Atualizada em 04/10/2013 às 09h56min
Japão e Estados Unidos ampliam aliança militar
Os Estados Unidos e o Japão fecharam acordo hoje para ampliar sua aliança de segurança, expandindo o papel japonês, mas mantendo uma presença militar norte-americana em território nipônico.
O acordo sublinha os esforços dos dois países para responder aos crescentes desafios da China e da Coreia do Norte em um período de aperto orçamentário.
O tratado dispõe sobre a construção de um novo sistema de radar de defesa contra mísseis no Japão, o posicionamento de drones (aviões não tripulados) norte-americanos em solo do país pela primeira vez e esforços conjuntos de combate a ameaças cibernéticas, entre outros passos.
A assinatura aconteceu durante uma visita dos secretários de Estado e Defesa norte-americanos, John Kerry e Chuck Hagel, ao Japão para reuniões com suas contrapartes.
Tanto Tóquio como Washington estão trabalhando para remodelar uma aliança de segurança que remonta à Guerra Fria.
Os Estados Unidos esperam sinalizar que seu foco militar, econômico e diplomático será mantido e ampliado na Ásia, a despeito da possibilidade de profundos cortes nos orçamentos do Pentágono.
Para o Japão, o acordo parece oferecer aprovação norte-americana à expansão, ainda modesta, de suas capacidades militares, agora que o novo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, busca colocar seu país em posição de maior igualdade junto ao protetor militar do país pelas últimas seis décadas.
"Nossa cooperação bilateral na defesa, incluindo o compromisso dos Estados Unidos para com a segurança do Japão, é um componente crucial de nosso relacionamento mais amplo e para a mudança de equilíbrio promovida pela administração Obama em favor da região Ásia-Pacífico", disse Hagel a repórteres em Tóquio.
Uma questão importante durante as negociações foi como responder à China, que começou a enviar navios guarda-costas para contestar o controle do Japão sobre um grupo de ilhas desabitadas no mar da China Oriental.
O acordo anunciado hoje afirma que Estados Unidos e Japão devem estar preparados para lidar com "comportamentos coercivos e desestabilizadores", e apela à China por adesão às normas internacionais.
Embora os Estados Unidos tenham se recusado a tomar partido na disputa, Hagel repetiu as garantias norte-americanas de que as ilhas estão cobertas pelo tratado de segurança, que obriga os Estados Unidos a ajudar o Japão a se defender caso seja atacado.
Outro passo significativo foi a decisão de permitir que os Estados Unidos instalem um novo sistema de radar de banda X em Kyogamisaki, perto da cidade de Kyoto, a fim de proteger melhor os dois países contra a ameaça militar da Coreia do Norte.
O poderoso novo sistema de radar também permitirá que o Pentágono economize dinheiro, ao liberar para uso em outras regiões os navios equipados com o sistema de radar Aegis, que hoje patrulham as águas próximas à Coreia do Norte.
Ao abrir a reunião, o ministro da Defesa japonês, Itsunori Onodera, disse a Hagel que "gostaríamos de compartilhar nossas visões sobre o ambiente de segurança que cerca o Japão, incluindo a questão da Coreia do Norte".
Os secretários de Estado e defesa norte-americanos vêm realizando reuniões com suas contrapartes no governo japonês desde 1990, mas esta foi a primeira vez que a reunião aconteceu no Japão.
As autoridades japonesas e norte-americanas afirmaram que a escolha de local demonstrava o compromisso renovado dos Estados Unidos para com a região Ásia-Pacífico.
Esta também foi a primeira das reuniões "dois mais dois" a incluir um acordo quanto a cooperação em projetos específicos de segurança cibernética.
Os Estados Unidos também anunciaram que posicionariam no Japão drones de vigilância e aviões tripulados de reconhecimento P-8, altamente avançados. Juntos, os dois modelos de aeronave devem monitorar o Pacífico Ocidental.
Os dois países também resolveram uma questão que há muito gerava dificuldades e chegaram a acordo para a transferência de 9.000 fuzileiros navais norte-americanos de bases em Okinawa para bases fora do Japão, com 5.000 deles enviados a Guam. O Japão concordou em bancar parte do custo da transferência.
De sua parte, os japoneses anunciaram que reforçariam suas capacidades de segurança por meio da criação de um novo Conselho de Segurança Nacional, ao modo dos Estados Unidos, e que expandiriam sua assistência aos países do Sudeste Asiático para ajudá-los a resistir às reivindicações territoriais chinesas.
O Japão também prometeu que ampliaria seus gastos militares totais, a despeito da necessidade de reduzir sua imensa dívida nacional.
O país afirmou ainda que alteraria a interpretação atualmente usada quanto à sua constituição pacifista, criada pelas forças de ocupação norte-americanas depois da Segunda Guerra Mundial, a fim de permitir que as Forças Armadas do país ofereçam assistência a forças norte-americanas que estejam sob ataque, algo que hoje elas estão legalmente impedidas de fazer.
"Nosso relacionamento jamais foi mais forte ou melhor do que hoje", disse Kerry. "Continuamos a nos adaptar, no entanto, para enfrentar os desafios diferentes que o século 21 oferece".
Ainda assim, os esforços japoneses para reforçar as capacidades militares do país criam um dilema para os Estados Unidos.
Embora as autoridades norte-americanas tenham recebido positivamente a disposição japonesa de arcar com parcela maior da carga de segurança na região, essa movimentação vem sendo encarada com cautela na Coreia do Sul, outro importante parceiro dos Estados Unidos no campo da defesa.
A negação por líderes japoneses, entre os quais o atual primeiro-ministro Abe, de que mulheres coreanas tenham sido usadas como escravas sexuais por militares japoneses em períodos de guerra é causa de irritação para muitos sul-coreanos, que ainda guardam amargas lembranças da colonização de sua península pelos japoneses na primeira metade do século 20.
Como resultado, os Estados Unidos vêm enfrentando dificuldades para convencer seus dois aliados mais próximos na Ásia a conduzirem uma cooperação militar, ainda que em nível modesto.
Reconhecendo o problema, o acordo apela especificamente por uma cooperação tripla entre Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão a fim de enfrentar ameaças comuns, como o programa nuclear da Coreia do Norte.
"Hoje vimos uma comunhão de ideias entre Japão e Estados Unidos em relação a essa situação", disse Fumio Kishida, ministro do Exterior japonês. "E nos opomos decididamente a tentativas de mudar o status quo por meio de coerção".
Kerry também tentou minorar os temores chineses de uma aliança mais estreita entre Japão e Estados Unidos, afirmando que os norte-americanos desejam um relacionamento cooperativo com a China quanto à questão da Coreia do Norte e outras áreas nas quais exista terreno comum.
"Também buscamos encontrar coisas sobre as quais possamos cooperar", disse, mas acrescentou que os Estados Unidos foram "muito claros" quanto aos "nossos interesses e às coisas que acreditamos representem linhas que não devem ser cruzadas", entre as quais a disputa com o Japão sobre as ilhas.
Embora os Estados Unidos não estejam interferindo na questão, disse ele, "reconhecemos a administração das ilhas pelo Japão".
Ele acrescentou que "uma China em ascensão é bem-vinda, desde que deseje se envolver de acordo com os padrões internacionais".
Não foram localizados representantes do governo chinês para comentar o acordo, pois hoje é feriado nacional na China.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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