Reflexões sobre a Guerra e os Militares
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Reflexões sobre a Guerra e os Militares
SOLDADOS E REPÓRTERES - Por um bem-conhecido traidor
Por ©Fred Reed - FredOnEverything.net
29 de Novembro de 2005
Muito email chega até mim, da turma militar tanto da ativa quanto reformados, assegurando-me que a imprensa consiste de comunistas-esquerdistas-liberais-defensores das árvores-covardes que apunhalam pelas costas-que provavelmente gostam de franceses e namorariam Jane Fonda. É uma música velha. Tendo passado décadas cobrindo as forças armadas, eu vi muito do Pentágono e da imprensa. As coisas são um pouquinho mais complexas. Uns poucos pensamentos:
Os militares, em particular o corpo de oficiais, não querem reportagem e sim torcida. A própria idéia de uma imprensa sem controle é repugnante. Portanto os oficiais tentam manter os repórteres afastados dos praças, que são menos políticos e tendem a dizer coisas que, embora verdadeiras, não são política oficial. Daí, a hostilidade arraigada na presença de repórteres. A verdade sobre a qual escreve um repórter não importa para eles, apenas se ela “é positiva”.
As razões para essa sensibilidade são em parte práticas, dado que as guerras não podem ser travadas sem apoio público por muito tempo. Mas existem razões mais profundas. Primeiro, a forte perspectiva dos militares “ou conosco-ou contra nós”. Segundo, a intensa lealdade ao grupo que caracteriza os militares. Terceiro, uma estrutura autoritária para a qual os repórteres parecem uma ralé incontrolável. “Incontrolável” é a palavra-chave.
Os militares crêem que a imprensa deveria ser parte da equipe. Seu trabalho não deveria ser relatar mas apoiar. “Eles são americanos, ou não?” Para ver o que o comando acha que a imprensa deveria ser, leia um jornal de base. É um cruzamento entre um folheto de relações públicas e um semanário de bairro.
Repórteres não vêem seu trabalho como torcida, isso sendo o papel do pessoal de relações públicas, que eles desprezam. Correspondentes por natureza não são jogadores da equipe mas “freelanceers” assalariados que competem ao invés de cooperar com seus colegas. Fuçadores, eles querem obter a grande história por si mesmos. Em vez de serem leais a qualquer grupo, eles são suspeitosos de todos os grupos. Eles não respeitam autoridade. Freqüentemente incompetentes, eles são incômodos, exigentes e irritantes. Os militares tem receio deles. Você odeia o que você teme.
Em resumo, eles são tudo o que os militares detestam. Se eles fazem seu trabalho perfeitamente, o que nem eles nem os soldados fazem, os militares ainda os desprezariam.
E mais, soldados com exceções, são insulares, repórteres em grande parte menos. Considere. Um garoto que vai para West Point vive por quatro anos, no período formativo final da adolescência, com uma implacável doutrinação militar. Isso não é mau em todos os aspectos. Isso tende a produzir um homem pessoalmente honesto, de espírito público, responsável que dá um cidadão admirável. Esses mesmos homens podem controlar um grupo de batalha de porta-aviões, a coisa mais difícil e impressionante que jamais vi ser feita, e eles podem fazer isso somente porque obedecem, fazem sacrifícios e respeitam o grupo.
O jovem cadete vai para Forte Hood, digamos, por três anos nos quais ele está quase exclusivamente na companhia de outros soldados. Em seguida, três anos numa divisão blindada na Alemanha (as rotações podem ter mudado) durante os quais ele fica de novo constantemente com soldados e, já que os GIs não aprendem línguas estrangeiras, incapazes de se comunicar com alemães outros que não sejam donos de bares. O Exército é sua existência inteira. Pelo tempo que chega aos trinta anos, ele está profundamente imbuído com uma visão política das coisas de esquerda versus direita. Ele não é, de modo algum, estúpido – as academias atraem estudantes brilhantes – mas ele é simplório. Ele acredita profundamente que alguém ou está com a equipe ou está com o inimigo.
Repórteres não estão na equipe. Eles relatam o que vêem, ou acham que vêem. Muitos não sabem sobre o que estão falando, mas os militares detestam ainda mais aqueles que sabem. Em tempo de guerra, dizer a verdade faz deles traidores. Soldados, com freqüência usam a palavra, e é isso que querem dizer: você está conosco, ou você está com o inimigo.
Os dois grupos vivem em mundos mentais agudamente diferentes. Enquanto repórteres são mais insulares do que deviam ser, são muito menos que os militares. Eles vêem uma fatia mais ampla do mundo e esbarram com mais tipos de pessoas. Os correspondentes de além-mar vêem mais guerras do que os soldados. O resultado é um certo cosmopolitismo que, para ou bem ou para o mal, está em choque com a clareza da perspectiva dos militares.
Por exemplo, muitos em Washington que realmente sabem como a imprensa trabalha (os militares na verdade não sabem) acreditam que a imprensa apóia a guerra no Iraque; que ela concedeu, até recentemente, rédeas livres à Casa Branca e tem sido controlada pelo governo. Eu concordo. Se os jornais tivessem sido contra a guerra, teriam publicado incontáveis fotos de soldados desventrados à bala que nunca conseguirão uma namorada, paraplégicos condenados a uma vida numa maca, e mais fotos de Abu Ghraib (que eles tem). Soldados não sabem disso. Em qualquer evento, qualquer coisa além de apoio irrestrito é traição.
Os militares usualmente consideram os jornalistas como covardes. (“Covarde” e “traidor” são seus mais graves xingamentos.) Isso é questionável. Quando o soldado americano número 2000 morreu no Iraque, eu chequei o site dos Repórteres Sem Fronteira e soube que 72 repórteres foram mortos lá (com mais dois desaparecidos), ou 3,6 % do total dos militares. Eu não sei quantos soldados já serviram no Iraque. Nesse momento são cerca de 160 mil. Em comparação com o número de militares deveriam haver 12 500 repórteres no Iraque para ter taxas iguais de mortes entre repórteres e soldados. Em outros termos, a imprensa está sofrendo baixas em escala mais elevada do que os militares. O cálculo é aproximado, mas chega ao ponto.
E mais, repórteres podem sair há qualquer momento que escolherem. O governo força os soldados a lutar sob pena de longas sentenças de cadeia e, em muitas épocas e lugares, morte. Se você contesta isso, diga aos soldados que podem voar para casa amanhã sem punição e veja quantos permanecem. Eles não irão sair por covardia, mas por falta de comprometimento com o resultado. (Você deixaria suas crianças sem pai porque você quer a “democracia no Iraque”?)
Mais do que a maioria das profissões, os militares vivem num mundo definido pelo idealismo. Ser um dentista não exige uma ideologia nisso. Ser um soldado exige. O soldado dedicado pensa em termos de honra, valor, lealdade, sacrifício e heroísmo, de endireitar o errado e derrotar o mal, de provar-se em combate, de glória e exaltação em defender a pátria. O repórter vê os mortos jazendo na rua, as moscas varejando crânios destroçados, as cidades bombardeadas ano após ano sem mudanças. Ele ouve isso ser descrito como progresso. Para ele isso é pura merda.
Talvez sim, talvez não. Mas é como ele pensa.
Jornalistas não são idealistas. Cínicos, cansados de serem enganados, tendo visto a fraude e o auto-interesse subjacentes, como eles podem ver, em quase tudo, eles consideram os militares do jeito que um cafetão poderia considerar um escoteiro. Os militares consideram os jornalistas como um escoteiro poderia considerar um cafetão. Mundos mentais diferentes.
A ambigüidade perturba os soldados. Poucos de nós podem matar e morrer por “se” e “talvez”. Portanto, toda guerra é descrita em termos apocalípticos, seja o Vietnam, Granada, Coréia ou Iraque: temos de derrotá-los lá ou iremos ter de enfrentá-los na Califórnia. Usualmente isso é “non-sense”. Jornalistas podem sugerir isso. E, portanto, novamente se tornam traidores.
A ambigüidade moral da guerra é especialmente dolorosa. Os militares, enquanto cidadãos são, ao menos, tão morais quanto o restante da população, como guerreiros eles não são e não podem ser. Por causa desse conflito eles tem de acreditar em coisas sobre eles mesmos que não são verdadeiras. Por conseguinte, você pode ouvir um soldado dizendo com perfeita sinceridade que os militares americanos fazem grandes esforços para evitar matar civis. Acusações furiosas de traição surgem quando repórteres apontam que eles estão, de fato, matando civis.
Por exemplo, enquanto se pode argumentar que os bombardeios de Nagasaki e Hiroshima foram desejáveis militarmente, eles não podem ser bem descritos como tentativas de preservar civis. Os bombardeios de cidades na Segunda Guerra Mundial tinham a intenção de matar civis, centenas de milhares deles, para quebrar-lhes o moral. Na guerra a utilidade invariavelmente atropela a decência.
Repórteres, sendo traidores, irão escrever sobre essas coisas. Após a torcida inicial enquanto a guerra vai indo bem, eles irão notar que ela já não vai mais indo tão bem. Os militares, que estão sendo mortos e mutilados, acabam por odiá-los, raramente distinguindo entre estar contra uma guerra e estar contra os soldados. Após o inferno do combate, quem quer ouvir que, no final das contas isso tudo talvez não tenha sido realmente uma boa idéia?
E assim as coisas vão indo.
Por ©Fred Reed - FredOnEverything.net
29 de Novembro de 2005
Muito email chega até mim, da turma militar tanto da ativa quanto reformados, assegurando-me que a imprensa consiste de comunistas-esquerdistas-liberais-defensores das árvores-covardes que apunhalam pelas costas-que provavelmente gostam de franceses e namorariam Jane Fonda. É uma música velha. Tendo passado décadas cobrindo as forças armadas, eu vi muito do Pentágono e da imprensa. As coisas são um pouquinho mais complexas. Uns poucos pensamentos:
Os militares, em particular o corpo de oficiais, não querem reportagem e sim torcida. A própria idéia de uma imprensa sem controle é repugnante. Portanto os oficiais tentam manter os repórteres afastados dos praças, que são menos políticos e tendem a dizer coisas que, embora verdadeiras, não são política oficial. Daí, a hostilidade arraigada na presença de repórteres. A verdade sobre a qual escreve um repórter não importa para eles, apenas se ela “é positiva”.
As razões para essa sensibilidade são em parte práticas, dado que as guerras não podem ser travadas sem apoio público por muito tempo. Mas existem razões mais profundas. Primeiro, a forte perspectiva dos militares “ou conosco-ou contra nós”. Segundo, a intensa lealdade ao grupo que caracteriza os militares. Terceiro, uma estrutura autoritária para a qual os repórteres parecem uma ralé incontrolável. “Incontrolável” é a palavra-chave.
Os militares crêem que a imprensa deveria ser parte da equipe. Seu trabalho não deveria ser relatar mas apoiar. “Eles são americanos, ou não?” Para ver o que o comando acha que a imprensa deveria ser, leia um jornal de base. É um cruzamento entre um folheto de relações públicas e um semanário de bairro.
Repórteres não vêem seu trabalho como torcida, isso sendo o papel do pessoal de relações públicas, que eles desprezam. Correspondentes por natureza não são jogadores da equipe mas “freelanceers” assalariados que competem ao invés de cooperar com seus colegas. Fuçadores, eles querem obter a grande história por si mesmos. Em vez de serem leais a qualquer grupo, eles são suspeitosos de todos os grupos. Eles não respeitam autoridade. Freqüentemente incompetentes, eles são incômodos, exigentes e irritantes. Os militares tem receio deles. Você odeia o que você teme.
Em resumo, eles são tudo o que os militares detestam. Se eles fazem seu trabalho perfeitamente, o que nem eles nem os soldados fazem, os militares ainda os desprezariam.
E mais, soldados com exceções, são insulares, repórteres em grande parte menos. Considere. Um garoto que vai para West Point vive por quatro anos, no período formativo final da adolescência, com uma implacável doutrinação militar. Isso não é mau em todos os aspectos. Isso tende a produzir um homem pessoalmente honesto, de espírito público, responsável que dá um cidadão admirável. Esses mesmos homens podem controlar um grupo de batalha de porta-aviões, a coisa mais difícil e impressionante que jamais vi ser feita, e eles podem fazer isso somente porque obedecem, fazem sacrifícios e respeitam o grupo.
O jovem cadete vai para Forte Hood, digamos, por três anos nos quais ele está quase exclusivamente na companhia de outros soldados. Em seguida, três anos numa divisão blindada na Alemanha (as rotações podem ter mudado) durante os quais ele fica de novo constantemente com soldados e, já que os GIs não aprendem línguas estrangeiras, incapazes de se comunicar com alemães outros que não sejam donos de bares. O Exército é sua existência inteira. Pelo tempo que chega aos trinta anos, ele está profundamente imbuído com uma visão política das coisas de esquerda versus direita. Ele não é, de modo algum, estúpido – as academias atraem estudantes brilhantes – mas ele é simplório. Ele acredita profundamente que alguém ou está com a equipe ou está com o inimigo.
Repórteres não estão na equipe. Eles relatam o que vêem, ou acham que vêem. Muitos não sabem sobre o que estão falando, mas os militares detestam ainda mais aqueles que sabem. Em tempo de guerra, dizer a verdade faz deles traidores. Soldados, com freqüência usam a palavra, e é isso que querem dizer: você está conosco, ou você está com o inimigo.
Os dois grupos vivem em mundos mentais agudamente diferentes. Enquanto repórteres são mais insulares do que deviam ser, são muito menos que os militares. Eles vêem uma fatia mais ampla do mundo e esbarram com mais tipos de pessoas. Os correspondentes de além-mar vêem mais guerras do que os soldados. O resultado é um certo cosmopolitismo que, para ou bem ou para o mal, está em choque com a clareza da perspectiva dos militares.
Por exemplo, muitos em Washington que realmente sabem como a imprensa trabalha (os militares na verdade não sabem) acreditam que a imprensa apóia a guerra no Iraque; que ela concedeu, até recentemente, rédeas livres à Casa Branca e tem sido controlada pelo governo. Eu concordo. Se os jornais tivessem sido contra a guerra, teriam publicado incontáveis fotos de soldados desventrados à bala que nunca conseguirão uma namorada, paraplégicos condenados a uma vida numa maca, e mais fotos de Abu Ghraib (que eles tem). Soldados não sabem disso. Em qualquer evento, qualquer coisa além de apoio irrestrito é traição.
Os militares usualmente consideram os jornalistas como covardes. (“Covarde” e “traidor” são seus mais graves xingamentos.) Isso é questionável. Quando o soldado americano número 2000 morreu no Iraque, eu chequei o site dos Repórteres Sem Fronteira e soube que 72 repórteres foram mortos lá (com mais dois desaparecidos), ou 3,6 % do total dos militares. Eu não sei quantos soldados já serviram no Iraque. Nesse momento são cerca de 160 mil. Em comparação com o número de militares deveriam haver 12 500 repórteres no Iraque para ter taxas iguais de mortes entre repórteres e soldados. Em outros termos, a imprensa está sofrendo baixas em escala mais elevada do que os militares. O cálculo é aproximado, mas chega ao ponto.
E mais, repórteres podem sair há qualquer momento que escolherem. O governo força os soldados a lutar sob pena de longas sentenças de cadeia e, em muitas épocas e lugares, morte. Se você contesta isso, diga aos soldados que podem voar para casa amanhã sem punição e veja quantos permanecem. Eles não irão sair por covardia, mas por falta de comprometimento com o resultado. (Você deixaria suas crianças sem pai porque você quer a “democracia no Iraque”?)
