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Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 1:36 am
por Bolovo
Penguin escreveu:Foto do suposto local do impacto da bomba com carga química...

Imagem
Opposition activists said government warplanes dropped bombs containing chemicals

Mas já? Isso não faz muito sentido. Quando Saddam atacou Halabja em 16 de março de 1988, a região ficou contaminada por dias. Se for sarin mesmo (o que eu duvido que seja, acredito que seja ácido clorídrico, algo que já existe há 1217 anos), o fotografo dessa imagem já estaria vomitando suas tripas essas horas. E outra coisa é que um ataque de gás só é efetivo se for feito massivamente afinal com a explosão das bombas forma-se um gás que dissipa-se com o tempo. Não é a toa que o ataque de Halabja foi realizado com 100 caças, matando um número aproximado de 5000 pessoas.

Um ataque desses, sobretudo realizado por somente um Su-22, usando bombas burras, contra uma cidade tem uma eficácia militar praticamente nula. É altamente questionável a validade de um ataque desses, pois como eu disse, um ataque químico é necessário ser bem grande para ser eficaz. A justificativa de que procuravam acertar uma reunião da Tahrir al-Sham (adoro esses nomes novos, lembrem-se, esses caras são a antiga al-Nusra, a filial da al-Qaeda na Síria - sim, aqueles mesmos que derrubaram as torres gêmeas - sim, esses mesmos o ocidente quer vender como "rebeldes moderados") faz ainda menos sentido. Um alvo desses, um high-value target, uma reunião com as principais cabeças do grupo, seria realizado por algum bombardeiro russo usando armas guiadas (por exemplo, o Su-34 com suas bombas guiadas a Glonass ou laser) e não por um Su-22 solitário usando bombas burras, ainda por cima químicas.

Quanto a Assad torturar o seu povo, vamos lembrar que nesse exato momento, dia 11 de abril de 2017, o nosso ditador favorito controla as 5 maiores cidades sírias (Aleppo, Damasco, Homs, Latakia e Hamã) e cerca de 65% da população total da Síria. Os rebeldes controlam apenas cidades bem menores (Idlib é a maior delas) e apenas 12% da população. Assad já teria sido deposto caso essa fosse de fato a vontade do povo sírio. A parte ocidental de Aleppo, a metade maior que esta sob controle de Assad desde o começo do conflito, é uma cidade viva, com lojas funcionado, muito diferente da narrativa damídia ocidental (a brasileira inclusa, que é mero papagaio de pirata da CNN e BBC) que costumar dizer "Aleppo está dizimada". Muita calma nessa hora e filtre muito bem o que a mídia ocidental está te passando, a maior parte é mentira deslavada mesmo.

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 1:41 am
por Bolovo
Penguin escreveu:
Rússia sabia de ataque químico da Síria com antecedência, diz funcionário dos EUA
Drone russo foi visto sobrevoando hospital onde vítimas de ataque buscaram atendimento. Jato bombardeou local pouco depois para supostamente encobrir evidências de ataque com armas químicas.

Por Associated Press
10/04/2017 16h44 Atualizado há 7 horas

Um funcionário sênior do governo dos EUA diz que americanos concluíram que a Rússia sabia com antecedência do ataque com armas químicas realizado pela Síria na semana passada.

O funcionário diz que um drone operado por russos sobrevoou um hospital sírio enquanto vítimas do ataque corriam para receber tratamento.

Horas após o drone deixar o local, um jato russo bombardeou o hospital, um ato que os americanos acreditam ter sido uma tentativa de encobrir o uso de armas químicas.

Até segunda-feira (10), os EUA diziam não ter certeza se o drone era operado pela Rússia ou pela Síria. O funcionário disse que ainda não estava claro quem controlava o jato que bombardeou o hospital.

Ele disse ainda que a presença do drone não poderia ser uma coincidência, e que a Rússia deveria saber que o ataque com armas químicas estava a caminho e que as vítimas iriam buscar tratamento.

A fonte não estava autorizada a falar publicamente sobre assuntos de inteligência e por isso pediu para se manter em anonimato.
O funcionário diz...

os americanos acreditam...

os EUA diziam...

O funcionário disse...

Ele disse...

A fonte não estava autorizada a falar publicamente...


[003]

Isso resume bem as "evidências".

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 2:43 am
por Ilya Ehrenburg
Pois é Bolovo...
Ver leigos que assistem apenas o Jornal Nacional, vá lá...
Mas, membros de um Fórum especializado em assuntos de material bélico e conflitos, aceitando sem exercício algum da razão uma argumentação baseada apenas em achismo, é de lascar... Até parece que ninguém sabe o que é uma ogiva química e os seus efeitos, ou... Não querem saber.

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 3:20 am
por Ilya Ehrenburg
...

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 3:21 am
por Ilya Ehrenburg
César escreveu:https://www.theguardian.com/world/2017/ ... n-sheikhun

https://www.theguardian.com/world/2017/ ... cal-attack

https://www.theguardian.com/world/2017/ ... e-to-assad

Série de reportagens bastante interessantes do The Guardian, que conseguiu acesso à cidade.

Seria interessante ter mais argumentos do lado russo contra-argumentando o que está escrito aí, mas as evidências existentes até o momento indicam um ataque químico do regime, via ataques aéreos, e não a explosão de um depósito de armas químicas.

Resumidamente:

1) Diferentes testemunhas afirmam terem visto ou sentido ataques aéreos próximo das 6:30h (Rússia afirma que o ataque ocorreu perto das 11h) da manhã, seguido de sintomas consistentes com exposição à agentes químicos tanto de pessoas da localidade quanto dos primeiros socorristas.

2) Diferentes organizações (Médicos sem Fronteiras, autópsias na Turquia, etc...) apontam o uso de gás Sarin e Cloro nas vítimas tratadas.

3) Não há danos externos visíveis em prédios e casas da região, apenas crateras no meio da rua, o que indica inconsistência com a tese de explosão de um depósito de munição e armas químicas nas proximidades. A falta de danos físicos também indica que provavelmente não foi realizado um ataque com bombas de alto explosivo (que seria o tipo presumivelmente usado a um depósito de armas), e sim um ataque químico.

4) A quantidade de pessoas afetadas supostamente por Sarin indica uma grande quantidade dessa substância sendo usada. Embora rebeldes possam ter capturado Sarin de depósitos do governo, não se acredita que eles o possuam em quantidade suficiente para o número de vítimas. Também é difícil que eles mesmos tenham fabricado esse gás, que é provavelmente complexo demais para fabricação sem alguma estrutura.

5) O Sarin é consequência da combinação da mistura de dois componentes, pouco antes do uso. Num depósito, estes estariam separados, e um deles é altamente inflamável. Um ataque a este provavelmente geraria uma forte explosão e danos físicos, ausentes na cena.

6) O padrão de espalhamento do agente tóxico parece não ser compatível com um ataque a um depósito, que na explosão ou destruiria todo o agente ou diminuiria muito sua área de abrangência.


Evidentemente, não sou especialista em armas químicas. Mas, a se aceitar o conjunto de:

(1) Testemunhas na área (que atestam ataque aéreo seguido de sintomas de agentes neurológicos);

(2) Depoimento de especialistas em armas químicas (que indicam que a explosão em depósito não é consistente com o padrão de espalhamento pela região afetada por sintomas, fora especificidades deste tipo de arma - manuseio e armazenagem);

(3) Organizações médicas (que parecem concordar com sintomas de Sarin e cloro) e;

(4) Evidências da cena (falta de danos de alto explosivos esperados num ataque a depósito de armas ou bola de fogo devido a um dos compostos do gás Sarin)

Torna-se muito provável que este ataque tenha sido realizado pela aviação Síria.

Não duvidaria que Assad ou os rebeldes realizassem um ataque deste, se tiverem capacidade para tal. Tampouco acho que qualquer lado esperaria retaliação de Trump, que sempre advogou contra intervenção na Síria e sempre foi levemente a favor de Assad.

