Noticias de Portugal
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Re: Noticias de Portugal
Morreu o tenente-coronel Marcelino da Mata
O tenente-coronel na reforma Marcelino da Mata, um dos militares da guerra colonial mais condecorados, morreu esta qunta-feira vítima de covid-19 no Hospital Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), disse à Lusa fonte oficial do Exército.
Marcelino Mata, natural da Guiné-Bissau, tinha 80 anos e foi um dos fundadores da tropa de elite "Comandos".
Após a Revolução do 25 de Abril e do fim da Guerra Colonial foi proibido de voltar à sua terra-natal e viu-se obrigado ao exílio até ao contra-golpe do 25 de Novembro (que terminou com o Processo Revolucionário Em Curso).
Marcelino da Mata nasceu a 7 de maio de 1940. Foi acidentalmente incorporado no lugar do irmão no CIM-Bolama em 3 de janeiro de 1960, ofereceu-se como voluntário após cumprir a primeira incorporação.
Integrou e foi fundador da tropa de operações especiais COMANDOS na antiga Guiné Portuguesa tendo realizado operações no Senegal e na Guiné Conacri.
A 2 de julho de 1969 foi feito Cavaleiro da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
Apesar de várias vezes ferido em combate apenas teve que ser evacuado da Guiné por ter sido alvejado, por acidente, por um camarada, assistindo ao 25 de Abril de 1974 em Lisboa.
Após a independência da Guiné foi proibido de entrar na sua terra natal.
Em 1975 foi detido no quartel do RALIS, Lisboa, e sujeito a tortura e flagelação praticada e ordenada por Manuel Augusto Seixas Quinhones de Magalhães (capitão), Leal de Almeida (Tenente Coronel), João Eduardo da Costa Xavier (capitão tenente) e outros elementos do MRPP.
No decurso das perseguições de que foi alvo no ano de 1975 conseguiu fugir para Espanha, de onde regressou após o 25 de Novembro, participando ativamente na reconstrução democrática e no restabelecimento da ordem militar interna, agindo sempre com elevada longanimidade para com os seus opressores.
Atualmente residia em Sintra.[/quote]
https://www.dn.pt/sociedade/covid-19-mo ... dE_8LYXquQ
Que descanse em paz!
O tenente-coronel na reforma Marcelino da Mata, um dos militares da guerra colonial mais condecorados, morreu esta qunta-feira vítima de covid-19 no Hospital Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), disse à Lusa fonte oficial do Exército.
Marcelino Mata, natural da Guiné-Bissau, tinha 80 anos e foi um dos fundadores da tropa de elite "Comandos".
Após a Revolução do 25 de Abril e do fim da Guerra Colonial foi proibido de voltar à sua terra-natal e viu-se obrigado ao exílio até ao contra-golpe do 25 de Novembro (que terminou com o Processo Revolucionário Em Curso).
Marcelino da Mata nasceu a 7 de maio de 1940. Foi acidentalmente incorporado no lugar do irmão no CIM-Bolama em 3 de janeiro de 1960, ofereceu-se como voluntário após cumprir a primeira incorporação.
Integrou e foi fundador da tropa de operações especiais COMANDOS na antiga Guiné Portuguesa tendo realizado operações no Senegal e na Guiné Conacri.
A 2 de julho de 1969 foi feito Cavaleiro da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
Apesar de várias vezes ferido em combate apenas teve que ser evacuado da Guiné por ter sido alvejado, por acidente, por um camarada, assistindo ao 25 de Abril de 1974 em Lisboa.
Após a independência da Guiné foi proibido de entrar na sua terra natal.
Em 1975 foi detido no quartel do RALIS, Lisboa, e sujeito a tortura e flagelação praticada e ordenada por Manuel Augusto Seixas Quinhones de Magalhães (capitão), Leal de Almeida (Tenente Coronel), João Eduardo da Costa Xavier (capitão tenente) e outros elementos do MRPP.
No decurso das perseguições de que foi alvo no ano de 1975 conseguiu fugir para Espanha, de onde regressou após o 25 de Novembro, participando ativamente na reconstrução democrática e no restabelecimento da ordem militar interna, agindo sempre com elevada longanimidade para com os seus opressores.
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Re: Noticias de Portugal
Forças Armadas Portuguesas escreveu:Força de Reação Imediata ativada para apoiar Coordenador da Task Force do Plano de Vacinação Contra a Covid-19
O Estado-Maior da Força de Reação Imediata (FRI) foi ativado, no dia 5 de fevereiro, para apoiar o Coordenador da Task Force do Plano de Vacinação Contra a Covid-19, Vice-Almirante Gouveia e Melo.
Este Estado-Maior, constituído por 20 militares do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), da Marinha, do Exército e da Força Aérea, integra o Grupo de Apoio ao Coordenador da Task Force, que possui, ainda, um staff pessoal de três elementos, e está a operar no Comando Conjunto para as Operações Militares.
O Grupo apoia o Coordenador nas áreas de planeamento estratégico, coordenação e gestão corrente, e comunicação. Possui, ainda, oficiais de ligação nas cinco Administrações Regionais de Saúde (ARS), nos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), na Direção Geral de Saúde (DGS), no Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH) e na Sala de Situação da Task Force, localizada no Ministério da Saúde.
A FRI é uma força conjunta e está permanentemente pronta e equipada com os meios do EMGFA, da Marinha, do Exército e da Força Aérea.