Mais do que a maioria das profissões, os militares vivem num mundo definido pelo idealismo. Ser um dentista não exige uma ideologia nisso. Ser um soldado exige. O soldado dedicado pensa em termos de honra, valor, lealdade, sacrifício e heroísmo, de endireitar o errado e derrotar o mal, de provar-se em combate, de glória e exaltação em defender a pátria. O repórter vê os mortos jazendo na rua, as moscas varejando crânios destroçados, as cidades bombardeadas ano após ano sem mudanças. Ele ouve isso ser descrito como progresso. Para ele isso é pura merda.
Talvez sim, talvez não. Mas é como ele pensa.
Jornalistas não são idealistas. Cínicos, cansados de serem enganados, tendo visto a fraude e o auto-interesse subjacentes, como eles podem ver, em quase tudo, eles consideram os militares do jeito que um cafetão poderia considerar um escoteiro. Os militares consideram os jornalistas como um escoteiro poderia considerar um cafetão. Mundos mentais diferentes.
A ambigüidade perturba os soldados. Poucos de nós podem matar e morrer por “se” e “talvez”. Portanto, toda guerra é descrita em termos apocalípticos, seja o Vietnam, Granada, Coréia ou Iraque: temos de derrotá-los lá ou iremos ter de enfrentá-los na Califórnia. Usualmente isso é “non-sense”. Jornalistas podem sugerir isso. E, portanto, novamente se tornam traidores.
A ambigüidade moral da guerra é especialmente dolorosa. Os militares, enquanto cidadãos são, ao menos, tão morais quanto o restante da população, como guerreiros eles não são e não podem ser. Por causa desse conflito eles tem de acreditar em coisas sobre eles mesmos que não são verdadeiras. Por conseguinte, você pode ouvir um soldado dizendo com perfeita sinceridade que os militares americanos fazem grandes esforços para evitar matar civis. Acusações furiosas de traição surgem quando repórteres apontam que eles estão, de fato, matando civis.
Por exemplo, enquanto se pode argumentar que os bombardeios de Nagasaki e Hiroshima foram desejáveis militarmente, eles não podem ser bem descritos como tentativas de preservar civis. Os bombardeios de cidades na Segunda Guerra Mundial tinham a intenção de matar civis, centenas de milhares deles, para quebrar-lhes o moral. Na guerra a utilidade invariavelmente atropela a decência.
Repórteres, sendo traidores, irão escrever sobre essas coisas. Após a torcida inicial enquanto a guerra vai indo bem, eles irão notar que ela já não vai mais indo tão bem. Os militares, que estão sendo mortos e mutilados, acabam por odiá-los, raramente distinguindo entre estar contra uma guerra e estar contra os soldados. Após o inferno do combate, quem quer ouvir que, no final das contas isso tudo talvez não tenha sido realmente uma boa idéia?
E assim as coisas vão indo.
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Acho difícil analisar o conflito entre a imprensa americana e os militares, pois a formação americana é diversa da Brasileira. Acredito existe inúmeros fatores além da suposta falta de conhecimento de alguns militares para tal atitude... Alguns fatores históricos, culturais e políticos. Pq os soldados não aprendem alemão quando estão na alemanha? Algum fator existe para tal opção. Talvez a doutrina militar americana?
Dom Pedro II, quando da visita ao campo de Batalha, Guerra do Paraguai.
Rebouças, 11 de setembro de 1865: "Informou-me o Capitão Amaral que o Imperador, em luta com os ministros que não queriam deixá-lo partir, cortou a discussão dizendo: " (D. Pedro II) Ainda me resta um recurso constitucional: Abdicar, e ir para o Rio Grande como um voluntário da Pátria."
Rebouças, 11 de setembro de 1865: "Informou-me o Capitão Amaral que o Imperador, em luta com os ministros que não queriam deixá-lo partir, cortou a discussão dizendo: " (D. Pedro II) Ainda me resta um recurso constitucional: Abdicar, e ir para o Rio Grande como um voluntário da Pátria."
- Clermont
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Pq os soldados não aprendem alemão quando estão na alemanha? Algum fator existe para tal opção. Talvez a doutrina militar americana?
Oh, não. Nada com doutrinas militares. Só o típico paroquialismo do americano comum. É uma questão de "American Way of LIfe". Mesmo de falta de interesse: eles se bastam a si mesmos.
Não sei, mas talvez seja por isso que o "soccer" tenha tão pouca penetração entre a grande massa de norte-americanos.
- Einsamkeit
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"eles se bastam"
A sociedade americana parece bem fundada sobre uma política totalmente militarista. Esse fator por si garante uma suposta ordem entre civis e militares. Essa política milítarista é ao meu ver algo sem volta.
Um rompimento nessa ordem levaria a problemas políticos que nós da AL bem conhecemos!
A sociedade americana parece bem fundada sobre uma política totalmente militarista. Esse fator por si garante uma suposta ordem entre civis e militares. Essa política milítarista é ao meu ver algo sem volta.
Um rompimento nessa ordem levaria a problemas políticos que nós da AL bem conhecemos!
Dom Pedro II, quando da visita ao campo de Batalha, Guerra do Paraguai.
Rebouças, 11 de setembro de 1865: "Informou-me o Capitão Amaral que o Imperador, em luta com os ministros que não queriam deixá-lo partir, cortou a discussão dizendo: " (D. Pedro II) Ainda me resta um recurso constitucional: Abdicar, e ir para o Rio Grande como um voluntário da Pátria."
Rebouças, 11 de setembro de 1865: "Informou-me o Capitão Amaral que o Imperador, em luta com os ministros que não queriam deixá-lo partir, cortou a discussão dizendo: " (D. Pedro II) Ainda me resta um recurso constitucional: Abdicar, e ir para o Rio Grande como um voluntário da Pátria."
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GUERREIROS.
John Keegan – Uma História da Guerra, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
Meu destino não era ser guerreiro. Uma doença de infância deixou-me aleijado para o resto da vida e há 45 anos sou manco. Em 1952, quando me apresentei para o exame médico do serviço militar obrigatório o médico que examinava as pernas – como não podia deixar de ser, ele foi o último a me examinar naquela manhã – sacudiu a cabeça, escreveu algo no meu formulário e disse que eu estava liberado. Algumas semanas depois, recebi uma carta oficial informando-me de que fora classificado como permanentemente incapaz para o serviço em qualquer das forças armadas.
O destino, no entanto, jogou minha vida no meio de guerreiros. Meu pai fora soldado na Grande Guerra. Cresci durante a Segunda Guerra Mundial, numa região da Inglaterra onde estavam estacionados os exércitos britânicos e americanos que se preparavam para a invasão do Dia D. De alguma forma, detectei que o serviço de meu pai na Frente Ocidental em 1917-18 fora a experiência mais importante de sua vida. O espetáculo da preparação para a invasão em 1943-44 também me marcou, despertando um interesse por assuntos militares que fincou raízes, de tal forma que quando fui para Oxford, em 1953, escolhi a história militar como minha matéria central.
Um tópico principal era a exigência para o diploma, não mais do que isso, e assim meu envolvimento com a história militar poderia ter acabado com a graduação. Porém esse interesse tinha penetrado fundo durante meus anos de faculdade, porque a maioria dos amigos que fiz em Oxford, ao contrário de mim, tinha feito o serviço militar. Eles fizeram-me sentir que perdera alguma coisa. A maioria tinha sido oficial e muitos tinham participado de campanhas, pois a Inglaterra, no início da década de 1950, estava se liberando do império numa série de pequenas guerras coloniais. Alguns de meus amigos tinham servido nas selvas da Malásia ou nas florestas do Quênia. Uns poucos, que faziam parte de regimentos enviados à Coréia, tinham até participado de batalhas verdadeiras.
Vidas profissionais moderadas esperavam-nos e eles buscavam o sucesso acadêmico e a boa opinião dos professores como passaporte para o futuro. Contudo, estava claro para mim que os dois anos que tinham passado de uniforme lançara sobre eles o encantamento de um mundo completamente diferente daquele em que estavam decididos a entrar. O encanto era, em parte, o da experiência – de lugares estranhos, da responsabilidade desconhecida, da excitação e até do perigo. Era também o encantamento da familiaridade com os oficiais profissionais que os comandaram. Nossos professores eram admirados por seus conhecimentos e excentricidades. Meus contemporâneos continuavam a admirar os oficiais que tinham conhecido por um outro conjunto de qualidades – vigor, ímpeto, vitalidade e impaciência com o cotidiano. Seus nomes eram freqüentemente mencionados, relembravam-se índoles e maneirismos, recriavam-se suas façanhas – sobretudo suas escaramuças com as autoridades. De alguma forma, acabei sentindo que conhecia esses guerreiros despreocupados e, com certeza, queria muito conhecer gente como eles, nem que fosse para dar materialidade à visão do mundo dos guerreiros que estava tomando forma lentamente em minha mente, enquanto eu trabalhava sobre meus textos de história militar.
Quando a vida universitária acabou e meus amigos partiram para se tornarem advogados, diplomatas, funcionários públicos, ou professores universitários, descobri que o reflexo de seus anos nas forças armadas tinha derramado seu encantamento sobre mim. Decidi que iria ser um historiador militar, uma decisão temerária, pois havia poucas vagas acadêmicas para essa disciplina. Porém, mais depressa do que eu tinha direito a esperar, abriu uma vaga na Real Academia Militar de Sandhurst, a escola de cadetes da Inglaterra, e entrei para o corpo docente em 1960. Tinha 25 anos e não sabia nada sobre o exército. Jamais ouvira um tiro disparado com raiva, raramente encontrara um oficial da ativa e a imagem que tinha dos soldados e de suas atividades pertencia inteiramente a minha imaginação.
O primeiro período letivo que passei em Sandhurst jogou-me de cabeça em um mundo para o qual nem mesmo a imaginação me preparara. Em 1960, o pessoal militar da Academia – eu pertencia ao lado acadêmico – era composto, no nível mais graduado, exclusivamente de homens que tinham lutado na Segunda Guerra Mundial. Os oficiais mais jovens eram quase todos veteranos da Coréia, da Malásia, do Quênia, da Palestina, de Chipre ou de qualquer outra de uma dezena de campanhas coloniais. Seus uniformes estavam cobertos de fitas de medalhas, recebidas muitas vezes por bravura. Meu chefe de departamento, um oficial reformado, usava nos jantares a Ordem de Distinção em Serviços e a Cruz Militar com duas barras, e suas distinções não eram exceção. Havia majores e coronéis com medalhas por bravura conquistadas em El Alamein, Monte Cassino, Arnhem e Kohima. A história da Segunda Guerra Mundial estava escrita naquelas pequenas fitas de seda que eles usavam tão despreocupadamente e seus melhores momentos estavam registrados com cruzes e medalhas que os portadores pareciam pouco conscientes de ter ganhado.
Não era apenas o caleidoscópio de medalhas que me encantava. Era também o de uniformes e tudo o que eles significavam. Muitos de meus contemporâneos de universidade traziam com eles pedaços de glória militar – casacos ou sobretudos dos uniformes. Aqueles que tinham sido oficiais de cavalaria continuavam a usar com os trajes de passeio as botas de verniz com canhão de marroquim pertencentes a seus uniformes de lanceiros ou hussardos. Aquilo me alertara para o paradoxo de que os uniformes não eram uniformes, que os regimentos se vestiam de maneira diferente. Quão diferente, Sandhurst ensinou-me no primeiro jantar festivo a que compareci. Havia lanceiros e hussardos de azul e escarlate, mas também cavaleiros da Família Real esmagados pelo peso de seus galões de ouro, fuzileiros de verde tão escuro que parecia preto, artilheiros de calças justas, soldados do Corpo de Guardas com camisas engomadas, Highlanders com seis padrões diferentes de tartã, Lowlanders com calças justas de tecido axadrezado escocês e infantes de regimentos de condados com jaquetas de barra amarela, branca, cinza, vermelha, ou de couro de búfalo.
Eu achava que o exército era uma coisa só. Naquela noite dei-me conta de que não era. Eu ainda tinha de aprender que as diferenças externas falavam de diferenças internas muito mais importantes. Os regimentos, descobri, definiam-se sobretudo por sua individualidade, e era essa individualidade que fazia deles as organizações de luta cuja eficácia em combate era proclamada pelas medalhas e cruzes que eu via a minha volta. Meus amigos militares – a pronta amizade oferecida pelos guerreiros é uma de suas qualidades mais cativantes – eram irmãos de armas; mas eram irmãos somente até certo ponto. A fidelidade ao regimento era a pedra de toque de suas vidas. Uma diferença pessoal poderia ser perdoada no dia seguinte. Uma calúnia ao regimento jamais seria esquecida e, na verdade, jamais seria pronunciada, tão profundamente ela afetaria os valores da tribo.
Tribalismo – eis o que eu tinha encontrado. Os veteranos que conheci em Sandhurst na década de 1960, por muitos critérios externos, não eram diferentes dos profissionais de outras carreiras. Vinham das mesmas escolas, às vezes das mesmas universidades, eram devotados a suas famílias, tinham as mesmas esperanças para seus filhos, preocupavam-se com dinheiro da mesma forma. O dinheiro, porém, não era um valor último ou definidor, assim como não o era a promoção dentro do sistema militar. Os oficiais, evidentemente, almejavam subir na carreira, mas não era esse o valor pelo qual se mediam. Um general podia ser admirado, ou não. A admiração derivava de algo diferente de suas insígnias de hierarquia superior. Vinha antes da reputação que detinha como homem entre outros homens, construída ao longo de muitos anos sob os olhos de sua tribo regimental. Essa tribo não era composta apenas de colegas oficiais, mas também de sargentos e soldados comuns. “Não é bom com soldados” era uma condenação definitiva. Um oficial podia ser inteligente, competente, trabalhador. Se seus soldados tivessem dúvidas sobre ele, nenhuma dessas qualidades compensaria. Ele não pertencia à tribo.
O Exército britânico é tribal ao extremo; alguns de seus regimentos têm histórias que remontam ao século XVII, quando os exércitos modernos estavam apenas começando a tomar forma a partir das hostes feudais de guerreiros cujos antepassados tinham entrado na Europa ocidental durante as invasões que derrubaram o Império romano. No entanto, desde que entrei para Sandhurst encontrei os mesmos valores guerreiros da tribo em muitos outros exércitos. Percebi a aura tribal dos oficiais franceses que participaram da Guerra da Argélia, comandando soldados muçulmanos cujas tradições eram as mesmas dos ghazi, os saqueadores de fronteira do Islã. Senti a mesma coisa nas lembranças de oficiais alemães, reconvocados para montar o exército da Alemanha no pós-guerra, que tinham lutado contra os russos nas estepes e preservado um orgulho nas provações por que tinham passado que relembrava as guerras de seus ancestrais medievais. Percebi a mesma coisa, de maneira forte, entre os oficiais indianos, sobretudo na rapidez com que insistem em são Rajputs ou Dogras, descendentes dos invasores que conquistaram a Índia antes que sua história começasse a ser escrita. Encontrei-a entre os oficiais americanos que serviram no Vietnã, no Líbano ou no Golfo, expoentes de um código de coragem e dever que pertence às origens da república deles.
Os soldados não são como os outros homens – eis a lição que aprendi de uma vida entre guerreiros. Essa lição fez-me considerar altamente suspeitas todas as teorias e representações da guerra que a colocam no mesmo pé de outras atividades humanas. A guerra está indiscutivelmente ligada à economia, à diplomacia e à política, como demonstram os teóricos. Mas a ligação não significa identidade ou mesmo semelhança. A guerra é completamente diferente da diplomacia ou da política porque precisa ser travada por homens cujos valores e habilidades não são os dos políticos e diplomatas. São valores de um mundo à parte, um mundo muito antigo, que existe paralelamente ao mundo do cotidiano mas não pertence a ele. Ambos os mundos se alteram ao longo do tempo, e o do guerreiro acerta o pé com o do civil. Mas o segue à distância. Essa distância nunca pode ser eliminada, pois a cultura do guerreiro jamais pode ser a da própria civilização. Todas as civilizações devem suas origens ao guerreiro; suas culturas nutrem os guerreiros que as defendem, e as diferenças entre elas farão os guerreiros de uma muito diferentes externamente dos da outra. Com efeito, um dos temas deste livro é que, nas aparências exteriores, existem três tradições guerreiras distintas. Em última análise, porém, há apenas uma cultura guerreira. Sua evolução e transformação ao longo do tempo e do espaço, dos começos do homem à sua chegada ao mundo contemporâneo, é a história da guerra.