Tudo pesado, o que se pode fazer é esperar o surgimento de mais evidências. Mas ambos os lados (rebeldes e Assad), ao meu ver, são fdp o suficiente para realizarem esse tipo de ataque, se puderem.

Abraços

César


Antes de tudo: O Guardian não é uma fonte isenta. Este veículo de mídia impressa demitiu jornalistas que fizeram matérias sobre a população russa esta satisfeita com o aumento de nível de vida da última década. Outros jornalistas denunciaram editores que distorciam matérias totalmente para que tivessem um viés visceralmente anti-russo e anti-Putin.
Este é o primeiro ponto...

Agora vamos aos demais: O uso de gases como arma é mais eficiente de acordo com as condições do clima, todavia, ao contrário do Gás de Cloro, muito usado na 1ª Grande Guerra, os neurotóxicos Sarin, Tabun e Soman, são menos voláteis e o cuidado de lançá-los em um horário de clima ameno não influenciaria em nada. A argumentação de que haviam pessoas com sintomas às seis da manhã me faz pensar em uso de Gás de Cloro.

Se existem testemunhas com conhecimento técnico (médicos), que atestam haver sintomas concernentes a dois tipos de gases, Sarin e Gás de Cloro, isto já coloca em dúvida a versão propalada de que o ataque teria sido obra da Força Aérea Árabe da Síria.

A imagem de danos: é óbvio que ela é controlada. Quem lhe garante que a imagem que você vê é aquela que retrata o alegado depósito de armas atacado pela FAAS?

A explosão do depósito não é consistente? Em que sentido?
Vamos lá...
Em ambiente externo, com duas pessoas por metro quadrado, com um volume cúbico de 0.0005m³ em mãos (equivalente a uma garrafinha de 500ml), eu causo o óbito, estimado, de uma centena de pessoas...
Por que usei o termo estimado?
Pelo fato de variáveis incidirem sobre este tipo de arma, que vai da existência de ventos, como da forma de dispersão deste...
Então, qual é a falta de consistência? Esta falta de consistência precisa ser especificada...
O grande problema dos "especialistas" é a vaidade. Simplesmente a pessoa opina, conjectura, quando deveria dizer ao repórter que nada pode dizer sem dados objetivos, ou seja, elementos reais para tanto.

As pessoas supostamente afetadas indicam que uma quantidade grande de gás neurotóxico foi utilizada?
Caríssimo... Sabe o motivo pelo qual gases neurotóxicos como Sarin, Tabun, Soman, VX e T-2 serem considerados como armas de destruição em massa?
Pelo fato de serem mortais em pequenas quantidades, a ponto de um estoque com ogivas que resultam em algumas toneladas serem capazes de causar mortes em escala gigantesca em uma população desprotegida.
Entendeu agora?
Para matar o irmão do Little Kim bastou pequeninas gotas aspergidas de VX...

Outra: os extremistas islâmicos fazem uso de Sarin, usando-o em Aleppo oriental e nos subúrbios de Damasco (2013)...
E, aí?

Entenda uma coisa: a Síria alega que atacou um depósito, isto não quer dizer que as mortes sejam decorrentes deste ataque, ou mesmo que houvesse algum tipo de arma ali. Nada impede que os extremistas fizessem um ataque de falsa bandeira, para causar a comoção devida, mesmo porque eles mantém contatos constantes com membros da inteligência dos EUA e OTAN...
Eu vi imagem dos famigerados "capacetes brancos"...
Pessoas que eram supostas vítimas, moles e chorosas, quando uma vítima de gás neurotóxico apresenta rigidez. Ausência de vômitos e socorristas atendendo com as mãos nuas!
Piada.

É isto... Fiar-se em "especialistas" movidos pela vaidade e demandados por jornalistas que precisam cobrir a pauta de qualquer jeito nos leva a conclusões fora da realidade; nestas horas o correto e manter-se frio, evitar as notícias hot-line, fazer uso racional do discernimento, em detrimento ao lado emocional e esperar...
;)

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 7:58 am
por Juniorbombeiro
Esse negócio está começando a me deixar preocupado, sendo um pouco alarmista, mas supondo que tenhamos rusgas com alguma superpotência e eles precisem de uma desculpa para uma chuvinha de mísseis. Estamos ferrados, gás de cloro se acha em qualquer estação de tratamento de água meia boca da SABESP ou da CORSAN, temos um atentado terrorista em potencial em qualquer grande centro, no mínimo. Melhor começar a tomar água de bica.

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 8:07 am
por EDSON
Penguin escreveu:
EDSON escreveu: Vou desmanchar este texto só com esta pergunta.


Qual vantagem tático-militar de se usar este gás em uma pequena aldeia ao norte da linha de contato do inimigo onde a chance de se matar jihadistas da Al Qaeda é minima, e nem ao menos destruir um único carro de combate ou estrutura, sendo que armas de fragmentação ou termo báricas matariam muito mais civis ou rebeldes se tivessem sido usadas, ou seja, com capacidade de varrer a vila da terra?
Ditadores com Saddan, Assad e outros têm o histórico de massacrar sua própria população para se manter no poder. Os motivos que os levam a esse tipo de comportamento podem ser variados:

- Aterrorizar populações contrárias ao regime. Coisa que Assad tem feito sistematicamente, jogando bombas clusters improvisadas em area civis.
- Incutir o medo e quebrar a vontade de lutar dos grupos de oposição que são muitos e heterogêneos, diga-se.
- Testar o reação de Trump, já que Obama pouco fez quando ele cruzou a "linha vermelha" e usou armas químicas contra civis.
- O site anti-F-35, War is Boring, publicou uma história que pode ter relação com o ataque:
http://warisboring.com/u-s-cruise-missi ... precision/
On April 4, 2017, the commander of No. 677 Squadron — Col. Yusuf Hasuri — received written orders from the Ba’ath Party headquarters in Damascus to arm two of his Sukhois with bombs filled with chemical agents. Syrian intelligence believed that leaders from Syrian jihadist group Hayat Tahrir Ash Sham were planning on meeting in the town of Khan Sheykhoun.
Errado! Responda corretamente a pergunta. Observe a pergunta que diz tático militar sem esta bobagem de aterrorizar populações já que Assad tem sob seu controle a maior parte da população sunita. Então com este argumento que se ele joga bombas cluster que tem maior efeito pra que jogaria armas químicas só para chamar atenção sobre si dando um decisão politica equivocada. Seu argumento não tem base sólida e colocaria Assad como um ingenuo e idiota. Ele se livrou de suar armas químicas justamente para ficar usando elas de forma equivocada na hora errada? Os jihadistas matam sua gente pelo simples motivo que qualquer coisa vale principalmente se tiver uma Arabia Saudita querendo derrotar um regime que aliado de Teerã.

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 8:17 am
por cabeça de martelo
Os bufos de Erdogan vêm da própria sociedade civil

Pais que denunciam filhos. Maridos que acusam as mulheres. Colegas que traem colegas. A 16 de Abril, os turcos votam em referendo a revisão da Constituição, que pode trazer ainda mais poder ao Presidente, Recep Erdogan.

Num sábado, enquanto consultava o Facebook em casa, Bilgin Ciftci viu uma publicação que o fez rir. Era uma montagem de imagens do Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ao lado de Gollum, personagem da saga Senhor dos Anéis. Na primeira imagem, o Presidente e o habitante enrugado da Terra Média criado por J.R.R. Tolkien tinham o mesmo olhar de espanto. A segunda mostrava as duas figuras de olhos arregalados de admiração. Na terceira, Erdogan roía uma coxa de frango ao mesmo tempo que Gollum dava uma dentada num peixe.

