Re: CONFLITO ISRAELO-PALESTINIANO
Enviado: Ter Jan 06, 2009 9:21 pm
O Público publicou (2/1/2009) uma dessas periódicas missivas de senadores internacionais sobre o conflito do Médio Oriente, neste caso com o título ameaçador de “a humanidade está em jogo em Gaza”. Assinam esse texto um conjunto de personalidades heteróclitas, como de costume ecleticamente representando “civilizações” distintas, para dar um ar de universalidade. Bastava esta composição dos abaixo-assinados para nos fazer desconfiar de tanto politicamente correcto: o checo Vaclav Havel, o príncipe Hassan bin Tala, tio do actual rei jordano, o teólogo progressista Hans Küng, o neo-zelandês Mike Moore, antigo director da Organização Mundial do Comércio, Yohei Sasakawa um filantropo japonês , Desmond Tutu, Prémio Nobel da Paz , e um nobre Karel Schwarzenberg, actual ministro dos Negócios Estrangeiros da República Checa. Esta última assinatura, de um ministro que está neste momento em exercício na Presidência da UE, dá ao documento o ar oficioso de uma declaração da célebre (e na verdade inexistente) “política externa europeia”.
Temos pois, como deve ser, dois europeus do Leste, um plebeu e um nobre, um alemão, um principe árabe, um bispo anglicano africano, um japonês, um representante dos antípodas, ou visto de outra maneira, um bispo, um benemérito, um escritor, um árabe moderado, e um político no activo, ou visto de outro modo, um branco, um árabe, um negro, um amarelo, ou visto ainda de outro modo, um cristão católico, um cristão anglicano, um muçulmano, um xintoista, um agnóstico, etc, etc. O mundo como os multiculturalistas pensam que ele é.
O texto permite entender as razões pelas quais a política europeia para o Médio Oriente é o fracasso conhecido, e comporta um visão que, pretendendo-se equidistante, legitima a violência palestiniana radical, e acaba por ser mais condenatório de Israel do que da beligerância do Hamas, cujo objectivo de destruir o estado de Israel nunca entra em conta nestas equidistâncias. Nada que não seja habitual neste tipo de “equidistância”, muito comum na Europa “comunitária”, e uma das razões pelas quais a União Europeia, sendo o principal apoiante humanitário da Autoridade Palestiniana, não tem qualquer papel de relevo no conflito palestiniano e que não é reconhecida por nenhuma das partes como protagonista sério em qualquer esforço de negociação. Pelo contrário, os pouco equidistantes EUA e, do outro lado, o Irão, são peças fundamentais de qualquer entendimento e o que dizem e fazem é tido em total conta pelos países e grupos em conflito. Se houver tréguas, paz, estado palestiniano, é com eles e por eles também. A Europa, que por razões de todo o tipo, históricas, políticas e geopolíticas, devia ser uma chave para a resolução do conflito, é um inexistência real e limita-se a proferir declarações de boas intenções como a carta a que nos referimos.
A nova “linguagem de pau” dos tempos modernos passa por cartas como esta em que, ou por omissão da verdade, sugestão de falsidade ou por pura falsidade, se toma posição jurando estar-se acima das partes. Veja-se esta frase que Orwell instantaneamente reconheria como doublespeak:
"O impasse ao nível da segurança que existe entre Israel e a liderança palestiniana em Gaza também conduziu aos bloqueios de ajuda alimentar por Israel, que obrigaram os 1,5 milhões de habitantes de Gaza a enfrentar uma situação de fome real. Israel, ao que parece, continua a enfatizar a primazia da segurança "dura" nas suas negociações com os palestinianos de Gaza, mas essa ênfase serve apenas para bloquear oportunidades para soluções criativas e não-violentas da disputa entre Israel e a Palestina."
A “liderança palestiniana em Gaza”, que os signatários recusam nomear, é o Hamas que se separou do governo e do presidente palestiniano Abbas, para ilegalmente tornar o território numa ditadura civil e militar fundamentalista, patrocinada pelo Irão, que usa a população civil como escudo para as suas actividades de agressão a Israel, mas também para atacar todos os sectores palestinianos mais moderados. O seu objectivo é explicito: impedir qualquer acordo de paz com Israel e, em consequência, militarizou todo o território, usando todas as oportunidades de abertura de fronteira para se rearmar e receber apoios externos, sacrificando o bem estar de milhares de palestinianos civis aos seus objectivos de guerra. No interior do território controla todas as ajudas humanitárias para, em primeiro lugar, privilegiar os quadros do Hamas e as suas famílias e, depois, para o enquadramento e doutrinação fundamentalista.