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Re: Noticias de Portugal
Ramalho Eanes: "Se não fosse o império, seríamos uma Catalunha"
https://sol.sapo.pt/artigo/724678/ramal ... -catalunha
https://sol.sapo.pt/artigo/724678/ramal ... -catalunha
«O desrespeito desta esquerda festiva em relação ao passado do país é uma atitude indesejável» – disse Ramalho Eanes ao Nascer do SOL, a propósito da polémica sobre a remoção dos brasões da Praça do Império, em Belém. O ex-Presidente da República acrescentou que essa «esquerda nova», mesmo quando sabe de História, «não conhece a História».Afirmando que é preciso analisar cada época e cada acontecimento no seu contexto, Eanes adiantou que foi o Império que nos garantiu a soberania. «Sem império dificilmente teríamos mantido a independência em certas épocas. Seríamos uma Catalunha ‘menos’. O império fez com que conseguíssemos manter-nos soberanos nos momentos mais difíceis».
Para o ex-Presidente da República, que esteve em África, na guerra colonial, mas depois participou no 25 de Abril e foi um dos ‘heróis’ do 25 de Novembro, «o que caracteriza um povo é a sua personalidade, a sua unidade e a sua continuidade, tanto nas coisas boas como nas coisas más». E, assim, a sua obrigação em cada momento é «respeitar essa personalidade, manter a sua memória coletiva e garantir a continuidade, permitindo que ela se mantenha ao longo da História».
E reforçou esta ideia: «Acabar com a memória do passado não é correto, é desnecessário e é indesejável». Nesta medida, é abertamente a favor da conservação dos brasões e contra a sua remoção.
*Turn on the news and eat their lies*
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Re: Noticias de Portugal
Reportagem do Notícias Viriato no Funeral do Tenente-Coronel Marcelino da Mata.
https://www.facebook.com/noticiasviriat ... 4485571525
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Re: Noticias de Portugal
P44 escreveu: Seg Fev 15, 2021 12:08 pm Enquanto isso, na Venezuela
https://www.publico.pt/2021/02/15/socie ... 950609/amp
OUCH!
Isso está indo muito mais rápido do que eu pensava/temia, PUTZ!!!
Isso está indo muito mais rápido do que eu pensava/temia, PUTZ!!!
Aterradora profecia de António Barreto
Uma profecia feita com a lucidez e o realismo de António Barreto. A LER com atenção, pois é deveras preocupante e já se encontra em desenvolvimento
https://mtv-noticias.pt/aterradora-prof ... o-barreto/
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Noticias de Portugal
Prevenção do terrorismo. Plano de papel, aprovado às escondidas e sem ações
A secretária-geral do Sistema de Segurança Interna diz que aprovou em 2017, com as polícias e as secretas, um plano para prevenir o recrutamento extremista e terrorista, mas nunca disso deu nota pública, nem ao parlamento. Especialistas em Segurança mostram-se surpreendidos. Desconhecem-se consequências e ações no terreno, coordenadas por esta estrutura.
Esta semana, dia 19 de fevereiro, completam-se seis anos desde que foi aprovada pelo governo a Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo (ENCT), já com um atraso de 10 anos em relação à Estratégia da União Europeia (UE). O balanço oficial da secretária-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), a quem compete coordenar a execução da ENCT, garantido que só falta aprovar um dos sete dos planos previstos neste documento, choca com a perceção pública e com a avaliação de todos os peritos ouvidos pelo DN.
Numa altura em que Portugal preside ao Conselho da UE, com a nova agenda europeia para o contraterrorismo a realçar o combate ao extremismo violento (extrema direita, principalmente) como uma das prioridades, a secretária-geral apresenta uma surpresa: foi aprovado em "finais de 2017", no âmbito da ENCT, um "Plano de Ação para a Prevenção da Radicalização, dos Extremismos Violentos e do Recrutamento para o Terrorismo (PAPREVRT)" .
Este "contempla medidas e ações que se inserem no domínio das competências próprias e exclusivas das entidades que integram a UCAT - Unidade de Coordenação Antiterrorista - e medidas e ações de natureza transversal", avança este gabinete em resposta a um pedido do DN para fazer um balanço da execução da ENCT.
A UCAT é presidida pela secretária-geral do SSI e constituída pela GNR, PJ, Polícia Marítima, PSP, SEF, SIS e SIED.
Segundo a procuradora-geral adjunta Helena Fazenda, que ocupa este cargo desde 2014, nomeada pelo ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, em relação ao PAPREVRT (o "extremismo violento" não estava na ENCT aprovada em 2015, tendo sido incluído só quando o plano foi aprovado em 2017) "existem ações decorrentes de sinergias já estabelecidas entre diversas entidades e existem ações que exigem modelos específicos de intervenção. Por tudo isso todas as medidas e ações estão graduadas por prioridades".
A magistrada frisa que "nos dias de hoje assiste-se no espaço europeu, com especial preocupação, à emergência de fenómenos motivados pelo ódio racial, sexual, religioso. Estamos perante uma realidade que sofreu uma evolução acentuada nos últimos anos. O extremismo violento enquadra-se num contexto de preocupação idêntica à do terrorismo. Por isso, todos os fenómenos associadas a potenciais dinâmicas terroristas são acompanhados e monitorizados, em permanência, pelas diferentes Forças e Serviços de Segurança e são partilhados, discutidos e analisados em sede UCAT.
Publicitação é fundamental
A narrativa deste gabinete, contudo, não encontra qualquer consequência prática nestes quatro anos em que terá estado em vigor - que tenha sido pública, pelo menos - sendo que prevenir os extremismos exige, acima de tudo, envolver a comunidade e a publicitação das ações.
Mas nem o público, nem os investigadores, nem mesmo os deputados que acompanham estas matérias, têm conhecimento desta novidade de Helena Fazenda.