Ciftci, um médico da cidade de Aydin, no Oeste da Turquia, carregou no botão de partilha e não pensou mais no assunto. Porém, algumas semanas depois, foi convocado para ir à polícia e acusado de insultar o Presidente – o que é crime na Turquia. Perdeu o emprego num hospital público e ficou preso a um processo legal que já se arrasta há mais de 18 meses. A certa altura, o juiz chegou mesmo a nomear um painel de peritos em Tolkien para o aconselhar sobre se Gollum devia ser considerado bom ou mau (estes decidiram que, no fundo, ele tem bom coração).

No meio deste absurdo, a história tem outra camada mais negra. Quando partilhou o meme, Ciftci, de 48 anos, pensava que só o estava a mostrar aos membros da sua rede privada no Facebook. No entanto, a polícia tinha uma captura de ecrã da sua página. Não lhe tinham pirateado a conta, nem espiado o computador. A verdade era muito mais perturbadora: ele tinha sido traído por alguém que conhecia. Ciftci deduziu que o culpado seria o marido de uma familiar. Quando lhe telefonou para o confrontar, o parente começou por negar e depois desligou o telefone.

O tormento de Ciftci reflecte uma situação mais importante que está a acontecer na Turquia, algo que poderia ter saído das páginas de um romance distópico. Praticamente todas as semanas surgem histórias sobre amigos, colegas e até cônjuges que se denunciam uns aos outros por uma série de infracções. “Isto tornou-se um fenómeno na nossa sociedade”, afirma Ciftci, sentado num café perto do tribunal de Aydin, uma instituição que se tornou mais familiar do que ele alguma vez podia ter imaginado. “Há pessoas que são mais papistas que o Papa. Tornam-se cidadãos informadores.”

Caros cidadãos informadores

Todos os serviços policiais e de espionagem utilizam com regularidade infiltrados e informadores na luta contra o crime organizado e o terrorismo. A Turquia – um país que, no ano passado, sofreu 267 ataques terroristas diferentes e também uma violenta tentativa de golpe de Estado que provocou mais de 200 mortos – enfrenta várias ameaças genuínas e profundamente graves. Mas há inúmeras histórias de cidadãos normais, não remunerados, que decidiram transformar-se num exército de informadores voluntários.

Há muitos precedentes históricos para este tipo de traição, desde estrelas de Hollywood a denunciar-se mutuamente no auge da caça às bruxas do mccarthismo à vasta rede de informadores que ajudava a Stasi na República Democrática Alemã. A Turquia também tem um histórico considerável. O paranóico sultão Abdul Hamid II tentou manter a união de um Império Otomano desgastado recorrendo a um exército de espiões oficiais e não oficiais.

Um relatório consular americano do início da década de 1940 relata que os turcos que rejeitavam o Governo costumavam descobrir que a polícia sabia das suas “infracções menores”, por vezes com a ajuda de informadores secretos “que parecem existir em abundância neste local”. Depois de um golpe de Estado em 1971, os generais no poder gostavam de usar o termo “caros cidadãos informadores” para se dirigirem à nação, o que mais tarde deu origem a uma peça de teatro com o mesmo nome.

Um informador – se fosse conhecido – não sobrevivia facilmente na nossa sociedade. Este Governo acabou com essa ideia.”
Melda Onur, deputada da oposição
Na Turquia de hoje, em que os partidos da oposição estão enfraquecidos e todos os principais meios de comunicação foram forçados à submissão, domínios como a casa de chá, a sala de aulas ou o feed de notícias do Facebook são mais difíceis de controlar. Há vários anos que o Governo costuma incentivar os responsáveis eleitos dos bairros a manter registos sobre as pessoas da sua zona. Estes apelos também se estendem cada vez mais aos cidadãos comuns.

A motivação vem do topo. “Se conhece alguém, em qualquer lugar, informe os nossos serviços de segurança imediatamente”, apelou o Presidente Erdogan em Dezembro, ao falar sobre uma vaga de atentados terroristas fatais. “Isto não é competência só dos nossos serviços de segurança.”

Impelidos por este tipo de incentivo e ajudados por um sistema judicial ineficiente, actualmente os apoiantes leais patrulham as esferas pública e privada. Alguns até se gabam dos seus feitos nas redes sociais.

“Na Turquia, costumava ser considerado uma vergonha fornecer informações à agência de espionagem ou à polícia”, conta Melda Onur, uma deputada da oposição que recentemente partilhou a história de um taxista que denunciou um passageiro por criticar o Governo. “Um informador – se fosse conhecido – não sobrevivia facilmente na nossa sociedade”, acrescenta. “Este Governo acabou com essa ideia.”

As histórias sobre quem denuncia e quem é alvo de denúncias revelam o lado negro de um país devastado pelo medo e pela intolerância – e servem de aviso às sociedades ocidentais que se debatem com as suas próprias clivagens políticas e sociais.

Manifestantes mostram os rostos dos 200 mortos durante o golde de Estado falhado de Abril de 2016 CHRIS MCGRATH/GETTY IMAGES
Entre marido e mulher, está... Erdogan

Ali Dinc estava casado pela segunda vez há pouco mais de dois anos, mas o casamento não corria bem. Num café banal num centro comercial nos arredores de Izmir, na costa do mar Egeu, ele explica que trabalhava muito como camionista e que, quando regressava a casa, encontrava uma vida familiar cada vez mais irritante.

Dinc, de 40 anos, cuja barriga esférica até é um complemento à sua careca redonda, diz que ele e a mulher começaram a entrar em conflito por causa da política. Ele alega que ela insultou o Presidente Erdogan enquanto fazia zapping na televisão. Ele adorava o Presidente e considerava que não ficava bem a uma mulher dizer palavrões. “Chegava a casa do trabalho cansado, sentava-me, jantava e só ouvia asneiras”, conta. “Já não aguentava mais.”

Não se pode insultar alguém que fez tanto pela Turquia. Ele é o chefe de Estado. É uma excelente pessoa
Ali Dinc denunciou a própria mulher
Uma noite, Dinc perdeu as estribeiras e ameaçou gravar a mulher. Dinc garante que a mulher até o encorajou a fazê-lo. E ele gravou o que descreve como “21 segundos de palavrões”, enquanto ela gritava com Erdogan. Logo de seguida, entregou a gravação a um advogado local. Foi aberto um processo contra a mulher. Sem surpresas, ela pediu o divórcio e o caso tornou-se famoso na Turquia.

Dinc nega ter sido motivado pela raiva e pela vingança. “É porque adoro o Presidente”, insiste. “Não se pode insultar alguém que fez tanto pela Turquia. Ele é o chefe de Estado. É uma excelente pessoa. Gosto muito dele.” Dinc afirma que, mesmo que fosse casado há 20 anos, teria feito o mesmo. É evidente que aprecia a ideia de a mulher ter sido posta no lugar. Quando lhe perguntamos como é que ela está, Dinc responde friamente: “Agora está bem. Mas, quando começar o julgamento, vai perceber o erro que cometeu.” Não parece considerar remotamente sinistra a ideia de a ex-mulher ser condenada a uma pena de prisão por uma coisa que disse na privacidade do lar. A liberdade de expressão, garante Dinc, não é mais restrita na Turquia do que noutros países europeus. Eu conto-lhe, detalhadamente, sobre a famosa alegação que consta da biografia não autorizada de David Cameron, em que é relatado o episódio de um ritual iniciático durante o percurso universitário do ex-primeiro-ministro britânico que envolve uma parte privada da sua anatomia e a cabeça de um porco morto – e explico que os autores do livro onde a alegação foi feita não enfrentaram nenhuma consequência legal. Depois de um silêncio espantado, Dinc diz apenas: “Tenho de mudar de assunto. Meu Deus.”

