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Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Seg Mai 16, 2016 12:17 pm
por Penguin
ROBERTO SIMON
Serra e o subterrâneo do Itamaraty

16/05/2016 02h00

Caso José Serra, novo ministro das Relações Exteriores, desça o elevador em frente a seu gabinete e cruze a rua até o prédio anexo ao Palácio do Itamaraty, onde fica o arquivo do ministério, poderá encontrar papéis carcomidos com trechos de sua biografia.

Serra, afinal, é velho conhecido da Casa de Rio Branco. A instituição que agora comanda o espionou por anos -quando era ainda "o asilado territorial José Serra", nas palavras do embaixador da ditadura no Chile, Antonio Candido da Câmara Canto.

A chancelaria listava-o, em 1974, entre os "elementos brasileiros subversivos considerados perigosos" que haviam escapado após o golpe contra Salvador Allende. O então professor universitário chegara a dormir uma noite no Estádio Nacional de Santiago, a arena convertida em campo de concentração.

Teve, contudo, a sorte de ser solto antes de cinco agentes do Brasil começarem a dar expediente no local, auxiliando torturadores chilenos. Naqueles dias, um bilhete do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo sobre Serra avisava: "trata-se de 'boa gente', que bem merece ser 'tratado' pelos chilenos".

Anos antes de receber asilo na missão italiana no Chile, Serra já era vigiado por arapongas-diplomatas. A chancelaria se encolerizava em especial com seu trabalho na Frente Brasileira de Informações, grupo de exilados que compilava e disseminava mundo afora casos de tortura no Brasil.

A embaixada em Santiago fez intenso lobby junto ao governo Allende para que o boletim da frente fosse proibido e os envolvidos, expulsos do Chile. Fracassou duplamente.

O ministério suspeitava (com razão) que Serra era "um dos mais ativos pombos-correios" da organização. Documentos secretos registram sua passagem por Uruguai, Argentina e Peru para atar
nós da rede de denúncias, além de uma viagem à Europa socialista.

O Itamaraty espionava suas mais prosaicas atividades, de jantares a conferências sobre inflação. Em 1969, Serra tapeou a vigilância da ditadura e tirou um passaporte no consulado em Santiago. O caso custou a carreira do cônsul-adjunto.

O novo ministro viveu um passado ainda quase ignorado por estudiosos das relações internacionais. A versão oficial construída desde a redemocratização é que, institucionalmente, o Itamaraty se insulou dos arbítrios da ditadura e se ateve aos "interesses permanentes" de Estado. Nela, meganhas e delatores são a exceção que confirma a regra.

Os arquivos recém-revelados contam outra história. A chancelaria era parte fundamental do aparato repressivo fora do território nacional, espionando centenas de brasileiros como Serra.

Tratou-se de uma colaboração institucional que violou de modo sistemático direitos e, em alguns casos, fez "desaparecer" brasileiros. Claro: alguns honrosos diplomatas se arriscaram agindo contra a ditadura, por exemplo, ao transportar listas de torturadores em malas diplomáticas.

O Itamaraty de hoje é outro. À frente do ministério que o perseguiu, Serra tem a oportunidade de jogar luz sobre esse passado e provar que suas lições foram assimiladas.

Em um governo de feições assustadoramente retrógradas, o ex-"asilado territorial" deve honrar seu passado de luta e provar que o Brasil, a maior democracia da América Latina, reconhece suas responsabilidades na promoção dos direitos humanos dentro e fora de casa.

ROBERTO SIMON, 31, é mestre em políticas públicas pela Universidade Harvard (EUA). Prepara para a editora Companhia das Letras o livro "O Brasil de Pinochet"

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Qua Mai 25, 2016 11:40 am
por FCarvalho
COBERTURA ESPECIAL - CRISE - INTELIGÊNCIA

23 de Maio, 2016 - 22:57 ( Brasília )
Clubes Militares - Democratas e Nacionalistas

Nota Clubes Militares

Democratas e Nacionalistas

Na terça-feira passada o Diretório Nacional do PT divulgou sua Resolução Sobre a Conjuntura, que visa a orientar seus filiados na estudo dos problemas atuais do pais e guiá-los para a luta que pretendem travar contra os -golpistas' que estão prestes a derrubar Dilma e afastar o PT do poder depois de 13 anos.

O documento apresenta uma série de chavões esquerdistas, como dizer que o Estado está agora sob a direção de velhas oligarquias, que as mesmas aplicaram um golpe de estado, que estamos adotando o modelo económico preconizado pelo grande capital, que o impeachment é um golpe casuístico para depor um governo democraticamente eleito, e por ai vai.

Analisa, também, as possíveis falhas que levaram ao fim do projeto socialista de eternização no poder.

Entre tais erros, aponta:

'Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria Impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista: fortalecera ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação."

O parágrafo é particularmente revelador sobre a mentalidade distorcida que domina a esquerda e a insistência em suas teses de dominar instituições que, no cumprimento da lei. Impedem a realização de seus sonhos totalitários, que eles denominam democratas, na novilingua comunopetista.

Assim, enxergam uma sabotagem conservadora na ação democrática que os impediu de dominar a Policia Federal e o Ministério Público Federal, seu objetivo permanente.

Voltam, ainda, a insistir na reformulação dos currículos das escolas militares, reduto de resistência à releitura da História que pretendem, o que fica claro na Base Nacional Comum Curricular proposta pelo MEC, e também nos textos revisionistas constantes dos livros didáticos, particularmente os de História, com que vem difundindo suas ideias distorcidas e fazendo verdadeira lavagem cerebral em nossos jovens estudantes, há longo tempo. Diga-se. Também, que isso ocorre sob a olhar complacente e até mesmo sob o aplauso de mestres e pais politicamente corretos.

Insistem, por outro lado, no domínio da imprensa por meio do controle das enormes verbas publicitarias que controlam.

Quanto á promoção de oficiais com compromisso democrático e nacionalista, isto e o que vem sendo feito desde sempre, pois as Forças Armadas são o maior depósito e fonte de brasileiros democratas e nacionalistas de que a Nação dispõe.

Neste caso, democratas e nacionalistas no sentido registrado nos dicionários da língua portuguesa, ao contrário do já assimilado no senso comum modificado de que nos fala Gramsci, o que já é empregado como o sentido "verdadeiro' dos termos pelos Mistas.

Para Gramsci democracia é o sistema de governo que se funda na hegemonia das Classes Subalternas {o povo) e na absorção da Sociedade Política (o Estado) pela Sociedade Civil (Estado Ampliado). Neste conceito, democracia é "governo do povo". no qual não se inclui a burguesia — -não-povo". Não somos democratas neste sentido deturpado da palavra.

Quanto ao nacionalismo, este sentimento patriótico é explorado pelos movimentos revolucionários de esquerda conto Ideologia Intermediária que induz nas integrantes da sociedade nacional atitudes e opiniões (senso comum modificado e ativismo anil-Imperialistas e, por extensão, anticapitalistas antiliberais.

Para nós, o nacionalismo e um sentimento patriótico de vinculação do indivíduo à nação, que se manifesta em atitudes e ações políticas, econômicas e sociais espontâneas e construtivas, dando prioridade ao que nos é próprio e aos interesses nacionais, Não é, necessariamente, contra ninguém ou contra qualquer ideia que não nos agrida.

Por ai vemos, mais uma ver., o cuidado que devemos ter ao ler qualquer documento de partidos esquerdistas, pois a linguagem que empregam é, maliciosamente, deturpada para que concordemos com ela.