John Keegan – Uma História da Guerra, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
Meu destino não era ser guerreiro. Uma doença de infância deixou-me aleijado para o resto da vida e há 45 anos sou manco. Em 1952, quando me apresentei para o exame médico do serviço militar obrigatório o médico que examinava as pernas – como não podia deixar de ser, ele foi o último a me examinar naquela manhã – sacudiu a cabeça, escreveu algo no meu formulário e disse que eu estava liberado. Algumas semanas depois, recebi uma carta oficial informando-me de que fora classificado como permanentemente incapaz para o serviço em qualquer das forças armadas.
O destino, no entanto, jogou minha vida no meio de guerreiros. Meu pai fora soldado na Grande Guerra. Cresci durante a Segunda Guerra Mundial, numa região da Inglaterra onde estavam estacionados os exércitos britânicos e americanos que se preparavam para a invasão do Dia D. De alguma forma, detectei que o serviço de meu pai na Frente Ocidental em 1917-18 fora a experiência mais importante de sua vida. O espetáculo da preparação para a invasão em 1943-44 também me marcou, despertando um interesse por assuntos militares que fincou raízes, de tal forma que quando fui para Oxford, em 1953, escolhi a história militar como minha matéria central.
Um tópico principal era a exigência para o diploma, não mais do que isso, e assim meu envolvimento com a história militar poderia ter acabado com a graduação. Porém esse interesse tinha penetrado fundo durante meus anos de faculdade, porque a maioria dos amigos que fiz em Oxford, ao contrário de mim, tinha feito o serviço militar. Eles fizeram-me sentir que perdera alguma coisa. A maioria tinha sido oficial e muitos tinham participado de campanhas, pois a Inglaterra, no início da década de 1950, estava se liberando do império numa série de pequenas guerras coloniais. Alguns de meus amigos tinham servido nas selvas da Malásia ou nas florestas do Quênia. Uns poucos, que faziam parte de regimentos enviados à Coréia, tinham até participado de batalhas verdadeiras.
Vidas profissionais moderadas esperavam-nos e eles buscavam o sucesso acadêmico e a boa opinião dos professores como passaporte para o futuro. Contudo, estava claro para mim que os dois anos que tinham passado de uniforme lançara sobre eles o encantamento de um mundo completamente diferente daquele em que estavam decididos a entrar. O encanto era, em parte, o da experiência – de lugares estranhos, da responsabilidade desconhecida, da excitação e até do perigo. Era também o encantamento da familiaridade com os oficiais profissionais que os comandaram. Nossos professores eram admirados por seus conhecimentos e excentricidades. Meus contemporâneos continuavam a admirar os oficiais que tinham conhecido por um outro conjunto de qualidades – vigor, ímpeto, vitalidade e impaciência com o cotidiano. Seus nomes eram freqüentemente mencionados, relembravam-se índoles e maneirismos, recriavam-se suas façanhas – sobretudo suas escaramuças com as autoridades. De alguma forma, acabei sentindo que conhecia esses guerreiros despreocupados e, com certeza, queria muito conhecer gente como eles, nem que fosse para dar materialidade à visão do mundo dos guerreiros que estava tomando forma lentamente em minha mente, enquanto eu trabalhava sobre meus textos de história militar.
Quando a vida universitária acabou e meus amigos partiram para se tornarem advogados, diplomatas, funcionários públicos, ou professores universitários, descobri que o reflexo de seus anos nas forças armadas tinha derramado seu encantamento sobre mim. Decidi que iria ser um historiador militar, uma decisão temerária, pois havia poucas vagas acadêmicas para essa disciplina. Porém, mais depressa do que eu tinha direito a esperar, abriu uma vaga na Real Academia Militar de Sandhurst, a escola de cadetes da Inglaterra, e entrei para o corpo docente em 1960. Tinha 25 anos e não sabia nada sobre o exército. Jamais ouvira um tiro disparado com raiva, raramente encontrara um oficial da ativa e a imagem que tinha dos soldados e de suas atividades pertencia inteiramente a minha imaginação.
O primeiro período letivo que passei em Sandhurst jogou-me de cabeça em um mundo para o qual nem mesmo a imaginação me preparara. Em 1960, o pessoal militar da Academia – eu pertencia ao lado acadêmico – era composto, no nível mais graduado, exclusivamente de homens que tinham lutado na Segunda Guerra Mundial. Os oficiais mais jovens eram quase todos veteranos da Coréia, da Malásia, do Quênia, da Palestina, de Chipre ou de qualquer outra de uma dezena de campanhas coloniais. Seus uniformes estavam cobertos de fitas de medalhas, recebidas muitas vezes por bravura. Meu chefe de departamento, um oficial reformado, usava nos jantares a Ordem de Distinção em Serviços e a Cruz Militar com duas barras, e suas distinções não eram exceção. Havia majores e coronéis com medalhas por bravura conquistadas em El Alamein, Monte Cassino, Arnhem e Kohima. A história da Segunda Guerra Mundial estava escrita naquelas pequenas fitas de seda que eles usavam tão despreocupadamente e seus melhores momentos estavam registrados com cruzes e medalhas que os portadores pareciam pouco conscientes de ter ganhado.
Não era apenas o caleidoscópio de medalhas que me encantava. Era também o de uniformes e tudo o que eles significavam. Muitos de meus contemporâneos de universidade traziam com eles pedaços de glória militar – casacos ou sobretudos dos uniformes. Aqueles que tinham sido oficiais de cavalaria continuavam a usar com os trajes de passeio as botas de verniz com canhão de marroquim pertencentes a seus uniformes de lanceiros ou hussardos. Aquilo me alertara para o paradoxo de que os uniformes não eram uniformes, que os regimentos se vestiam de maneira diferente. Quão diferente, Sandhurst ensinou-me no primeiro jantar festivo a que compareci. Havia lanceiros e hussardos de azul e escarlate, mas também cavaleiros da Família Real esmagados pelo peso de seus galões de ouro, fuzileiros de verde tão escuro que parecia preto, artilheiros de calças justas, soldados do Corpo de Guardas com camisas engomadas, Highlanders com seis padrões diferentes de tartã, Lowlanders com calças justas de tecido axadrezado escocês e infantes de regimentos de condados com jaquetas de barra amarela, branca, cinza, vermelha, ou de couro de búfalo.
Eu achava que o exército era uma coisa só. Naquela noite dei-me conta de que não era. Eu ainda tinha de aprender que as diferenças externas falavam de diferenças internas muito mais importantes. Os regimentos, descobri, definiam-se sobretudo por sua individualidade, e era essa individualidade que fazia deles as organizações de luta cuja eficácia em combate era proclamada pelas medalhas e cruzes que eu via a minha volta. Meus amigos militares – a pronta amizade oferecida pelos guerreiros é uma de suas qualidades mais cativantes – eram irmãos de armas; mas eram irmãos somente até certo ponto. A fidelidade ao regimento era a pedra de toque de suas vidas. Uma diferença pessoal poderia ser perdoada no dia seguinte. Uma calúnia ao regimento jamais seria esquecida e, na verdade, jamais seria pronunciada, tão profundamente ela afetaria os valores da tribo.
Tribalismo – eis o que eu tinha encontrado. Os veteranos que conheci em Sandhurst na década de 1960, por muitos critérios externos, não eram diferentes dos profissionais de outras carreiras. Vinham das mesmas escolas, às vezes das mesmas universidades, eram devotados a suas famílias, tinham as mesmas esperanças para seus filhos, preocupavam-se com dinheiro da mesma forma. O dinheiro, porém, não era um valor último ou definidor, assim como não o era a promoção dentro do sistema militar. Os oficiais, evidentemente, almejavam subir na carreira, mas não era esse o valor pelo qual se mediam. Um general podia ser admirado, ou não. A admiração derivava de algo diferente de suas insígnias de hierarquia superior. Vinha antes da reputação que detinha como homem entre outros homens, construída ao longo de muitos anos sob os olhos de sua tribo regimental. Essa tribo não era composta apenas de colegas oficiais, mas também de sargentos e soldados comuns. “Não é bom com soldados” era uma condenação definitiva. Um oficial podia ser inteligente, competente, trabalhador. Se seus soldados tivessem dúvidas sobre ele, nenhuma dessas qualidades compensaria. Ele não pertencia à tribo.
O Exército britânico é tribal ao extremo; alguns de seus regimentos têm histórias que remontam ao século XVII, quando os exércitos modernos estavam apenas começando a tomar forma a partir das hostes feudais de guerreiros cujos antepassados tinham entrado na Europa ocidental durante as invasões que derrubaram o Império romano. No entanto, desde que entrei para Sandhurst encontrei os mesmos valores guerreiros da tribo em muitos outros exércitos. Percebi a aura tribal dos oficiais franceses que participaram da Guerra da Argélia, comandando soldados muçulmanos cujas tradições eram as mesmas dos ghazi, os saqueadores de fronteira do Islã. Senti a mesma coisa nas lembranças de oficiais alemães, reconvocados para montar o exército da Alemanha no pós-guerra, que tinham lutado contra os russos nas estepes e preservado um orgulho nas provações por que tinham passado que relembrava as guerras de seus ancestrais medievais. Percebi a mesma coisa, de maneira forte, entre os oficiais indianos, sobretudo na rapidez com que insistem em são Rajputs ou Dogras, descendentes dos invasores que conquistaram a Índia antes que sua história começasse a ser escrita. Encontrei-a entre os oficiais americanos que serviram no Vietnã, no Líbano ou no Golfo, expoentes de um código de coragem e dever que pertence às origens da república deles.
Os soldados não são como os outros homens – eis a lição que aprendi de uma vida entre guerreiros. Essa lição fez-me considerar altamente suspeitas todas as teorias e representações da guerra que a colocam no mesmo pé de outras atividades humanas. A guerra está indiscutivelmente ligada à economia, à diplomacia e à política, como demonstram os teóricos. Mas a ligação não significa identidade ou mesmo semelhança. A guerra é completamente diferente da diplomacia ou da política porque precisa ser travada por homens cujos valores e habilidades não são os dos políticos e diplomatas. São valores de um mundo à parte, um mundo muito antigo, que existe paralelamente ao mundo do cotidiano mas não pertence a ele. Ambos os mundos se alteram ao longo do tempo, e o do guerreiro acerta o pé com o do civil. Mas o segue à distância. Essa distância nunca pode ser eliminada, pois a cultura do guerreiro jamais pode ser a da própria civilização. Todas as civilizações devem suas origens ao guerreiro; suas culturas nutrem os guerreiros que as defendem, e as diferenças entre elas farão os guerreiros de uma muito diferentes externamente dos da outra. Com efeito, um dos temas deste livro é que, nas aparências exteriores, existem três tradições guerreiras distintas. Em última análise, porém, há apenas uma cultura guerreira. Sua evolução e transformação ao longo do tempo e do espaço, dos começos do homem à sua chegada ao mundo contemporâneo, é a história da guerra.
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GUERRA SEM VITÓRIA.
Por Charley Reese – 16 de agosto de 2005.
Eu assisti a uma palestra de um psicólogo do Exército que sustentava que após 90 dias de combate, o índice de baixas era de 98 %. Aqueles não feridos fisicamente estavam feridos psicologicamente. Os outros 2 % eram psicopatas.
Sua referência sobre os psicopatas foi interessante. Um psicopata é um ser humano defeituoso, quase um robô biônico. Psicopatas podem ser inteligentes e manipuladores, mas carecem totalmente da capacidade de sentir emoção por ou ligar-se a outros seres humanos. Eles não tem consciência, remorso, compaixão. Eles podem sentir raiva quando frustrados. Eles cometem uma porção de crimes e nas prisões normalmente controlam os internos.
Um amigo próximo que liderou um pelotão ranger em pesados combates durante a Segunda Guerra Mundial disse que o único membro de sua unidade que não teve um arranhão era um psicopata, um assassino sentencia que foi perdoado por entrar no Exército. Esse homem amava matar e, com freqüência, se expunha ao fogo inimigo apenas para lançar insultos contra os alemães. Ele e um índio choctaw tinham longas discussões sobre se a faca ou a machadinha eram as melhores ferramentas para matar uma sentinela. O psicopata favorecia a machadinha, usando-a para desfechar um golpe na nuca e partir a medula espinhal.
A guerra é tanto brutal quanto brutalizante e, portanto, é bom ver que mais e mais americanos estão começando a compreender que a guerra no Iraque foi um erro. As guerras são quase sempre um erro, porque mesmo se você as vencer, você perderá demais. Um homem que devia saber, William Sherman, disse a alguns cadetes que a guerra é o inferno. Outro ex-combatente a descreveu como uma olhada no fundo do inferno.
O que precisamos começar a compreender é que a guerra, tão velha quanto a raça humana, se tornou perigosa demais para ser praticada. Hoje temos pessoas – não muito diferentes das pessoas há 5 mil anos atrás – que comandam armas que podem, literalmente, destruir a vida na Terra. A história nos diz que a guerra corrompe até mesmo as boas pessoas. Não demorou muito na Segunda Guerra Mundial antes que os advogados do bombardeio estratégico estivessem dizendo que as cidades precisavam ser cobertas por um tapete de bombas sem consideração pelas baixas civis. Isso culminou no lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.
Aquelas bombas eram fogos de artifício comparadas com as armas termonucleares nos arsenais de hoje em dia dos Estados Unidos, Rússia e China, assim como da Grã-Bretanha, França, Israel e presumivelmente Paquistão e Índia. Num sentido real, essas armas preveniram a guerra, já que nem os E.U.A. nem a União Soviética podiam descobrir como ter uma guerra nuclear e sobreviver. Mesmo assim, houveram alguns sustos.
Porém, tão decisiva é a arma que esses países que as tem são relutantes em desistir delas, e outros países que não as tem, as querem. Não estou preocupado com países pequenos, mesmo como a Coréia do Norte. Umas poucas bombas não ameaçariam a espécie humana. São os grandes arsenais que podem trazer a extinção.
Guerras, é claro, são efeitos, não causas. Usualmente são efeitos de conflitos por terra e recursos e algumas vezes ideologia ou religião. Certamente a destrutividade da guerra, em termos tanto de recursos econômicos e vidas humanas, deviam prevenir as pessoas que deve haver um modo melhor para resolver conflitos. Eu temo, porém, que é como pedir a um homem das cavernas para negociar com seu vizinho em vez de estourar seus miolos com uma clava. A tecnologia avançou tremendamente; a raça humana está atolada com a mesma velha natureza humana que sempre teve.
Alguém poderia ser cínico e dizer que já que todos os humanos terão de morrer, não há razão alguma em se preocupar sobre a maneira ou tempo de suas mortes. Eu poderia concordar se toda a raça humana consistisse inteiramente de adultos, mas as crianças merecem uma chance de gozar as delícias de se viver, e a guerra moderna mata crianças como se elas não fossem mais do que formigas. Nós dissemos, com propósito de relações públicas, que Hiroshima era um alvo militar, mas de facto havia somente 43 mil soldados lá. Os 300 mil civis eram quase todos mulheres, crianças e velhos.
