Nova entrevista com BRIG. KASEMODEL:
1- BLOG BRAZILIAN SPACE: Brigadeiro Kasemodel, desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu a presidência da república, cortes orçamentários diminuíram e muito as verbas disponíveis para os projetos do IAE, inclusive atrasando ainda mais o projeto do VLS-1. Qual é realmente a situação desse programa e qual é atualmente a real expectativa do instituto para os lançamentos dos VLS-1 VSISNAV, XVT-02 e VO4?
BRIG. KASEMODEL: O lançamento do VLS-1 VSISNAV deverá ocorrer em 2013. Para a realização deste voo, o caminho crítico atual é a conclusão das redes elétricas, contratada junto à indústria nacional. Os lançamentos do XVT-02 e do V04 estão previstos para os anos subsequentes, mas dependem de recursos financeiros que ainda não estão assegurados.
2- BRAZILIAN SPACE: Brig. Kasemodel em nossa primeira entrevista (abril de 2010) perguntamos ao senhor se o VLS-1 poderia ser usado para o lançamento do satélite universitário ITASAT-1 e o senhor disse que não havia nenhuma previsão nesse sentido. É sabido que esse satélite encontra-se atualmente em sua fase final de desenvolvimento. Assim sendo, lhe pergunto: Houve alguma mudança quanto a isso?
BRIG KASEMODEL: Tanto o VLS-1 como o VLM-1 poderá ser utilizado para o lançamento do ITASAT; contudo, a previsão de disponibilidade desses veículos para esse voo é a partir de 2015. Outra alternativa seria o lançamento de carona no Cyclone 4.
3- BRAZILIAN SPACE: Continuando Brigadeiro, o IAE tem um acordo exitoso de cooperação há mais de 40 anos com o DLR alemão que tem trazido importantes contribuições ao PEB. É sabido que reuniões têm sido realizadas entre o DLR e o IAE visando novas oportunidades de cooperação espacial, tanto em relação aos Programas TEXUS, MASER, SHEFEX, HIFIRE, SCRAMSPACE, como também e possivelmente ao Programa MAXUS e talvez também o Programa HotPay. Com relação ao Programa SHEFEX brigadeiro, existe na net uma programação divulgada pelo DLR que prevê além do lançamento do SHEFEX III pelo VLM-1, o lançamento de dois experimentos intitulados SHEFEX IIa e IIb. O Brasil está envolvido com essas missões, e caso sim, qual o foguete brasileiro que se pretende utilizar?
BRIG. KASEMODEL: Na realidade não tenho conhecimento dessas missões intituladas SHEFEX IIa e IIb. Do meu conhecimento, o próximo experimento desse Programa é o SHEFEX III. No entanto, se de fato existir essa previsão, é possível que para esses lançamentos sejam utilizados novamente veículos VS-40 mas, o IAE não recebeu, até o momento, nenhuma solicitação do DLR nesse sentido.
4- BRAZILIAN SPACE: E com relação ao Programa MAXUS (DLR/ESA) brigadeiro, é sabido que havia discussões entre o IAE e o DLR para que o VS-50 (foguete derivado do motor-foguete S50 do VLM-1) fosse utilizado nesse programa em substituição ao motor-foguete norte-americano Castor 4B. As discussões avançaram nesse sentido brigadeiro?
BRIG. KASEMODEL: O foguete VS-50 poderia ser utilizado em substituição ao Castor 4B, mas não temos nada de concreto por parte do DLR. Sobre a participação do IAE no Programa MAXUS, até o momento, também, não houve nenhuma demanda oficial do DLR para o VS-50.
5- BRAZILIAN SPACE: Falando no motor S-50 e no VLM-1, como vão o desenvolvimento desses projetos? Existe já uma previsão de teste desse motor no banco de provas da Usina Coronel Abner?
BRIG. KASEMODEL: Como é do seu conhecimento, já temos um modelo de engenharia do envelope-motor S50 e o projeto VLM-1 está na Fase SSR (System Requirements Review). Testes do Motor S50 em Banco de provas estão previstos para 2014. Entretanto, o desenvolvimento de ambos projetos é fortemente dependente de recursos financeiros que devem ser assegurados tanto em volume como em cadência de desembolso.
6- BRAZILIAN SPACE: E quanto ao foguete de sondagem brasileiro VSB-30 brigadeiro, como se encontra o processo de industrialização desse foguete?
BRIG. KASEMODEL: Para que a transferência completa do VSB-30 para a indústria nacional se concretize são necessários dois fatores, pelo menos: recursos financeiros para adequação dos meios de produção e para a realização do processo de convalidação (em outras palavras, confirmação do processo de certificação) e demanda, que justifique esses investimentos e seja atrativa para a indústria.