Erdogan, primeiro como primeiro-ministro e depois como Presidente, ganhou forças com uma série de vitórias eleitorais cada vez maiores KAYHAN OZER/ANADOLU AGENCY/GETTY IMAGES
Um líder machista e paternalista

Apesar de ele insistir no contrário, é difícil acreditar que os actos de Dinc não foram, pelo menos em parte, causados pela raiva nascida de um casamento em crise. Mas ele também demonstra a devoção quase religiosa ao Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) de Erdogan que é habitual entre os seus apoiantes, que constituem cerca de 50% do eleitorado. Dinc fala, comovido, sobre as dificuldades que teve em pagar o tratamento hospitalar quando o filho era bebé – um problema que diz ter sido resolvido pelas reformas do partido. Em Julho, quando viu pela primeira vez a novíssima Ponte Osman Gazi, que iria poupar várias horas no tempo de viagem para Istambul, Dinc chorou de alegria.

Desde que o AKP chegou ao poder em 2002, há um antagonismo entre os apoiantes do partido e os que se opõem veementemente a ele – sejam estes secularistas extremos, liberais, activistas dos direitos dos homossexuais ou pessoas que apoiam uma maior autonomia da maioria curda do Sudeste. Mas as divisões aumentaram à medida que a posição do AKP foi ameaçada, inclusive por um exército mais assertivo. Ao mesmo tempo, Erdogan, primeiro como primeiro-ministro e depois como Presidente, ganhou forças com uma série de vitórias eleitorais cada vez maiores.

A antropóloga Jenny White assinalou a obsessão da cultura política turca com os “traidores” que querem destruir a nação, os “heróis altruístas” prontos para os vencer e o “grande” líder, machista e paternalista, que os irá guiar nesta luta. Estes conceitos alimentam-se de medos profundamente enraizados de que há inimigos internos e externos decididos a destruir o país. Quanto mais tempo Erdogan se mantiver no poder, defende White, mais ele recorrerá a estes clichés, desenvolvendo “um culto de personalidade extremo, em que é apresentado como o salvador heróico do seu povo”. Entretanto, os seus críticos são “enxovalhados” e tornam-se “bodes expiatórios cultivados e atacados como traidores”.

Um culto de personalidade extremo, em que é apresentado [Erdogan] como o salvador heróico do seu povo”
Jenny White, antropóloga
Este tipo de retórica fracturante não é unívoco. Não é invulgar ouvir secularistas extremos a manifestar desprezo por mulheres que usam véu e a caracterizar os eleitores do AKP como idiotas incultos e ignorantes. Mas é o AKP que tem à sua disposição os recursos do Governo. E, à medida que as divisões se aprofundavam, começaram a intensificar-se os apelos a que os cidadãos se denunciassem uns aos outros.

Depois dos protestos contra o Governo no Parque Gezi, em 2013, quando milhões de pessoas saíram à rua em toda a Turquia, Erdogan incentivou o seu “povo” a “ver claramente que os jovens foram usados por traidores internos e externos”. Encorajou os cidadãos a denunciar vizinhos que tinham batido com tachos e panelas para apoiar os manifestantes. Enquanto lutava contra acusações de corrupção e vagas mais alargadas de agitação doméstica ao longo dos meses seguintes, ele classificou os manifestantes como “terroristas”, chamou aos jornalistas estrangeiros “espiões” e acusou as mulheres que usavam contraceptivos de cometerem “traição”.

A partir do Verão de 2015, no seguimento do colapso do cessar-fogo com o partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), Erdogan voltou a pegar no tema das denúncias, incentivando os responsáveis eleitos a descobrir quem eram os terroristas na sua zona e a denunciar essas pessoas aos serviços de segurança. O Presidente insurgiu-se contra um grupo de académicos que criticaram a abordagem das operações anti-PKK e declarou: “Não há nenhuma diferença entre um terrorista com uma arma e uma bomba na mão e quem usa o trabalho e a caneta para apoiar o terrorismo. O facto de um indivíduo ser deputado, académico, escritor, jornalista ou director de uma ONG não altera o facto de essa pessoa ser um terrorista.”

Começaram a aumentar as queixas de todos os sectores da sociedade. Em Kayseri, um homem foi levado para a esquadra depois de um desconhecido se ter queixado de que ele tinha insultado o Presidente durante uma conversa num banco de jardim. Na província de Sanliurfa, três professores foram denunciados a uma linha directa da administração pública por falarem curdo e, alegadamente, elogiarem uma organização terrorista.

Os académicos, em particular, expressam a sua preocupação com um clima cada vez mais sufocante nas salas de aula, depois de uma série de casos em que os alunos denunciaram os seus professores às autoridades da universidade – e até os gravaram de maneira clandestina. O impacto na liberdade académica é devastador. “Sinto-me menos seguro nas aulas”, diz um eminente professor de Ancara. “Digo aos meus alunos para não gravarem as minhas aulas. Mas, na verdade, como é que posso controlar o que eles fazem com os telemóveis? Temos de ter muito cuidado.”

Jovem casal acaba de celebrar o seu matrimónio com vista para o Bósforo CHRIS MCGRATH/GETTY IMAGES
A traição está entre nós

O apelo às denúncias tornou-se mais urgente depois de 15 de Julho de 2016, quando elementos rebeldes do exército comandaram tanques e caças de modo a lançar um golpe de Estado violento, mas que acabou por falhar. Erdogan culpou o movimento Gülen, uma rede islâmica poderosa controlada pelo imã Fethullah Gülen (actualmente auto-exilado nos Estados Unidos), que tinha sido um aliado político próximo até a relação ter implodido em 2013. Erdogan descreveu os gülenistas como um cancro maligno que tem de ser expurgado do corpo do Estado turco. Os cidadãos, insistiu Erdogan repetidamente, têm de ajudar a entregá-los. “Talvez tenham amigos dessa comunidade”, afirmou em Outubro. “Eu digo: denunciem-nos. Têm de informar os nossos procuradores. Isto é o dever de um patriota.”

Milhares de pessoas responderam ao apelo. As recompensas financeiras atingiram valores recorde (oferece-se até 900 mil libras/1,04 milhões de euros pela captura das figuras mais procuradas no país). De acordo com a Organização Nacional de Espionagem (MIT), o número de pessoas que entraram em contacto através da Internet para oferecer assistência quase duplicou, de 34 mil em 2015 para 65 mil em 2016. As páginas dos jornais encheram-se de histórias extraordinárias de traição entre amigos, vizinhos e até no seio familiar.

65 mil pessoas em 2016, o triplo do ano anterior, que acederam ao apelo de Erdogan para denunciar potenciais "terroristas" mediante compensação monetária
Um pai de Kayseri terá informado a polícia de que dois dos filhos pertenciam à organização Gülen, porque acreditava que andavam a fazer lavagem de dinheiro para o grupo. O jornal Karar relatou o caso de uma família que não ficou convencida com a insistência do filho de que tinha abandonado o movimento. Avisaram a polícia de que ele estava prestes a fugir para os Estados Unidos e ele foi detido no aeroporto.

A polícia não teve mãos a medir. Uma reportagem publicada no jornal Habertürk em Outubro afirmou que os responsáveis estavam sobrecarregados pelo número de chamadas para a linha directa. Muitas das alegações não tinham fundamento e baseavam-se em problemas pessoais, revelou o artigo, mas, sobretudo, eram uma perda de tempo para a polícia.

Quando o próprio sistema legal é arma do Governo

A tensão entre a velha e a nova Turquia

A presidência turca e o Ministério da Administração Interna não responderam a perguntas para este artigo. Mas, a um nível mais geral, os membros do Governo ficam furiosos com as críticas à resposta governamental aos tumultos crescentes no país. Questionam como responderia um líder britânico se oficiais do exército rebeldes conduzissem um tanque pela ponte de Westminster ou bombardeassem o Parlamento. “Se o golpe tivesse vingado, sei que não estaria a falar consigo hoje porque não estaria vivo”, diz Ravza Kavakci Kan, um deputado do AKP. “Estamos a falar de uma situação na Turquia que seria pior do que na Síria. Qualquer país desenvolvido, ao ser confrontado com uma situação destas – um atentado terrorista ou uma tentativa de golpe de Estado –, teria a expectativa de os cidadãos denunciarem comportamentos suspeitos.”