"Se o plano para a prevenção do terrorismo em Portugal já foi aprovado em 2017, parece-me relevante ser do conhecimento público. Dada a importância do assunto, sobretudo atualmente em que vivemos num contexto de crescimento dos movimentos associados à extrema-direita, aos quais Portugal não está de todo alheio, conhecer-se os moldes e o conteúdo do plano é essencial para guiar e enquadrar as muitas iniciativas e projetos de prevenção da radicalização que estão a ser implementados em Portugal, mas também para informar a comunidade de que algo foi pensado e está a ser executado, como uma forma de zelar pela segurança nacional", assinala Cátia Moreira de Carvalho, investigadora e doutoranda da Universidade do Porto ma área da Radicalização e Terrorismo
Cátia Moreira de Carvalho, investigadora e doutoranda da Universidade do Porto ma área da Radicalização e Terrorismo e coautora do livro "Da Radicalização Ideológica ao Terrorismo: Uma Digressão", com o investigador criminal da PJ, João Ventura (desfocado na foto) Leonardo Negrão / Global Imagens
Esta investigadora académica, perita da Radicalisation Awareness Network (RAN) da UE, assinala que "a prevenção da radicalização não se esgota no papel das forças e serviços de segurança".
No entender de Cátia Moreira de Carvalho, coautora do livro "Da Radicalização Ideológica ao Terrorismo: Uma Digressão -, publicado no âmbito das comemorações dos 75 anos da Polícia Judiciária, "a sociedade civil tem um papel fundamental e deve ser entendida como parte integrante deste combate, pelo que, também por isso, o conhecimento e acesso ao plano seria uma forma de unir e congregar esforços, para maximizar os resultados".
Parlamento à margem
Mais surpreendidos ficaram também os deputados do CDS e do PSD que, precisamente, em 2017, preocupados com a falta dinâmica da ENCT, tinham proposto uma recomendação ao governo (aprovada por unanimidade no parlamento) para que os planos da ENCT fossem executados, e de nada foram informados pela secretária-geral Helena Fazenda.
"Nunca nos disseram nada. Não tivemos qualquer feedback da nossa recomendação. Não temos conhecimento da eficácia do plano nacional no momento em a questão da nova agenda para o contraterrorismo se coloca na UE e na própria Presidência portuguesa", afirma o deputado centrista Telmo Correia, promotor da recomendação ao governo.
Realça que esta revelada aprovação dos planos em segredo "impede qualquer escrutínio ou avaliação parlamentar", recordando que as respostas às perguntas que foi fazendo nos últimos anos ao governo sobre esta matéria, "ou era invocado que o processo era classificado ou estava em preparação".
Telmo Correia nota ainda que, "nem sequer houve qualquer referência à aprovação destes planos nos Relatórios Anuais de Segurança Interna", o que o DN pode confirmar numa consulta a estes documentos, onde é publicada toda a atividade relevante da segurança interna.
Acresce que nestes RASI, desde 2017 que as secretas nacionais têm vindo a alertar para a escalada das atividades da extrema-direita em Portugal, reforçando os avisos em posteriores relatórios, sem que seja feita qualquer referência à aprovação do referido plano de prevenção.
Também do PSD a reação é de incredulidade. O deputado Fernando Negrão, um dos subscritores do projeto de resolução sobre esta matéria, desconhece "a aprovação dos planos". Carlos Peixoto, da mesma bancada, desconfia: "não acredito que um plano dessa importância possa ter sido aprovado sem que tenha sido publicitado".
Narrativa de secretismo
Mas o gabinete do SSI não vê necessidade de publicitar ou divulgar estas ações, que prefere manter em segredo, nem ao parlamento, responsabilizado os chefes das polícias e dos serviços de informações, que aprovaram o "Plano de Ação para a Prevenção da Radicalização, dos Extremismos Violentos e do Recrutamento para o Terrorismo" em "finais de 2017", já depois da recomendação da Assembleia da República ter sido publicada (maio), pela sua execução.
Helena Fazenda, secretária-geral do Sistema de Segurança Interna preparou o plano Pedro Rocha / Global Imagens
"O nº 1 da Resolução da Assembleia da República n.º 134/2017, de 28 de junho, na parte relativa à ENCT com intervenção da UCAT, está a ser observada", diz a procuradora-geral-adjunta, referindo-se ao ponto em que o parlamento pede que "dê integral cumprimento à ENCT, designadamente no que respeita à elaboração e ou atualização das estratégias e dos planos de ação aí previstos".
Acrescenta que "por se tratar de matéria sensível e classificada, todas as dinâmicas diárias que permitem, de forma integrada, aplicar as medidas e ações associadas à implementação da ENCT, são de natureza reservada".
Quanto à ausência de referência nos RASI refere que "as atividades desenvolvidas no âmbito da UCAT, dada a natureza essencialmente reservada das matérias aí tratadas, não constam, por norma, do RASI (documento de natureza publica)".
O analista de segurança e terrorismo Diogo Noivo, que acompanhou a elaboração da ENCT em 2015, quando era perito no gabinete do ministro da Administração Interna, também não entende tanto secretismo, focando a sua atenção no plano de prevenção da radicalização. "É uma posição original. Foi aprovado, mas de consequências/mudanças no terreno nada se sabe. Sabemos que ao tratar-se de matéria sensível há uma reserva necessária na divulgação da informação. Mas se as estratégias de outros países europeus são parcialmente auditáveis pela opinião pública, é difícil de compreender porque é que em Portugal não se pode fazer o mesmo. Espanha tem uma ENCT e são auditáveis partes dos seus efeitos práticos. Se se pode saber nos outros países, aqui não porquê? Somos especiais? Há um nível mais elevado de ameaça do que noutros sítios?", questiona.
Na mesma linha está o major-general Agostinho Costa, porta-voz do Grupo de Reflexão Estratégica para a Segurança, que junta especialistas militares e civis: "não basta elaborar um documento, é necessário que seja consequente com os princípios da estratégia. Importa definir claramente a quem compete executar estes planos, de que forma e com que recursos".