Tudo isto está mais que documentado. Não tenho a mais pequena dúvida que os signatários da carta sabem que é assim. Sabem até mais do que isso: sabem que o Hamas usa as ambulâncias para mover homens e armas, utiliza escudos humanos, armazena armas em mesquitas, escolas e hospitais. Sabem que o Hamas prepara crianças e jovens adolescentes nas suas escolas numa ideologia fundamentalista do martírio, organizando atentados indiscriminados contra a população civil. Os signatários da carta sabem muito bem que Israel não toma a população civil como alvo militar e que o Hamas não distingue entre um militar e um civil judeus, assassinando todos os que pode. Sabem ainda mais: que o Hamas viola todo o tipo de direitos humanos, fuzila opositores suspeitos de simpatizarem com a Fatah de Abbas e presumiveis ou reais informadores israelitas, impede qualquer liberdade de expressão, prende indiscriminadamente e tortura, introduziu a sharia, e outras práticas religiosas fundamentalistas.
Neste contexto, que segurança pode ter Israel que não seja “dura”? Alguns destes senadores conhecem alguma política “mole” que possa merecer o nome de segurança? Que política de segurança “mole” seria possível com grupos como o Hamas no contexto do Médio Oriente? E que solução de “protectorado” internacional funcionaria no Médio Oriente que pudesse garantir a segurança de Israel, sem tropas que estivessem prontas para desarmar o Hamas, e os grupos radicais palestinianos, para bloquear a inflitração iraniana para o Hamas e para o Hezbollah, para impedir os esquadrões da morte? Com que exército europeu?
Basta olhar para o Líbano onde as tropas internacionais continuam passivas face ao Hezbollah, violando o mandato internacional que receberam no âmbito de mais uma das “soluções criativas e não-violentas da disputa entre Israel e a Palestina” que tanto agradam aos signatários do documento. Se estes fossem israelitas aceitariam diminuir a sua própria segurança face a este tipo de intervenção “equidistante” que depois cede às relações de força no terreno e que permite que a Síria e o Irão continuem a controlar parte do território libanês e a transformá-lo numa base de guerra civil no Libano e internacional contra Israel?
As conclusões desta carta são de uma enorme hipocrisia. Sim, é verdade que “em Gaza, está em jogo o sentido básico de decência da humanidade”, só que para se ser completamente verdadeiro dever-se-ia ter ido mais longe: exigir da comunidade internacional a reposição da legalidade no território, desarmando o Hamas, entregando o controlo de Gaza ao governo legítimo da Autoridade Palestiniana, apoiando os esforços dos moderados palestinianos para um entendimento com Israel, mas sendo intransigente com a situação de segurança de Israel. Só neste quadro é que existe autoridade para criticar os excessos israelitas, se os houver. Isso é que permitiria “a coragem moral e a visão política para que a Palestina dê um salto quântico.” Embora esta do “salto quântico” se não for erro de tradução, é um lapso freudiano dos autores da carta, porque tal “salto” só se dá num espaço infinitamente pequeno.
Origem
Temos pois, como deve ser, dois europeus do Leste, um plebeu e um nobre, um alemão, um principe árabe, um bispo anglicano africano, um japonês, um representante dos antípodas, ou visto de outra maneira, um bispo, um benemérito, um escritor, um árabe moderado, e um político no activo, ou visto de outro modo, um branco, um árabe, um negro, um amarelo, ou visto ainda de outro modo, um cristão católico, um cristão anglicano, um muçulmano, um xintoista, um agnóstico, etc, etc. O mundo como os multiculturalistas pensam que ele é.
O texto permite entender as razões pelas quais a política europeia para o Médio Oriente é o fracasso conhecido, e comporta um visão que, pretendendo-se equidistante, legitima a violência palestiniana radical, e acaba por ser mais condenatório de Israel do que da beligerância do Hamas, cujo objectivo de destruir o estado de Israel nunca entra em conta nestas equidistâncias. Nada que não seja habitual neste tipo de “equidistância”, muito comum na Europa “comunitária”, e uma das razões pelas quais a União Europeia, sendo o principal apoiante humanitário da Autoridade Palestiniana, não tem qualquer papel de relevo no conflito palestiniano e que não é reconhecida por nenhuma das partes como protagonista sério em qualquer esforço de negociação. Pelo contrário, os pouco equidistantes EUA e, do outro lado, o Irão, são peças fundamentais de qualquer entendimento e o que dizem e fazem é tido em total conta pelos países e grupos em conflito. Se houver tréguas, paz, estado palestiniano, é com eles e por eles também. A Europa, que por razões de todo o tipo, históricas, políticas e geopolíticas, devia ser uma chave para a resolução do conflito, é um inexistência real e limita-se a proferir declarações de boas intenções como a carta a que nos referimos.