VAlte Paulo Frederico Sorianos
Presidente Clube Naval

Gen Div Gilberto Pimentel
Presidente do Clube Militar

Maj Brig-do-Ar Marcus Vinicius Costa
Presidente do Clube da Aeronáutica

http://www.defesanet.com.br/crise/notic ... onalistas/

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Qua Jul 06, 2016 12:39 pm
por akivrx78
Presidência da Venezuela no Mercosul aprofunda a crise do bloco
Macri negocia para que Maduro não lidere grupo enquanto Brasil propõe pospor decisão

O chanceler brasileiro em Montevideo. Juan Ignacio Mazzoni EFE

O Mercosul entrou em uma profunda crise. Desta vez o motivo não são os de costume, como a estagnação de novas negociações com a União Europeia entre outros problemas crônicos. Agora é algo mais fundamental que pode implodir o grupo. Vários dos sócios contestam a presidência iminente da Venezuela no bloco, a quem corresponderia, pela regra de rotatividade, assumir nos próximos seis meses um papel de destaque em meio a uma profunda crise interna e denúncias sobre a perseguição da oposição. O Paraguai rejeitava abertamente a possibilidade, enquanto Argentina e Uruguai, inicialmente, pareciam dispostos a ceder a cadeira a Nicolás Maduro. Agora, o presidente argentino, Mauricio Macri, deu uma guinada de posição e aposta abertamente por bloquear o caminho do país do Caribe. Já o Brasil, fragilizado pelo Governo interino de Michel Temer, fez sua proposta intermediária nesta terça: quer ganhar tempo e adiar o veredito, previsto para o dia 12 de julho, para meados de agosto.

O ministro interino das Relações Exteriores do Brasil, José Serra, viajou inesperadamente a Montevidéu nesta terça-feira e pediu que a transferência da presidência rotativa do Mercosul para a Venezuela seja adiada, sob o argumento de que o país caribenho não cumpre certas condições “em matéria de normas e questões cambiais”. O adiamento seria até agosto, e, daqui até lá, seria realizada uma reunião do Mercosul com a pauta focada na Venezuela, disse o ministro. Fontes próximas de Macri dizem que ele está negociando com vários países para evitar a presidência do país de Maduro, ainda que não haja nada fechado. É uma mudança em relação a dias atrás, quando a chanceler argentina, Suzana Malcorra, exibia uma posição mais suave, atribuída por alguns na Argentina à sua campanha para se tornar secretária-geral da ONU, uma disputa para a qual precisa dos votos da Venezuela e seus satélites.

O pedido feito pelo Brasil e o posicionamento da Argentina colocam o Governo uruguaio em posição difícil, já que este havia anunciado que fará a passagem de seu atual poder para Nicolas Maduro daqui a uma semana, no dia 12 de julho. O Paraguai, por sua vez, havia pedido a realização de uma reunião para avaliar a situação da Venezuela, a qual foi agendada para um dia antes, na segunda-feira 11 de julho, também em Montevidéu e com a presença apenas dos chanceleres de cada país.

“Pedimos mais tempo para o Uruguai”, disse o ministro brasileiro depois de se reunir em Montevidéu com o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, e o ministro das Relações Exteriores do país, Rodolfo Nin Novoa. Este último havia recusado a adoção de qualquer medida contrária à Venezuela, e, nesta segunda-feira, havia afirmado aos meios de comunicação locais que não houve na Venezuela nenhuma “interrupção da ordem democrática” e que, por isso, não há razões jurídicas para suspender a transferência de poder.
Declarações “amorais” do Brasil

Questionado pelos jornalistas, Serra evitou falar sobre a situação política interna da Venezuela e atribuiu o seu pedido exclusivamente a questões burocráticas relacionadas à adesão do país à organização regional. É improvável que os assuntos legais e normativos da Venezuela sejam resolvidos até agosto, mas, ao longo desse mês, Serra espera ser confirmado como chanceler e ter uma posição mais forte para a negociação. “Estou convencido, e não sou apenas eu, mas toda a classe política do Brasil, que o Senado irá aprovar por dois terços o impeachment”, disse Serra, acrescentando que tanto os partidários do PT quanto a própria presidenta afastada têm a mesma avaliação. A votação decisiva está prevista para ocorrer depois dos Jogos Olímpicos do Rio.

O atual chanceler brasileiro sempre foi contrário à participação da Venezuela no bloco e já criticou Caracas publicamente por não cumprir as regras alfandegárias. O país do Caribe integra o Mercosul desde junho de 2012 e já assumiu uma vez a presidência rotativa do organismo, de julho de 2013 a julho de 2014. Já como ministro Serra também defendeu a realização, o quanto antes, do referendo revogatório de Maduro, no centro da crise política venezuelana.

A proposta brasileira azedou ainda mais as relações entre Brasília e Caracas. Enquanto Serra estava em Montevidéu, a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, usou o Twitter para contestar seu colega: “A República Bolivariana da Venezuela rechaça as insolentes e amorais declarações do chanceler interino do Brasil”. Ela acusou o brasileiro de se unir à “ala direita” contra o seu país. A tensão não para de crescer e a reunião de cúpula do dia 12, que precisamente foi pensada sem os mandatários para tentar acalmar os ânimos, se desenha muito complicada.

http://brasil.elpais.com/brasil/2016/07 ... 16464.html

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Qui Jul 07, 2016 4:07 pm
por Túlio
Taí uma ótima desculpa para sairmos dessa josta. Mas claro, com um Presidente interino com menos testosterona que uma garotinha da pré-escola (além de réu na LJ), tá na cara que é oportunidade perdida. E sigamos no bonde dos bovinos...

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Ter Jul 12, 2016 7:25 am
por akivrx78
Desde 1914, Brasil sonha em ser potência. Quando a hora vai chegar?

João Paulo Charleaux
11 Jul 2016 (atualizado 11/Jul 22h52)
Em entrevista ao ‘Nexo’, Harold Trinkunas e David Mares comentam a busca brasileira por um lugar entre as grandes potências mundiais, a despeito da crise política e das dificuldades econômicas

Foto: Bruno Domingos/Reuters - 18.11.2004
https://www.nexojornal.com.br/incoming/imagens/brasil_haiti_onu.jpg/ALTERNATES/LANDSCAPE_640/brasil_haiti_onu.jpg
Soldados brasileiros 'capacetes azuis' da ONU em missão de paz no Haiti


O Brasil tentou quatro vezes - e fracassou em todas elas - conseguir um lugar de destaque entre as grandes potências mundiais. Desde 1914, o país reivindica para si a condição de grande país, e não apenas de país grande. Mas tem encontrado barreiras intransponíveis.

No livro “Aspirational Power - Brazil on the Long Road to Global Influence” (Aspirante a Potência - O Brasil no Longo Caminho até a Influência Global, em tradução livre), lançado em junho pelo centro de estudos Brookings Institution, baseado em Washington, os autores David R. Mares e Harold A. Trinkunas analisam essa ambição ao longo dos anos, os sucessivos insucessos e suas razões.

Trinkuas e Mares falam muito do “soft power” brasileiro. O termo, que pode ser traduzido como “poder brando”, se refere à capacidade de atração e persuasão que um país possui, e normalmente se opõe ao “hard power”, ou “poder duro”, que se refere às políticas de coerção e intimidação. Influência cultural é “soft” e invasão militar é “hard”.

O Nexo conversou com os autores sobre o livro, sobre as tentativas frustradas do Brasil e sobre o papel da crise atual no futuro das pretensões internacionais brasileiras. São eles:

David Mares, titular da Cadeira de Relações Inter-Americanas no Instituto das Américas da Universidade da Califórnia, San Diego. É membro do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos e do Conselho de Relações Exteriores.

Harold Trikunas, titular da Cadeira Charles W. Robinson e membro sênior e diretor do programa Iniciativa Latino-Americana em Política Internacional da Brookings. Sua pesquisa foca em política latino-americana, particularmente em assuntos relacionados a política externa, governança e segurança.

O livro se refere à falta de ‘dimensão militar’ do Brasil. Isso é algo que um país aspirante a potência deveria buscar para ganhar influência numa nova ordem?