O processo de convalidação se faz necessário toda vez que a fabricação de um produto certificado troca de responsável.
7- BRAZILIAN SPACE: Falando em industrialização brigadeiro, nos parece que existe o interesse do IAE de usar o mesmo processo com relação aos foguetes VS-30, VS-30/Orion, VS-40, VLS-1 e os futuros VS-50 e VLM-1? Caso isso seja verdade, já existem reais ações nesse sentido?
BRIG. KASEMODEL: O caso do VLM-1 (e também do VS-50) é diferente. O envolvimento da indústria acontece desde a fase de concepção e espera-se que o processo de industrialização ocorra de forma natural ao término do projeto. O VS-30 é o mesmo caso do VSB-30. Quem fabricar o VSB-30, faz o VS-30 com tranquilidade. Já para o VS-40 e o VLS-1, a demanda é muito baixa e a industrialização não é atrativa. Nesse caso, é mais interessante se pensar em industrializar os propulsores S-43 e S40.
8- BRAZILIAN SPACE: Voltando ao VSB-30 brigadeiro, a mídia tem anunciado que um foguete desse deverá ser lançado do CLA ainda esse ano com uma carga útil do “Programa Microgravidade da AEB”. Existe fundamento nessa informação brigadeiro, e caso sim, qual é o nome dessa Operação?
BRIG. KASEMODEL: O que será lançado não é um VSB-30 e sim um VS-30/Orion, a partir do CLA (Operação Iguaíba). Não é lançamento do Programa Microgravidade da AEB, mas sim de uma carga útil com experimentos do INPE e IAE.
9- BRAZILIAN SPACE: E quanto ao projeto do VLS Alfa e do Programa Cruzeiro do Sul brigadeiro, os mesmos tem avançado ou continua em stand by?
BRIG. KASEMODEL: A exemplo do que ocorreu com o VLS-Alfa, existem tratativas para a realização do Projeto Preliminar do VLS-Beta em 2013. A evolução do VLS-Alfa continua em stand-by, aguardando o desenvolvimento do propulsor L-75 e do voo do VSISNAV, para a qualificação da parte baixa do VLS-1 (primeiro e segundo estágios que também serão utilizados no VLS-Alfa).
10- BRAZILIAN SPACE: Recentemente brigadeiro foi informado no site do IAE que foram finalizados os testes com o modelo de voo mecânico do SARA Suborbital 1. Já Existe uma previsão real de lançamento dessa missão, e caso sim, seria para quando?
BRIG. KASEMODEL: O Voo do SARA Suborbital 1 está previsto para 2013; o veículo será um VS-40.
11- BRAZILIAN SPACE: Agora abordando o programa de motores-foguetes a propulsão líquida brigadeiro, foi anunciado em dezembro do ano passado a conclusão em solo dos testes com o motor-foguete L5. Informações divulgadas posteriormente davam conta que o próximo passo seria o teste em voo desse motor através de uma missão chamada V30/L5. Já existe uma previsão de lançamento para essa missão brigadeiro, ou a mesma depende ainda da conclusão do Sistema de Alimentação Motor-Foguete (SAMF)?
BRIG. KASEMODEL: Depende da conclusão do SAMF, cujos modelos devem ser entregues pela indústria e submetidos a ensaios no IAE. Somente após a conclusão de todos os testes em solo do SAMF integrado ao motor L5 é que poderá ocorrer o voo desse estágio líquido.
12- BRAZILIAN SPACE: Falando no SAMF brigadeiro, como vai o desenvolvimento desse sistema?
BRIG. KASEMODEL: O projeto do SAMF enfrentou algumas dificuldades no processo de fabricação dos reservatórios. Após a indústria ter resolvido esses problemas, novos protótipos foram construídos e estão em fase de ensaios de qualificação no IAE.
13- BRAZILIAN SPACE: E quanto ao desenvolvimento do motor-foguete L15 brigadeiro, já existe uma previsão de quando o mesmo estará disponível para ser testado pelo foguete VS-15, ou também o seu uso está dependendo do desenvolvimento do SAMF?
BRIG. KASEMODEL: Nesse caso, não só do SAMF mas também do propulsor L15 que ainda não teve sua qualificação em solo concluída.
14- BRAZILIAN SPACE: É sabido brigadeiro que a empresa russa “Konstruktorskoe Buro Khimavtomatiky - OSC KBKhA” entregou ao IAE em 2010 as especificações de um Banco de Provas de 400 kN de empuxo para motores-foguetes líquidos, projeto esse essencial para a realização dos testes em território brasileiro com o tão esperado motor L75. Entretanto, o diretor do projeto, o Eng. Daniel Soares de Almeida, divulgou recentemente, durante a realização do 6º SePP&D, que agora o objetivo seria um Banco de Provas de 100 kN. Realmente houve essa mudança brigadeiro, e caso sim, porquê?
