Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Enviado: Qua Jun 04, 2008 9:17 pm
por Clermont
MUNIQUE, 1938.
Por Patrick J. Buchanan – 4 de junho de 2008.
Quando o presidente Bush, diante do Knesset, utilizou a palavra “apaziguamento” para rotular estes que iriam negociar com o Irã de Mahmoud Ahmadinejad, ele invocou a mais poderosa analogia em qualquer debate sobre guerra e paz.
Nenhum homem deseja ser considerado como um “apaziguador”.
Mas, como este escritor descobriu desde que meu livro Churchill, Hitler and The Unnecessary War: How Britain Lost Its Empire and the West Lost the World. foi lançado no Dia do Memorial, há um profundo poço de ignorância sobre o que aconteceu naquele setembro, 70 anos atrás.
Por quê Neville Chamberlain foi à Munique? Como Munique levou à Segunda Guerra Mundial?
As sementes da crise foram plantadas na conferência de paz de 1919. Lá, os vitoriosos Aliados moldaram a nova nação da Tchecoslováquia a partir do Império Austro-Húngaro.
Mas, ao invés de seguirem seu princípio da auto-determinação, os Aliados puseram 3 milhões de alemães, 3 milhões de eslovacos, 800 mil húngaros, 150 mil poloneses e 500 mil rutenos sob o domínio de 7 milhões de tchecos. Essas tolas decisões cuspiam sobre os Quatorze Pontos de Wilson, termos sob os quais, os alemães, austríacos e húngaros tinham deposto as armas.
Por volta de 1938, a Alemanha tinha ressurgido, rearmado-se e trazido a Áustria para dentro do Reich, e, agora, estava exigindo que o direito de auto-determinação, fosse concedido aos 3 milhões de alemães na Tchecoslováquia, que estavam clamando para serem libertados de Praga, para voltarem a se juntar a seus conterrâneos.
A Grã-Bretanha não tinha nenhuma aliança e nenhuma obrigação de lutar pelos tchecos. Mas a França, tinha. E a Grã-Bretanha temia que, se Adolf Hitler utilizasse a força para trazer de volta os alemães sudetos, ao domínio alemão, a França poderia lutar. E, se a França declarasse guerra, a Grã-Bretanha iria ser arrastada nela, e um segundo banho de sangue se seguiria, como tinha sido em 1914.
Chamberlain foi à Munique porque ele não acreditava que manter 3 milhões de alemães dentro de uma nação à qual eles foram consignados, contra suas vontades, valesse uma guerra mundial.
Além do mais, a Grã-Bretanha estava despreparada para a guerra. Ela não tinha recrutamento obrigatório, nenhum Spitfire, nenhuma divisão pronta para ir à França. Por quê deveria o Império Britânico cometer suicídio declarando guerra à Alemanha, para apoiar um acordo de paz de Paris que ele, Chamberlain, acreditava ter sido injusto e desonrosamente imposto sobre uma derrotada Alemanha?
Chamberlain não acreditava nisso – e, após três viagens à Alemanha em setembro, ele efetuou a transferência dos alemães sudetos para o controle de Berlim, onde eles desejavam estar. Ele voltou para casa, em triunfo, para ser saudado como o maior pacificador de todos os tempos.
Por quê, então, “Munique” e “apaziguamento” são termos de infâmia?
A resposta jaz no que aconteceu a seguir.
Chamberlain voltou de Munique para uma arrebatadora recepção, acenando um documento que ele e Hitler tinham assinado, e declarou: “Pela segunda vez, em sessenta anos, um primeiro-ministro retorna da Alemanha com paz e honra. Eu creio que esta é a paz para nossa época.”
Isso era palpável insensatez. Hitler já tinha se voltado para o próximo item em seu menu, Danzig, uma cidade de 350 mil alemães, desligada do Reich em Versalhes, e transformada em Cidade Livre, para dar à Polônia uma saída para o mar. Hitler não queria guerra com a Polônia. Na verdade, ele queria o tipo de aliança com a Polônia que ele tinha com a Itália. Mas, primeiro, Danzig precisava ser resolvido.
Aqui, também, o governo britânico concordava: Danzig devia ser retornada. Com todas as amputações de terras e povos alemães, em Versalhes, os estadistas europeus, até mesmo Winston Churchill, consideravam Danzig e o Corredor Polonês, que cortou a Alemanha em duas, como a mais ultrajante. O problema eram os poloneses, que se recusaram a discutir Danzig.