David Mares Nós não argumentamos que o Brasil deveria desenvolver capacidades militares ofensivas. Mas a segurança é parte da governança internacional, e a força pode ser necessária em algumas circunstâncias. Um Estado certamente pode discordar do uso da força em situações particulares, mas nenhuma nação que tem o desejo de ser influente no espaço internacional pode simplesmente dizer que não será líder em nenhum cenário que exija reagir a evidentes agressões ou a violações massivas de direitos humanos. O Brasil é participante em operações de manutenção de paz, mas não tem poder logístico, de mão-de-obra ou de fogo para complementar o que tem sido até hoje funções sobretudo diplomáticas ou, até certo ponto, operacionais.

Harold Trinkunas Como outras potências emergentes, como a Índia, o Brasil vive hoje numa região do mundo muito pacífica. Isso contribuiu para a preferência brasileira em evitar o uso da força na política internacional. Porém, nós argumentamos no livro que o país deveria aumentar sua capacidade militar para contribuir para o fortalecimento da segurança internacional, particularmente por meio da liderança em operações de paz, como faz no Haiti. Nesse sentido, o Brasil pode usar seu ‘hard power’ para fortalecer o alcance de sua influência e de seu ‘soft power’.

Os srs. mencionam ‘três tentativas do Brasil de alcançar um status de potência no passado’. Quais foram essas tentativas e por que elas falharam?

David Mares A primeira tentativa foi iniciada na Segunda Conferência de Paz de Haia, em 1907, e terminou com a saída do Brasil da Liga das Nações no fim da década de 1920. Durante esse tempo, o país teve participação mínima na Primeira Guerra Mundial. Esse esforço foi bastante prematuro, dado que o país não tinha nem ‘hard power’ nem ‘soft power’ que justificasse uma posição de liderança na Liga. E foram essas mesmas fraquezas que abreviaram a emergência do Brasil depois da Segunda Guerra Mundial, apesar de um esforço moderado na Europa.

A terceira tentativa aconteceu durante a ditadura militar na Guerra Fria. O governo embarcou numa estratégia de emergência que teve uma forte orientação de ‘hard power’ (incluindo avançados sistemas armamentícios e a capacitação nuclear), mas também aumentou seu ‘soft power’ com o desenvolvimento de uma política de substituição de importação e com esforços diplomáticos para achar um caminho nacionalista independente durante a Guerra Fria. Essa tentativa falhou em vários sentidos. As aspirações de ‘hard power’ foram longe demais, com as tecnologias nuclear e balística gerando preocupações importantes nos Estados Unidos e na Europa acerca das intenções brasileiras. Mais importante ainda, talvez, foi o retorno da democracia no Brasil e o fim da Guerra Fria, que minaram de forma significativa os apoios interno e externo para que essas metas fossem atingidas. Qualquer ‘soft power’ que a ditadura tenha construído desapareceu junto com sua deslegitimação, com o colapso da política de substituição de importações e com a hiperinflação.

Harold Trinkunas No livro, nós examinamos a história do Brasil para identificar momentos em que o país buscou integrar instituições internacionais ou adquirir capacidades que eram exclusivas das grandes potências de cada era, e nós encontramos quatro episódios. A primeira foi quando o Brasil participou da Primeira Guerra Mundial [1914-1918] ao lado dos Aliados para, em seguida, buscar um assento permanente na recém-criada Liga das Nações [precursora da ONU]. A segunda é marcada pela aspiração brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, após a Segunda Guerra Mundial [1945], quando o país lutou do lado dos Aliados. A terceira tentativa teve início quando o Brasil lançou uma ambiciosa tecnologia nuclear nos anos 1970, que incluía um programa secreto para adquirir capacidade militar nuclear. E o Brasil relançou seu interesse num assento permanente no Conselho de Segurança, assim como aspirou à liderança de outras organizações internacionais, como a Organização Mundial do Comércio.

Em todos esses casos, o Brasil não alcançou suas aspirações, pela combinação de três fatores: suas capacidades não eram suficientes, mudanças adversas no sistema internacional limitaram sua oportunidade de emergir e crises em suas instituições domésticas minaram sua credibilidade internacional.

Os srs. fazem diversas referências ao ‘soft power’ brasileiro. Como isso funciona? O futebol também é uma ferramenta de ‘soft power’? Pois nós já não estamos sequer rendendo da mesma forma nesse esporte.

David Mares ‘Soft power’ é a habilidade de atrair apoiadores; eles te apoiam porque eles acreditam nos mesmos valores que você, e querem te imitar. ‘Soft power’, assim como todo tipo de poder, é relativo - se você tem ‘soft power’ em algum espaço, mas alguém tem mais ‘soft power’ que você nesse mesmo espaço, você talvez não será capaz de atingir seus objetivos. Então, sim, os sucessos do futebol brasileiro geraram algum ‘soft power’, mas em um espaço que não ajudou de fato o Brasil a aglomerar apoiadores de suas aspirações a papeis de liderança na economia global ou no Conselho de Segurança da ONU. O Brasil também gerou ‘soft power’ no Caribe através de medidas diplomáticas, econômicas e de saúde, mas os Estados Unidos têm mais ‘soft power’ por lá, então o poder brasileiro na região não foi suficiente para mudar a estrutura de governança dominada pelos americanos. No esforço brasileiro mais recente de emergir, seu ‘soft power’ (baseado no sucesso econômico, estabilidade democrática, e nas políticas sociais e de saúde) se desenvolveu até um ponto em que EUA, Europa, Japão, Rússia e China tiveram que prestar atenção. Mas esse ‘soft power’ não se desenvolveu até o ponto que o Brasil pudesse demandar mudanças significativas na governança internacional. E o comportamento brasileiro, como se seu ‘soft power’ tivesse de fato chegado até tal ponto, arrefeceu a disposição americana de acomodá-lo no topo da hierarquia internacional.

Harold Trinkunas ‘Soft power’ é um conceito desenvolvido por Joseph Nye em Harvard para descrever a habilidade de alguns países de influenciar outros por meio do poder de atração, mais do que pelo uso de coerção econômica ou militar. Certamente, as façanhas futebolísticas, assim como a música, os filmes e outras instituições culturais são parte desse ‘soft power’. Mas, no livro, nós focamos na habilidade do Brasil entre 2000 e 2013 em alcançar uma combinação de rápido crescimento econômico, redução da desigualdade, crescimento da classe média e consolidação democrática, o que é algo particularmente atrativo, especialmente para países em desenvolvimento. Por isso a recente crise do Brasil é importante - não apenas por razões internas, mas também por seu impacto na influência internacional do Brasil e no seu ‘soft power’.

Como a crise mais recente - e em especial o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff - refletem na avaliação que os srs. fazem da estabilidade brasileira, assim como nas pretensões e na imagem internacional do Brasil?

David Mares A crise interna brasileira teve um impacto negativo importante na sua imagem internacional, e tirou o foco do governo de exercer um papel importante no exterior para sobreviver internamente. O impeachment da presidente Dilma causa um impacto menos negativo do que os escândalos de corrupção e o colapso econômico do país. O Brasil levará um longo tempo até reconquistar parte de seu ‘soft power’ perdido.

Harold Trinkunas Como o 'soft power' é uma parte tão importante das capacidades do Brasil contemporâneo, a crise interna diminui a influência internacional do país no curto prazo. Porém, no longo prazo, a resolução da crise dentro dos limites constitucionais definidos contribuirá para a credibilidade do país, particularmente se combinado com uma bem sucedida luta contra a corrupção que está sendo conduzida por juízes, Ministério Público e Polícia Federal. Uma economia doméstica sólida e em bom funcionamento, além de instituições políticas e sociais sólidas, são as fundações de um 'soft power' influente do Brasil no exterior.