BRIG. KASEMODEL: A empresa KBKha não elaborou as especificações, somente ocorreram tratativas preliminares para sua contratação, mas isso não foi concretizado. A infraestrutura do Banco de 400 kN requer montante de recursos não disponíveis, no momento, no PEB. O Banco de Provas divulgado no Seminário é adequado para testes do Motor L75. Entretanto, estão sendo realizadas tratativas para realizar os testes do motor L 75 no exterior.
15- BRAZILIAN SPACE: E quanto ao projeto do motor L75 brigadeiro, apesar das dificuldades o mesmo tem avançado?
BRIG. KASEMODEL: O projeto do L75 está praticamente concluído no papel. Alguns componentes estão em estágio de desenvolvimento mais avançado que outros. Estamos agora entrando na fase de contratação de serviços e aquisição desses componentes para a construção dos modelos de desenvolvimento no País.
16- BRAZILIANSPACE: Ainda existe brigadeiro a pretensão de se instalar uma nova usina de propelente no CLA?
BRIG. KASEMODEL: Sim, quando estivermos na fase de desenvolvimento do VLS Beta, com propulsor sólido de 40 toneladas, a necessidade de uma Usina de propelentes no CLA é primordial.
17- BRAZILIAN SPACE: Brigadeiro, um dos projetos que consideramos essencial para o PEB é o projeto da Plataforma Suborbital de Microgravidade (PSM) que está sendo desenvolvida em parceria com a empresa Orbital Engenharia, já que o aumento de frequência dos voos do “Programa Microgravidade da AEB” depende que tenhamos uma plataforma como essa a disposição de nossa comunidade científica, e evidentemente da boa vontade do governo. É sabido que em 15 de junho desse ano, foi entregue ao IAE pela Orbital o “Modelo de Engenharia” dessa plataforma. Como está o andamento desse projeto brigadeiro e já existe uma previsão de quando a mesma fará o seu primeiro voo teste?
BRIG. KASEMODEL: Os testes com o modelo de engenharia foram concluídos e bem sucedidos. A próxima etapa é a contratação dos modelos de qualificação e voo.
18- BRAZILIAN SPACE: E com relação ao “Projeto SIA” brigadeiro, o que está sendo feito no sentido de diversificar a aplicação do mesmo, em outros mercados, para o bem das empresas e da própria manutenção da independência nesta área?
BRIG. KASEMODEL: O principal produto do projeto SIA é , dentre outros, o domínio das tecnologias para a produção de sistemas inerciais empregando giros a fibra ótica. Devido ao caráter dual desse item, o mesmo poderá ser empregado em outras áreas, cuja demanda é bem superior à espacial.
19- BRAZILIANSPACE: Já quanto ao projeto do Sistema de Navegação do VLS-1 (SISNAV) ligado a esse mesmo Projeto SIA, tem avançado brigadeiro?
BRIG. KASEMODEL: Sim, o SISNAV será utilizado nesse próximo voo do VLS-1 como uma carga útil a ser testada. Uma vez aprovado no ensaio em voo, passa a ser utilizado como sistema principal de navegação.
20- BRAZILIAN SPACE: Abordando agora um pouco sobre a história do PEB brigadeiro, já existe um destino definido para a plataforma de integração e lançamento do foguete SONDA IV, que se encontra desativada no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI)? Caso ainda não haja, não seria uma boa opção levá-la para o MAB visando preservá-la, já que a mesma faz parte da história de nossas atividades espaciais?
BRIG. KASEMODEL: A plataforma do Sonda IV está desativada mas poderá a vir a ser utilizada no futuro por algum outro veículo. Não existe a intenção de se remover essa plataforma para o MAB. Ela está preservada estando no CLBI. E é assim que acontece em todos os centros de lançamento. As plataformas são desativadas mas permanecem nos seus sítios de lançamento para uma utilização futura. Por exemplo, aconteceu em Kourou de uma plataforma antiga do Programa Ariane ser reformada para atender ao VEGA.
21- BRAZILIAN SPACE: E para finalizar brigadeiro, já estamos no final do ano de 2012. Quais são as suas reais expectativas com relação às atividades do IAE para o ano de 2013?
BRIG. KASEMODEL: Acredito que, na área espacial, essas expectativas já foram citadas nas respostas anteriores ou seja:
- Lançamento do VLS-1 com carga útil SISNAV;
- Lançamento do SARA Suborbital no VS-40;
- Conclusão do projeto do SAMF;
- Fabricação dos modelos de qualificação e voo da PSM;
- Realização das etapas de fabricação do modelo de desenvolvimento do L75;
- Realização das etapas do VLM-1 conforme cronograma para primeiro lançamento em 2015; e
- Realização do Ante projeto do VLS Beta.