Para registro
Fuzis de policiais falharam durante tiroteio no Alemão
Armas usadas para combater tráfico na Pedra do Sapo foram doadas pela Marinha em 2008 POR Angélica Fernandes / Felipe Freire / Marcello Victor / Vania Cunha
Rio - Em meio à resistência de traficantes fortemente armados, policiais das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Complexo do Alemão denunciam que os fuzis utilizados diariamente para rondas são poucos e costumam apresentar falhas durante os confrontos.
Na noite de segunda-feira, pelos menos três modelos 7.62, doados em 2008 à Polícia Militar pela Marinha, não funcionaram na troca de tiros com criminosos na Pedra do Sapo, um dos três pontos atacados.
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Policiais do Bope fizeram buscas no Complexo do Alemão | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
“Sejam equipes de cinco ou quatro PMs, só recebemos um fuzil. A impressão é de que o equipamento é velho e os PMs das UPPs pegaram as sobras. Já os dos bandidos, que também usam 7.62, nunca falham. Incrível”, comparou um policial de UPP local, acrescentando que os PMs também utilizam pistolas ponto 40. Informações sobre a data de doação de cada equipamento estão gravadas nas armas.
Plano de ataque
Outra queixa dos soldados que patrulham becos e vielas é sobre o material utilizado nos coletes. Mesmo ameaçados com constantes recados e bilhetes prometendo ataques, os PMs usam equipamento que não suporta tiro de fuzil. No dia 29 de junho, um plano para ‘fuzilar’ a base do Morro do Alemão teria sido disseminado nas comunidades.
“Os coletes das UPPs são adequados para ações cotidianas. O de fuzil é utilizado em operações táticas, como aquelas feitas pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope).
A policial estava com equipamento adequado para o tipo de serviço que exerce. As atividades da UPP são de proximidade com a comunidade e não somente de confronto”, disse o coordenador das UPPs, coronel Rogério Seabra.
De acordo com a PM, o problema dos fuzis foi constatado. No entanto, a falha teria sido provocada por erro no manuseio e no procedimento de limpeza das armas, de responsabilidades dos policiais.
Além disso, prossegue a PM, todo o material foi avaliado como estando em perfeitas condições de uso. O corpo da soldado será sepultado hoje, às 9h, no Cemitério Riachuelo, em Valença, na região Sul Fluminense do Rio.
Séria e educada na comunidade
Séria e, em alguns momentos, até temida. Assim era, para moradores, Fabiana. A soldado era educada, mas mantinha a descrição durante patrulhamento na comunidade. Solteira e sem filhos, ela se formou em abril no 2º pelotão da 5ª Companhia e trabalhava há menos de três meses no Alemão .
“Quando ela entrava nos lugares na comunidade, a seriedade e a cara fechada davam lugar à educação”, revelou uma comerciante.
Irmã pede forças para suportar a dor
Mais uma vez, a dor da morte de um familiar atinge a vida da cabo Luciana de Souza, do 10º BPM (Barra do Piraí). Ela, que já havia perdido os pais, esteve ontem no IML para reconhecer o corpo da irmã e melhor amiga, Fabiana.
“Uma tinha a outra. Não sei como a Luciana vai levar a vida”, contou amigo. As irmãs moravam juntas no Parque Pentagna, em Valença.
Luciana descreveu em site de relacionamentos na Internet o momento trágico pelo qual passa. “Deus me dê forças para buscar o corpo da minha irmã no IML. Queria tanto esperar sua volta do serviço. Te amo!”, ressaltando depois: “Momento mais triste da minha vida”.
Ela foi acompanhada por assistente social da PM e escoltada por agentes do batalhão de Barra do Piraí. Abalada, pediu solução para a morte trágica da irmã. “Gostaria que ... medidas sejam tomadas para que outras famílias não passem o que estou passando”, lamentou.
Amigos de Fabiana fizeram vídeo em homenagem e deixaram mensagens na Internet: “Quem vive o dia a dia de uma UPP sabe o quanto estas encontram-se em condições precárias e deficientes (...) A morte da Fabi não pode ser esquecida”.
Governador presta solidariedade
Em nota oficial, o governador Sérgio Cabral prestou solidariedade à família da soldado Fabiana Aparecida. A Secretaria de Segurança fez o mesmo e reforçou a tese de que o processo de pacificação seguirá seu curso previsto naquela região, até que esteja consolidada a reconquista de território dessas comunidades.
A PM instalou no Alemão as UPPs Nova Brasília, Fazendinha, Alemão e Adeus/Baiana, e, no Complexo da Penha, as UPPs Fé/Sereno e Chatuba. Ainda serão inauguradas outras duas, no Parque Proletário e Vila Cruzeiro.
A morte de Fabiana foi comentada no debate ‘Comandos’, promovido pela ONG AfroReggae com ex-criminosos e representantes das polícias. O pouco tempo de serviço dos PMs foi motivo de crítica.