popular.
Poluição na Baía de Guanabara12) Várias provas do Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro serão realizadas numa baía da Guanabara poluída. Um dos principais legados dos jogos para a cidade já foi para o vinagre. O que acontecerá com os demais, previstos para áreas como transporte e revitalização de regiões decadentes? O que outras sedes olímpicas podem ensinar ao Rio? Uma reportagem no Guardian patrocinada pela Fundação Rockefeller discute o legado da Olimpíada de Londres para a cidade. Lá a situação parece ter sido conduzida de modo mais competente, mesmo assim longe do ideal. Muitos londrinos ficaram frustrados com o que restou da Olimpíada.
13) Visto do alto, porém, tudo parece belo. Uma compilação de fotos de satélite no Instagram, publicada pelo britânico Daily Mail revela algumas das mais impressionantes obras humanas. Mais uma razão para o filósofo Allain de Botton, em seu site The Book of Life, julgar um erro dizer: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”.
GOOGLE+
2
de 14