Mas a acusação de ser gülenista, em particular, pode ser pouco transparente. Apesar de o líder espiritual do grupo, o imã Gülen, negar que esteve por detrás da tentativa de golpe, diplomatas e analistas estrangeiros consideram credível a hipótese de os seus seguidores terem tido, pelo menos, algum papel nele. Contudo, as autoridades estão a perseguir não só quem está acusado de um envolvimento directo, mas também pessoas com ligações mais subtis ao movimento. A sua natureza secreta torna difícil provar ou refutar as acusações de filiação – e torna isto um insulto fácil ao carácter de alguém.

O Governo alertou os cidadãos para não fazerem acusações sem fundamento. Banli Yildirim, o primeiro-ministro, afirmou que ia pedir aos serviços de segurança que não prestassem atenção a denúncias anónimas, depois de “injustiças” causadas por pessoas que queriam “ajustar contas” ou que “cobiçavam o emprego de alguém”. Mas as chamadas para fazer denúncias continuam. Depois de um bombardeamento no exterior de um estádio de futebol por um grupo militante curdo, que causou 44 mortos em Dezembro, o directório-geral de segurança lançou uma campanha incentivando os cidadãos a denunciar utilizadores das redes sociais que “apoiam o terrorismo, espalham propaganda terrorista ou são simpatizantes do terrorismo”.

Os críticos do Governo avisam que os perigos das queixas falsas ou ilegítimas são agravados pelo estado do sistema judicial da Turquia. Os procuradores e juízes têm muito medo de arquivar casos, temendo que eles próprios sejam classificados como terroristas. Muitos dos seus colegas críticos ou independentes já foram afastados e substituídos por apoiantes leais.

Um relatório recente do comissário para os Direitos Humanos do Conselho Europeu alertou para o facto de, desde 2014, o sistema legal ter sido transformado numa arma do Governo. Kerem Altiparmak, um perito em Direito Humanitário da Universidade de Ancara, afirma que esta táctica não tem precedentes. “Na década de 1980, o Estado utilizava armas mais claras como desaparecimentos ou tortura”, conta. “Agora, o Estado utiliza ferramentas 'legais'… Em vez de controlar os abusos da lei, o sistema judicial tornou-se o centro destes abusos.” O estado de emergência, que foi declarado depois da tentativa de golpe de Estado e que até agora já foi prolongado duas vezes, deu ao Presidente poderes para promulgar decretos executivos que passam por cima do Parlamento.

O Governo turco rejeita furiosamente a ideia de que o seu sistema judicial não é justo, descrevendo as alegações do Conselho Europeu como “inaceitáveis”. Também não aceita as acusações de um ambiente cada vez mais intolerante. “Todos os casos são diferentes”, diz Kan, o deputado do AKP. “Mas defender que não há liberdade de expressão e que as pessoas não podem ser críticas é completamente errado… Se fosse verdade, a parte da sociedade que está contra o Presidente Erdogan – que é uma percentagem elevada da sociedade – estaria toda em tribunal.”

Porém, os críticos contra-argumentam que a combinação de um sistema legal comprometido com uma rede de pessoas prontas e dispostas a policiar os restantes cidadãos cria uma eficácia devastadora. Num país com tribunais fortes e independentes, uma alegação falsa pode ser avaliada e depois rejeitada. Sem estes pesos e contrapesos, tem o potencial de destruir uma vida.

Não se incomodem, já estou sob investigação

Apesar de se descrever como anarquista, Volkan Sevinc trabalhou sem problemas, durante vários anos, no Museu Histórico de Ancara, que é estatal e um tesouro de esqueletos de dinossauro e fósseis gigantes. “Tinha relativamente poucos visitantes”, conta Sevinc. “Mas era o único local onde as crianças podiam aprender sobre história natural e a evolução.”

Apesar de adorar o seu emprego como curador de fósseis, Sevinc afirma que as suas opiniões, enquanto ateu e veterano de manifestações a favor dos direitos LGBT, entravam em conflito com as dos colegas “reaccionários” do museu. Sevinc, de 31 anos, cuja cara tem o aspecto desgastado de quem já inalou demasiado fumo de cigarro e gás lacrimogéneo, diz que era o único homem da equipa que não ia à mesquita para as orações de sexta-feira. Não consegue evitar sorrir ao contar como um colega uma vez lhe perguntou porque é que o expositor sobre a evolução humana não estava mais de acordo com os ensinamentos do islão. Posteriormente, o museu retirou toda esta exposição.

Esta fricção ideológica parece ter irritado, em particular, uma das suas colegas – uma mulher cuja página de Facebook inclui com orgulho uma imagem sua a falar com o Presidente. No ano passado, ela resolveu recolher informações sobre as actividades de Sevinc fora do trabalho – incluindo uma condenação, em 2010, por insultar um polícia e por “alienar o público do serviço militar”, depois de ele se ter manifestado para apoiar um objector de consciência. “Como é que alguém assim pode trabalhar aqui?”, escreveu ela no Facebook. Ela também enviou as suas descobertas a um sistema de denúncias online dirigido pelo gabinete do primeiro-ministro. Em Fevereiro de 2016, Sevinc foi suspenso enquanto os responsáveis governamentais procediam a uma investigação. Em Maio, voltou a ser admitido.

Estão a despedir-me com base nas minhas ideias. O meu crime, no fim de contas, foi não ser como eles.”
Volkan Sevinc trabalhava no Museu Histórico
Apenas dois meses depois, os golpistas atacaram e as instituições públicas lançaram inquéritos alargados para erradicar alegados militantes do movimento Gülen. Sevinc disse aos patrões, na brincadeira, para não se incomodarem com ele porque já andava a ser investigado. Mas, em Agosto, foi novamente suspenso. No mês seguinte, foi despedido – um dos quase cem mil funcionários públicos que perderam o emprego ao abrigo de decretos presidenciais promulgados durante o estado de emergência.

Todas as pessoas que foram despedidas eram descritas, genericamente, como tendo ligações a organizações terroristas ou a outras entidades que ameaçavam a segurança nacional, mas Sevinc não sabe os pormenores daquilo de que foi acusado. Nunca lhe foi dada a oportunidade de se defender. O ministro da Energia, que supervisiona o museu, não respondeu a perguntas. É difícil para quem foi despedido nas purgas encontrar trabalho, mesmo um dos mais mal pagos. Por agora, um amigo está a ajudar Sevinc a treinar-se para empregado em lojas especializadas em café, mas ainda não arranjou emprego.

Ele não tem dúvidas em relação à colega que foi responsável pela situação difícil em que se encontra. “O problema não é esta mulher”, diz. “Podia ter sido qualquer pessoa.” O que mais o transtorna é o facto de a queixa dela ter sido levada a sério. “A questão é que isto é completamente injusto. Mesmo que estivéssemos a falar sobre um membro destas organizações [terroristas], não há um processo legal. Com certeza, se eu fizer um mau trabalho, se não me esforçar o suficiente, abram uma investigação. Mas estão a despedir-me com base nas minhas ideias. O meu crime, no fim de contas, foi não ser como eles.”

Cartazes de campanha pelo Sim ao referendo do próximo dia 16, que tem como objectivo alterar a Constituição e garantir mais poder a Erdogan CHRIS MCGRATH/GETTY IMAGES
Um cidadão preocupado

Alguns dos casos que surgiram nos últimos meses seriam engraçados se não fossem tão graves. Em Dezembro, os meios de comunicação turcos relataram a história de um funcionário do tribunal que acusou a namorada de pertencer à organização Gülen, depois de ela ter rejeitado o pedido de casamento dele. Um colunista de um jornal local em Elazig fez uma paródia do clima político nacional usando uma conversa imaginária entre um cidadão preocupado e uma linha directa do Governo. “Caro cidadão preocupado, isto é uma gravação”, lia-se. “Escolha 1 para denunciar um vizinho, escolha 2 para denunciar um amigo, escolha 3 para denunciar um habitante da terra.”