Eu aplaudi o lançamento das bombas na época, e se eu fosse Harry Truman, provavelmente teria tomado a mesma decisão. É isso que quero dizer quanto a guerra corromper mesmo as boas pessoas. Ela as força a tomar decisões que não tomariam em tempo de paz.
O real crime contra a humanidade é a guerra em si mesma. De preferência a acusar soldados por crimes de guerra, os líderes políticos que começam as guerras deveriam ser postos no banco dos réus. Sua decisão de ir à guerra é a mãe de todos os crimes e crueldade que se seguem.
Por Charley Reese – 16 de agosto de 2005.
Eu assisti a uma palestra de um psicólogo do Exército que sustentava que após 90 dias de combate, o índice de baixas era de 98 %. Aqueles não feridos fisicamente estavam feridos psicologicamente. Os outros 2 % eram psicopatas.
Sua referência sobre os psicopatas foi interessante. Um psicopata é um ser humano defeituoso, quase um robô biônico. Psicopatas podem ser inteligentes e manipuladores, mas carecem totalmente da capacidade de sentir emoção por ou ligar-se a outros seres humanos. Eles não tem consciência, remorso, compaixão. Eles podem sentir raiva quando frustrados. Eles cometem uma porção de crimes e nas prisões normalmente controlam os internos.
Um amigo próximo que liderou um pelotão ranger em pesados combates durante a Segunda Guerra Mundial disse que o único membro de sua unidade que não teve um arranhão era um psicopata, um assassino sentencia que foi perdoado por entrar no Exército. Esse homem amava matar e, com freqüência, se expunha ao fogo inimigo apenas para lançar insultos contra os alemães. Ele e um índio choctaw tinham longas discussões sobre se a faca ou a machadinha eram as melhores ferramentas para matar uma sentinela. O psicopata favorecia a machadinha, usando-a para desfechar um golpe na nuca e partir a medula espinhal.
A guerra é tanto brutal quanto brutalizante e, portanto, é bom ver que mais e mais americanos estão começando a compreender que a guerra no Iraque foi um erro. As guerras são quase sempre um erro, porque mesmo se você as vencer, você perderá demais. Um homem que devia saber, William Sherman, disse a alguns cadetes que a guerra é o inferno. Outro ex-combatente a descreveu como uma olhada no fundo do inferno.
O que precisamos começar a compreender é que a guerra, tão velha quanto a raça humana, se tornou perigosa demais para ser praticada. Hoje temos pessoas – não muito diferentes das pessoas há 5 mil anos atrás – que comandam armas que podem, literalmente, destruir a vida na Terra. A história nos diz que a guerra corrompe até mesmo as boas pessoas. Não demorou muito na Segunda Guerra Mundial antes que os advogados do bombardeio estratégico estivessem dizendo que as cidades precisavam ser cobertas por um tapete de bombas sem consideração pelas baixas civis. Isso culminou no lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.
Aquelas bombas eram fogos de artifício comparadas com as armas termonucleares nos arsenais de hoje em dia dos Estados Unidos, Rússia e China, assim como da Grã-Bretanha, França, Israel e presumivelmente Paquistão e Índia. Num sentido real, essas armas preveniram a guerra, já que nem os E.U.A. nem a União Soviética podiam descobrir como ter uma guerra nuclear e sobreviver. Mesmo assim, houveram alguns sustos.
Porém, tão decisiva é a arma que esses países que as tem são relutantes em desistir delas, e outros países que não as tem, as querem. Não estou preocupado com países pequenos, mesmo como a Coréia do Norte. Umas poucas bombas não ameaçariam a espécie humana. São os grandes arsenais que podem trazer a extinção.
Guerras, é claro, são efeitos, não causas. Usualmente são efeitos de conflitos por terra e recursos e algumas vezes ideologia ou religião. Certamente a destrutividade da guerra, em termos tanto de recursos econômicos e vidas humanas, deviam prevenir as pessoas que deve haver um modo melhor para resolver conflitos. Eu temo, porém, que é como pedir a um homem das cavernas para negociar com seu vizinho em vez de estourar seus miolos com uma clava. A tecnologia avançou tremendamente; a raça humana está atolada com a mesma velha natureza humana que sempre teve.
Alguém poderia ser cínico e dizer que já que todos os humanos terão de morrer, não há razão alguma em se preocupar sobre a maneira ou tempo de suas mortes. Eu poderia concordar se toda a raça humana consistisse inteiramente de adultos, mas as crianças merecem uma chance de gozar as delícias de se viver, e a guerra moderna mata crianças como se elas não fossem mais do que formigas. Nós dissemos, com propósito de relações públicas, que Hiroshima era um alvo militar, mas de facto havia somente 43 mil soldados lá. Os 300 mil civis eram quase todos mulheres, crianças e velhos.
Eu aplaudi o lançamento das bombas na época, e se eu fosse Harry Truman, provavelmente teria tomado a mesma decisão. É isso que quero dizer quanto a guerra corromper mesmo as boas pessoas. Ela as força a tomar decisões que não tomariam em tempo de paz.
O real crime contra a humanidade é a guerra em si mesma. De preferência a acusar soldados por crimes de guerra, os líderes políticos que começam as guerras deveriam ser postos no banco dos réus. Sua decisão de ir à guerra é a mãe de todos os crimes e crueldade que se seguem.
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Clermont escreveu:Eu assisti a uma palestra de um psicólogo do Exército que sustentava que após 90 dias de combate, o índice de baixas era de 98 %. Aqueles não feridos fisicamente estavam feridos psicologicamente. Os outros 2 % eram psicopatas.
Um amigo próximo que liderou um pelotão ranger em pesados combates durante a Segunda Guerra Mundial disse que o único membro de sua unidade que não teve um arranhão era um psicopata, um assassino sentencia que foi perdoado por entrar no Exército. Esse homem amava matar e, com freqüência, se expunha ao fogo inimigo apenas para lançar insultos contra os alemães. Ele e um índio choctaw tinham longas discussões sobre se a faca ou a machadinha eram as melhores ferramentas para matar uma sentinela. O psicopata favorecia a machadinha, usando-a para desfechar um golpe na nuca e partir a medula espinhal.
Excelente como de costume, Clermont, esse comentário acerca dos psychos é notável...
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Fantásticos textos, Clermont! Muito enriquecedor, dá o que pensar.
Abraços
César
Abraços
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"- Tú julgarás a ti mesmo- respondeu-lhe o rei - É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio."
Antoine de Saint-Exupéry
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O NOVO MILITARISMO AMERICANO: COMO OS AMERICANOS SÃO SEDUZIDOS PELA GUERRA.
Por Andrew J. Bacevich – Oxford University Press, 272 pg, Abril 2004
Resenhado por Mark Biskeborn
Um novo militarismo está seduzindo os americanos, levando-os a desperdiçar as vidas de seus filhos e dissipar centenas de bilhões de dólares, o que pode ser feito para reverter essa hedionda tendência?
Embora este livro tenha chegado ao mercado mais de um ano atrás, surpreendentemente poucas resenhas apareceram e mais como ensaios de opiniões baseados na obra de Bacevich, que apenas testemunham sua influência. Seu livro traça as últimas poucas décadas de história americana focalizando sobre as mudanças nas atitudes públicas e doutrinas governamentais no que tange ao uso do poder militar. Bacevich salienta sua posição claramente na introdução da obra.
“Para deixar claro as coisas, os americanos de nossa época caíram presas do militarismo, manifestando-o numa visão romantizada dos soldados, uma tendência para enxergar o poder militar como a mais verdadeira medida da grandeza nacional, e expectativas exageradas sobre a eficácia da força. Em um grau sem precedentes na história dos Estados Unidos, os americanos acabaram por definir a força e o bem-estar da nação em termos de prontidão militar, ações militares, e o forjamento ou nostalgia por ideais militares.”
Julgando por seu registro, Bacevich podia aparentar ser um verdadeiro conservador, um graduado de West Point, ex-combatente do Vietnam, e soldado há 23 anos. Ele atualmente leciona na Universidade de Boston e tem contribuído para revistas conservadoras tais como Weekly Standard e a National Review. Não obstante, sua análise das doutrinas militares em desenvolvimento não mostra qualquer parcialidade por qualquer partido.
Evolução para o Militarismo
Para o autor, o corrente militarismo representa uma culminação natural de vários grupos não-relacionados “tentando desfazer os efeitos supostamente nefastos dos anos 1960”. Oficiais militares tentando reabilitar sua profissão; intelectuais temendo que a perda de confiança em casa estivesse pavimentando o caminho para o totalitarismo no exterior; líderes religiosos desgostosos pelo colapso dos tradicionais padrões morais.
Bacevich discute uns poucos eventos que dirigiram certos grupos de americanos rumo ao que ele considera uma inusualmente agressiva atitude militarista na cultura geral tanto quanto na política externa. Primeiro, a Guerra do Vietnam mostrou-se um pântano destruindo a credibilidade e a honra dos militares. Esse evento chave levou os líderes militares a reconstruir a reputação e habilidades das forças armadas tanto como desenvolver doutrinas para proteger esses instituições remodeladas do tipo de funcionários civis que foram responsáveis pelo fiasco do Vietnam. Então, a queda da União Soviética impôs aos Estados Unidos a enorme carga de ser a força de polícia imperial do mundo.
”Em breves palavras, a história se seguiu assim: o novo militarismo americano fez sua aparição como reação aos anos 1960 e especialmente ao Vietnam. Ele evoluiu por um período de décadas, em vez de ser espontaneamente induzido por um evento particular tal como o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001.
De fato, apontar o dedo para a administração G.W. Bush seria dar muito crédito ao pretenso rancheiro do Texas. A evolução para o corrente militarismo extremo cresceu a partir de esforços intelectuais de uma longa linha de fazedores de política tanto nas forças armadas quanto no governo, começando, por exemplo, com Woodrow Wilson. Ele era “possuído por uma profundamente enraizada aversão a armamentos, militarismo, e matança, apenas a certeza de que ele estava atuando como um agente divino...podia justificar...sua decisão...de intervir.” Wilson temia o armamentismo e precisava justificar o envolvimento militar através da noção religiosa de dever. Uma vaga escola de pensamento e de política surgiu a partir das realizações pós-Grande Guerra de Wilson.
Ideologia wilsoniana
Uma ideologia wilsoniana surgiu de uma visão aparentemente simples para a paz mundial se tornar possível pelo remodelamento do mundo de acordo com a própria forma de democracia e capitalismo de livre empresa da América. Essa ideologia movimentou-se e metamorfoseou-se entre os presidentes sucessores como um vírus mutante. Ela se adaptou aos eventos mundiais até que finalmente tomou a forma da atual manipulação maquiavélica e desembaraçada de símbolos patrióticos e religiosos de modo a adoçar as mais grosseiras ambições geopolíticas para assegurar expansão econômica. Em sua atual mutação G.W. Bush, a ideologia wilsoniana serve para justificar a invasão e ocupação das terras embebidas em petróleo da Babilônia.
G.W. Bush herdou uma corrente mutante de ideologia wilsoniana e a adaptou para seu próprio uso que fez um “casamento de um molde mental militarista com fins utópicos.” O autor descreve como Bush seguiu ideais populares americanos e fundiu a eles sua própria mistura fundamentalista de capitalismo de livre empresa, militarismo e cristianismo. “Por sua parte, o Presidente Bush deve ser visto como um intérprete recitando seu texto do que como um autor rascunhando um texto inteiramente novo”.
Bacevich mostra como a administração Bush tomou o pendor da América pela força militar a alturas sem precedentes. Ele descreve em detalhes como os membros do gabinete de Bush, tais como Rumsfeld, descartaram as sábias e cautelosas doutrinas de Abrams e Powell – diretrizes sobre como e quando desdobrar força militar com risco mínimo. “Assim Rumsfeld passou por cima [do general Tommy] Franks...o resultando...mostrando-se desastroso.”
“A chamada Doutrina Weinberger”
O general Creighton Abrams, comandante americano na Guerra do Vietnam de 1968 até 1972, representa um dos vários baluartes que desejavam reconstruir a honra e dignidade dos militares após o atoleiro do Vietnam. “Em resumo, o Vietnam demonstrou que chegado o momento de se decidir quando ir à guerra e como lutar, os civis não eram confiáveis. De acordo com Westmoreland, ...o Sudeste Asiático tinha mostrado definitivamente que a guerra tinha se tornado complexa demais para ser confiada ao funcionários nomeados que careciam de experiência militar...”. Muitos homens experimentados em batalha e operações militares, generais tais como Scales, Westmoreland e Abrams “resolveram prevenir que isso [o desastre do Vietnam] voltasse a ocorrer novamente.” Eles desenvolveram uma doutrina militar no pós-Vietnam, três décadas de reconstrução da reputação das Forças Armadas, “da longa jornada de desilusão e angústia no Vietnam a confiança e vitória certa na Desert Storm.”
Caspar Weinberger aprecia o crédito por conceber essa doutrina, mas ele “foi, de fato, meramente o meio para sua emissão. A mensagem em si – estabelecer critérios específicos para governar decisões no que tange ao uso da força – era dos militares.” Essa doutrina fez a Desert Storm um avassalador sucesso, mas, como Bacevich mostra, ironicamente para desgosto dos generais, também encorajou os funcionários civis, “falcões-galinhas” tais como o Vice-Presidente Cheney e o Secretário da Defesa, Rumsfeld a reverter ao uso da força da era Vietnam de Nixon, como um brinquedo político e para permitir G. W. Bush fazer pronunciamentos retumbantes.
A chamada doutrina Weinberger consistia de quatro exigências para um eficiente e bem-sucedido uso da força militar:
* Restringir o uso da força à questões de interesse nacional vital.
* Especificar objetivos concretos e atingíveis, tanto política quanto militarmente.
* Assegurar apoio popular e congressional.
* Lutar para vencer (como o oposto a usar desdobramentos como brinquedo político).
* Usar força apenas como último recurso.
Através da sucessão de Chefes de Estado-Maior Conjuntos, o general Powell tornou-se uma apaixonado advogado da “Doutrina Weinberger” e ele adicionou mais duas pré-condições para usar o poder militar:
* Uma estratégia de saída – uma idéia clara de como extrair forças dos Estados Unidos mesmo antes da intervenção.
* Uso de “força avassaladora” para assegurar um fim rápido a luta.
Falcões-Galinhas brincam com jogos militares de alta-tecnologia
Desert Storm provou que o uso da alta-tecnologia em operações militares deu aos EUA um monopólio no domínio militar que a Administração Bush traduziu diretamente em dominação política. Essa renascida estética militar recuperou “um grande espetáculo performático... uma desvio do tédio e da monotonia do dia-a-dia”. Funcionários civis nomeados se entranharam nas capacidades de alta-tecnologia para dominar o campo de batalha e isso os induziu a orientar suas políticas sobre a questão: “Qual o sentido de ter esse soberbo poder militar do qual vocês falam tanto, se nós não podemos usá-lo?”
Bacevich nos lembra que G. W. Bush e seus membro de gabinete – exceto por Colin Powell a quem Condoleezza Rice graciosamente substituiu após a reeleição – são todos generais de poltrona, falcões-galinhas, que “carecem de experiência militar, e de conhecimento de história militar.” O Vice-Presidente Dick Cheney, por exemplo, pode ser um auto-proclamado mestre da guerra, mas ele deixa a militança em si para os plebeus. Da mesma forma, o Presidente Bush pode ter se alistado na força aérea de reserva do Texas como um membro do grupo aristocrático de elite, “o esquadrão champagne”, mas ele fez isso de modo a evitar qualquer serviço real, apesar de sua valentia sem precedentes como “senhor da guerra presidencial”.
Esses funcionários falcões-galinhas desdobraram suas novas e imperiais forças armadas de alta-tecnologia, avassalando um Iraque, já batido pelas sanções – um país do tamanho do Texas – mas eles ignoraram uma das exigências de Powell, a estratégia de saída. Sua invasão de choque e espanto provocou quatro vezes o nível de terrorismo que existia previamente. O terrorismo representa a única resposta possível para um avassalador poder de alta-tecnologia.