Terrorismo racista e xenófobo
Este oficial general lembra que, "a matriz da ação terrorista transitou para o plano da ação isolada, por indivíduos fanatizados e inspirados em ideologias extremistas, não apenas de caráter religioso, mas agora também com inspiração política em ideologias extremistas de matriz racista e xenófoba, fazendo despertar os fantasmas da primeira metade do século passado".
Diogo Noivo sublinha, por seu turno, que "pouco ou nada se fez em matéria de prevenção da radicalização. Aliás, de um modo geral, a mudança do ambiente estratégico não teve reflexo nos planos operacional e executivo. Por exemplo, a insistência da ENCT na deteção precoce da ameaça exige maior aposta nos Serviços de Informações e na Polícia Judiciária, algo que não se verificou nos últimos 6 anos".
E Felipe Pathé Duarte, outro investigador académico perito em segurança internacional e terrorismo, reforça: "a ENCT é mais um plano de intenções, que um documento estratégico. Aponta objetivos estruturantes, não tendo em conta a capacitação das forças e serviços de segurança.
Este analista, autor do livro "Jihadismo Global", assevera que "torna-se quase ridículo falar em identificação precoce de potenciais ameaças quando a "intelligence" não pode fazer interceção de comunicações. Ou então referir a prevenção de radicalização, quando não há uma verdadeira consciencialização por parte das autoridades que a abordagem a esse tipo fenómeno tem de ser abrangente e com vários parceiros da sociedade civil".
Felipe Pathé Duarte, investigador e perito em segurança internacional
No seu entender "é preciso repensar as respostas no combate ao terrorismo e ao extremismo violento, dar-lhes uma estrutura e centralizá-las. É a única forma de ultrapassar constrangimentos operacionais e garantir partilha de informação. Da UCAT deveremos pensar em fusion centres. É uma experiência bem sucedida em países europeus da nossa dimensão. São centros operacionais conjuntos onde se recolha, analise e partilhe informação. De outra forma estaremos sempre a correr atrás do prejuízo. Combater terrorismo é jogar na permanente antecipação".
É por tudo isso, assinala ainda Agostinho Costa, que "urge revisitar a ENCT, à luz do documento agora difundido pela Comissão Europeia. Compreender que o terrorismo continua a ser uma ameaça real, agora com um espetro mais alargado, centrado predominantemente em atores solitários, radicalizados por discursos de ódio e pelo fenómeno de fragmentação social e política a que temos assistido, fruto da emergência de movimento de cariz protofascista".
Planos delegados?
Além do plano para prevenir a radicalização, a ENCT de 2015, prevê outros seis planos: um Plano de Comunicação, que define quem e de que forma é dada a informação ao público em caso de incidente terrorista; um Plano de Ação Nacional contra Ataques Nucleares, Químicos, Biológicos e Radiológicos (NRBQ); um Plano de Ação para a Proteção e Aumento da Resiliência das Infraestruturas Críticas; um Plano de Ação Nacional para a Proteção contra as ciberameaças; um Plano para a Proteção das Comunidades Portuguesas e Interesses Nacionais no Exterior; e um Plano de Articulação Operacional entre as Polícias e as Forças Armadas.
Segundo a secretária-geral do SSI, "estão aprovados, com exceção" do plano contra os ataques NRBQ "em fase de ultimação".
Também sobre esta narrativa há desconhecimento público e dos peritos, incluindo do parlamento. Por exemplo, o plano para infraestruturas críticas, em particular as aeroportuárias, especialmente visado na resolução da Assembleia da República feita ao governo em maio de 2017, mas nem o CDS nem o PSD tiveram qualquer informação. Helena Fazenda diz que tal "não se enquadra no âmbito da responsabilidade direta da UCAT".
Por outro lado, uma fonte da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), entidade responsável pela validação dos planos de segurança externos destas infraestruturas, juntamente com as polícias, desconhece também este plano global, sublinhando que, "na responsabilidade da Autoridade, mantém-se em vigor o Decreto-Lei n.º 62/2011, de 9 de maio, o qual limita a identificação destas infraestruturas aos setores da energia e transportes, continuando a aguardar-se a publicação da primeira alteração a este diploma, que permitirá criar as condições necessárias para ampliar os setores".
Sobre o plano contra as ciberameaças, que o gabinete da secretária-geral remete para "a Estratégia Nacional de Segurança do Ciberespaço (ENSC) aprovada em 2019", tal deixou de estar enquadrado na ENCT e passou a ser coordenada e executada pelo Centro Nacional de Cibersegurança.
Lino Santos, diretor destes Centro, confirma ao DN que "foram publicadas duas estratégias nacionais para a segurança do ciberespaço desde 2015, a última das quais em 2018 que prevê a existência de planos de ação bianuais".
Sobre estes planos, sublinha "são feitos relatórios de execução escrutinados pela Assembleia da República, sendo que o próximo será entregue até 31 de março". Lino Santos reconhece que, "de certa forma, estas estratégias substituem a prevista na ENCT".
Sobre o plano para a "Proteção das Comunidades Portuguesas e Interesses Nacionais no Exterior", é remetido para o ministério dos Negócios Estrangeiros, pois, no entendimento da secretária-geral do SSI, este "decorre da execução de medidas previstas no âmbito da política externa portuguesa".
Sobre o Plano de Articulação entre as Polícias e as Forças Armadas - o único a merecer alguma divulgação pública - foram apresentadas "orientações" há cerca de um ano, embora falte ainda a concretização do mesmo.
Do Plano de Comunicação, que o SSI diz também estar aprovado, nada se sabe, nem os órgãos de comunicação social, os principais parceiros nesta matéria.