Mas o que está em jogo para Erdogan – e para a Turquia – não podia ser mais crucial, à medida que o país participa numa campanha eleitoral. No próximo dia 16 de Abril, os eleitores vão a votos num referendo nacional sobre os planos para uma revisão radical do sistema de Governo. As propostas iriam abolir o papel de primeiro-ministro (que Erdogan desempenhou durante 11 anos) e transformar formalmente o papel cerimonial da presidência num papel executivo. Neste novo sistema, Erdogan poderia governar até 2029.

Temendo que o resultado seja renhido, o Presidente regressou ao discurso sobre traidores e heróis. “A posição do 'não' está do lado do 15 de Julho”, afirmou em Fevereiro, relacionando directamente quem se opõe às mudanças aos golpistas e também ao PKK.

Votar “não” não é crime na Turquia. Mas isto não impediu os cidadãos mais zelosos de o tratar como tal. O jornal de esquerda Sol reportou no mês passado que, depois de começar uma discussão com um cliente sobre o referendo, o dono de uma loja sem licença foi denunciado à polícia e detido durante algum tempo. Melih Gokcek, o presidente da Câmara de Ancara, avisou recentemente no Twitter que os cartazes da oposição e os lemas políticos nas paredes estavam a estragar a cidade e quem fosse visto a afixar cartazes novos devia ser denunciado à polícia.

Nos jantares, nos táxis e em reuniões de família, as conversas afastam-se de temas sensíveis, muitos acreditam que todo o cuidado é pouco.
Pode ser tentador para os cidadãos dos países ocidentais limitarem-se à noção de que os seus estados superaram o clima de paranóia da Guerra Fria. Steve Hewitt, um professor sénior de História na Universidade de Birmingham e autor do livro Snitch! A History of the Modern Intelligence Informer, refuta rapidamente esta ideia. Na maior parte das democracias, explica, são simplesmente as minorias que sofrem as consequências dos sistemas de informadores. “Penso que nas sociedades ocidentais, como esta vigilância muito focada se costuma concentrar em grupos marginalizados, o público em geral não se importa tanto.”

Desde o atentado de 11 de Setembro, o alvo principal são muitas vezes os muçulmanos. Quando era ministra dos Assuntos Internos, Theresa May impôs novas orientações que obrigavam escolas e universidades a denunciar alunos que revelavam tendências para apoiar o extremismo violento ou “criar um ambiente propício ao terrorismo”. Durante a campanha presidencial americana, Donald Trump exigiu “consequências grandes” para os americanos que não denunciassem suspeitas de que os vizinhos estavam a planear ataques terroristas.

Mas os Estados Unidos ainda têm um longo caminho a percorrer até chegarem ao nível da Turquia. Este país não se debate apenas com questões sobre os limites da liberdade de expressão e esforços para deslegitimar e intimidar a imprensa. A poucas semanas de um referendo com ramificações vastas para o futuro da nação, os académicos têm medo de discutir o assunto com os alunos e os votantes do “não” pensam duas vezes antes de publicar no Facebook. Nos jantares, nos táxis e em reuniões de família, as conversas afastam-se de temas sensíveis. Com um segmento da sociedade mobilizado para policiar espaços que o aparelho formal do Estado não consegue policiar, muitos acreditam que todo o cuidado é pouco.


Bilgin Ciftci, que agora trabalha como médico particular depois de ter sido despedido por causa da Gollum, diz que esta é a questão essencial. “Eles estão a dividir as pessoas”, afirma. “Isto vai contra os nossos valores nacionais. Mas é isso que os nossos líderes actuais querem.”

Exclusivo PÚBLICO/ Financial Times

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 9:41 am
por Penguin
EDSON escreveu:
Penguin escreveu: Ditadores com Saddan, Assad e outros têm o histórico de massacrar sua própria população para se manter no poder. Os motivos que os levam a esse tipo de comportamento podem ser variados:

- Aterrorizar populações contrárias ao regime. Coisa que Assad tem feito sistematicamente, jogando bombas clusters improvisadas em area civis.
- Incutir o medo e quebrar a vontade de lutar dos grupos de oposição que são muitos e heterogêneos, diga-se.
- Testar o reação de Trump, já que Obama pouco fez quando ele cruzou a "linha vermelha" e usou armas químicas contra civis.
- O site anti-F-35, War is Boring, publicou uma história que pode ter relação com o ataque:
http://warisboring.com/u-s-cruise-missi ... precision/
Errado! Responda corretamente a pergunta. Observe a pergunta que diz tático militar sem esta bobagem de aterrorizar populações já que Assad tem sob seu controle a maior parte da população sunita. Então com este argumento que se ele joga bombas cluster que tem maior efeito pra que jogaria armas químicas só para chamar atenção sobre si dando um decisão politica equivocada. Seu argumento não tem base sólida e colocaria Assad como um ingenuo e idiota. Ele se livrou de suar armas químicas justamente para ficar usando elas de forma equivocada na hora errada? Os jihadistas matam sua gente pelo simples motivo que qualquer coisa vale principalmente se tiver uma Arabia Saudita querendo derrotar um regime que aliado de Teerã.
A guerra na Síria é bem mais complicada do que Assad X Terroristas jihadistas. Isso é uma simplificação utilizada pelo regime.
Há uma infinidade de grupos armados lutando, com ideias e planos diferentes e distintos apoios externos. Aquilo é uma complicação sem fim.
E realmente muitos deles são grupos terroristas cruéis como o Estados Islâmico e outros.

No mais, Assad é um ditador cruel sim que herdou o poder de seu pai (que por sua vez governou a Síria com mão de ferro por 30 anos). Ele foi incapaz de evitar a guerra civil que resultou em uma das maiores diásporas do mundo contemporâneo e uma quantidade de baixas civis das mais altas já vistas.

Por falar em bombas cluster feitas com barril e lançadas de helicópteros sobre área civis, mais uma linha vermelha foi traçada para o regime:

White House warns of potential US 'red line' over Syria barrel bomb attacks
Criteria would mark substantial expansion of rules of engagement, as Rex Tillerson says US would come to defense of civilians ‘anywhere’ amid G7 talks

https://www.theguardian.com/world/2017/ ... t-in-italy

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 9:47 am
por Penguin
GUERRA SIRIA
Tillerson avisa a Rusia de que debe elegir entre El Asad y Estados Unidos
Los países del G7 no alcanzan una postura común y rechazan imponer sanciones a Moscú y Damasco

Lucca (Italia) 11 ABR 2017 - 08:38 BRT

El secretario de Estado de Estados Unidos, Rex Tillerson, ha advertido a Rusia que debe elegir entre alinearse con Estados Unidos o seguir apoyando al presidente sirio, Bachar el Asad, junto con Irán y Hezbolá. Washington, ha dicho Tillerson en el marco de la reunión del G7 en la localidad italiana de Lucca, "espera" la salida de El Asad. El responsable de política exterior de Donald Trump endurece así su postura sobre el presidente Sirio y se alinea con la de otros miembros del Gabinete republicano que, como la embajadora ante la ONU, Nikky Haley, han exigido que El Asad abandone el poder en Siria. El secretario de Estado de EEUU hace estas declaraciones solo un par de horas antes de emprender su viaje hacia Moscú, donde empezará una visita clave para las relaciones de su país con Rusia.

Mientras, los países del G7 —EEUU, Alemania, Francia, Reino Unido, Italia, Japón y Canadá— han pedido un empujón diplomático para resolver el conflicto sirio y crear una paz duradera para una Siria unificada. "Nuestra esperanza es que El Asad no sea parte de ese futuro", ha recalcado Tillerson.