Como os EUA reagem às tentativas do Brasil de alcançar esse status de potência?

David Mares Os EUA receberiam bem outro Estado em algum cargo de liderança se esse Estado tivesse valores democráticos e liberais. O Brasil é democrático e, em seu âmago, é também liberal - acreditando nos direitos humanos, no mercado e na prestação de contas do governo. Mas seu comportamento de buscar alianças com a Rússia e com a China (que não são democracias liberais) levaram os EUA a questionar se o comprometimento brasileiro não era com uma mera reforma na ordem internacional, o que significou que os EUA bloqueariam a emergência brasileira da forma que pudessem. Entretanto, o fracasso brasileiro em emergir dessa vez não resultou apenas da oposição americana, mas talvez os próprios fracassos internos tiveram um peso ainda maior na destruição virtual de seu ‘soft power’.

Harold Trinkunas Os EUA, como um dos Estados que fundaram a atual ordem internacional a partir da Segunda Guerra Mundial, têm sido ambivalente a respeito da emersão do Brasil. Eles reagem positivamente quando o Brasil contribui para preservar a ordem atual. Exemplos recentes disso são a cooperação para a governança global da internet e o combate às mudanças climáticas. Mas o Brasil é um crítico frequente de aspectos da ordem internacional, particularmente do grande poder do unilateralismo e do tratamento desigual dos Estados, e isso tem ocasionalmente gerado fricção com os EUA.

https://www.nexojornal.com.br/entrevist ... vai-chegar

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Ter Jul 12, 2016 11:22 am
por mmatuso
Autores coxinha e golpistas. :roll:

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Ter Jul 12, 2016 4:25 pm
por Túlio
Na verdade me parece um bom texto: desnuda claramente que queremos ser vistos e respeitados como "potência" porque somos "bonzinhos" mas, se necessário, poderíamos ser um pouco "mauzinhos". O que nos mata é nossa relação oligofrênica com EUA/Europa Ocidental (tipo "amamos vocês de paixão mas temos medo que queiram nos dominar e colonizar"), nossa corrupção endêmica e generalizada e falta daquilo que os Argentinos vivem dizendo que temos mas nunca vi, ou seja, um Plano de desenvolvimento de longo prazo.

Isso posto, somos a "mulherzinha do mundo", sempre chiando e reclamando de seus "machos" mas nada fazendo para mudar o status quo. Assim, leva, reclama disso e daquilo mas logo depois está a levaire de novo...

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Qua Jul 13, 2016 9:30 am
por akivrx78
Serra e o servilhismo na política externa

12/07/2016

Essa política, de priorização dos interesses nacionais, é abandonada após o golpe militar de 1964, quando impera a doutrina segundo a qual “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil’

Por Roberto Amaral – de Brasília:

No discurso de transmissão do cargo de ministro das Relações Exteriores ao professor e empresário Celso Lafer (2001), aquele chanceler que se notabilizaria por tirar os sapatos e as meias para ingressar nos EUA, o ministro Luiz Felipe Lampreia, resumindo a política externa do governo FHC (a dependência encantada), proclamou:

“O Brasil não pode querer ser mais do que é”.

“O Brasil está fadado a ser, por tempo indefinido, um satélite dos Estados Unidos”

Não se tratava, essa, de uma frase qualquer perdida no cipoal de um discurso protocolar, mas de síntese lapidar de como a classe dominante brasileira, alienada e colonizada, culturalmente, politicamente, ideologicamente, se vê a si mesma e como a partir dessa visão abastardada (o sempre presente ‘complexo de vira-latas’ diagnosticado por Nelson Rodrigues), vê o país e nosso papel no mundo. Ou, antes, nosso não-papel.

Lampreia falava como intelectual orgânico da classe dominante nativa, como falaria e agiria seu sucessor Celso Lafer e como fala agora José Serra.

Com aquela síntese o embaixador, recentemente falecido, exortava-nos à renúncia não só a qualquer política externa tentativamente independente, tradição que o Itamaraty vinha construindo desde Afonso Arinos-San Tiago Dantas, mas mesmo de renunciar simplesmente a ter política própria, aspirar a algo no concerto das nações. Sem saber, Lampreia antecipava o que seria a não-política externa de seu correligionário José Serra.

O ministro Lampreia, todavia, não estava só, nem foi original em seu discurso dependentista, que vê a dependência não como tragédia a ser removida, mas como fatalismo transformado em momento de regozijo. Antes dele, Vicente Rao, servindo ao governo títere de Café Filho (agosto de 1954/novembro de 1955), declarara, sob os aplausos da grande imprensa brasileira:

“O Brasil está fadado a ser, por tempo indefinido, um satélite dos Estados Unidos”.

O conflito dependência/independência vem de longe. Evidentemente, não podemos aspirar à autonomia, mesmo condicionada pelo entrecho internacional, ou à independência, à soberania e ao desenvolvimento, ou seja, a um projeto nacional, se aceitamos uma visão de Brasil e de seu lugar no mundo, segundo a qual nosso país “não pode querer ser mais do que é”, pois “o importante é adaptar-se ao mainstream” e “ser convidado para sentar-se à mesa” de discussão, pois, quem sabe, nos servirão as sobras.

Essa visão estreita, conformista, subdesenvolvida é típica do intelectual orgânico do conservadorismo, travestido de modernidade e pragmatismo, portador daquele realismo de interesses que tende a inculcar no povo a ideia de que compor e adaptar-se é mais inteligente (prático, útil, rentável) do que lutar. É assim que as elites colonizadas passam às nossas populações – como científica, objetiva, prática e pragmática, isenta, benéfica e única, a ideologia do dominante.

A política externa brasileira, desde a redemocratização de 1946 até aqui, vem oscilando entre servilismo abjeto e tratativas de independência, estas principalmente a partir dos governos Jânio (1961) e Jango (1961-1964) cujo mais largo período de vigência foi vivido nos 12 anos de governo petista (2003-2015).

Esse período de política benfazeja foi interrompido pelo governo interino e a nomeação de José Serra para o Itamaraty, cuja política, por suas mãos, volta aos padrões dos tempos Collor-FHC, exemplarmente definidos por Chico Buarque de Holanda: “o Brasil que fala grosso com a Bolívia e fino com os EUA”.

Remontam aos anos 1950 os primeiros movimentos visando à constituição do que nos anos 1960 ficaria grafado como ‘Política Externa Independente’. Se muito de sua formulação doutrinária pode ser atribuído ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros-ISEB (1955/1964), Hélio Jaguaribe e outros, a implantação é obra da meteórica presidência Jânio Quadros (1961), levada a cabo pelo seu ministro (MRE) Afonso Arinos, que, com San Tiago Dantas, dar-lhe-ia continuidade no governo João Goulart.

Não se trata, pois, a tratativa de uma política externa independente, de uma ‘invenção ideológica do lulismo’, mas de projeto longamente maturado pela sociedade brasileira.

Essa política, de priorização dos interesses nacionais, é abandonada após o golpe militar de 1964, quando impera a doutrina segundo a qual “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil’, nesses termos formulada pelo embaixador do Brasil em Washington, general Juraci Magalhães (1966-1967).

Tal política, por sua vez, começa a ser revertida, já sob a ditadura militar, logo ao tempo de Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores. A autonomia cresce nas administrações Geisel (ministro Azeredo da Silveira) e Figueiredo (Saraiva Guerreiro). Geisel (1974-1979) chega a romper o acordo militar Brasil-EUA ao reagir às ameaças da Casa Branca, insatisfeita com o acordo nuclear firmado pelo Brasil com a Alemanha (1975), que previa transferência de tecnologia sensível ao Brasil.

Naquele ano, foi criado o ainda hoje claudicante Programa Nuclear Brasileiro, que previa a instalação de uma usina de enriquecimento de urânio, e várias centrais termonucleares, contra o que militavam e ainda militam os EUA.