Então, em março, a Tchecoslováquia, repentinamente, começou a se desintegrar. Os Sudetos tinham sido anexados à Alemanha, a Hungria tinha tomado de volta seus territórios, e a Polônia tinha anexado a disputada região de Teschen. A Eslováquia e a Rutênia, agora, se movimentavam para declarar independência, e Praga começou a marchar sobre suas províncias.
Hitler interveio para garantir a independência da Eslováquia e deu à Hungria, luz verde para reanexar a Rutênia. O presidente tcheco Hacha, então pediu para ver Hitler, que o atormentou por três horas para desistir da soberania tcheca e transformar a nação no Protetorado Alemão da Boêmia-Morávia.
Chamberlain, agora humilhado, alvo das zombarias de parlamentares do baixo-clero Tory, em pânico com falsos rumores desvairados de ataques alemães contra a Romênia e a Polônia, cometeu o maior equívoco na história britânica. Sem ser solicitado, ele emitiu uma garantia de guerra à Polônia, dando o poder a uma ditadura de coronéis poloneses - que tinham se juntado à Hitler, no desmembramento da Tchecoslováquia -, para arrastar o Império Britânico a uma guerra contra a Alemanha, por causa de uma cidade, Danzig, que os britânicos consideravam que devia ser devolvida à Alemanha.
Não foi Munique. Foi a garantia de guerra que garantiu a guerra que derrubou o Império, e nos deu o Holocausto, 50 milhões de mortos e a stalinização de metade da Europa.
Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Enviado: Qui Abr 16, 2009 9:58 pm
por Clermont
A MOBILIZAÇÃO DO EXÉRCITO ALEMÃO NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
James Dunnigan & Albert Nofi – Dirty Little Secrets of World War II.
O Tratado de Versalhes, em 1919, proibiu a Alemanha de ter um exército de mais de 100 mil homens, todos restritos a alistamentos de longo prazo (vinte e cinco anos para oficiais e doze para outros postos). Esta força foi organizada em sete divisões de infantaria e três de cavalaria que se enquadravam em tabelas de organização muito rígidas, prescritas pelo tratado. Cada uma das divisões de infantaria controlava o recrutamento e treinamento dentro de seu distrito militar particular, ou Wehrkreis. Além disto, existiam dois comandos superiores (Gruppenkommandos) que eram responsáveis pela administração e treinamento de alto-nível. Embora o exército fosse proibido de ter um estado-maior geral, uma agência chamada “Escritório das Tropas” (Truppendienst) desempenhava, clandestinamente, funções de estado-maior geral, entre elas, a conduta de preparações secretas para a mobilização geral de um exército muito maior, no dia em que a Alemanha pudesse, abertamente, rearmar-se, mais uma vez.
O plano básico de expansão do exército era simples. Quando a mobilização fosse decretada, cada unidade no exército iria ser preenchida até 300 porcento de sua força oficial, com novos recrutas e, prontamente, dividida em três. Portanto, cada divisão se expandiria em três novas divisões, cada uma tendo um quadro de cerca de um terço de soldados regulares para treinar, aclimatar e fortalecer os novos recrutas, muitos dos quais já teriam passado por algum treinamento, através dos vários programas preparatórios clandestinos. Como resultado, a Alemanha seria capaz de agrupar cerca de trinta divisões, rapidamente. Este era o plano em existência, quando Hitler chegou ao poder, no final de janeiro de 1933. E foi este o plano com o qual Hitler pôde criar a, aparentemente imbatível Wehrmacht de 1939-1942.
O período crítico de expansão do Reichswehr para a Wehrmacht, foi 1934-1935. Durante este período, enquanto, por exemplo, a velha 1ª Divisão de Infantaria foi particionada nas novas 1ª, 11ª e 21ª Divisões de Infantaria, a Alemanha esteve, por algum tempo, sem um exército efetivo. Alguma diplomacia astuta, a par com uma boa dose de covardia na França e Grã-Bretanha, permitiram a Hitler a escapar sem uma demonstração militar, de forma que, com o acréscimo de algumas divisões blindadas, por volta de 1936, a Wehrmacht somava quarenta divisões. Nos anos seguintes, enquanto Hitler expandia territorialmente a Alemanha, o exército se expandia ainda mais. Com o Anschluss, a anexação da Áustria (que trouxe meia-dúzia de novas divisões) e a anexação dos Sudetos, pelo fim de 1938, a Alemanha tinha 51 divisões da ativa. Enquanto isto, é claro, homens eram retirados das divisões da ativa e passavam para a reserva, levando ao crescimento do potencial de mobilização da Alemanha.