Sin embargo, los países del G7 y la UE —representada en la cita italiana por su responsable de exteriores, Federica Mogherini— que se han reunido durante el lunes y este martes para abordar la guerra en Siria y mostrar su unidad antes del viaje del secretario de Estado de EEUU a Moscú, no han logrado trazar una postura común para imponer sanciones a Rusia y a Siria, después del ataque con armas químicas contra contra población civil en Jan Sheijun que el pasado 4 de abril acabó con la vida de más de 80 personas. Una posibilidad que había planteado Reino Unido.

Los ministros de Relaciones Exteriores de los países del G7 sí coinciden en que no hay ninguna solución para Siria mientras el presidente El Asad se mantenga en el poder, declaró el jefe de la diplomacia francesa Jean-Marc Ayrault en Lucca, Italia.

El G7 junto con Turquía y varios países árabes (Catar, Jordania, Emiratos Árabes Unidos, Arabia Saudita), que han participado en una reunión sobre el futuro de Siria, han insistido este martes en que "no hay un futuro posible para Siria con El Asad", tal y como ha declarado a la prensa Ayrault. "No es una posición agresiva respecto a los rusos, sino más bien una mano tendida", ha insistido, "Ya basta", ha dicho,"hay que salir de la hipocresía y entrar claramente en el proceso político", ha añadido. "Queremos que Rusia respalde el proceso político para una resolución pacífica del conflicto sirio", afirmó el ministro alemán de Exteriores, Sigmar Gabriel, citado en un comunicado.

Tillerson ha recalcado que no está claro si Rusia ha fallado en sus obligaciones en Siria o es que no se las ha tomado en serio. Sin embargo, "eso no les importa mucho a los muertos", ha declarado, recalcando que un ataque químico como el de la pasada semana es algo que no puede volver a suceder. "No podemos dejar que pase de nuevo".
http://internacional.elpais.com/interna ... 25441.html

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 10:14 am
por brasil70
Ilya Ehrenburg escreveu:
César escreveu:https://www.theguardian.com/world/2017/ ... n-sheikhun

https://www.theguardian.com/world/2017/ ... cal-attack

https://www.theguardian.com/world/2017/ ... e-to-assad

Série de reportagens bastante interessantes do The Guardian, que conseguiu acesso à cidade.

Seria interessante ter mais argumentos do lado russo contra-argumentando o que está escrito aí, mas as evidências existentes até o momento indicam um ataque químico do regime, via ataques aéreos, e não a explosão de um depósito de armas químicas.

Resumidamente:

1) Diferentes testemunhas afirmam terem visto ou sentido ataques aéreos próximo das 6:30h (Rússia afirma que o ataque ocorreu perto das 11h) da manhã, seguido de sintomas consistentes com exposição à agentes químicos tanto de pessoas da localidade quanto dos primeiros socorristas.

2) Diferentes organizações (Médicos sem Fronteiras, autópsias na Turquia, etc...) apontam o uso de gás Sarin e Cloro nas vítimas tratadas.

3) Não há danos externos visíveis em prédios e casas da região, apenas crateras no meio da rua, o que indica inconsistência com a tese de explosão de um depósito de munição e armas químicas nas proximidades. A falta de danos físicos também indica que provavelmente não foi realizado um ataque com bombas de alto explosivo (que seria o tipo presumivelmente usado a um depósito de armas), e sim um ataque químico.

4) A quantidade de pessoas afetadas supostamente por Sarin indica uma grande quantidade dessa substância sendo usada. Embora rebeldes possam ter capturado Sarin de depósitos do governo, não se acredita que eles o possuam em quantidade suficiente para o número de vítimas. Também é difícil que eles mesmos tenham fabricado esse gás, que é provavelmente complexo demais para fabricação sem alguma estrutura.

5) O Sarin é consequência da combinação da mistura de dois componentes, pouco antes do uso. Num depósito, estes estariam separados, e um deles é altamente inflamável. Um ataque a este provavelmente geraria uma forte explosão e danos físicos, ausentes na cena.

6) O padrão de espalhamento do agente tóxico parece não ser compatível com um ataque a um depósito, que na explosão ou destruiria todo o agente ou diminuiria muito sua área de abrangência.


Evidentemente, não sou especialista em armas químicas. Mas, a se aceitar o conjunto de:

(1) Testemunhas na área (que atestam ataque aéreo seguido de sintomas de agentes neurológicos);

(2) Depoimento de especialistas em armas químicas (que indicam que a explosão em depósito não é consistente com o padrão de espalhamento pela região afetada por sintomas, fora especificidades deste tipo de arma - manuseio e armazenagem);

(3) Organizações médicas (que parecem concordar com sintomas de Sarin e cloro) e;

(4) Evidências da cena (falta de danos de alto explosivos esperados num ataque a depósito de armas ou bola de fogo devido a um dos compostos do gás Sarin)

Torna-se muito provável que este ataque tenha sido realizado pela aviação Síria.

Não duvidaria que Assad ou os rebeldes realizassem um ataque deste, se tiverem capacidade para tal. Tampouco acho que qualquer lado esperaria retaliação de Trump, que sempre advogou contra intervenção na Síria e sempre foi levemente a favor de Assad.

Tudo pesado, o que se pode fazer é esperar o surgimento de mais evidências. Mas ambos os lados (rebeldes e Assad), ao meu ver, são fdp o suficiente para realizarem esse tipo de ataque, se puderem.

Abraços

César


Antes de tudo: O Guardian não é uma fonte isenta. Este veículo de mídia impressa demitiu jornalistas que fizeram matérias sobre a população russa esta satisfeita com o aumento de nível de vida da última década. Outros jornalistas denunciaram editores que distorciam matérias totalmente para que tivessem um viés visceralmente anti-russo e anti-Putin.
Este é o primeiro ponto...

Agora vamos aos demais: O uso de gases como arma é mais eficiente de acordo com as condições do clima, todavia, ao contrário do Gás de Cloro, muito usado na 1ª Grande Guerra, os neurotóxicos Sarin, Tabun e Soman, são menos voláteis e o cuidado de lançá-los em um horário de clima ameno não influenciaria em nada. A argumentação de que haviam pessoas com sintomas às seis da manhã me faz pensar em uso de Gás de Cloro.

Se existem testemunhas com conhecimento técnico (médicos), que atestam haver sintomas concernentes a dois tipos de gases, Sarin e Gás de Cloro, isto já coloca em dúvida a versão propalada de que o ataque teria sido obra da Força Aérea Árabe da Síria.

A imagem de danos: é óbvio que ela é controlada. Quem lhe garante que a imagem que você vê é aquela que retrata o alegado depósito de armas atacado pela FAAS?

A explosão do depósito não é consistente? Em que sentido?
Vamos lá...
Em ambiente externo, com duas pessoas por metro quadrado, com um volume cúbico de 0.0005m³ em mãos (equivalente a uma garrafinha de 500ml), eu causo o óbito, estimado, de uma centena de pessoas...
Por que usei o termo estimado?
Pelo fato de variáveis incidirem sobre este tipo de arma, que vai da existência de ventos, como da forma de dispersão deste...
Então, qual é a falta de consistência? Esta falta de consistência precisa ser especificada...
O grande problema dos "especialistas" é a vaidade. Simplesmente a pessoa opina, conjectura, quando deveria dizer ao repórter que nada pode dizer sem dados objetivos, ou seja, elementos reais para tanto.

As pessoas supostamente afetadas indicam que uma quantidade grande de gás neurotóxico foi utilizada?
Caríssimo... Sabe o motivo pelo qual gases neurotóxicos como Sarin, Tabun, Soman, VX e T-2 serem considerados como armas de destruição em massa?
Pelo fato de serem mortais em pequenas quantidades, a ponto de um estoque com ogivas que resultam em algumas toneladas serem capazes de causar mortes em escala gigantesca em uma população desprotegida.
Entendeu agora?
Para matar o irmão do Little Kim bastou pequeninas gotas aspergidas de VX...