A ausência de protagonismo do SSI nesta matéria tem sido de tal forma marcante, que em setembro de 2017, foi por iniciativa da então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, e da ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, que foi organizado a primeira - e única até agora - ação de formação para treinar os polícias no terreno, GNR, PSP e SEF, para detetarem sinais de radicalização terrorista e identificar riscos de atentado. PJ e SIS foram os formadores principais. Apesar desta ser uma medida enquadrada pela ENCT, não voltou a ser repetida.
Cultura corporativa
"Entende-se a dificuldade que envolve a concretização de planos que pela sua natureza requerem a coordenação e cooperação de vários organismos e estruturas do Estado e da sociedade civil. Esta colide com a predominante cultura corporativa das instituições, tendencialmente dirigida para a autossuficiência e autarcia e onde não raras vezes impera a acrimónia, a rivalidade e mesmo hostilidade. Dada a natureza transversal dos mesmos parece subsistir um vazio de responsabilidade pela condução desta Estratégia", salienta o major-general Agostinho Costa, que foi 2º comandante da GNR.
General Agostinho Costa, especialista do Grupo de Reflexão Estratégica sobre Segurança© D.R.
"O Sistema de Segurança Nacional em geral e o de Segurança Interna em particular necessitam de uma urgente revisitação nos seus pressupostos e fundamentos, que lhe confiram a necessária coerência e articulação, assegurando a efetividade que não tem e que está condicionada pelos impulsos reformadores induzidos pelas sucessivas crises por que temos passado (grandes incêndios de 2017 e a morte de Ihor Homeniuk no aeroporto Humberto Delgado em 2020). Portugal ultrapassou, felizmente, incólume à vaga terrorista que abalou a UE na segunda metade da década passada, pelo que o SSI e também o SIRP não foram sujeitos a um teste de stress. Talvez não tenhamos a mesma felicidade em situação futura, pelo que antes de termos de voltar a tomar medidas sob a pressão dos acontecimentos, aproveitemos a tranquilidade presente para efetuar uma análise serena do sistema, subordinando-a unicamente ao superior interesse nacional", conclui.
O perito Diogo Noivo, autor do livro "Uma História da ETA - Nação e Violência em Espanha e Portugal", lembra ainda que "as vítimas do terrorismo continuam a ser ignoradas enquanto recurso de contraterrorismo" e que "além de merecerem atenção, são fundamentais para a sensibilização pública".
Explica que "isto traduz-se em duas dimensões do contraterrorismo: a prevenção da radicalização e evitar a 'normalização' da violência - falamos sempre em números de mortos, e raras vezes dos seus nomes e vidas, o que anestesia as opiniões públicas, tornando-as menos atentas à gravidade do fenómeno".
Diogo Noivo, investigador de segurança e terrorismo Jorge Amaral / Global Imagens
Lamenta a "indefinição a respeito do SEF", que considera "preocupante e os detalhes da alegada "reforma" não auguram nada de bom". "Quando falamos de Estratégia Nacional, temos de ter em conta a eficácia de todos os componentes do sistema. O SEF encontra-se numa situação de debilidade, em grande medida por profunda inabilidade da tutela, o que é grave dado que este Serviço desempenha um papel relevante no combate ao terrorismo - onde, aliás, tem créditos firmados"
Acresce, realça Diogo Noivo, que "a indefinição em matéria de SEF é ainda mais preocupante se tivermos em conta que a Resolução do Conselho de Ministros que aprovou a ENCT aprovou igualmente Propostas de Lei complementares, nomeadamente a alteração do regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional".
A finalizar, este analista, recorda mais uma matéria da qual se desconhecem medidas ou políticas e está também na esfera de coordenação do SSI: "a gestão de antigos combatentes do Daesh e seus familiares, um dos desafios mais sérios em matéria de contra-terrorismo, porque dessa gestão depende o futuro e complexidade da ameaça em território europeu, pouco ou nenhum cabimento tem na ENCT. E não parece existir uma política clara nesta matéria".
A secretária-geral do Sistema de Segurança Interna diz que aprovou em 2017, com as polícias e as secretas, um plano para prevenir o recrutamento extremista e terrorista, mas nunca disso deu nota pública, nem ao parlamento. Especialistas em Segurança mostram-se surpreendidos. Desconhecem-se consequências e ações no terreno, coordenadas por esta estrutura.
Esta semana, dia 19 de fevereiro, completam-se seis anos desde que foi aprovada pelo governo a Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo (ENCT), já com um atraso de 10 anos em relação à Estratégia da União Europeia (UE). O balanço oficial da secretária-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), a quem compete coordenar a execução da ENCT, garantido que só falta aprovar um dos sete dos planos previstos neste documento, choca com a perceção pública e com a avaliação de todos os peritos ouvidos pelo DN.
Numa altura em que Portugal preside ao Conselho da UE, com a nova agenda europeia para o contraterrorismo a realçar o combate ao extremismo violento (extrema direita, principalmente) como uma das prioridades, a secretária-geral apresenta uma surpresa: foi aprovado em "finais de 2017", no âmbito da ENCT, um "Plano de Ação para a Prevenção da Radicalização, dos Extremismos Violentos e do Recrutamento para o Terrorismo (PAPREVRT)" .
Este "contempla medidas e ações que se inserem no domínio das competências próprias e exclusivas das entidades que integram a UCAT - Unidade de Coordenação Antiterrorista - e medidas e ações de natureza transversal", avança este gabinete em resposta a um pedido do DN para fazer um balanço da execução da ENCT.
A UCAT é presidida pela secretária-geral do SSI e constituída pela GNR, PJ, Polícia Marítima, PSP, SEF, SIS e SIED.
Segundo a procuradora-geral adjunta Helena Fazenda, que ocupa este cargo desde 2014, nomeada pelo ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, em relação ao PAPREVRT (o "extremismo violento" não estava na ENCT aprovada em 2015, tendo sido incluído só quando o plano foi aprovado em 2017) "existem ações decorrentes de sinergias já estabelecidas entre diversas entidades e existem ações que exigem modelos específicos de intervenção. Por tudo isso todas as medidas e ações estão graduadas por prioridades".