É claro, este exército de massas precisava de oficiais; 51 divisões requeriam cerca de 100 mil deles. Haviam cerca de 4 mil disponíveis do velho Reichswehr, incluindo pessoal médico, e 1 mil ou mais do antigo exército austríaco, um fundo, obviamente, insuficiente para satisfazer a demanda. Reconvocando milhares de antigos oficiais da Grande Guerra e comissionando muitos sargentos (afinal de contas, o Reischwehr tinha sido, altamente seletivo) ajudou, mas ainda não era o suficiente. No fim, um eficiente sistema de campos de treinamento para oficiais foi estabelecido. Toda esta expansão do exército ocorreu ao mesmo tempo que a marinha estava crescendo e a nova força aérea (a Luftwaffe) estava sendo criada, o que impôs ainda mais tensão no potencial humano da Alemanha, para não mencionar as necessidades do pequeno, mas em expansão, corpo de guardas de Hitler, as Waffen-SS. De modo a regulamentar a administração de potencial humano, no início da Segunda Guerra Mundial, Hitler fixou uma alocação anual de pessoal, com o exército obtendo 66 porcento de todos os novos recrutas (incluindo cerca de 6 mil para as Waffen-SS), a marinha com 9 porcento e a força aérea com 25 porcento.
Recrutamento e treinamento eram responsabilidade dos Wehrkreis. Este sistema foi extremamente eficiente. Por exemplo, os seis milhões de habitantes da Áustria, que constituíam um só Wehrkreis, forneceram dezesseis divisões de infantaria, uma divisão panzer, sete divisões alpinas e sete divisões de depósito e de reserva, no curso da guerra, sem mencionar recrutas para a força aérea e a marinha. Divisões em campanha receberam recompletamentos de seus Wehrkreis de origem e, freqüentemente, eram enviadas para casa, para recuperar suas forças. A 26ª Divisão de Infantaria, do XXI Wehrkreis na Renânia, foi, mais ou menos, destruída em combate, nove vezes, cada uma delas, tendo sido restaurada de volta a sua força normal, por recrutas novos da Renânia.
Em acréscimo a um eficiente sistema de mobilização, o Exército alemão formava unidades por “ondas”. Cada onda consistindo de um número de divisões recém-formadas ou reorganizadas, todas as quais eram organizadas e equipadas, precisamente, da mesma forma. A idéia era de que num exército de, literalmente, centenas de divisões, tudo o que um comandante superior tinha de saber sobre determinada unidade era a qual onda ela pertencia, já que isto lhe informaria quando ela teria sido formada, e quanto treinamento tinha (unidades mais antigas tendo mais do que as mais recentes), qual seu potencial humano e alocações de equipamento e como estava organizada.
Por exemplo, as divisões da 2ª Onda foram formadas de reservistas em agosto de 1939, com uma TO & E (tabela de organização e equipamento) similar aquela da 1ª Onda pré-guerra, com menos metralhadoras leves e nenhum morteiro. A 3ª Onda, formada na época a partir da Landwehr (milícia), era como a 1ª Onda, com menos soldados de engenharia, comunicações e outros elementos de apoio ao combate. A 4ª Onda, formada simultaneamente, de potencial humano recém-recrutado, era como a 2ª, mas carecia de uma porção de elementos de apoio ao combate, e a 5ª Onda, formada de reservistas mais velhos durante a campanha polonesa (setembro-outubro de 1939), tinha, na maior parte, equipamento tcheco. As ondas continham entre quatro a vinte e duas divisões. As primeiras trinta e duas ondas (divisões formadas até o outono de 1944) foram numeradas, mas a meia-dúzia ou tanto de ondas posteriores receberam nomes gloriosos, talvez para que os homens não se perguntassem o que aconteceu aos sujeitos nas trinta e duas ondas anteriores. Este foi o sistema com o qual as forças armadas alemãs começaram a Segunda Guerra Mundial. Apesar de algumas deficiências óbvias, ele era lógico e ordenado. No entando, as baixas crescentes, a situação estratégica e política em deterioração e o caráter peculiar da política interna do III Reich, logo começaram a criar problemas.