Outra: os extremistas islâmicos fazem uso de Sarin, usando-o em Aleppo oriental e nos subúrbios de Damasco (2013)...
E, aí?

Entenda uma coisa: a Síria alega que atacou um depósito, isto não quer dizer que as mortes sejam decorrentes deste ataque, ou mesmo que houvesse algum tipo de arma ali. Nada impede que os extremistas fizessem um ataque de falsa bandeira, para causar a comoção devida, mesmo porque eles mantém contatos constantes com membros da inteligência dos EUA e OTAN...
Eu vi imagem dos famigerados "capacetes brancos"...
Pessoas que eram supostas vítimas, moles e chorosas, quando uma vítima de gás neurotóxico apresenta rigidez. Ausência de vômitos e socorristas atendendo com as mãos nuas!
Piada.

É isto... Fiar-se em "especialistas" movidos pela vaidade e demandados por jornalistas que precisam cobrir a pauta de qualquer jeito nos leva a conclusões fora da realidade; nestas horas o correto e manter-se frio, evitar as notícias hot-line, fazer uso racional do discernimento, em detrimento ao lado emocional e esperar...
;)
Aqui vemos um exemplo de aula de sensatez.
Muito obrigado pelas informações claras e diretas caro amigo. Aqui aprendemos e não pagamos nada pela grandeza de ensinamentos.
Que sirva de exemplo.

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 10:29 am
por Penguin

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 12:43 pm
por EDSON
As batalhas para o Norte de Hama se intensificaram na ultima hora os jihadistas estão jogando muitos de seus combatentes na área se a derrota vier então a cidade de Hama e capital da província de mesmo nome estará salva durante bom tempo.

Imagem

Imagem

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 1:03 pm
por EDSON
Penguin escreveu:
A guerra na Síria é bem mais complicada do que Assad X Terroristas jihadistas. Isso é uma simplificação utilizada pelo regime.
Há uma infinidade de grupos armados lutando, com ideias e planos diferentes e distintos apoios externos. Aquilo é uma complicação sem fim.
E realmente muitos deles são grupos terroristas cruéis como o Estados Islâmico e outros.

No mais, Assad é um ditador cruel sim que herdou o poder de seu pai (que por sua vez governou a Síria com mão de ferro por 30 anos). Ele foi incapaz de evitar a guerra civil que resultou em uma das maiores diásporas do mundo contemporâneo e uma quantidade de baixas civis das mais altas já vistas.

Por falar em bombas cluster feitas com barril e lançadas de helicópteros sobre área civis, mais uma linha vermelha foi traçada para o regime:

White House warns of potential US 'red line' over Syria barrel bomb attacks
Criteria would mark substantial expansion of rules of engagement, as Rex Tillerson says US would come to defense of civilians ‘anywhere’ amid G7 talks

https://www.theguardian.com/world/2017/ ... t-in-italy


Bem você não é capaz de responder mas não é sua culpa. A pergunta é clara e diz situação tático militar e não houve contestações de que ele é cruel e sim que ele não é burro. Pois ele poderia ter usado e usa bombas de fragmentação. Os americanos mesmo por estes dias mataram 150 pessoas em Mossul e matarão muito mais em Raqqa pois infelizmente os civis estarão na linha de tiro o que faz deles muito cruel também. A guerra é cruel e não escolhe entre bons e maus na matança.

Você devera pesquisar na internet em sites especializados. E para a pergunta que formulei que na situação tático militar até o terreno pode influenciar como uma posição alta e o uso de armamento na linha de batalha também é uma das constantes. Perceba que a pergunta é simples e não há nuances estratégicas e estas por sua vez devem ser melhor elaboradas já que segundo você mesmo Assad é cruel e mata de qualquer forma então matar por matar seria mais simples usar armas convencionais que no final farão o mesmo efeito. O único país com interesse neste caso e capaz de ser mais cruel que Assad é a Arábia Saudita que vê seu algoz vencendo na Síria e pra eles vale qualquer coisa também e é justamente onde seus combatentes estão é que sempre tal fato acontece.

Re: Mundo Árabe em Ebulição

Enviado: Ter Abr 11, 2017 2:33 pm
por Grep
César escreveu:https://www.theguardian.com/world/2017/ ... n-sheikhun

https://www.theguardian.com/world/2017/ ... cal-attack

https://www.theguardian.com/world/2017/ ... e-to-assad

Série de reportagens bastante interessantes do The Guardian, que conseguiu acesso à cidade.

Seria interessante ter mais argumentos do lado russo contra-argumentando o que está escrito aí, mas as evidências existentes até o momento indicam um ataque químico do regime, via ataques aéreos, e não a explosão de um depósito de armas químicas.

Resumidamente:

1) Diferentes testemunhas afirmam terem visto ou sentido ataques aéreos próximo das 6:30h (Rússia afirma que o ataque ocorreu perto das 11h) da manhã, seguido de sintomas consistentes com exposição à agentes químicos tanto de pessoas da localidade quanto dos primeiros socorristas.

2) Diferentes organizações (Médicos sem Fronteiras, autópsias na Turquia, etc...) apontam o uso de gás Sarin e Cloro nas vítimas tratadas.

3) Não há danos externos visíveis em prédios e casas da região, apenas crateras no meio da rua, o que indica inconsistência com a tese de explosão de um depósito de munição e armas químicas nas proximidades. A falta de danos físicos também indica que provavelmente não foi realizado um ataque com bombas de alto explosivo (que seria o tipo presumivelmente usado a um depósito de armas), e sim um ataque químico.

4) A quantidade de pessoas afetadas supostamente por Sarin indica uma grande quantidade dessa substância sendo usada. Embora rebeldes possam ter capturado Sarin de depósitos do governo, não se acredita que eles o possuam em quantidade suficiente para o número de vítimas. Também é difícil que eles mesmos tenham fabricado esse gás, que é provavelmente complexo demais para fabricação sem alguma estrutura.

5) O Sarin é consequência da combinação da mistura de dois componentes, pouco antes do uso. Num depósito, estes estariam separados, e um deles é altamente inflamável. Um ataque a este provavelmente geraria uma forte explosão e danos físicos, ausentes na cena.

6) O padrão de espalhamento do agente tóxico parece não ser compatível com um ataque a um depósito, que na explosão ou destruiria todo o agente ou diminuiria muito sua área de abrangência.


Evidentemente, não sou especialista em armas químicas. Mas, a se aceitar o conjunto de:

(1) Testemunhas na área (que atestam ataque aéreo seguido de sintomas de agentes neurológicos);

(2) Depoimento de especialistas em armas químicas (que indicam que a explosão em depósito não é consistente com o padrão de espalhamento pela região afetada por sintomas, fora especificidades deste tipo de arma - manuseio e armazenagem);

(3) Organizações médicas (que parecem concordar com sintomas de Sarin e cloro) e;

(4) Evidências da cena (falta de danos de alto explosivos esperados num ataque a depósito de armas ou bola de fogo devido a um dos compostos do gás Sarin)

Torna-se muito provável que este ataque tenha sido realizado pela aviação Síria.

Não duvidaria que Assad ou os rebeldes realizassem um ataque deste, se tiverem capacidade para tal. Tampouco acho que qualquer lado esperaria retaliação de Trump, que sempre advogou contra intervenção na Síria e sempre foi levemente a favor de Assad.

Tudo pesado, o que se pode fazer é esperar o surgimento de mais evidências. Mas ambos os lados (rebeldes e Assad), ao meu ver, são fdp o suficiente para realizarem esse tipo de ataque, se puderem.

Abraços

César
Foram lá tirar fotos antes do ataque pra ver se o gás estava pronto pra uso ou misturado??