Levou duas décadas para se reconstruir as forças armadas dos Estados Unidos de volta a uma forte posição que fez a Desert Storm possível. Mas uma vez que os políticos civis viram o potencial dessa capacidade, eles queimaram a Doutrina Weinberger e relegaram os conselheiros militares tais como o general Powell a meros mensageiros das novas e vertiginosas ambições presidenciais. As lições aprendidas do Vietnam foram jogadas fora. A Operação Iraq Freedom inicialmente parecia com outra rápida vitória tipo Desert Storm, mas logo ecoou os erros do desastre do Vietnam. A história se repetiu mesmo ao ponto de repetir o escândalo de My Lai nos campos de prisioneiros de guerra de Guantanamo. Os paralelos entre o Vietnam e a Operação Iraq Freedom continuam a crescer em número todo dia ao ponto de ambos se refletirem mutuamente tanto em termos daqueles que divisaram a estratégia e como ela foi mal alinhavada.
O alcance dessa resenha de livro pode apenas sublinhar algumas das conclusões do notável trabalho de Bacevich. Esperançosamente, isso basta para convencer qualquer um como a obra fundamental de Bacevich revela a evolução do atual Zeitgeist. O autor segue para mostrar como esse novo militarismo americano tirou a nação de seu original propósito de uma livre, amante da paz terra de oportunidades para todos e pôs na trilha de membros de uma cabala de elite que usam seu fundamentalismo cristão como uma plataforma ideológica para sua lucrativa política do status quo.
Por Andrew J. Bacevich – Oxford University Press, 272 pg, Abril 2004
Resenhado por Mark Biskeborn
Um novo militarismo está seduzindo os americanos, levando-os a desperdiçar as vidas de seus filhos e dissipar centenas de bilhões de dólares, o que pode ser feito para reverter essa hedionda tendência?
Embora este livro tenha chegado ao mercado mais de um ano atrás, surpreendentemente poucas resenhas apareceram e mais como ensaios de opiniões baseados na obra de Bacevich, que apenas testemunham sua influência. Seu livro traça as últimas poucas décadas de história americana focalizando sobre as mudanças nas atitudes públicas e doutrinas governamentais no que tange ao uso do poder militar. Bacevich salienta sua posição claramente na introdução da obra.
“Para deixar claro as coisas, os americanos de nossa época caíram presas do militarismo, manifestando-o numa visão romantizada dos soldados, uma tendência para enxergar o poder militar como a mais verdadeira medida da grandeza nacional, e expectativas exageradas sobre a eficácia da força. Em um grau sem precedentes na história dos Estados Unidos, os americanos acabaram por definir a força e o bem-estar da nação em termos de prontidão militar, ações militares, e o forjamento ou nostalgia por ideais militares.”
Julgando por seu registro, Bacevich podia aparentar ser um verdadeiro conservador, um graduado de West Point, ex-combatente do Vietnam, e soldado há 23 anos. Ele atualmente leciona na Universidade de Boston e tem contribuído para revistas conservadoras tais como Weekly Standard e a National Review. Não obstante, sua análise das doutrinas militares em desenvolvimento não mostra qualquer parcialidade por qualquer partido.
Evolução para o Militarismo
Para o autor, o corrente militarismo representa uma culminação natural de vários grupos não-relacionados “tentando desfazer os efeitos supostamente nefastos dos anos 1960”. Oficiais militares tentando reabilitar sua profissão; intelectuais temendo que a perda de confiança em casa estivesse pavimentando o caminho para o totalitarismo no exterior; líderes religiosos desgostosos pelo colapso dos tradicionais padrões morais.
Bacevich discute uns poucos eventos que dirigiram certos grupos de americanos rumo ao que ele considera uma inusualmente agressiva atitude militarista na cultura geral tanto quanto na política externa. Primeiro, a Guerra do Vietnam mostrou-se um pântano destruindo a credibilidade e a honra dos militares. Esse evento chave levou os líderes militares a reconstruir a reputação e habilidades das forças armadas tanto como desenvolver doutrinas para proteger esses instituições remodeladas do tipo de funcionários civis que foram responsáveis pelo fiasco do Vietnam. Então, a queda da União Soviética impôs aos Estados Unidos a enorme carga de ser a força de polícia imperial do mundo.
”Em breves palavras, a história se seguiu assim: o novo militarismo americano fez sua aparição como reação aos anos 1960 e especialmente ao Vietnam. Ele evoluiu por um período de décadas, em vez de ser espontaneamente induzido por um evento particular tal como o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001.
De fato, apontar o dedo para a administração G.W. Bush seria dar muito crédito ao pretenso rancheiro do Texas. A evolução para o corrente militarismo extremo cresceu a partir de esforços intelectuais de uma longa linha de fazedores de política tanto nas forças armadas quanto no governo, começando, por exemplo, com Woodrow Wilson. Ele era “possuído por uma profundamente enraizada aversão a armamentos, militarismo, e matança, apenas a certeza de que ele estava atuando como um agente divino...podia justificar...sua decisão...de intervir.” Wilson temia o armamentismo e precisava justificar o envolvimento militar através da noção religiosa de dever. Uma vaga escola de pensamento e de política surgiu a partir das realizações pós-Grande Guerra de Wilson.
Ideologia wilsoniana
Uma ideologia wilsoniana surgiu de uma visão aparentemente simples para a paz mundial se tornar possível pelo remodelamento do mundo de acordo com a própria forma de democracia e capitalismo de livre empresa da América. Essa ideologia movimentou-se e metamorfoseou-se entre os presidentes sucessores como um vírus mutante. Ela se adaptou aos eventos mundiais até que finalmente tomou a forma da atual manipulação maquiavélica e desembaraçada de símbolos patrióticos e religiosos de modo a adoçar as mais grosseiras ambições geopolíticas para assegurar expansão econômica. Em sua atual mutação G.W. Bush, a ideologia wilsoniana serve para justificar a invasão e ocupação das terras embebidas em petróleo da Babilônia.
G.W. Bush herdou uma corrente mutante de ideologia wilsoniana e a adaptou para seu próprio uso que fez um “casamento de um molde mental militarista com fins utópicos.” O autor descreve como Bush seguiu ideais populares americanos e fundiu a eles sua própria mistura fundamentalista de capitalismo de livre empresa, militarismo e cristianismo. “Por sua parte, o Presidente Bush deve ser visto como um intérprete recitando seu texto do que como um autor rascunhando um texto inteiramente novo”.
Bacevich mostra como a administração Bush tomou o pendor da América pela força militar a alturas sem precedentes. Ele descreve em detalhes como os membros do gabinete de Bush, tais como Rumsfeld, descartaram as sábias e cautelosas doutrinas de Abrams e Powell – diretrizes sobre como e quando desdobrar força militar com risco mínimo. “Assim Rumsfeld passou por cima [do general Tommy] Franks...o resultando...mostrando-se desastroso.”
“A chamada Doutrina Weinberger”
O general Creighton Abrams, comandante americano na Guerra do Vietnam de 1968 até 1972, representa um dos vários baluartes que desejavam reconstruir a honra e dignidade dos militares após o atoleiro do Vietnam. “Em resumo, o Vietnam demonstrou que chegado o momento de se decidir quando ir à guerra e como lutar, os civis não eram confiáveis. De acordo com Westmoreland, ...o Sudeste Asiático tinha mostrado definitivamente que a guerra tinha se tornado complexa demais para ser confiada ao funcionários nomeados que careciam de experiência militar...”. Muitos homens experimentados em batalha e operações militares, generais tais como Scales, Westmoreland e Abrams “resolveram prevenir que isso [o desastre do Vietnam] voltasse a ocorrer novamente.” Eles desenvolveram uma doutrina militar no pós-Vietnam, três décadas de reconstrução da reputação das Forças Armadas, “da longa jornada de desilusão e angústia no Vietnam a confiança e vitória certa na Desert Storm.”
Caspar Weinberger aprecia o crédito por conceber essa doutrina, mas ele “foi, de fato, meramente o meio para sua emissão. A mensagem em si – estabelecer critérios específicos para governar decisões no que tange ao uso da força – era dos militares.” Essa doutrina fez a Desert Storm um avassalador sucesso, mas, como Bacevich mostra, ironicamente para desgosto dos generais, também encorajou os funcionários civis, “falcões-galinhas” tais como o Vice-Presidente Cheney e o Secretário da Defesa, Rumsfeld a reverter ao uso da força da era Vietnam de Nixon, como um brinquedo político e para permitir G. W. Bush fazer pronunciamentos retumbantes.
A chamada doutrina Weinberger consistia de quatro exigências para um eficiente e bem-sucedido uso da força militar:
* Restringir o uso da força à questões de interesse nacional vital.
* Especificar objetivos concretos e atingíveis, tanto política quanto militarmente.
* Assegurar apoio popular e congressional.
* Lutar para vencer (como o oposto a usar desdobramentos como brinquedo político).
* Usar força apenas como último recurso.
Através da sucessão de Chefes de Estado-Maior Conjuntos, o general Powell tornou-se uma apaixonado advogado da “Doutrina Weinberger” e ele adicionou mais duas pré-condições para usar o poder militar:
* Uma estratégia de saída – uma idéia clara de como extrair forças dos Estados Unidos mesmo antes da intervenção.
* Uso de “força avassaladora” para assegurar um fim rápido a luta.
Falcões-Galinhas brincam com jogos militares de alta-tecnologia
Desert Storm provou que o uso da alta-tecnologia em operações militares deu aos EUA um monopólio no domínio militar que a Administração Bush traduziu diretamente em dominação política. Essa renascida estética militar recuperou “um grande espetáculo performático... uma desvio do tédio e da monotonia do dia-a-dia”. Funcionários civis nomeados se entranharam nas capacidades de alta-tecnologia para dominar o campo de batalha e isso os induziu a orientar suas políticas sobre a questão: “Qual o sentido de ter esse soberbo poder militar do qual vocês falam tanto, se nós não podemos usá-lo?”
Bacevich nos lembra que G. W. Bush e seus membro de gabinete – exceto por Colin Powell a quem Condoleezza Rice graciosamente substituiu após a reeleição – são todos generais de poltrona, falcões-galinhas, que “carecem de experiência militar, e de conhecimento de história militar.” O Vice-Presidente Dick Cheney, por exemplo, pode ser um auto-proclamado mestre da guerra, mas ele deixa a militança em si para os plebeus. Da mesma forma, o Presidente Bush pode ter se alistado na força aérea de reserva do Texas como um membro do grupo aristocrático de elite, “o esquadrão champagne”, mas ele fez isso de modo a evitar qualquer serviço real, apesar de sua valentia sem precedentes como “senhor da guerra presidencial”.
Esses funcionários falcões-galinhas desdobraram suas novas e imperiais forças armadas de alta-tecnologia, avassalando um Iraque, já batido pelas sanções – um país do tamanho do Texas – mas eles ignoraram uma das exigências de Powell, a estratégia de saída. Sua invasão de choque e espanto provocou quatro vezes o nível de terrorismo que existia previamente. O terrorismo representa a única resposta possível para um avassalador poder de alta-tecnologia.
Levou duas décadas para se reconstruir as forças armadas dos Estados Unidos de volta a uma forte posição que fez a Desert Storm possível. Mas uma vez que os políticos civis viram o potencial dessa capacidade, eles queimaram a Doutrina Weinberger e relegaram os conselheiros militares tais como o general Powell a meros mensageiros das novas e vertiginosas ambições presidenciais. As lições aprendidas do Vietnam foram jogadas fora. A Operação Iraq Freedom inicialmente parecia com outra rápida vitória tipo Desert Storm, mas logo ecoou os erros do desastre do Vietnam. A história se repetiu mesmo ao ponto de repetir o escândalo de My Lai nos campos de prisioneiros de guerra de Guantanamo. Os paralelos entre o Vietnam e a Operação Iraq Freedom continuam a crescer em número todo dia ao ponto de ambos se refletirem mutuamente tanto em termos daqueles que divisaram a estratégia e como ela foi mal alinhavada.
O alcance dessa resenha de livro pode apenas sublinhar algumas das conclusões do notável trabalho de Bacevich. Esperançosamente, isso basta para convencer qualquer um como a obra fundamental de Bacevich revela a evolução do atual Zeitgeist. O autor segue para mostrar como esse novo militarismo americano tirou a nação de seu original propósito de uma livre, amante da paz terra de oportunidades para todos e pôs na trilha de membros de uma cabala de elite que usam seu fundamentalismo cristão como uma plataforma ideológica para sua lucrativa política do status quo.
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SOBRE AS GUERRAS RECENTES – coisas não compreendidas
Fred Reed – 17 de maio de 2006
Pessoas me perguntam como entramos nessa esplêndida bagunça no Iraque e por quê não podemos sair. A questão faz parte de outra maior: por quê, desde a Segunda Guerra Mundial, tantos países de primeiro-mundo entraram em arrastadas guerras de guerrilha em países de terceiro-mundo, e perderam? Exemplos abundam: França na Indochina, América no Vietnam, França na Argélia, Rússia no Afeganistão, Israel no Líbano, etc. Por quê eles não aprendem?
A resposta, eu penso, é que os militares são influenciados por uma espécie de homem – vamos chamá-lo o Guerreiro – que, por natureza é inadequado para as guerras modernas. Ele não as compreende, não pode se adaptar a elas.
O guerreiro é emocionalmente adequado às batalhas campais, “pattonescas” de clareza moral e intenção simples. Eu não quero dizer que ele seja estúpido. Entre pilotos de caça e nas Forças Especiais, por exemplo, não é incomum achar homens com QIs de 145. Ainda assim, o Guerreiro tem os instintos simples de um pit Bull. Intensamente leal para os amigos e intensamente hostil para o inimigo, ele não quer qualquer confusão sobre quem é quem. Sua tolerância para a ambigüidade é muito baixa. Ele quer cerrar com o inimigo e destruí-lo.
Isso funciona em guerras como a Segunda Guerra Mundial (observe que as forças armadas americanas são uma versão avançada das forças armadas que bateram a Alemanha e o Japão). Isso não funciona quando vencer exige o apoio da população. O Guerreiro, incapaz de ver as coisas através dos olhos do inimigo, ou da população local, a qual ele rapidamente passa a odiar, quer explodir com tudo. Ele detesta todo esse lixo terapêutico, essa coisa esquerdista tocante sobre a população, especialmente as mulheres. Tendo a empatia de um motor, ele considera a menção de crianças mutiladas como intensamente irritante no melhor dos casos, e propaganda comunista no pior.
Na net, esses homens, algumas vezes falam aprovando para os outros o massacre de My Lai. Ei, todos eles eram Congs. Se não fosse, eles sabiam quem eram os Congs e não nos contaram. Calley fez a coisa certa, ensinando-lhes uma lição. Há uma admiração por Calley ter evitado as burocráticas regras de engajamento, provavelmente traçadas por civis. Guerra é guerra. Você mata pessoas. Lide com isso.
Se você aponta que os danos colaterais (crianças mortas, por exemplo) transformam os sobreviventes em mortiferamente furiosos Viet Congs, o Guerreiro acha que você é um esquerdista defensor das árvores.
Hoje, o campo de batalha como compreendido pelo inimigo, mas raramente pelo Guerreiro, se estende por muito além do campo de batalha físico, e os alvos principais são políticos. Nessa espécie de guerra, se a América consegue obter o apoio da população local, os insurgentes estão fora do negócio, se os insurgentes conseguem o apoio do público americano para parar a guerra, os militares americanos estão fora do negócio. Isso é o que conta. É o que funciona. O Guerreiro, todo Hurrah, e com suas asas de salto, não captam isso. Vo Nguyen Giap captou isso. Ho Chi Minh captou isso.