Provavelmente, a maior deficiência na mobilização da Alemanha e nos arranjos administrativos do potencial humano tenha sido o desejo de vários líderes (tanto políticos como militares) para construir exércitos “particulares” por razões políticas.
O primeiro e mais óbvio exemplo disto foram as Waffen-SS de Heinrich Himmler. Originariamente, um contingente, relativamente pequeno, de soldados do Partido Nazista, destinados como guardas pessoais e pistoleiros de Hitler, as Waffen-SS, logo, expandiram-se para um exército auto-suficiente, com aproximadamente 10 porcento do potencial humano militar da Alemanha, pelos fins de 1944, porém, incluindo plenos 25 porcento das divisões panzer e panzergrenadier. Tão desesperado ficou Himmler por potencial humano que ele garantiu o monopólio sobre o recrutamento dos Volksdeutsch, os numerosos residentes alemães nas outras nações, e, então, começou a recrutar de “germânicos não-alemães” tais como suecos, dinamarqueses e holandeses, então de “arianos não-germânicos”, tais como franceses, belgas, espanhóis e italianos, e, por fim, dos próprios “Untermenchen”, os supostamente inferiores eslavos croatas, bósnios e ucranianos; e de prisioneiros de guerra indianos, asiáticos e africanos, para não mencionar voluntários árabes. De fato, os únicos povos não utilizados, de forma consciente, foram os judeus e os ciganos, embora, alguns destes, entrassem de qualquer forma, disfarçando-se como alemães, de modo a se esconderem no meio de seus inimigos.
A Luftwaffe mostrou-se, ainda, como outro ralo para o potencial humano da Alemanha. Hermann Göring, desde cedo, estabeleceu a noção de que qualquer coisa associada com o ar devia ser parte de sua força aérea, incluindo, não apenas tripulações aéreas e pessoal de base, mas, também, tropas antiaéreas, de pára-quedistas, para não mencionar sua própria guarda pessoal. Entretanto, já que a Luftwaffe, eventualmente, perdeu a superioridade aérea, aos poucos, ficou com mais pessoal do que precisava. Francamente oposto a transferir esses elementos para o exército, Göring conseguiu a permissão de Hitler para organizá-los em Luftwaffe-Feld-Divisionen, (divisões de campanha da Força Aérea). Vinte e duas divisões completas foram formadas. Comandadas por antigos aviadores, sem nenhum quadro de veteranos, virtualmente todas elas, desintegraram-se ao primeiro contato com o inimigo, a maioria na Frente Russa. Naturalmente, algumas unidades da força aérea se desempenharam bem, as onze divisões de pára-quedistas e a Divisão Panzer de Pára-quedistas Hermann Göring que foi a maior divisão já empenhada em combate (de fato, tão grande que, mais tarde, foi dividida em duas). Porém, semelhante às formações Waffen-SS, estas unidades eram superdimensionadas, com mais (e melhores) homens e mais equipamento do que as divisões comparáveis do exército regular.
Esta foi uma utilização, extremamente ineficiente, do potencial humano e de equipamento. A Alemanha formou cerca de 761 divisões durante a guerra (cerca de 670 do exército, 48 das Waffen-SS, 40 da Luftwaffe e 3 da Kriegsmarine); a imprecisão se deve ao fato de que grande número destas “divisões” foram formadas durante as semanas finais do Gotterdamerüng de Hitler, poucas das quais tinham muitos soldados. Cerca de 110 destas foram destruídas em ação, e 173, virtualmente, todo um exército, foram desmobilizadas devido a severas baixas. Isto foi um desperdício enorme. Novas divisões consumiam potencial humano e equipamento que teriam sido mais bem empregados para reconstruir os quadros, ainda que desfalcados, das antigas. As vinte e duas Luftwaffe-Feld-Divisionen tinham potencial humano o bastante para ter restaurado cem divisões de infantaria do exército regular a plena força, considerando-se baixas “normais”. Imaginem os possíveis efeitos benéficos de distribuir entre as divisões do exército regular, os elementos, física e intelectualmente superiores, que compunham o grosso do potencial humano canalizado para as divisões da Luftwaffe e das Waffen-SS, mesmo levando-se em conta as, supostamente, qualidades inferiores de muitos “Untermenchen” que estas últimas continham.