Gorbatchev culpa o Ocidente pela crise para a qual a Rússia "foi arrastada"
20/08/2008 17h59
WASHINGTON (AFP) - A "imprudência" do presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, levou a Rússia a invadir a Geórgia, estimou o ex-número um soviético Mikhail Gorbatchev em editorial publicado hoje no jornal New York Times.
A "Rússia não queria esta crise", escreveu o gestor da "Perestroika", da década de 1980, no fim da guerra fria com os Estados Unidos.
"A Rússia foi arrastada ao conflito pela imprudência do presidente georgiano, Mikhail Saakashvili. Ele não teria ousado atacar (a região separatista pró-russa da Ossétia do Sul) sem apoio externo. Depois de fazê-lo, a Rússia não poderia ficar de braços cruzados".
Gorbatchev lamentou as iniciativas do Ocidente e qualificou os esforços para isolar Moscou depois da invasão da Geórgia de "ameaças vãs", acusando Washington de "dirigir-se à Rússia de forma condescendente, sem levar em conta suas posições e interesses".
Também elogiou o presidente russo, Dmitri Medvedev, por sua decisão "de suspender as hostilidades - o passo correto a ser tomado por um líder responsável".
"O presidente russo agiu com calma, segurança e firmeza. Os que apostaram em confusão em Moscou ficaram decepcionados", destacou.
O Prêmio Nobel da Paz criticou o Ocidente por lançar um "ataque propagandístico contra a Rússia, com os meios de comunicação americanos à frente".
"A cobertura noticiosa foi qualquer coisa menos objetiva e equilibrada, especialmente durante os primeiros dias da crise" desatada com a invasão militar russa da Geórgia, iniciada no dia 7 de agosto na Ossétia do Sul depois da tentativa de Tbilisi de retomar o controle da região separatista, disse.
A chamada perestroika que significa em russo reconstrução, reestruturação foio, em conjunto com a Glasnost, uma das políticas introduzidas na União Soviética por Mikhail Gorbatchev, em 1985. A palavra perestroika ganhou a conotação de 'reestruturação econômica'. Gorbatchev percebeu que a economia da União Soviética estava falhando e sentiu que o sistema socialista, tal como estava, apesar de não ter de ser substituído, certamente necessitava de uma reforma.
Em outro editorial, publicado no dia 11 de agosto no Washington Post, o ex-presidente soviético afirmou que os Estados Unidos cometeram um "grave erro" ao deixar a Geórgia acreditar que poderia conduzir sem riscos uma operação militar na Ossétia do Sul.
"Ao declarar que o Cáucaso, uma região localizada a milhares de quilômetros do continente americano, pertence a sua esfera de interesse, os Estados Unidos cometeram um grave erro", escreveu nessa tribuna.
"Claro que a paz no Cáucaso é do interesse de todos. Porém, é apenas uma questão de bom senso admitir que a Rússia tem raízes nesta região, devido a uma geografia e séculos de história comuns", acrescentou Gorbatchev.
"A Rússia não busca a expansão territorial, mas tem interesses legítimos nesta região", prosseguiu.
Para o ex-presidente russo, os ocidentais "expressaram posições desequilibradas" durante as discussões no Conselho de Segurança da ONU sobre a Geórgia. "O resultado é que o Conselho não pôde atuar com eficiência logo no início do conflito", destacou.
Ele também acusou o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, de ter tomado uma decisão "imprudente" ao lançar uma operação militar na Ossétia do Sul para retomar o controle desta região separatista.
"Os dirigentes georgianos só fizeram isso porque tiveram o sentimento de serem apoiados e incentivados por uma força bem maior", afirmou, lembrando que as forças armadas georgianas "foram treinadas por centenas de instrutores americanos".
"Esse apoio, acompanhado pela promessa de uma adesão à Otan, fez os dirigentes georgianos acreditarem que poderiam conduzir, sem maiores conseqüências, uma guerra relâmpago na Ossétia do Sul", acusou Gorbatchev.
Na opinião do ex-presidente, "a Rússia era obrigada a responder". "Acusar Moscou de agressão contra uma Geórgia 'fraca e sem defesa' não é apenas cínico, é desumano", finalizou.
http://www.afp.com/portugues/news/stori ... szjrp.html