A nova “linguagem de pau” dos tempos modernos passa por cartas como esta em que, ou por omissão da verdade, sugestão de falsidade ou por pura falsidade, se toma posição jurando estar-se acima das partes. Veja-se esta frase que Orwell instantaneamente reconheria como doublespeak:
"O impasse ao nível da segurança que existe entre Israel e a liderança palestiniana em Gaza também conduziu aos bloqueios de ajuda alimentar por Israel, que obrigaram os 1,5 milhões de habitantes de Gaza a enfrentar uma situação de fome real. Israel, ao que parece, continua a enfatizar a primazia da segurança "dura" nas suas negociações com os palestinianos de Gaza, mas essa ênfase serve apenas para bloquear oportunidades para soluções criativas e não-violentas da disputa entre Israel e a Palestina."
A “liderança palestiniana em Gaza”, que os signatários recusam nomear, é o Hamas que se separou do governo e do presidente palestiniano Abbas, para ilegalmente tornar o território numa ditadura civil e militar fundamentalista, patrocinada pelo Irão, que usa a população civil como escudo para as suas actividades de agressão a Israel, mas também para atacar todos os sectores palestinianos mais moderados. O seu objectivo é explicito: impedir qualquer acordo de paz com Israel e, em consequência, militarizou todo o território, usando todas as oportunidades de abertura de fronteira para se rearmar e receber apoios externos, sacrificando o bem estar de milhares de palestinianos civis aos seus objectivos de guerra. No interior do território controla todas as ajudas humanitárias para, em primeiro lugar, privilegiar os quadros do Hamas e as suas famílias e, depois, para o enquadramento e doutrinação fundamentalista.
Tudo isto está mais que documentado. Não tenho a mais pequena dúvida que os signatários da carta sabem que é assim. Sabem até mais do que isso: sabem que o Hamas usa as ambulâncias para mover homens e armas, utiliza escudos humanos, armazena armas em mesquitas, escolas e hospitais. Sabem que o Hamas prepara crianças e jovens adolescentes nas suas escolas numa ideologia fundamentalista do martírio, organizando atentados indiscriminados contra a população civil. Os signatários da carta sabem muito bem que Israel não toma a população civil como alvo militar e que o Hamas não distingue entre um militar e um civil judeus, assassinando todos os que pode. Sabem ainda mais: que o Hamas viola todo o tipo de direitos humanos, fuzila opositores suspeitos de simpatizarem com a Fatah de Abbas e presumiveis ou reais informadores israelitas, impede qualquer liberdade de expressão, prende indiscriminadamente e tortura, introduziu a sharia, e outras práticas religiosas fundamentalistas.
Neste contexto, que segurança pode ter Israel que não seja “dura”? Alguns destes senadores conhecem alguma política “mole” que possa merecer o nome de segurança? Que política de segurança “mole” seria possível com grupos como o Hamas no contexto do Médio Oriente? E que solução de “protectorado” internacional funcionaria no Médio Oriente que pudesse garantir a segurança de Israel, sem tropas que estivessem prontas para desarmar o Hamas, e os grupos radicais palestinianos, para bloquear a inflitração iraniana para o Hamas e para o Hezbollah, para impedir os esquadrões da morte? Com que exército europeu?
Basta olhar para o Líbano onde as tropas internacionais continuam passivas face ao Hezbollah, violando o mandato internacional que receberam no âmbito de mais uma das “soluções criativas e não-violentas da disputa entre Israel e a Palestina” que tanto agradam aos signatários do documento. Se estes fossem israelitas aceitariam diminuir a sua própria segurança face a este tipo de intervenção “equidistante” que depois cede às relações de força no terreno e que permite que a Síria e o Irão continuem a controlar parte do território libanês e a transformá-lo numa base de guerra civil no Libano e internacional contra Israel?
As conclusões desta carta são de uma enorme hipocrisia. Sim, é verdade que “em Gaza, está em jogo o sentido básico de decência da humanidade”, só que para se ser completamente verdadeiro dever-se-ia ter ido mais longe: exigir da comunidade internacional a reposição da legalidade no território, desarmando o Hamas, entregando o controlo de Gaza ao governo legítimo da Autoridade Palestiniana, apoiando os esforços dos moderados palestinianos para um entendimento com Israel, mas sendo intransigente com a situação de segurança de Israel. Só neste quadro é que existe autoridade para criticar os excessos israelitas, se os houver. Isso é que permitiria “a coragem moral e a visão política para que a Palestina dê um salto quântico.” Embora esta do “salto quântico” se não for erro de tradução, é um lapso freudiano dos autores da carta, porque tal “salto” só se dá num espaço infinitamente pequeno.
Origem