A política externa Geisel-Azeredo da Silveira, que não agradou aos grandes meios de comunicação brasileiros, como igualmente e pelos mesmos motivos não agradaria a gestão Amorim, ficou conhecida pelo rótulo de ‘pragmatismo responsável’ e implicou, dentre outras inciativas, o reconhecimento diplomático brasileiro da República Popular da China e da independência dos países africanos lusófonos, em guerra de libertação nacional.

Esse Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência de Angola e o governo de Agostinho Neto, para o que muito concorreu a atuação do embaixador brasileiro Ovídio Mello.

Tal tradição que se vinha construindo, de uma política externa que priorizava os interesses nacionais e, por consequência, exigia de nosso país o exercício de um papel ativo, é, porém, congelada nos governos da ‘Nova República’, nomeadamente nas administrações Collor e FHC, para ser retomada pelo governo Lula, conduzida pela tríade Celso Amorim (ministro das Relações Exteriores), Samuel Pinheiro Guimarães (secretário-geral do MRE) e Marco Aurélio Garcia (assessor especial da Presidência da República).

Seu diferencial é representado por maiores iniciativas no plano internacional, onde o Brasil procura o espaço de ator.

Assim, o projeto de política externa independente simplesmente retomava seu leito natural. Mas após de 12 anos de política altiva e ativa nos termos em que a definiu o chanceler Amorim, contemplada de sucesso e consagrada pelo reconhecimento internacional, retornamos, com o governo interino e ilegítimo de Michel Temer, à alienação da dependência encantada.

Retornamos aos anos Collor-FHC e para esse papel deplorável ninguém mais capacitado do que o senador José Serra. E ele, com sua truculência, já disse a que veio: assumindo ‘nossa irrelevância’ (aquela que o colonizador inculca no colonizado), mais uma vez nos pomos a serviço da política dos EUA.

http://www.correiodobrasil.com.br/serra ... a-externa/

Seu discurso de posse – recheado de ideologismos em nome da negação da ideologia – é tão deplorável que lembra os textos do lamentável embaixador Rubens Barbosa e as lamúrias de Sérgio Amaral, eternamente inconformado com sua remoção da Embaixada do Brasil em Paris.

O novo chanceler parece incansável na faina de dividir e destruir o Mercosul (que absorve 80% de nossos produtos manufaturados) abrindo caminho para uma Alca de fato, quando, realizando os sonhos de Vicente Rao, teremos renunciado a toda e qualquer possibilidade de construir uma grande nação, um grande país, razoavelmente rico, minimamente justo e independente.

O sonho da Unasul será substituído por uma recuperada OEA, submissa como sempre aos interesses da geopolítica dos EUA, pois, para tal mister foi criada em 1948, em plena Guerra Fria, e a seu serviço.

Ao mesmo tempo em que lança farpas contra os governos de Venezuela, Cuba, Bolívia e Nicarágua, lembrando os piores editoriais do Estadão, o novo chanceler chega ao cúmulo da inconveniência de deslocar-se a Montevidéu, levando FHC a tiracolo, para tentar impedir que o Uruguai passe a presidência pro tempore do Mercosul à Venezuela, tendo de ouvir de Tabaré Vasquez que as normas são acordadas para serem cumpridas.

Para essa nova fase de dependência encantada são incompatíveis iniciativas como a de nossa presença nos BRICS, como é inconcebível tentarmos exercer, sem o comando ou ao menos o placet da Casa Branca, qualquer posição destacada, ou de liderança regional, muito menos nossa aproximação com o hemisfério Sul.

Sintomático dos novos tempos é o silêncio do governo brasileiro ante a iminência de instalação de bases militares dos EUA na Argentina, uma das quais na nossa sensível tríplice fronteira.

É apenas o começo.

Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia.
http://www.correiodobrasil.com.br/serra ... a-externa/

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Qua Jul 13, 2016 1:36 pm
por Sterrius
O que mata a politica externa brasileira é justamente essa esquizofrenia.

Se quer ser um aliado dos EUA vai com tudo.
Se quer independência externa vai com tudo.

Ficar nesse vai e volta o que acaba gerando nada além de politicas incompletas e mal implementadas.

Apesar que por mais que de para criticar o serra ao menos estamos vendo alguma coisa se mecher por la. Pq no governo dilma a nossa politica externa congelou completamente.
Bem diferente da era lula que mesmo nos seus meses finais ainda volta e meia aparecia nos noticiários com alguma surpresa.

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Qua Jul 13, 2016 2:06 pm
por Wingate
akivrx78 escreveu:Serra e o servilhismo na política externa

12/07/2016

Essa política, de priorização dos interesses nacionais, é abandonada após o golpe militar de 1964, quando impera a doutrina segundo a qual “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil’

Por Roberto Amaral – de Brasília:

No discurso de transmissão do cargo de ministro das Relações Exteriores ao professor e empresário Celso Lafer (2001), aquele chanceler que se notabilizaria por tirar os sapatos e as meias para ingressar nos EUA, o ministro Luiz Felipe Lampreia, resumindo a política externa do governo FHC (a dependência encantada), proclamou:

“O Brasil não pode querer ser mais do que é”.

“O Brasil está fadado a ser, por tempo indefinido, um satélite dos Estados Unidos”

Não se tratava, essa, de uma frase qualquer perdida no cipoal de um discurso protocolar, mas de síntese lapidar de como a classe dominante brasileira, alienada e colonizada, culturalmente, politicamente, ideologicamente, se vê a si mesma e como a partir dessa visão abastardada (o sempre presente ‘complexo de vira-latas’ diagnosticado por Nelson Rodrigues), vê o país e nosso papel no mundo. Ou, antes, nosso não-papel.

Lampreia falava como intelectual orgânico da classe dominante nativa, como falaria e agiria seu sucessor Celso Lafer e como fala agora José Serra.

Com aquela síntese o embaixador, recentemente falecido, exortava-nos à renúncia não só a qualquer política externa tentativamente independente, tradição que o Itamaraty vinha construindo desde Afonso Arinos-San Tiago Dantas, mas mesmo de renunciar simplesmente a ter política própria, aspirar a algo no concerto das nações. Sem saber, Lampreia antecipava o que seria a não-política externa de seu correligionário José Serra.

O ministro Lampreia, todavia, não estava só, nem foi original em seu discurso dependentista, que vê a dependência não como tragédia a ser removida, mas como fatalismo transformado em momento de regozijo. Antes dele, Vicente Rao, servindo ao governo títere de Café Filho (agosto de 1954/novembro de 1955), declarara, sob os aplausos da grande imprensa brasileira:

“O Brasil está fadado a ser, por tempo indefinido, um satélite dos Estados Unidos”.

O conflito dependência/independência vem de longe. Evidentemente, não podemos aspirar à autonomia, mesmo condicionada pelo entrecho internacional, ou à independência, à soberania e ao desenvolvimento, ou seja, a um projeto nacional, se aceitamos uma visão de Brasil e de seu lugar no mundo, segundo a qual nosso país “não pode querer ser mais do que é”, pois “o importante é adaptar-se ao mainstream” e “ser convidado para sentar-se à mesa” de discussão, pois, quem sabe, nos servirão as sobras.

Essa visão estreita, conformista, subdesenvolvida é típica do intelectual orgânico do conservadorismo, travestido de modernidade e pragmatismo, portador daquele realismo de interesses que tende a inculcar no povo a ideia de que compor e adaptar-se é mais inteligente (prático, útil, rentável) do que lutar. É assim que as elites colonizadas passam às nossas populações – como científica, objetiva, prática e pragmática, isenta, benéfica e única, a ideologia do dominante.

A política externa brasileira, desde a redemocratização de 1946 até aqui, vem oscilando entre servilismo abjeto e tratativas de independência, estas principalmente a partir dos governos Jânio (1961) e Jango (1961-1964) cujo mais largo período de vigência foi vivido nos 12 anos de governo petista (2003-2015).