A magistrada frisa que "nos dias de hoje assiste-se no espaço europeu, com especial preocupação, à emergência de fenómenos motivados pelo ódio racial, sexual, religioso. Estamos perante uma realidade que sofreu uma evolução acentuada nos últimos anos. O extremismo violento enquadra-se num contexto de preocupação idêntica à do terrorismo. Por isso, todos os fenómenos associadas a potenciais dinâmicas terroristas são acompanhados e monitorizados, em permanência, pelas diferentes Forças e Serviços de Segurança e são partilhados, discutidos e analisados em sede UCAT.
Publicitação é fundamental
A narrativa deste gabinete, contudo, não encontra qualquer consequência prática nestes quatro anos em que terá estado em vigor - que tenha sido pública, pelo menos - sendo que prevenir os extremismos exige, acima de tudo, envolver a comunidade e a publicitação das ações.
Mas nem o público, nem os investigadores, nem mesmo os deputados que acompanham estas matérias, têm conhecimento desta novidade de Helena Fazenda.
"Se o plano para a prevenção do terrorismo em Portugal já foi aprovado em 2017, parece-me relevante ser do conhecimento público. Dada a importância do assunto, sobretudo atualmente em que vivemos num contexto de crescimento dos movimentos associados à extrema-direita, aos quais Portugal não está de todo alheio, conhecer-se os moldes e o conteúdo do plano é essencial para guiar e enquadrar as muitas iniciativas e projetos de prevenção da radicalização que estão a ser implementados em Portugal, mas também para informar a comunidade de que algo foi pensado e está a ser executado, como uma forma de zelar pela segurança nacional", assinala Cátia Moreira de Carvalho, investigadora e doutoranda da Universidade do Porto ma área da Radicalização e Terrorismo
Cátia Moreira de Carvalho, investigadora e doutoranda da Universidade do Porto ma área da Radicalização e Terrorismo e coautora do livro "Da Radicalização Ideológica ao Terrorismo: Uma Digressão", com o investigador criminal da PJ, João Ventura (desfocado na foto) Leonardo Negrão / Global Imagens
Esta investigadora académica, perita da Radicalisation Awareness Network (RAN) da UE, assinala que "a prevenção da radicalização não se esgota no papel das forças e serviços de segurança".
No entender de Cátia Moreira de Carvalho, coautora do livro "Da Radicalização Ideológica ao Terrorismo: Uma Digressão -, publicado no âmbito das comemorações dos 75 anos da Polícia Judiciária, "a sociedade civil tem um papel fundamental e deve ser entendida como parte integrante deste combate, pelo que, também por isso, o conhecimento e acesso ao plano seria uma forma de unir e congregar esforços, para maximizar os resultados".
Parlamento à margem
Mais surpreendidos ficaram também os deputados do CDS e do PSD que, precisamente, em 2017, preocupados com a falta dinâmica da ENCT, tinham proposto uma recomendação ao governo (aprovada por unanimidade no parlamento) para que os planos da ENCT fossem executados, e de nada foram informados pela secretária-geral Helena Fazenda.
"Nunca nos disseram nada. Não tivemos qualquer feedback da nossa recomendação. Não temos conhecimento da eficácia do plano nacional no momento em a questão da nova agenda para o contraterrorismo se coloca na UE e na própria Presidência portuguesa", afirma o deputado centrista Telmo Correia, promotor da recomendação ao governo.
Realça que esta revelada aprovação dos planos em segredo "impede qualquer escrutínio ou avaliação parlamentar", recordando que as respostas às perguntas que foi fazendo nos últimos anos ao governo sobre esta matéria, "ou era invocado que o processo era classificado ou estava em preparação".
Telmo Correia nota ainda que, "nem sequer houve qualquer referência à aprovação destes planos nos Relatórios Anuais de Segurança Interna", o que o DN pode confirmar numa consulta a estes documentos, onde é publicada toda a atividade relevante da segurança interna.
Acresce que nestes RASI, desde 2017 que as secretas nacionais têm vindo a alertar para a escalada das atividades da extrema-direita em Portugal, reforçando os avisos em posteriores relatórios, sem que seja feita qualquer referência à aprovação do referido plano de prevenção.
Também do PSD a reação é de incredulidade. O deputado Fernando Negrão, um dos subscritores do projeto de resolução sobre esta matéria, desconhece "a aprovação dos planos". Carlos Peixoto, da mesma bancada, desconfia: "não acredito que um plano dessa importância possa ter sido aprovado sem que tenha sido publicitado".
Narrativa de secretismo
Mas o gabinete do SSI não vê necessidade de publicitar ou divulgar estas ações, que prefere manter em segredo, nem ao parlamento, responsabilizado os chefes das polícias e dos serviços de informações, que aprovaram o "Plano de Ação para a Prevenção da Radicalização, dos Extremismos Violentos e do Recrutamento para o Terrorismo" em "finais de 2017", já depois da recomendação da Assembleia da República ter sido publicada (maio), pela sua execução.
Helena Fazenda, secretária-geral do Sistema de Segurança Interna preparou o plano Pedro Rocha / Global Imagens
"O nº 1 da Resolução da Assembleia da República n.º 134/2017, de 28 de junho, na parte relativa à ENCT com intervenção da UCAT, está a ser observada", diz a procuradora-geral-adjunta, referindo-se ao ponto em que o parlamento pede que "dê integral cumprimento à ENCT, designadamente no que respeita à elaboração e ou atualização das estratégias e dos planos de ação aí previstos".
Acrescenta que "por se tratar de matéria sensível e classificada, todas as dinâmicas diárias que permitem, de forma integrada, aplicar as medidas e ações associadas à implementação da ENCT, são de natureza reservada".
