Militar médica que participou de resgate de crianças em escola do Haiti conta a dramática experiência
Os militares médicos que integram o Batalhão Brasileiro de Infantaria de Força de Paz (BRABAT) participaram ativamente das operações de resgate aos soterrados pelo desabamento da escola “La Promesse”, localizada em Porto Príncipe, capital do Haiti. O acidente aconteceu há uma semana e provocou a morte de cerca de 90 pessoas.
Segundo informações da Seção de Comunicação do BRABAT, logo após ser informado sobre o desabamento da escola, o batalhão deslocou, imediatamente, toda sua equipe médica em três ambulâncias. A equipe chegou ao local logo após o meio-dia, e iniciou trabalhos de resgate às vítimas, quase todas crianças.Juntamente com o a Companhia de Engenharia Haiti (BRAENGCOY), as equipes de resgate do BRABAT trabalharam intensamente no local da tragédia até as 21h. No interior da escola, em um túnel estreito que ameaçava desabar, após mais de seis horas de trabalho dramático, conseguiram resgatar, com vida, quatro crianças haitianas. que se encontravam presas nos escombros.
A Capitão Médica Carla Maria Clausi, que participou dos resgates, deu um depoimento emocionado sobre o trabalho dos militares brasileiros:
“Prezados chefes, companheiros e, mais do que tudo, amigos!
Sexta-feira passada o BRABAT/9º Contingente deu um show de competência, de capacidade técnico-profissional e de coragem!
Desejo tornar público este elogio e agradecimento à minha equipe de saúde e aos meus companheiros de trabalho do BRABAT/9, pois conseguimos salvar com vida, depois de mais de 6 horas de um resgate dramático, quatro crianças haitianas, de 6 e 7 anos de idade, que se encontravam presas nos escombros do andar térreo da escola que desabou, num túnel formado pelas vigas de concreto retorcidas e amontoadas, que corria o risco de colapsar a qualquer momento. Com pedaços de cimento que caíam sobre nossas cabeças, com caliça que soterrava cada vez mais aquelas crianças e as enchia cada vez mais de pânico.
Todos os integrantes da equipe, composta por mim, pela Tenente Bellinda, Sargento Áureo, Sargento Pelegrini, Sargento Weiner, Cabo Castro, Cabo Cledimilson, Soldado Sidney, e o principal herói da jornada, o Cabo Ricardo, entramos no local da tragédia sabendo do risco de vida que estávamos correndo, mas cientes da necessidade absoluta de nossa intervenção para salvar aquelas crianças, devido à extrema confusão e desorganização que havia no local.
Agradeço a cooperação fundamental do Tenente Alexandre, dos Fuzileiros Navais, que se fez presente em decisões e opiniões acertadas como especialista na sua área, a Ortopedia.
Jamais poderia esquecer a iniciativa do Sargento Rony, das Comunicações, pelo seu trabalho voluntário e abnegado para nos manter em contacto com a Base, desde que soube do ocorrido e permanecendo no local até avançada hora da noite, em trabalho conjunto com toda a equipe comandada pelo Comandante Parente.
Dos nossos motoristas Sidney e Francisco (este último, mesmo em arejamento) que sempre estiveram prontos e à nossa disposição.
E de todos aqueles, evidentemente, que nos deram o apoio logístico, com fornecimento de água, sucos, alimentos e luz para nossa atividade no meio da escuridão, sob o comando do Tenente Coronel Guerra e com o apoio da Engenharia.
Nada mais gratificante do que a liberação dessas quatro crianças, sem qualquer necessidade de amputação de seus membros ou de aparente seqüela. Nada mais gratificante do que as palmas dos haitianos junto aos seus gritos de “Viva Brasília”. Nada mais gratificante do que a interrupção do choro desesperado daquelas crianças, transferindo as lágrimas deles para os nossos olhos. Que transbordaram de lágrimas de alegria, de dever cumprido, de missão de paz.
Sinto-me extremamente orgulhosa e honrada por haver liderado estes militares, que lutaram contra o inimigo oculto nas sombras da morte, que nos rondava a todo momento.
Obrigada Deus, por nos haver enchido de força e de fé, para que acreditássemos em nossa capacidade.
Obrigada General Santos Cruz , por nos haver deixado permanecer em nosso posto de combate.
Obrigada Coronel Fioravante e Coronel Caio, pelo exemplo a seguir.
Obrigada Exército Brasileiro, por nos haver dado esta chance de estarmos aqui, neste momento, nesta exata hora...
Obrigada Brasil, por ser a nossa pátria amada e maravilhosa.
Obrigada pais, mães, maridos, esposas, namorados e namoradas, filhos e filhas, amigos e amigas por terem sempre acreditado em nós e por serem a nossa torcida invisível de cada dia de nossa missão.
Obrigada por estar viva.
E por ter ajudado a trazer de volta à luz a vida daquelas criancinhas haitianas indefesas.
Tudo pela paz!
Selva!
Brasil!
Assinado: Capitão Médica Carla Maria Clausi"
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