Esse período de política benfazeja foi interrompido pelo governo interino e a nomeação de José Serra para o Itamaraty, cuja política, por suas mãos, volta aos padrões dos tempos Collor-FHC, exemplarmente definidos por Chico Buarque de Holanda: “o Brasil que fala grosso com a Bolívia e fino com os EUA”.

Remontam aos anos 1950 os primeiros movimentos visando à constituição do que nos anos 1960 ficaria grafado como ‘Política Externa Independente’. Se muito de sua formulação doutrinária pode ser atribuído ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros-ISEB (1955/1964), Hélio Jaguaribe e outros, a implantação é obra da meteórica presidência Jânio Quadros (1961), levada a cabo pelo seu ministro (MRE) Afonso Arinos, que, com San Tiago Dantas, dar-lhe-ia continuidade no governo João Goulart.

Não se trata, pois, a tratativa de uma política externa independente, de uma ‘invenção ideológica do lulismo’, mas de projeto longamente maturado pela sociedade brasileira.

Essa política, de priorização dos interesses nacionais, é abandonada após o golpe militar de 1964, quando impera a doutrina segundo a qual “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil’, nesses termos formulada pelo embaixador do Brasil em Washington, general Juraci Magalhães (1966-1967).

Tal política, por sua vez, começa a ser revertida, já sob a ditadura militar, logo ao tempo de Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores. A autonomia cresce nas administrações Geisel (ministro Azeredo da Silveira) e Figueiredo (Saraiva Guerreiro). Geisel (1974-1979) chega a romper o acordo militar Brasil-EUA ao reagir às ameaças da Casa Branca, insatisfeita com o acordo nuclear firmado pelo Brasil com a Alemanha (1975), que previa transferência de tecnologia sensível ao Brasil.

Naquele ano, foi criado o ainda hoje claudicante Programa Nuclear Brasileiro, que previa a instalação de uma usina de enriquecimento de urânio, e várias centrais termonucleares, contra o que militavam e ainda militam os EUA.

A política externa Geisel-Azeredo da Silveira, que não agradou aos grandes meios de comunicação brasileiros, como igualmente e pelos mesmos motivos não agradaria a gestão Amorim, ficou conhecida pelo rótulo de ‘pragmatismo responsável’ e implicou, dentre outras inciativas, o reconhecimento diplomático brasileiro da República Popular da China e da independência dos países africanos lusófonos, em guerra de libertação nacional.

Esse Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência de Angola e o governo de Agostinho Neto, para o que muito concorreu a atuação do embaixador brasileiro Ovídio Mello.

Tal tradição que se vinha construindo, de uma política externa que priorizava os interesses nacionais e, por consequência, exigia de nosso país o exercício de um papel ativo, é, porém, congelada nos governos da ‘Nova República’, nomeadamente nas administrações Collor e FHC, para ser retomada pelo governo Lula, conduzida pela tríade Celso Amorim (ministro das Relações Exteriores), Samuel Pinheiro Guimarães (secretário-geral do MRE) e Marco Aurélio Garcia (assessor especial da Presidência da República).

Seu diferencial é representado por maiores iniciativas no plano internacional, onde o Brasil procura o espaço de ator.

Assim, o projeto de política externa independente simplesmente retomava seu leito natural. Mas após de 12 anos de política altiva e ativa nos termos em que a definiu o chanceler Amorim, contemplada de sucesso e consagrada pelo reconhecimento internacional, retornamos, com o governo interino e ilegítimo de Michel Temer, à alienação da dependência encantada.

Retornamos aos anos Collor-FHC e para esse papel deplorável ninguém mais capacitado do que o senador José Serra. E ele, com sua truculência, já disse a que veio: assumindo ‘nossa irrelevância’ (aquela que o colonizador inculca no colonizado), mais uma vez nos pomos a serviço da política dos EUA.

http://www.correiodobrasil.com.br/serra ... a-externa/

Seu discurso de posse – recheado de ideologismos em nome da negação da ideologia – é tão deplorável que lembra os textos do lamentável embaixador Rubens Barbosa e as lamúrias de Sérgio Amaral, eternamente inconformado com sua remoção da Embaixada do Brasil em Paris.

O novo chanceler parece incansável na faina de dividir e destruir o Mercosul (que absorve 80% de nossos produtos manufaturados) abrindo caminho para uma Alca de fato, quando, realizando os sonhos de Vicente Rao, teremos renunciado a toda e qualquer possibilidade de construir uma grande nação, um grande país, razoavelmente rico, minimamente justo e independente.

O sonho da Unasul será substituído por uma recuperada OEA, submissa como sempre aos interesses da geopolítica dos EUA, pois, para tal mister foi criada em 1948, em plena Guerra Fria, e a seu serviço.

Ao mesmo tempo em que lança farpas contra os governos de Venezuela, Cuba, Bolívia e Nicarágua, lembrando os piores editoriais do Estadão, o novo chanceler chega ao cúmulo da inconveniência de deslocar-se a Montevidéu, levando FHC a tiracolo, para tentar impedir que o Uruguai passe a presidência pro tempore do Mercosul à Venezuela, tendo de ouvir de Tabaré Vasquez que as normas são acordadas para serem cumpridas.

Para essa nova fase de dependência encantada são incompatíveis iniciativas como a de nossa presença nos BRICS, como é inconcebível tentarmos exercer, sem o comando ou ao menos o placet da Casa Branca, qualquer posição destacada, ou de liderança regional, muito menos nossa aproximação com o hemisfério Sul.

Sintomático dos novos tempos é o silêncio do governo brasileiro ante a iminência de instalação de bases militares dos EUA na Argentina, uma das quais na nossa sensível tríplice fronteira.

É apenas o começo.

Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia.
http://www.correiodobrasil.com.br/serra ... a-externa/
Esse Roberto é mortadela ou coxinha?

Agora, falando sério, contra ou a favor, ninguém pode ignorar os Estados Unidos ou fingir que não existem.

Na minha modesta (e não menos inútil opinião) o Brasil deve alinhar-se com aqueles países que atendem aos nossos interesses como nação, nada mais.

"As nações não têm amigos, as nações têm interesses".

Daí é necessário ter um Itamaraty de primeira linha orientado a identificar e cortejar aquelas nações que possam ser úteis para nós, numa relação justa para todos.

Sem ideologismos ou puxa-saquismo ou o que for, mas no que nos convém.

Se isso for feito, já está de bom tamanho.

Wingate

Imagem

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Qua Jul 20, 2016 12:26 pm
por FCarvalho
Governo Temer suspende negociação com Europa para receber refugiados sírios
João Fellet
da BBC Brasil em Washington (EUA)
17 junho 2016

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-36556393

Posso estar até enganado, mas toda vez que um grupo paulista se apossa do planalto, parece que tudo o que é feito ou deixado de fazer no governo gira em torno do que é bom, ou não, para São Paulo. Como se SP fosse o país.
O que não deixa de ser lastimável e muito ilustrativo das idiocincrasias do sistema político brasileiro.
Esse é o nosso coronelismo do sec XXI... :roll:

abs.

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Qua Jul 20, 2016 10:54 pm
por Penguin
Wingate escreveu:
akivrx78 escreveu:Serra e o servilhismo na política externa

12/07/2016

Essa política, de priorização dos interesses nacionais, é abandonada após o golpe militar de 1964, quando impera a doutrina segundo a qual “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil’

Por Roberto Amaral – de Brasília:

No discurso de transmissão do cargo de ministro das Relações Exteriores ao professor e empresário Celso Lafer (2001), aquele chanceler que se notabilizaria por tirar os sapatos e as meias para ingressar nos EUA, o ministro Luiz Felipe Lampreia, resumindo a política externa do governo FHC (a dependência encantada), proclamou:

“O Brasil não pode querer ser mais do que é”.