Quanto à ausência de referência nos RASI refere que "as atividades desenvolvidas no âmbito da UCAT, dada a natureza essencialmente reservada das matérias aí tratadas, não constam, por norma, do RASI (documento de natureza publica)".
O analista de segurança e terrorismo Diogo Noivo, que acompanhou a elaboração da ENCT em 2015, quando era perito no gabinete do ministro da Administração Interna, também não entende tanto secretismo, focando a sua atenção no plano de prevenção da radicalização. "É uma posição original. Foi aprovado, mas de consequências/mudanças no terreno nada se sabe. Sabemos que ao tratar-se de matéria sensível há uma reserva necessária na divulgação da informação. Mas se as estratégias de outros países europeus são parcialmente auditáveis pela opinião pública, é difícil de compreender porque é que em Portugal não se pode fazer o mesmo. Espanha tem uma ENCT e são auditáveis partes dos seus efeitos práticos. Se se pode saber nos outros países, aqui não porquê? Somos especiais? Há um nível mais elevado de ameaça do que noutros sítios?", questiona.
Na mesma linha está o major-general Agostinho Costa, porta-voz do Grupo de Reflexão Estratégica para a Segurança, que junta especialistas militares e civis: "não basta elaborar um documento, é necessário que seja consequente com os princípios da estratégia. Importa definir claramente a quem compete executar estes planos, de que forma e com que recursos".
Terrorismo racista e xenófobo
Este oficial general lembra que, "a matriz da ação terrorista transitou para o plano da ação isolada, por indivíduos fanatizados e inspirados em ideologias extremistas, não apenas de caráter religioso, mas agora também com inspiração política em ideologias extremistas de matriz racista e xenófoba, fazendo despertar os fantasmas da primeira metade do século passado".
Diogo Noivo sublinha, por seu turno, que "pouco ou nada se fez em matéria de prevenção da radicalização. Aliás, de um modo geral, a mudança do ambiente estratégico não teve reflexo nos planos operacional e executivo. Por exemplo, a insistência da ENCT na deteção precoce da ameaça exige maior aposta nos Serviços de Informações e na Polícia Judiciária, algo que não se verificou nos últimos 6 anos".
E Felipe Pathé Duarte, outro investigador académico perito em segurança internacional e terrorismo, reforça: "a ENCT é mais um plano de intenções, que um documento estratégico. Aponta objetivos estruturantes, não tendo em conta a capacitação das forças e serviços de segurança.
Este analista, autor do livro "Jihadismo Global", assevera que "torna-se quase ridículo falar em identificação precoce de potenciais ameaças quando a "intelligence" não pode fazer interceção de comunicações. Ou então referir a prevenção de radicalização, quando não há uma verdadeira consciencialização por parte das autoridades que a abordagem a esse tipo fenómeno tem de ser abrangente e com vários parceiros da sociedade civil".
Felipe Pathé Duarte, investigador e perito em segurança internacional
No seu entender "é preciso repensar as respostas no combate ao terrorismo e ao extremismo violento, dar-lhes uma estrutura e centralizá-las. É a única forma de ultrapassar constrangimentos operacionais e garantir partilha de informação. Da UCAT deveremos pensar em fusion centres. É uma experiência bem sucedida em países europeus da nossa dimensão. São centros operacionais conjuntos onde se recolha, analise e partilhe informação. De outra forma estaremos sempre a correr atrás do prejuízo. Combater terrorismo é jogar na permanente antecipação".
É por tudo isso, assinala ainda Agostinho Costa, que "urge revisitar a ENCT, à luz do documento agora difundido pela Comissão Europeia. Compreender que o terrorismo continua a ser uma ameaça real, agora com um espetro mais alargado, centrado predominantemente em atores solitários, radicalizados por discursos de ódio e pelo fenómeno de fragmentação social e política a que temos assistido, fruto da emergência de movimento de cariz protofascista".
Planos delegados?
Além do plano para prevenir a radicalização, a ENCT de 2015, prevê outros seis planos: um Plano de Comunicação, que define quem e de que forma é dada a informação ao público em caso de incidente terrorista; um Plano de Ação Nacional contra Ataques Nucleares, Químicos, Biológicos e Radiológicos (NRBQ); um Plano de Ação para a Proteção e Aumento da Resiliência das Infraestruturas Críticas; um Plano de Ação Nacional para a Proteção contra as ciberameaças; um Plano para a Proteção das Comunidades Portuguesas e Interesses Nacionais no Exterior; e um Plano de Articulação Operacional entre as Polícias e as Forças Armadas.
Segundo a secretária-geral do SSI, "estão aprovados, com exceção" do plano contra os ataques NRBQ "em fase de ultimação".
Também sobre esta narrativa há desconhecimento público e dos peritos, incluindo do parlamento. Por exemplo, o plano para infraestruturas críticas, em particular as aeroportuárias, especialmente visado na resolução da Assembleia da República feita ao governo em maio de 2017, mas nem o CDS nem o PSD tiveram qualquer informação. Helena Fazenda diz que tal "não se enquadra no âmbito da responsabilidade direta da UCAT".
Por outro lado, uma fonte da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), entidade responsável pela validação dos planos de segurança externos destas infraestruturas, juntamente com as polícias, desconhece também este plano global, sublinhando que, "na responsabilidade da Autoridade, mantém-se em vigor o Decreto-Lei n.º 62/2011, de 9 de maio, o qual limita a identificação destas infraestruturas aos setores da energia e transportes, continuando a aguardar-se a publicação da primeira alteração a este diploma, que permitirá criar as condições necessárias para ampliar os setores".
