Parece que não sou só eu a pensar assim!
OS COMANDOS (OUTRA VEZ) NO CENTRO DO FURACÃO
Por Miguel Machado
Leitura do “Código Comando” na Parada Major-General “Cmdo”Jaime Neves do Regimento de Comandos, na Serra da Carregueira. As tradições são inerentes aos corpos militares, devem manter-se, mas a perenidade das instituições – e os Comandos não são excepção – dependem da sua abertura à mudança. Por vezes é complexa, mesmo dolorosa, mas inevitável.
Os Comandos, hoje
Os Comandos são credores de um espírito de corpo como há poucos em Portugal, daqueles que vão muito para além do tempo nas fileiras. São uma unidade de elite não apenas pela sua história, mas pelas capacidades do actual Regimento de Comandos. Poucos mas bons, equipados com a disponibilidade que o ramo terrestre consegue, participaram nas Forças Nacionais Destacadas, em Timor-Leste (2004), com uma companhia integrada num batalhão de infantaria e no Afeganistão (entre 2005 e 2010, com interrupções), como força autónoma, com efectivo de companhia reforçada, numa missão também desempenhada por Pára-quedistas. Tinham no teatro de operações um efectivo de cerca de 160 militares, incluindo o Destacamento de Controlo Aéreo Táctico da Força Aérea. Entre 2010 e 2012 com a mudança de figurino da missão portuguesa, os Comandos, assim como outras especialidades do Exército e até da Marinha, continuaram a servir em períodos semestrais, quer em funções de comando e estado-maior quer na chamada “Protecção da Força”. Agora uma “companhia menos”, com cerca de 50 militares. Assim, entre 2005 e 2012, muitos militares Comandos serviram no Afeganistão, em diferentes tarefas, tendo actuado com grande proficiência, sofrido várias emboscadas (eles e os Destacamentos da Força Aérea, que costumam ser esquecidos!), que só a política de comunicação do EMGFA de então ocultou (e mal!) da opinião pública. Por opção do Exército os Comandos foram mesmo a força portuguesa que mais tempo serviu no Afeganistão, com muitos dos seus militares a cumprir ali várias missões.
Um militar Comando e um Pára-quedista morreram no Afeganistão, em 2005 e 2007, respectivamente.
Em 2015 o Exército iniciou a missão no Iraque com um contingente destinado a ministrar formação, composto 30 militares graduados, a maioria Comandos. Após 6 meses, foram substituídos por outras unidades da Brigada de Reacção Rápida, a qual, agora em 2016, foi rendida pela Brigada Mecanizada.
Em 2016 está previsto o envio de uma Companhia de Comandos – 160 militares – para a Republica Centro Africana. A partida tem sido sucessivamente adiada por motivos estranhos a Portugal e parece agora que será em Janeiro de 2017 o retorno dos Comandos a uma missão de “capacetes azuis”.
Na Cooperação Técnico-Militar, embora com efectivos muito reduzidos, militares Comandos, graduados, têm tido um importante papel de apoio à política externa portuguesa, mantendo-se actualmente, a pedido de Angola, a assessoria às suas Forças Especiais.
Esta é uma síntese da actividade operacional real desempenhada pelos Comandos desde que em 2002 foram reactivados e o balanço só pode ser considerado positivo.
Passo a passo, com a atribuição de meios e missões, o Regimento de Comandos estava agora a lutar, como o Exército em geral, pela conquista de voluntários. Sem pessoal, sem praças, não pode sequer haver continuidade nas missões. Mesmo que disponha organicamente de um batalhão, se o Regimento o empenhasse numa missão semestral, no período seguinte já não conseguia continuar a cumprir. Não é falta de vontade é impossibilidade!
Alcochete, Setembro de 2016
É neste quadro motivador para os Comandos – com uma missão exterior prevista e pronta a arrancar – que no decurso do 127.º Curso de Comandos, se dão as duas mortes que todos conhecemos e que remetem para acontecimentos anteriores, antes da extinção do Regimento em 1993, mas também para 2015.
Os factos estão a ser apurados como nunca o foram no passado, e não parece que possa haver qualquer encobrimento de eventuais responsabilidades a todos os níveis. Absolutamente inusitado o tratamento dado aos militares Comandos constituídos arguidos pela Procuradora Cândida Vilar, absolutamente desnecessário e manifestamente cruel, quer para os próprios quer mesmo para a Instituição Militar.
O Curso de Comandos vai ter que ser alterado. Não duvido que essa é a condição básica para a continuidade da unidade. Imagino que para muitos seja difícil, mas não há missão atribuível aos Comandos que justifique as consequências do que se possa ter passado em Alcochete.
Todas as missões que os Comandos cumpriram foram também realizadas por outras forças nacionais, como aliás os Comandos podiam perfeitamente ter realizado missões que não fizeram, na Bósnia, Kosovo e em muitos outros locais. Quem não quiser ver isto, não está a contribuir para a perenidade dos Comandos mas a fazer o seu contrário. É uma questão de tempo.
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