Assim, a furiosa, amargurada insistência dos Guerreiros de que “Nós ganhamos o Tet de 1968. Nós os massacramos! Nós ganhamos, diabo! Militarmente, nós ganhamos em absoluto!” Certo, mas eles perderam politicamente. Isso foi uma catástrofe da ordem de Kursk ou Dien Bien Phu. Mas eles não podem apreender isso.
O guerreiro não compreende o significado de “vitória” pois ele pensa em termos de tiroteiros, coragem, armamento e valor. Sua aproximação é emocional, não racional. Embora não seja estúpido, ele é regularmente sobrepujado em idéias. Por quê?
Não é mistério. Um inimigo inteligente sabe que a América não pode ser batida em guerra industrial. Portanto ele pensa, “qual é, então, a fraqueza da América?” A primeira e crucial é que o governo americano entra em guerras distantes nas quais o público não tem interesse algum. Você queria que o seu filho morresse por – digamos – a democracia no Iraque? Você o criou, o mandou para a escola, sua primeira promoção, a graduação no campo de treinamento, e ele volta para casa numa caixa – pela democracia no Iraque?
A coisa a fazer, então (continue pensando como um inimigo inteligente) é tornar os americanos cada vez mais enjoados da guerra. Como? Não por ganhar batalhas, o que é difícil contra os americanos. Você vence de outro modo. Primeiro, não lhes dê alvos pontuais, já que estes são destruídos facilmente pelos grandes canhões e avançada tecnologia. Segundo, mantenha o nível do combate alto o bastante para manter a guerra na frente da consciência americana, e para manter altas as despesas monetárias. (Inflação e preços da gasolina são armas, tanto quanto fuzis, outra idéia que o Guerreiro não pode apreender. Bin Laden pode.) Terceiro, mantenha os sacos de corpos fluindo. Mais cedo ou mais tarde, os americanos irão cansar de perder seus filhos por alguma coisa que, realmente, não lhes interessa.
No entanto, o Guerreiro não concede ao público o direito de ficar cansado. Para ele, a América existe para apoiar as Forças Armadas, não o contrário. Duzentos mortos por semana estão voltando da Ásia? O Guerreiro acredita que a América das pequenas cidades (que é para onde, normalmente, vão os ataúdes) deve trincar os dentes, agüentar, e fazer o sacrifício pelo país. Sacrifício pelo quê? Isso não importa. Nós estamos em guerra, diabos. Agrupem-se. Quem é você, um comuna?
Para o Guerreiro, duvidar da guerra é traição, ajudar e apoiar o inimigo, liberalismo, covardia, punhalada pelas costas e por aí vai. Ele utiliza essas frases sem descanso. Nós temos de lutar, lutar e lutar, sacrificar e dispender, e nunca desistir. Nós nunca devemos perguntar por quê ou para quê.
O público, é claro, não vê isso desse jeito. Em 1964, eu me graduei numa escola secundária, na Virgínia, com uma classe mais velha de, eu acho, sessenta. Doug tomou uma 12,7 mm através da cabeça, Sonny passou um tempo em Walter Reed, com ferimentos no pescoço, Studley, eu ouvi, está paraplégico, outro garoto ficou cego para o resto da vida, e vários, que não vou nominar, embora duros garotos do interior como eu os conheci, voltaram como alcoólatras irrecuperáveis. (Esses eram garotos que eu conheci, não todos na minha classe) Foi uma porção e tanto de mortos e incapacitados para um lugar pequeno. E para quê?
Covardia? Eu estava num campus em 1966, um campus pequeno, muito Republicano, muito patriótico, muito conservador, muito sulista. Os estudantes, e suas namoradas, eram todos violentamente contra a guerra. Portanto, concluo, também eram seus pais. Por quê? Eram eles os traidores da imaginação do Guerreiro? Não. Eles não queriam morrer por alguma coisa que não lhes importava.
Isso escapa ao Guerreiro. Sempre ele culpa A Imprensa por sumir com o entusiasmo marcial, por sua incompreensão do tipo de guerra que estamos enfrentando. Foi a imprensa quem fez de Studley um paraplégico? Ou matou o sujeito com todos aqueles tubos que morreu na maca acima de mim, no Medevac 141, vindo de Da Nang? Walter Cronkite cegou meu companheiro Cagle quando a granada de fuzil explodiu no fim dos seus quatorze meses de alistamento? Os Guerreiros acham que as pessoas não notam quando seus garotos voltam para casa em cadeiras de rodas?
Eles não captam isso.
Fred Reed – 17 de maio de 2006
Pessoas me perguntam como entramos nessa esplêndida bagunça no Iraque e por quê não podemos sair. A questão faz parte de outra maior: por quê, desde a Segunda Guerra Mundial, tantos países de primeiro-mundo entraram em arrastadas guerras de guerrilha em países de terceiro-mundo, e perderam? Exemplos abundam: França na Indochina, América no Vietnam, França na Argélia, Rússia no Afeganistão, Israel no Líbano, etc. Por quê eles não aprendem?
A resposta, eu penso, é que os militares são influenciados por uma espécie de homem – vamos chamá-lo o Guerreiro – que, por natureza é inadequado para as guerras modernas. Ele não as compreende, não pode se adaptar a elas.
O guerreiro é emocionalmente adequado às batalhas campais, “pattonescas” de clareza moral e intenção simples. Eu não quero dizer que ele seja estúpido. Entre pilotos de caça e nas Forças Especiais, por exemplo, não é incomum achar homens com QIs de 145. Ainda assim, o Guerreiro tem os instintos simples de um pit Bull. Intensamente leal para os amigos e intensamente hostil para o inimigo, ele não quer qualquer confusão sobre quem é quem. Sua tolerância para a ambigüidade é muito baixa. Ele quer cerrar com o inimigo e destruí-lo.
Isso funciona em guerras como a Segunda Guerra Mundial (observe que as forças armadas americanas são uma versão avançada das forças armadas que bateram a Alemanha e o Japão). Isso não funciona quando vencer exige o apoio da população. O Guerreiro, incapaz de ver as coisas através dos olhos do inimigo, ou da população local, a qual ele rapidamente passa a odiar, quer explodir com tudo. Ele detesta todo esse lixo terapêutico, essa coisa esquerdista tocante sobre a população, especialmente as mulheres. Tendo a empatia de um motor, ele considera a menção de crianças mutiladas como intensamente irritante no melhor dos casos, e propaganda comunista no pior.
Na net, esses homens, algumas vezes falam aprovando para os outros o massacre de My Lai. Ei, todos eles eram Congs. Se não fosse, eles sabiam quem eram os Congs e não nos contaram. Calley fez a coisa certa, ensinando-lhes uma lição. Há uma admiração por Calley ter evitado as burocráticas regras de engajamento, provavelmente traçadas por civis. Guerra é guerra. Você mata pessoas. Lide com isso.
Se você aponta que os danos colaterais (crianças mortas, por exemplo) transformam os sobreviventes em mortiferamente furiosos Viet Congs, o Guerreiro acha que você é um esquerdista defensor das árvores.
Hoje, o campo de batalha como compreendido pelo inimigo, mas raramente pelo Guerreiro, se estende por muito além do campo de batalha físico, e os alvos principais são políticos. Nessa espécie de guerra, se a América consegue obter o apoio da população local, os insurgentes estão fora do negócio, se os insurgentes conseguem o apoio do público americano para parar a guerra, os militares americanos estão fora do negócio. Isso é o que conta. É o que funciona. O Guerreiro, todo Hurrah, e com suas asas de salto, não captam isso. Vo Nguyen Giap captou isso. Ho Chi Minh captou isso.
Assim, a furiosa, amargurada insistência dos Guerreiros de que “Nós ganhamos o Tet de 1968. Nós os massacramos! Nós ganhamos, diabo! Militarmente, nós ganhamos em absoluto!” Certo, mas eles perderam politicamente. Isso foi uma catástrofe da ordem de Kursk ou Dien Bien Phu. Mas eles não podem apreender isso.
O guerreiro não compreende o significado de “vitória” pois ele pensa em termos de tiroteiros, coragem, armamento e valor. Sua aproximação é emocional, não racional. Embora não seja estúpido, ele é regularmente sobrepujado em idéias. Por quê?
Não é mistério. Um inimigo inteligente sabe que a América não pode ser batida em guerra industrial. Portanto ele pensa, “qual é, então, a fraqueza da América?” A primeira e crucial é que o governo americano entra em guerras distantes nas quais o público não tem interesse algum. Você queria que o seu filho morresse por – digamos – a democracia no Iraque? Você o criou, o mandou para a escola, sua primeira promoção, a graduação no campo de treinamento, e ele volta para casa numa caixa – pela democracia no Iraque?
A coisa a fazer, então (continue pensando como um inimigo inteligente) é tornar os americanos cada vez mais enjoados da guerra. Como? Não por ganhar batalhas, o que é difícil contra os americanos. Você vence de outro modo. Primeiro, não lhes dê alvos pontuais, já que estes são destruídos facilmente pelos grandes canhões e avançada tecnologia. Segundo, mantenha o nível do combate alto o bastante para manter a guerra na frente da consciência americana, e para manter altas as despesas monetárias. (Inflação e preços da gasolina são armas, tanto quanto fuzis, outra idéia que o Guerreiro não pode apreender. Bin Laden pode.) Terceiro, mantenha os sacos de corpos fluindo. Mais cedo ou mais tarde, os americanos irão cansar de perder seus filhos por alguma coisa que, realmente, não lhes interessa.
No entanto, o Guerreiro não concede ao público o direito de ficar cansado. Para ele, a América existe para apoiar as Forças Armadas, não o contrário. Duzentos mortos por semana estão voltando da Ásia? O Guerreiro acredita que a América das pequenas cidades (que é para onde, normalmente, vão os ataúdes) deve trincar os dentes, agüentar, e fazer o sacrifício pelo país. Sacrifício pelo quê? Isso não importa. Nós estamos em guerra, diabos. Agrupem-se. Quem é você, um comuna?
Para o Guerreiro, duvidar da guerra é traição, ajudar e apoiar o inimigo, liberalismo, covardia, punhalada pelas costas e por aí vai. Ele utiliza essas frases sem descanso. Nós temos de lutar, lutar e lutar, sacrificar e dispender, e nunca desistir. Nós nunca devemos perguntar por quê ou para quê.
O público, é claro, não vê isso desse jeito. Em 1964, eu me graduei numa escola secundária, na Virgínia, com uma classe mais velha de, eu acho, sessenta. Doug tomou uma 12,7 mm através da cabeça, Sonny passou um tempo em Walter Reed, com ferimentos no pescoço, Studley, eu ouvi, está paraplégico, outro garoto ficou cego para o resto da vida, e vários, que não vou nominar, embora duros garotos do interior como eu os conheci, voltaram como alcoólatras irrecuperáveis. (Esses eram garotos que eu conheci, não todos na minha classe) Foi uma porção e tanto de mortos e incapacitados para um lugar pequeno. E para quê?
Covardia? Eu estava num campus em 1966, um campus pequeno, muito Republicano, muito patriótico, muito conservador, muito sulista. Os estudantes, e suas namoradas, eram todos violentamente contra a guerra. Portanto, concluo, também eram seus pais. Por quê? Eram eles os traidores da imaginação do Guerreiro? Não. Eles não queriam morrer por alguma coisa que não lhes importava.
Isso escapa ao Guerreiro. Sempre ele culpa A Imprensa por sumir com o entusiasmo marcial, por sua incompreensão do tipo de guerra que estamos enfrentando. Foi a imprensa quem fez de Studley um paraplégico? Ou matou o sujeito com todos aqueles tubos que morreu na maca acima de mim, no Medevac 141, vindo de Da Nang? Walter Cronkite cegou meu companheiro Cagle quando a granada de fuzil explodiu no fim dos seus quatorze meses de alistamento? Os Guerreiros acham que as pessoas não notam quando seus garotos voltam para casa em cadeiras de rodas?
Eles não captam isso.
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Na net, esses homens, algumas vezes falam aprovando para os outros o massacre de My Lai. Ei, todos eles eram Congs. Se não fosse, eles sabiam quem eram os Congs e não nos contaram. Calley fez a coisa certa, ensinando-lhes uma lição. Há uma admiração por Calley ter evitado as burocráticas regras de engajamento, provavelmente traçadas por civis. Guerra é guerra. Você mata pessoas. Lide com isso.
Se você aponta que os danos colaterais (crianças mortas, por exemplo) transformam os sobreviventes em mortiferamente furiosos Viet Congs, o Guerreiro acha que você é um esquerdista defensor das árvores
está é a cultura americana são dois seculos de guerras
1- como colonizadores
2-guerra da independencia
3-guerra da sesseção
4-guerra expancionista no proprio territorio
5- guerras fora de seu territorio cuba,filipinas etc..
6-guerras mundias 1914-1918,1939-1945
7-koreia,vietnam,granada,iraque1991-afeganistão2002,iraque2003.
esta iraizado no americano de classe media todas está guerras. de todos estes conflitos quando realmente eles ficaram em paz.
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ESPERANDO PELA REBELIÃO.
Fred Reed – 1o de outubro de 2006.
Quando, a gente se pergunta, vai começar o motim entre as tropas no Iraque?
Recentemente, conversei sobre a guerra, por email, com Jim Coyne, um amigo da infantaria aeroterrestre que serviu duas temporadas como metralhador de porta de helicóptero artilhado, no Vietnam, e então fez carreira no jornalismo. Eu perguntei, “eles (o corpo de oficiais, os militares profissionais) realmente acreditam nessa enrolação otimista que está por aí? Eles realmente não sabem o que está acontecendo?”
A resposta de Jim: “Na minha opinião, eles realmente não sabem; eles, até mesmo, podem não querer saber, em algum nível. Você conhece tão bem quanto eu, esse pessoal ‘orientado-para-a-missão’; a turma ‘pode tudo’; fracasso e análises introspectivas não são opções para eles. E num mundo da táticas orientadas para a missão, nossos militares, realmente, não fracassam, normalmente; num mundo de estratégia político-militar, tal como o Oriente Médio e o Iraque, no entanto, simplesmente, nós não podemos vencer.
“De novo, como no Vietnam, o corpo de oficiais de carreira bate continência e marcha rumo ao som da batalha. Eventualmente, no entanto, (e não vai demorar muito) serão os ’grunts’ [Government Rejects Unfit to Training, um dos muitos apelidos sacanas com os quais os próprios soldados e fuzileiros de linha de frente gostam de se referir a si próprios] que irão se revoltar, primeiro de modo tranqüilo (como a 101ª no final de 1968, “Não, senhor. Não vamos subir essa colina de novo.) e, então, subindo o tom (como em 1974, “Foda-se, seu bundão.”) Nessa altura, a mídia vai perceber de onde sopra o vento e fazer com que ele saia do controle. É isso que eu penso.”
E eu também.
Nós temos duas versões, agudamente diferentes do Iraque. Uma vem dos oficiais profissionais. Ela sustenta que os militares estão fazendo progressos e os insurgentes perdendo terreno. O povo iraquiano nos ama e quer os benefícios que nós levamos para eles. Os crescentes ataques dos insurgentes são sinais de desespero. As coisas parecem ruins, apenas porque a mídia enfatiza o lado negativo. Os oficiais vêem a luz no fim do túnel. As contagens de corpos são muitas; os caras maus não podem agüentar por muito tempo, o martelamento que estamos infligindo sobre eles. Para o alto e avante!
A outra visão vem dos praças (e de uma porção de repórteres antes de eles serem editados para dizer qualquer coisa que as publicações acreditem). Essa garante que os iraquianos nos odeiam, e nós a eles; que a força da insurgência está crescendo, que não estamos fazendo progresso mas indo para trás, que nossas táticas não funcionam e que não podemos vencer.