“O Brasil está fadado a ser, por tempo indefinido, um satélite dos Estados Unidos”

Não se tratava, essa, de uma frase qualquer perdida no cipoal de um discurso protocolar, mas de síntese lapidar de como a classe dominante brasileira, alienada e colonizada, culturalmente, politicamente, ideologicamente, se vê a si mesma e como a partir dessa visão abastardada (o sempre presente ‘complexo de vira-latas’ diagnosticado por Nelson Rodrigues), vê o país e nosso papel no mundo. Ou, antes, nosso não-papel.

Lampreia falava como intelectual orgânico da classe dominante nativa, como falaria e agiria seu sucessor Celso Lafer e como fala agora José Serra.

Com aquela síntese o embaixador, recentemente falecido, exortava-nos à renúncia não só a qualquer política externa tentativamente independente, tradição que o Itamaraty vinha construindo desde Afonso Arinos-San Tiago Dantas, mas mesmo de renunciar simplesmente a ter política própria, aspirar a algo no concerto das nações. Sem saber, Lampreia antecipava o que seria a não-política externa de seu correligionário José Serra.

O ministro Lampreia, todavia, não estava só, nem foi original em seu discurso dependentista, que vê a dependência não como tragédia a ser removida, mas como fatalismo transformado em momento de regozijo. Antes dele, Vicente Rao, servindo ao governo títere de Café Filho (agosto de 1954/novembro de 1955), declarara, sob os aplausos da grande imprensa brasileira:

“O Brasil está fadado a ser, por tempo indefinido, um satélite dos Estados Unidos”.

O conflito dependência/independência vem de longe. Evidentemente, não podemos aspirar à autonomia, mesmo condicionada pelo entrecho internacional, ou à independência, à soberania e ao desenvolvimento, ou seja, a um projeto nacional, se aceitamos uma visão de Brasil e de seu lugar no mundo, segundo a qual nosso país “não pode querer ser mais do que é”, pois “o importante é adaptar-se ao mainstream” e “ser convidado para sentar-se à mesa” de discussão, pois, quem sabe, nos servirão as sobras.

Essa visão estreita, conformista, subdesenvolvida é típica do intelectual orgânico do conservadorismo, travestido de modernidade e pragmatismo, portador daquele realismo de interesses que tende a inculcar no povo a ideia de que compor e adaptar-se é mais inteligente (prático, útil, rentável) do que lutar. É assim que as elites colonizadas passam às nossas populações – como científica, objetiva, prática e pragmática, isenta, benéfica e única, a ideologia do dominante.

A política externa brasileira, desde a redemocratização de 1946 até aqui, vem oscilando entre servilismo abjeto e tratativas de independência, estas principalmente a partir dos governos Jânio (1961) e Jango (1961-1964) cujo mais largo período de vigência foi vivido nos 12 anos de governo petista (2003-2015).

Esse período de política benfazeja foi interrompido pelo governo interino e a nomeação de José Serra para o Itamaraty, cuja política, por suas mãos, volta aos padrões dos tempos Collor-FHC, exemplarmente definidos por Chico Buarque de Holanda: “o Brasil que fala grosso com a Bolívia e fino com os EUA”.

Remontam aos anos 1950 os primeiros movimentos visando à constituição do que nos anos 1960 ficaria grafado como ‘Política Externa Independente’. Se muito de sua formulação doutrinária pode ser atribuído ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros-ISEB (1955/1964), Hélio Jaguaribe e outros, a implantação é obra da meteórica presidência Jânio Quadros (1961), levada a cabo pelo seu ministro (MRE) Afonso Arinos, que, com San Tiago Dantas, dar-lhe-ia continuidade no governo João Goulart.

Não se trata, pois, a tratativa de uma política externa independente, de uma ‘invenção ideológica do lulismo’, mas de projeto longamente maturado pela sociedade brasileira.

Essa política, de priorização dos interesses nacionais, é abandonada após o golpe militar de 1964, quando impera a doutrina segundo a qual “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil’, nesses termos formulada pelo embaixador do Brasil em Washington, general Juraci Magalhães (1966-1967).

Tal política, por sua vez, começa a ser revertida, já sob a ditadura militar, logo ao tempo de Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores. A autonomia cresce nas administrações Geisel (ministro Azeredo da Silveira) e Figueiredo (Saraiva Guerreiro). Geisel (1974-1979) chega a romper o acordo militar Brasil-EUA ao reagir às ameaças da Casa Branca, insatisfeita com o acordo nuclear firmado pelo Brasil com a Alemanha (1975), que previa transferência de tecnologia sensível ao Brasil.

Naquele ano, foi criado o ainda hoje claudicante Programa Nuclear Brasileiro, que previa a instalação de uma usina de enriquecimento de urânio, e várias centrais termonucleares, contra o que militavam e ainda militam os EUA.

A política externa Geisel-Azeredo da Silveira, que não agradou aos grandes meios de comunicação brasileiros, como igualmente e pelos mesmos motivos não agradaria a gestão Amorim, ficou conhecida pelo rótulo de ‘pragmatismo responsável’ e implicou, dentre outras inciativas, o reconhecimento diplomático brasileiro da República Popular da China e da independência dos países africanos lusófonos, em guerra de libertação nacional.

Esse Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência de Angola e o governo de Agostinho Neto, para o que muito concorreu a atuação do embaixador brasileiro Ovídio Mello.

Tal tradição que se vinha construindo, de uma política externa que priorizava os interesses nacionais e, por consequência, exigia de nosso país o exercício de um papel ativo, é, porém, congelada nos governos da ‘Nova República’, nomeadamente nas administrações Collor e FHC, para ser retomada pelo governo Lula, conduzida pela tríade Celso Amorim (ministro das Relações Exteriores), Samuel Pinheiro Guimarães (secretário-geral do MRE) e Marco Aurélio Garcia (assessor especial da Presidência da República).

Seu diferencial é representado por maiores iniciativas no plano internacional, onde o Brasil procura o espaço de ator.

Assim, o projeto de política externa independente simplesmente retomava seu leito natural. Mas após de 12 anos de política altiva e ativa nos termos em que a definiu o chanceler Amorim, contemplada de sucesso e consagrada pelo reconhecimento internacional, retornamos, com o governo interino e ilegítimo de Michel Temer, à alienação da dependência encantada.

Retornamos aos anos Collor-FHC e para esse papel deplorável ninguém mais capacitado do que o senador José Serra. E ele, com sua truculência, já disse a que veio: assumindo ‘nossa irrelevância’ (aquela que o colonizador inculca no colonizado), mais uma vez nos pomos a serviço da política dos EUA.

http://www.correiodobrasil.com.br/serra ... a-externa/

Seu discurso de posse – recheado de ideologismos em nome da negação da ideologia – é tão deplorável que lembra os textos do lamentável embaixador Rubens Barbosa e as lamúrias de Sérgio Amaral, eternamente inconformado com sua remoção da Embaixada do Brasil em Paris.

O novo chanceler parece incansável na faina de dividir e destruir o Mercosul (que absorve 80% de nossos produtos manufaturados) abrindo caminho para uma Alca de fato, quando, realizando os sonhos de Vicente Rao, teremos renunciado a toda e qualquer possibilidade de construir uma grande nação, um grande país, razoavelmente rico, minimamente justo e independente.

O sonho da Unasul será substituído por uma recuperada OEA, submissa como sempre aos interesses da geopolítica dos EUA, pois, para tal mister foi criada em 1948, em plena Guerra Fria, e a seu serviço.