Sobre o plano contra as ciberameaças, que o gabinete da secretária-geral remete para "a Estratégia Nacional de Segurança do Ciberespaço (ENSC) aprovada em 2019", tal deixou de estar enquadrado na ENCT e passou a ser coordenada e executada pelo Centro Nacional de Cibersegurança.
Lino Santos, diretor destes Centro, confirma ao DN que "foram publicadas duas estratégias nacionais para a segurança do ciberespaço desde 2015, a última das quais em 2018 que prevê a existência de planos de ação bianuais".
Sobre estes planos, sublinha "são feitos relatórios de execução escrutinados pela Assembleia da República, sendo que o próximo será entregue até 31 de março". Lino Santos reconhece que, "de certa forma, estas estratégias substituem a prevista na ENCT".
Sobre o plano para a "Proteção das Comunidades Portuguesas e Interesses Nacionais no Exterior", é remetido para o ministério dos Negócios Estrangeiros, pois, no entendimento da secretária-geral do SSI, este "decorre da execução de medidas previstas no âmbito da política externa portuguesa".
Sobre o Plano de Articulação entre as Polícias e as Forças Armadas - o único a merecer alguma divulgação pública - foram apresentadas "orientações" há cerca de um ano, embora falte ainda a concretização do mesmo.
Do Plano de Comunicação, que o SSI diz também estar aprovado, nada se sabe, nem os órgãos de comunicação social, os principais parceiros nesta matéria.
A ausência de protagonismo do SSI nesta matéria tem sido de tal forma marcante, que em setembro de 2017, foi por iniciativa da então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, e da ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, que foi organizado a primeira - e única até agora - ação de formação para treinar os polícias no terreno, GNR, PSP e SEF, para detetarem sinais de radicalização terrorista e identificar riscos de atentado. PJ e SIS foram os formadores principais. Apesar desta ser uma medida enquadrada pela ENCT, não voltou a ser repetida.
Cultura corporativa
"Entende-se a dificuldade que envolve a concretização de planos que pela sua natureza requerem a coordenação e cooperação de vários organismos e estruturas do Estado e da sociedade civil. Esta colide com a predominante cultura corporativa das instituições, tendencialmente dirigida para a autossuficiência e autarcia e onde não raras vezes impera a acrimónia, a rivalidade e mesmo hostilidade. Dada a natureza transversal dos mesmos parece subsistir um vazio de responsabilidade pela condução desta Estratégia", salienta o major-general Agostinho Costa, que foi 2º comandante da GNR.
General Agostinho Costa, especialista do Grupo de Reflexão Estratégica sobre Segurança© D.R.
"O Sistema de Segurança Nacional em geral e o de Segurança Interna em particular necessitam de uma urgente revisitação nos seus pressupostos e fundamentos, que lhe confiram a necessária coerência e articulação, assegurando a efetividade que não tem e que está condicionada pelos impulsos reformadores induzidos pelas sucessivas crises por que temos passado (grandes incêndios de 2017 e a morte de Ihor Homeniuk no aeroporto Humberto Delgado em 2020). Portugal ultrapassou, felizmente, incólume à vaga terrorista que abalou a UE na segunda metade da década passada, pelo que o SSI e também o SIRP não foram sujeitos a um teste de stress. Talvez não tenhamos a mesma felicidade em situação futura, pelo que antes de termos de voltar a tomar medidas sob a pressão dos acontecimentos, aproveitemos a tranquilidade presente para efetuar uma análise serena do sistema, subordinando-a unicamente ao superior interesse nacional", conclui.
O perito Diogo Noivo, autor do livro "Uma História da ETA - Nação e Violência em Espanha e Portugal", lembra ainda que "as vítimas do terrorismo continuam a ser ignoradas enquanto recurso de contraterrorismo" e que "além de merecerem atenção, são fundamentais para a sensibilização pública".
Explica que "isto traduz-se em duas dimensões do contraterrorismo: a prevenção da radicalização e evitar a 'normalização' da violência - falamos sempre em números de mortos, e raras vezes dos seus nomes e vidas, o que anestesia as opiniões públicas, tornando-as menos atentas à gravidade do fenómeno".
Diogo Noivo, investigador de segurança e terrorismo Jorge Amaral / Global Imagens
Lamenta a "indefinição a respeito do SEF", que considera "preocupante e os detalhes da alegada "reforma" não auguram nada de bom". "Quando falamos de Estratégia Nacional, temos de ter em conta a eficácia de todos os componentes do sistema. O SEF encontra-se numa situação de debilidade, em grande medida por profunda inabilidade da tutela, o que é grave dado que este Serviço desempenha um papel relevante no combate ao terrorismo - onde, aliás, tem créditos firmados"
Acresce, realça Diogo Noivo, que "a indefinição em matéria de SEF é ainda mais preocupante se tivermos em conta que a Resolução do Conselho de Ministros que aprovou a ENCT aprovou igualmente Propostas de Lei complementares, nomeadamente a alteração do regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional".
A finalizar, este analista, recorda mais uma matéria da qual se desconhecem medidas ou políticas e está também na esfera de coordenação do SSI: "a gestão de antigos combatentes do Daesh e seus familiares, um dos desafios mais sérios em matéria de contra-terrorismo, porque dessa gestão depende o futuro e complexidade da ameaça em território europeu, pouco ou nenhum cabimento tem na ENCT. E não parece existir uma política clara nesta matéria".
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Re: Noticias de Portugal
Chuva forte e persistente nas proximas horas na regiao de Lisboa e Setubal. Risco de inundacoes. Esteja atento. Info: www.prociv.pt / 800 246 246 / ANEPC
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Re: Noticias de Portugal
Não recebi essa mensagem, já devo estar na lista negra
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Re: Noticias de Portugal
A cara que eu faria se me dissessem "estás fora mas fiques tranquilo, já te arrumamos um tacho no Banco de Portugal":
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
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