O padrão é tão comum nas guerras recentes que já virou rotina. Os praças sabem que os Estados Unidos estão perdendo. Os oficiais não sabem disso, ou se recusam a saber. Isso, eventualmente, irá ter conseqüências.
Quando homens morrem, desnecessariamente, numa guerra que eles sabem que não pode ser vencida e que nada significa para eles, quando eles compreendem que estão morrendo em nome dos egos de políticos fugitivos do recrutamento, a salvo em Washington – eles irão se revoltar. Isso já aconteceu antes. E irá acontecer de novo. Mas quando? No próximo ano, acho eu.
É importante compreender que oficiais e praças são espécies animais muito diferentes entre si. Por exemplo, os praças fazem coisas (dirigir tanques, reparar helicópteros) enquanto oficiais são, principalmente, administradores. Mas a diferença importante é psicológica. Praças são proletários ou técnicos. Eles se preocupam pouco com ideologias. Eles querem consertar o tanque ou acabar o exercício de campo e, então, beber umas cervejas e pegar umas cachorras.
Acima de tudo, eles são realistas. Se o rádio novo não funciona, ou Bagdá se tranforma num pesadelo taticamente sem solução, os praças sentem pouca necessidade de provar o contrário. É por isso que oficiais não gostam que repórteres fiquem sozinhos com os soldados.
A resposta padrão do corpo de oficiais é que os praças não podem ver o Grande Quadro, (a menos, é claro, que os praças digam aquilo que os oficiais querem ouvir, caso em que a experiência deles no terreno empresta uma autoridade irresistível). Mas o Grande Quadro repousa no Pequeno Quadro. Se um soldado vê o desastre lento, onde ele está, e ouve a mesma coisa de sujeitos que ele encontra de todas as partes do país, suas conclusões não serão sem fundamento. Mais cedo, ou mais tarde, em sua terceira temporada, com uma esposa grávida em casa, e sete amigos mortos por bombas, ele irá dizer, na linguagem crua, porém expressiva dos soldados, “Foda-se essa merda.”.
Por contraste, os oficiais não podem ver nada, além do positivo. Há várias razões. Oficiais de carreira, primeiramente, são políticos. Você não será promovido se disser que seus superiores são totalmente incompetentes. A lealdade de um oficial é para com sua carreira, e para o corpo de oficiais, não para com o país ou para com seus soldados. Se isso soa rude, observe o quão raramente um oficial da ativa critica a política, mas quando ele se reforma, pode, repentinamente, descobrir que a referida política resultou em mortes desnecessárias entre os soldados. Oh? Então, por quê ele não disse isso quando podia ter salvo vidas?
Há uma curiosa covardia moral entre os oficiais. Eles voam perigosas missões sobre Bagdá, mas não irão dizer que as coisas não estão indo bem. Eles não ficam contra a manada.
E mais, e quero afirmar isso, cuidadosamente, os oficiais, com freqüência, não são totalmente adultos. Eles podem ser (e normalmente são) espertos, competentes, dedicados, e fisicamente bravos, e alguns são inacreditavelmente durões. Mas há uma estreiteza de pensamento neles, uma aversão a introspecção, uma certa infantilidade, como garotos brincando de soldados. Uma porção de “fazer parecer” faz parte do mundo dos oficiais. Os praças, crescidos, vêem as coisas como elas são. Os oficiais são dotados de um mundo pelo comando, e vivem nele.
Observem a forte ênfase dos militares, entendendo-se como o corpo de oficiais, nos rituais e cerimoniais pomposos. É coisa de adultos crianções. Três mil homens construindo um arranha-céu, apenas aparecem, fazem seus trabalhos, e voltam para casa. Os militares querem seus homens alinhados em quadrados, precisamente em atenção, polegares alinhados com a costura das calças, com os metais perfeitamente polidos. Isso requer música instigante, continências exuberantes e os assustadores tons dos clarins, “sim, senhor, sim senhor, às ordens, senhor”. Isso é justificado como necessário á disciplina. Mas não é. Um primeiro-sargento não tem dificuldades em manter sua autoridade sem todo esse esquema.
Os oficiais me lembram de membros da Seita Moon, armados. Há a mesma disposição, o mesmo deliberado otimismo pela política. As coisas vão indo bem porque a doutrina diz que elas tem de ir. Um oficial é tão ideologicamente insosso quanto o Reader’s Digest, e tão irrefletido como. É por isso que eles não aprendem, por isso que os Estados Unidos estão se afundando de novo, tentando enfrentar vespas com fuzis de elefantes. “Sim, senhor, podemos fazer, senhor”. Bem, algumas vezes podem, e algumas vezes não podem. Isso não é arrogância, é mais como a uma crença da lei da gravidade.
E por isso ouvimos frases que incorporam a eterna precedência do “Hurrah!” sobre o realismo: “não há substituto para a vitória,” ou “o difícil nós fazemos imediatamente; o impossível demora um pouco mais,” ou “derrota não é uma opção.” (1) Mas, algumas vezes, é uma inevitabilidade.
Eu penso que Jim está certo. Mais cedo, ou mais tarde, uma unidade não vai subir a colina de novo. Então, tudo estará terminado.
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(1) ou, “só perde quem quer”.
Fred Reed – 1o de outubro de 2006.
Quando, a gente se pergunta, vai começar o motim entre as tropas no Iraque?
Recentemente, conversei sobre a guerra, por email, com Jim Coyne, um amigo da infantaria aeroterrestre que serviu duas temporadas como metralhador de porta de helicóptero artilhado, no Vietnam, e então fez carreira no jornalismo. Eu perguntei, “eles (o corpo de oficiais, os militares profissionais) realmente acreditam nessa enrolação otimista que está por aí? Eles realmente não sabem o que está acontecendo?”
A resposta de Jim: “Na minha opinião, eles realmente não sabem; eles, até mesmo, podem não querer saber, em algum nível. Você conhece tão bem quanto eu, esse pessoal ‘orientado-para-a-missão’; a turma ‘pode tudo’; fracasso e análises introspectivas não são opções para eles. E num mundo da táticas orientadas para a missão, nossos militares, realmente, não fracassam, normalmente; num mundo de estratégia político-militar, tal como o Oriente Médio e o Iraque, no entanto, simplesmente, nós não podemos vencer.
“De novo, como no Vietnam, o corpo de oficiais de carreira bate continência e marcha rumo ao som da batalha. Eventualmente, no entanto, (e não vai demorar muito) serão os ’grunts’ [Government Rejects Unfit to Training, um dos muitos apelidos sacanas com os quais os próprios soldados e fuzileiros de linha de frente gostam de se referir a si próprios] que irão se revoltar, primeiro de modo tranqüilo (como a 101ª no final de 1968, “Não, senhor. Não vamos subir essa colina de novo.) e, então, subindo o tom (como em 1974, “Foda-se, seu bundão.”) Nessa altura, a mídia vai perceber de onde sopra o vento e fazer com que ele saia do controle. É isso que eu penso.”
E eu também.
Nós temos duas versões, agudamente diferentes do Iraque. Uma vem dos oficiais profissionais. Ela sustenta que os militares estão fazendo progressos e os insurgentes perdendo terreno. O povo iraquiano nos ama e quer os benefícios que nós levamos para eles. Os crescentes ataques dos insurgentes são sinais de desespero. As coisas parecem ruins, apenas porque a mídia enfatiza o lado negativo. Os oficiais vêem a luz no fim do túnel. As contagens de corpos são muitas; os caras maus não podem agüentar por muito tempo, o martelamento que estamos infligindo sobre eles. Para o alto e avante!
A outra visão vem dos praças (e de uma porção de repórteres antes de eles serem editados para dizer qualquer coisa que as publicações acreditem). Essa garante que os iraquianos nos odeiam, e nós a eles; que a força da insurgência está crescendo, que não estamos fazendo progresso mas indo para trás, que nossas táticas não funcionam e que não podemos vencer.
O padrão é tão comum nas guerras recentes que já virou rotina. Os praças sabem que os Estados Unidos estão perdendo. Os oficiais não sabem disso, ou se recusam a saber. Isso, eventualmente, irá ter conseqüências.
Quando homens morrem, desnecessariamente, numa guerra que eles sabem que não pode ser vencida e que nada significa para eles, quando eles compreendem que estão morrendo em nome dos egos de políticos fugitivos do recrutamento, a salvo em Washington – eles irão se revoltar. Isso já aconteceu antes. E irá acontecer de novo. Mas quando? No próximo ano, acho eu.
É importante compreender que oficiais e praças são espécies animais muito diferentes entre si. Por exemplo, os praças fazem coisas (dirigir tanques, reparar helicópteros) enquanto oficiais são, principalmente, administradores. Mas a diferença importante é psicológica. Praças são proletários ou técnicos. Eles se preocupam pouco com ideologias. Eles querem consertar o tanque ou acabar o exercício de campo e, então, beber umas cervejas e pegar umas cachorras.
Acima de tudo, eles são realistas. Se o rádio novo não funciona, ou Bagdá se tranforma num pesadelo taticamente sem solução, os praças sentem pouca necessidade de provar o contrário. É por isso que oficiais não gostam que repórteres fiquem sozinhos com os soldados.
A resposta padrão do corpo de oficiais é que os praças não podem ver o Grande Quadro, (a menos, é claro, que os praças digam aquilo que os oficiais querem ouvir, caso em que a experiência deles no terreno empresta uma autoridade irresistível). Mas o Grande Quadro repousa no Pequeno Quadro. Se um soldado vê o desastre lento, onde ele está, e ouve a mesma coisa de sujeitos que ele encontra de todas as partes do país, suas conclusões não serão sem fundamento. Mais cedo, ou mais tarde, em sua terceira temporada, com uma esposa grávida em casa, e sete amigos mortos por bombas, ele irá dizer, na linguagem crua, porém expressiva dos soldados, “Foda-se essa merda.”.
Por contraste, os oficiais não podem ver nada, além do positivo. Há várias razões. Oficiais de carreira, primeiramente, são políticos. Você não será promovido se disser que seus superiores são totalmente incompetentes. A lealdade de um oficial é para com sua carreira, e para o corpo de oficiais, não para com o país ou para com seus soldados. Se isso soa rude, observe o quão raramente um oficial da ativa critica a política, mas quando ele se reforma, pode, repentinamente, descobrir que a referida política resultou em mortes desnecessárias entre os soldados. Oh? Então, por quê ele não disse isso quando podia ter salvo vidas?
Há uma curiosa covardia moral entre os oficiais. Eles voam perigosas missões sobre Bagdá, mas não irão dizer que as coisas não estão indo bem. Eles não ficam contra a manada.
E mais, e quero afirmar isso, cuidadosamente, os oficiais, com freqüência, não são totalmente adultos. Eles podem ser (e normalmente são) espertos, competentes, dedicados, e fisicamente bravos, e alguns são inacreditavelmente durões. Mas há uma estreiteza de pensamento neles, uma aversão a introspecção, uma certa infantilidade, como garotos brincando de soldados. Uma porção de “fazer parecer” faz parte do mundo dos oficiais. Os praças, crescidos, vêem as coisas como elas são. Os oficiais são dotados de um mundo pelo comando, e vivem nele.
Observem a forte ênfase dos militares, entendendo-se como o corpo de oficiais, nos rituais e cerimoniais pomposos. É coisa de adultos crianções. Três mil homens construindo um arranha-céu, apenas aparecem, fazem seus trabalhos, e voltam para casa. Os militares querem seus homens alinhados em quadrados, precisamente em atenção, polegares alinhados com a costura das calças, com os metais perfeitamente polidos. Isso requer música instigante, continências exuberantes e os assustadores tons dos clarins, “sim, senhor, sim senhor, às ordens, senhor”. Isso é justificado como necessário á disciplina. Mas não é. Um primeiro-sargento não tem dificuldades em manter sua autoridade sem todo esse esquema.
Os oficiais me lembram de membros da Seita Moon, armados. Há a mesma disposição, o mesmo deliberado otimismo pela política. As coisas vão indo bem porque a doutrina diz que elas tem de ir. Um oficial é tão ideologicamente insosso quanto o Reader’s Digest, e tão irrefletido como. É por isso que eles não aprendem, por isso que os Estados Unidos estão se afundando de novo, tentando enfrentar vespas com fuzis de elefantes. “Sim, senhor, podemos fazer, senhor”. Bem, algumas vezes podem, e algumas vezes não podem. Isso não é arrogância, é mais como a uma crença da lei da gravidade.
E por isso ouvimos frases que incorporam a eterna precedência do “Hurrah!” sobre o realismo: “não há substituto para a vitória,” ou “o difícil nós fazemos imediatamente; o impossível demora um pouco mais,” ou “derrota não é uma opção.” (1) Mas, algumas vezes, é uma inevitabilidade.
Eu penso que Jim está certo. Mais cedo, ou mais tarde, uma unidade não vai subir a colina de novo. Então, tudo estará terminado.
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(1) ou, “só perde quem quer”.
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A FEITURA DA GUERRA E SUAS MÁQUINAS.
Por Victor Davis-Hanson – Commentary Magazine (16 Dezembro de 2006).
Em anos recentes, o termo “revolução em assuntos militares” (RMA, ou Revolution in military affairs) tem sido aplicado a vasta mudança que a inteligência computadorizada e a globalização trouxeram a conduta da guerra. Esta encantadora alcunha, no entanto, é apenas um nome novo para algo bem velho. De fato, transformações radicais na prática militar tem marcado a história ocidental, pelo menos desde que Esparta e Atenas se engalfinharam na Guerra do Peloponeso no século V aC.
Tal RMA é também o foco dos novos livros por dois de nossos mais notáveis comentaristas de assuntos militares: Frederick W. Kagan em ”Finding the Target: The Transformation of American Military Policy” e Max Boot em ”War Made New: Technology, Warfare, and the Course of History, 1500 to Today”. Ambos esses acadêmicos são espertos o bastante para não caírem na noção de que as rupturas tecnológicas de hoje, em comunicações por satélite, computadores e miniaturização alteraram a natureza da guerra em si mesma, ao invés de apenas a presente face da batalha, e muito menos de que elas podem, por si mesmas, ganhar guerras totalmente. Ambos compartilham um agudo interesse na contemporânea “guerra contra o terrorismo”, e em seus artigos (Kagan) e colunas (Boot) tem respondido de forma similar ao suposto progresso errático da América nesta guerra. Inicialmente, sonoros apoiadores da invasão do Iraque, ambos tornaram-se ásperos críticos de nossos esforços pós-guerra na contra-insurgência; cada um, além do mais, pediu em vários momentos pela exoneração do Secretário de Defesa, Donald Rumsfeld. Tal zelo é periódico na obra de Boot, mais aberto e constante em Kagan, mas isso informa sobre a preocupação compartilhada por eles sobre uma liderança no Pentágono que tem, supostamente, posto muita confiança em armaria de alta-tecnologia e em princípios organizacionais emprestados do mundo dos negócios e, por esse meio, contribuindo para a crescente fragilidade da atual posição de superioridade militar da América.
O livro de Kagan, mais contemporâneo em seu quadro de referência do que o de Boot, centra em três revoluções nas forças armadas americanas desde a Guerra do Vietnam: a ascensão do exército voluntário com seus equipamentos e armas de alta-tecnologia; a aparição nos anos 1980 das munições guiadas de precisão, e a adoção da tecnologia de informação. Para a mente de Kagan, esses, freqüêntemente, bem-vindos desenvolvimentos e suas conseqüências na política tem vindo passo-a-passo com um, decididamente não bem-vindo fracasso do pensamento estratégico-militar americano.