Ao mesmo tempo em que lança farpas contra os governos de Venezuela, Cuba, Bolívia e Nicarágua, lembrando os piores editoriais do Estadão, o novo chanceler chega ao cúmulo da inconveniência de deslocar-se a Montevidéu, levando FHC a tiracolo, para tentar impedir que o Uruguai passe a presidência pro tempore do Mercosul à Venezuela, tendo de ouvir de Tabaré Vasquez que as normas são acordadas para serem cumpridas.

Para essa nova fase de dependência encantada são incompatíveis iniciativas como a de nossa presença nos BRICS, como é inconcebível tentarmos exercer, sem o comando ou ao menos o placet da Casa Branca, qualquer posição destacada, ou de liderança regional, muito menos nossa aproximação com o hemisfério Sul.

Sintomático dos novos tempos é o silêncio do governo brasileiro ante a iminência de instalação de bases militares dos EUA na Argentina, uma das quais na nossa sensível tríplice fronteira.

É apenas o começo.

Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia.
http://www.correiodobrasil.com.br/serra ... a-externa/
Esse Roberto é mortadela ou coxinha?

Agora, falando sério, contra ou a favor, ninguém pode ignorar os Estados Unidos ou fingir que não existem.

Na minha modesta (e não menos inútil opinião) o Brasil deve alinhar-se com aqueles países que atendem aos nossos interesses como nação, nada mais.

"As nações não têm amigos, as nações têm interesses".

Daí é necessário ter um Itamaraty de primeira linha orientado a identificar e cortejar aquelas nações que possam ser úteis para nós, numa relação justa para todos.

Sem ideologismos ou puxa-saquismo ou o que for, mas no que nos convém.

Se isso for feito, já está de bom tamanho.

Wingate

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(...) foi um dos artífices da retirada do Congresso, pelo governo brasileiro, do acordo Brasil-Estados Unidos para a exploração da base de Alcântara, e negociou novo acordo com a Ucrânia, mais favorável ao nosso país. Criou, no MCT, a Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social. Em 2007 assume, como Diretor-geral brasileiro, a missão de montar e instalar a Alcântara Cyclone Space-ACS, empresa binacional criada pelos governos do Brasil e da Ucrânia para construir, operar e comercializar uma base de lançamentos dos foguetes da família Cyclone, a partir de Alcântara, no Maranhão, e, assim, salvar o programa espacial brasileiro.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Amaral

Ou seja, foi um dos responsáveis pela estratégia adotada pelo Brasil na area espacial.... :?

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Qua Ago 03, 2016 10:54 am
por akivrx78
Efeito Serra: Venezuela denuncia a volta da Tríplice Aliança
2 de Agosto de 2016

O tempo fechou e a paz acabou entre os parceiros do Mercosul, depois que o chanceler interino José Serra liderou o movimento para evitar que a Venezuela assumisse a presidência pro-tempore do bloco. Em seguida, ele anunciou o não reconhecimento da posse anunciada pelo presidente Nicolás Maduro, mesmo não tendo havido consenso e reunião das partes. Em comunicado oficial, divulgado nesta terça-feira, a Venezuela denuncia a formação, pela extrema direita do sul do continente, de uma nova Tríplice Aliança entre Brasil, Argentina e Paraguai. Há muito tempo não havia um contencioso tão áspero entre vizinhos sul-americanos.

O comunicado diz ainda que os três países pretendem editar “uma espécie de Operação Condor contra a Venezuela, que persegue e criminaliza seu modelo de desenvolvimento e democracia, agressão que inclusive tenta destruir a institucionalidade e legalidade do Mercosul”. A manifestação é uma reação direta ao anúncio de Serra de que não reconhece a presidência da Venezuela, propondo, com apoio do Paraguai, que seja “considerada” a proposta argentina de uma presidência colegiada nos seis meses em que, pelas regras do Tratado de Ouro Preto, seria a vez da Venezuela, o quarto membro que entrou mais tarde mas na vigência das regras do tratado e de documentos multilaterais posteriores. O Uruguai foi o único a defender a observância das regras.

A Venezuela bate duro nos governos neoliberais dos três opositores à sua investidura na presidência do bloco: “ Por trás desse plano estão quem sempre conspiraram contra a união sul americana com o objetivo de impor o Consenso de Washington, na falsa convicção de que chegou o momento de fazer desaparecer a Revolução Bolivariana. É a Tripla Aliança da Direita e o Plano Condor contra o Bolivarianismo e as conquistas socioeconômicas de nossos povos. Forças retrógradas e neoconservadoras tentam trazer de volta as nefastas políticas neoliberais que mergulharam os povos do Sul em pobreza, miséria, desigualdade e exclusão de seus direitos humanos.”

Em sua coleção de desmontes institucionais e políticos, o governo interino de Temer assume agora também a responsabilidade pelo esfacelamento do Mercosul, uma construção iniciada logo depois da queda das ditaduras do Cone Sul.

Veja a íntegra do comunicado,

REPÚBLICA BOLIVARIANA DA VENEZUELA
MINISTÉRIO DO PODER POPULAR PARA RELAÇÕES EXTERIORES

COMUNICADO

A República Bolivariana da Venezuela, no pleno exercício de sua Presidência Pro Tempore do Mercado Comum do Sul - Mercosul, denuncia as manobras da direita extremista do sul do continente, conformada em uma nova Tripla Aliança, que vem atuando de maneira arteira, através de arranjos jurídicos, para tratar de obstaculizar o que por direito lhe corresponde.

A Venezuela rechaça categoricamente a invenção de uma fraudulenta tese, sem suporte no direito, para mascarar o procedimento ilegal expresso na falsa suposição de uma Presidência Pro Tempore vaga que exercemos legalmente desde o dia 29 de julho do corrente ano, com seus deveres e direitos, tal como foi oportunamente comunicado aos Estados-Parte mediante a Nota PPTV 01/2016.

Essa Tripla Aliança, integrada pelos governos da Argentina, Brasil e Paraguai, pretende reeditar uma espécie de Operação Condor contra a Venezuela, que persegue e criminaliza seu modelo de desenvolvimento e democracia, agressão que inclusive tenta destruir a institucionalidade e legalidade do Mercosul.

Por trás desse plano estão quem sempre conspiraram contra a união sul americana com o objetivo de impor o Consenso de Washington, na falsa convicção de que chegou o momento de fazer desaparecer a Revolução Bolivariana. É a Tripla Aliança da Direita e o Plano Condor contra o Bolivarianismo e as conquistas socioeconômicas de nossos povos. Forças retrógradas e neoconservadoras tentam trazer de volta as nefastas políticas neoliberais que mergulharam os povos do Sul em pobreza, miséria, desigualdade e exclusão de seus direitos humanos.

O Governo Bolivariano alerta aos povos do Mercosul diante das mentiras dos inimigos da integração e da união de nossa Região, que desconhecem, com suas omissões, o espírito desta história comum na qual os trabalhadores têm um papel protagônico.

A República Bolivariana da Venezuela, invoca como guia inequívoca para o exercício da Presidência Pro Tempore do Mercosul, o pensamento sulamericanista do Presidente Hugo Chávez, quando nos disse: "Por isso hoje estamos nessa exata perspectiva histórica, este é nosso mundo, nosso lugar na história, este é nosso sítio, esta é nossa essência, América do Sul e, dentro desta grande pátria, o Mercosul como um grande motor. A Venezuela chega ao Mercosul por completo, com toda a nossa paixão, vontade e desejos de integrar-nos dignamente em um novo mecanismo de integração que vá mais além do comércio".

Caracas, 1º de agosto de 2016

https://www.brasil247.com/pt/blog/terez ... C3%A7a.htm

Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Seg Ago 08, 2016 2:35 pm
por Penguin
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Re: Geopolítica Brasileira

Enviado: Ter Ago 09, 2016 3:32 pm
por J.Ricardo
Realizamos o sonho do maduro: oferecemos um novo "inimigo externo" pra ele gastar mais dinheiro com armas e deixar o povo a mingua...