Nenhum país, ele escreve, tem um arsenal mais diversificado e efetivo do que a América. Ao mesmo tempo, nenhuma nação está tão atolada travando guerras de uma maneira que preferia não ter de fazer. Seu indiciamento bipartidário aponta o dedo para dois culpados principais: Bill Clinton, que desmantelou elementos cruciais do estabelecimento militar da guerra fria, e George W. Bush, que, não compreendendo os mais amplos propósitos políticos da guerra, careceu da necessária visão para colher a vantagem de nosso vasto poder convencional.
Kagan é desdenhoso de conceitos da moda tais como “guerra centrada em redes” e da idéia de que os militares americanos precisam abraçar o espírito e as táticas das bem-sucedidas corporações americanas – redução de tamanho, busca de maior eficiência através de novas tecnologias e trens de suprimento on-demand, e avassalar os rivais com pirotecnia. Em sua visão, todas essas noções aparentes erram o ponto de como melhor derrotar numerosos e diversos inimigos. Antiquadas divisões blindadas com tanques e massiva artilharia, com seu grande custo em potencial humano, podem não conseguir o maior lucro pelo investimento empregado, mas permanecem, com freqüência, mais adequadas para obter os objetivos próprios da guerra: estabelecer acordos políticos de longo prazo favoráveis aos Estados Unidos. “A guerra não é tanto sobre matar pessoas e explodir coisas”, ele escreve. “Ela é violência intencional para obter um ganho político”.
O Afeganistão e o Iraque são suas lições objetivas. Em ambos os lugares, tendo colocado a carroça militar na frente do cavalo da estratégia, os EUA, facilmente, abateram regimes opressivos, apenas para se encontrarem fortemente pressionados para substituí-los com algo melhor e mais duradouro. Para quê serve todo nosso armamento de alta-tecnologia, pergunta Kagan, se, após vitórias-relâmpago sobre o Taliban e Saddam Hussein, nossos soldados ainda estão, anos depois, caindo vítimas de rudes dispositivos explosivos improvisados e primitivos homens-bomba?
O conselho de Kagan é que os militares americanos empreendam alguma coisa do tipo contra-revolução. Nós precisamos, ele insiste, não de mais engenhocas, mas sim de mais know-how humano. Em termos práticos, isso quer dizer prover os oficiais das forças armadas com recursos e treinamento – especialmente em consciência cultural e linguagens – que eles necessitarão para servirem como procônsuls nas terras do pós-guerra. As vitórias do futuro serão conquistadas e irão permanecer, ele argumenta, somente quando nós tivermos botas suficientes no terreno, recheadas por soldados sofisticados no conhecimento dos diversos inimigos.
War Made New (a Guerra Tornada Nova) de Max Boot é, de alguma forma, uma criatura diferente, tanto em seu alcance temporal quanto em sua metodologia. Uma história universal da transformação militar desde 1500, ela lida com quatro grandes erupções: a revolução da pólvora que se iniciou no fim do século XVI; a primeira revolução industrial no fim do século XIX, que trouxe comunicações rápidas, trasnporte em larga escala, e o motor de combustão interna; a segunda e mais radical revolução industrial no início e meados do século XX, que levou a produção em massa de sofisticados navios, aviões e tanques; e, finalmente, nossa própria revolução de informações de satélites, computadores e comunicações instantâneas sem fio.
Para cada uma de suas quatro eras, Boot fornece relatos gráficos de três batalhas representativas e um capítulo sobre “conseqüências”. Sua seção sobre a segunda revolução industrial, por exemplo, abre com a blitzkrieg nazista de 1940, na França, antes de se mover para o ataque japonês à Pearl Harbor e, então, para o bombardeio incendiário de Tóquio, em março de 1945. Do princípio ao fim, Boot fornece uma mescla vívida e empolgante de narrativa histórica e análise, mostrando os sangrentos resultados no mundo real da abstrata tomada de decisões sobre a natureza e grau de preparação militar de um país. Seus doze estudos de caso, indo da derrota da Armada espanhola até a atual situação no Iraque, apontam para uma variedade de lições díspares mas também para alguns temas que são surpreendentemente constantes através do tempo e do espaço.
A mais importante desses é que pura superioridade numérica nem sempre assegura a vitória. No Sudão, em 1898, os casacos-vermelhos de Kitchener derrotaram o exército do Mahdi que apreciava uma vantagem em potencial humano tão grande quanto três para um, sobre os ingleses. Como Boot argumenta, o moderno sucesso militar tem dependido menos de volume (ou poder de fogo) do que de capacidades mais amplas possuídas por nações que são “intelectualmente curiosas e tecnologicamente inovadoras”. O dinamismo da Grã-Bretanha imperial deu a Kitchener a perícia, organização e capital para construir uma estrada de ferro através de uma curva do Nilo, assim permitindo a sua força expedicionária chegar próximo a Khartum intacta, com abundante artilharia e metralhadoras, e melhor suprida do que seus adversários nativos. Um dinamismo intelectual similar, ilustrado em outro dos relatos de Boot, permitiu à inovadora marinha japonesa obter sua espantosa vitória sobre a frota russa, em 1905, na batalha de Tsushima.
Por volta do século XX, regimes de aparência moderna, com freqüência estatistas como o Japão, estavam ostensivamente melhor posicionados para aproveitar os recursos naturais e o trabalho industrial exigido pela guerra moderna. Eles também pareciam mais aptos para levantar os exércitos conscritos de massa que iriam distinguir as duas guerras mundiais que estavam por vir. Mas, como demonstra Boot, suas aparentes vantagens se mostraram transitórias. Na Segunda Guerra Mundial, a planta de construção de bombardeiros americana, em Willow Run, Michigan – uma mastodôntica estrutura de 3,5 milhões de pés quadrados que, por volta de agosto de 1944, estava produzindo um B-24 por hora – ultimamente representou muito mais peso para o resultado do conflito do que a inovação e qualidade de produção que deram aos nazistas os mísseis V-2 e umas poucas centenas de avançados caças à jatos ME-262. Os sucessos iniciais nos campos de batalha das potências do Eixo foram tornados possíveis pela surpresa e uma largada inicial no rearmamento; mas isso foi, eventualmente, revertido pelas burocracias da defesa de tempo de guerra da União Soviética, Grã-Bretanha e Estados Unidos, todas as três, em seus modos variados, se mostraram melhor em dominar os princípios das partes intercambiáveis, a linha de montagem e o agrupamento de milhões de conscritos.
Concluindo sua pesquisa com a presente revolução em sistemas de informação, Boot esboça as ironias inerentes a nossa recente experiência. O campo de batalha atual, no Oriente Médio como em qualquer outro lugar, tende a favorecer forças não-convencionais e descentralizadas. Em um mundo globalizado e interconectado, terroristas, bancados pelos petrodólares de déspotas podem comprar armamentos direto da prateleira e remetê-los para Beirute ou Damasco, dando-lhes uma quase paridade a esse respeito com forças armadas ocidentais que, por uma variedade de razões práticas e éticas, parecem restringir-se de trazer seu pleno potencial de vantagens para o conflito. Por nossa parte, enquanto mais dólares americanos tem sido investidos em cada vez menos “plataformas” de alto custo – isso é, navios e aviões altamente computadorizados – nós temos visto nossas atenuadas forças em campanha se tornando cada vez mais vulneráveis e aversas a riscos. Quem iria querer enviar um único bombardeiro B-2 sobre enclaves terroristas quando um barato míssil anti-aéreo disparado do ombro pode liquidar um investimento de meio bilhão de dólares?
Mesmo assim, Boot nos adverte contra um foco muito unilateral em guerra assimétrica e suas vulnerabilidades. Quando se trata de explodir uns terroristas a poucos metros de tropas americanas no Hindu Kush, os canhões de um velho A-10 “Warthog” ainda vão fazer um trabalho melhor do que o novo F-22 “Raptor”, que pode ser o mais dispendioso e sofisticado jato no mundo. Mas, caso os chineses decidam assaltar Taiwan – dificilmente uma possibilidade fantasiosa – será melhor ter esses F-22 nos céus para assegurar nossa superioridade aérea estratégica.
O que essa flexibilidade sugere é a necessidade de evitar a complacência – de qualquer tipo. Em seu excelente livro, Boot revê a história de 500 anos como um aviso. A ascensão e queda de forças armadas do passado nos lembra que os Estados Unidos não foram pré-ordenados a manter sua presente supremacia. Por conseguinte, precisamos reconhecer e recompletar a fonte de nosso poder ao continuar a incorporar idéias e questões não-convencionais em nossas operações militares – permanecendo conscientes o tempo todo de que a categoria de novidades “não-convencionais” ainda pode incluir algumas idéias antiquadas e ditas fora de moda.
No grande debate sobre transformação militar, nós somos afortunados em ter analistas de cabeça arejada como Kagan e Boot, que se voltam para a história de preferência à tecnologia para fornecer respostas para o futuro. De fato, uma ainda mais longa perspectiva histórica pode ajudar a colocar nossa presente situação, incluindo nossos equívocos, num contexto clarificador, e talvez ajudar a atenuar a tendência deles (a de Kagan, significativamente mais forte do que a de Boot) rumo ao pessimismo.
Como mencionei no início, sempre houveram mudanças abruptas e inesperadas no modo como os homens lutam – mesmo em tempos pré-industriais. A prática militar é mais freqüentemente virada de cabeça para baixo durante guerras de grande selvageria, nas quais estados investem seus capitais humanos e materiais em tentar escapar à aniquilação. Durante a maior parte do início do século V aC, as cidades-estado helênicas preferiam resolver suas disputas de fronteira por meio de colisões convencionais entre falanges de hoplitas (infantes pesadamente couraçados e armados). Mas durante as quase três décadas do caldeirão da Guerra do Peloponeso (431-404 aC), tal meio tradicional de guerrear ficou pelo caminho. Ambos, a conservadora, e de orientação terrestre Esparta e a imperial, e marítima Atenas voltaram-se para outras vias e métodos – triremes guarnecidos por remadores mercenários e escravos, inovadoras técnicas em guerra de sítio, o uso de cavalaria ligeira, e mesmo terrorismo. Isso desencadeou um ciclo de desafio e resposta como nada visto anteriormente na história grega.
Pelo tempo da derrota de Atenas em 404 aC, essa primeira RMA havia mudado o modo de guerrear ocidental aparentemente de forma definitiva. Assim como os estados não podiam mais divisar o conflito armado como uma série de batalhas campais entre fileiras de hoplitas, também as velhas classificações sociais do campo de batalha – com os ricos sobre cavalos, pequenos proprietário na falange, e os pobre sem-terra como escaramuçadores e remadores – não mais iriam prescrever como e onde os homens iriam lutar. Filósofos morais e generais conservadores clamavam contra essas mudanças, lamentando que a ralé, máquinas de guerra e dinheiro eram, agora, os fatores decisivos na guerra; mas sem resultado algum.
Essa aparente ruptura com o passado, no entanto, dificilmente foi o fim da questão. Na antiga Grécia, exatamente como hoje em dia, súbita inovação não sobrepujava, completamente, a velha ordem, e aqueles que acreditavam de outro modo, com freqüência, acabavam por se lamentar disso. Apesar da obsolescência das falanges hoplíticas, a idéia geral de lanceiros em ordem fechada – eventualmente alterada para comportar soldados mercenários com piques – persistiu por séculos após a guerra peloponésia. Generais de Epaminondas até Alexandre, O Grande, aprenderam que as falanges ainda eram partes integrantes dos exércitos – contanto que lhes fossem dadas amplo apoio por armas de cerco, artilharia e cavalaria – e eram especialmente úteis para destroçarem infantaria e cavalaria inimigas.
Muito da mesma forma, e apesar da introdução de satélites, computadores e novos metais e munições radicalmente novos, os tanques não tão diferentes em aparência daqueles dos anos 1920, permanecem inestimáveis na guerra moderna. Eles ainda cumprem a antiga necessidade por uma poderosa artilharia móvel fornecendo proteção para os soldados à pé. Mesmo cavalos não foram inteiramente deslocados – como vimos nas famosas fotos de soldados montados das Forças Especiais digitando coordenadas de GPS em seus laptops nas vastidões do Afeganistão. É instrutivo que as sofisticadas blindagens corporais de cerâmica tornem os soldados modernos parecidos com nada mais do que cavaleiros medievais ou, até mesmo, hoplitas gregos, relembrando-nos de que a tensão entre ataque e defesa é eterna.
Esse é o caso, também, de certas leis da guerra – a necessidade de unidade do comando, da integração de tática com estratégia, de divisar a estratégia com objetivos políticos em mente – terem estado imunes a revolução tecnológica. E nem isso é surpreendente: a guerra permanece um fenômeno irredutivelmente humano, e a natureza humana em si não tem mudado com o passar das eras. Assim, embora a Guerra do Golfo de 1991 fosse um memorável conflito de alta-tecnologia, e embora os tanques M-1 “Abrams” americanos quase sempre destruíssem suas contrapartes iraquianas com um primeiro tiro guiado por computador, isso por si mesmo não resultou em duradoura vantagem estratégica. A razão foi que os planejadores americanos estavam inseguros de seu objetivo final: seria derrotar o exército iraquiano no Kuwait enquanto se mantinha a santidade da coalizão de tempo de guerra, ou abater o regime em Bagdá que estava comandando o exército?
Sob essa mesma perspectiva cai a humilde e duradoura realidade iluminada tanto por Kagan quanto Boot: a natureza transitória da primazia militar. Pelo fim da Guerra do Peloponeso, Esparta tinha moldado o melhor exército hoplítico no mundo; ainda assim, em 371 aC, os tebanos provaram que ele era taticamente e estrategicamente, obsoleto. Trinta anos depois, Filipe da Macedônia, e seu filho Alexandre mostraram que mesmo os antes inovadores tebanos não eram páreo para os falangitas mercenários, portanto piques, apoiados por cavalaria pesada com sarissas. Descansando sobre seus lauréis, os vitoriosos de hoje, como os de ontem, com freqüência tem de correr atrás do prejuízo quanto o tiroteio começa, e podem acabar caindo com força.
Finalmente, como quase cada transformação tecnológica de conseqüência ocorreu sob os auspícios ocidentais – se não ocidental no sentido estritamente geográfico, então ocidental no sentido de um ambiente cultural moldado pelo pensamento livre e pela oportunidade do lucro. Mesmo inovações não-ocidentais, como o estribo e a pólvora, foram rapidamente modificadas e aperfeiçoadas pelos militares ocidentais. Caças à jato, bombas GPS, munições guiadas à laser são todos produto da perícia ocidental. Mesmo as mais inovadoras e letais armas dos jihadistas – dispositivos explosivos improvisados e cinturões suicidas – são forjados a partir de explosivos e dispositivos eletrônicos desenhados por ocidentais.
Mas, como vimos, isso também não é causa para complacência. Precisamente porque tais novos armamentos são um domínio ocidental, há sempre o perigo de que os ocidentais subestimem as capacidades dos outros. Cavalo-Doido no Little Big Horn, os zulus em Isandlwana, Abu Musab al-Zarqawi no Triângulo Sunita – todos foram capazes de importar e utilizar armas sofisticadas que eles nem podiam fabricar e nem reparar. Os rojões antitanque RPG da al-Qaeda podem não ser tão temíveis quanto as armas antitanque americanas, e podem falhar em índices muitos mais elevados; apesar disso, eles são bons o bastante para permitir que adolescentes analfabetos possam matar um oficial de exército americano com uma educação de um quarto de milhão de dólares em West Point, transportado em um “Humvee” de 100 mil dólares.
E onde isso nos deixa? Com razão em busca de cautela e circunspecção, mas também com claras vantagens que são, algumas vezes, postas de lado por analistas fixados em nossos erros e passos em falso. É verdade, nossos inimigos podem ser capazes de explorar alguns de nossos avanços, mas eles nunca irão rivalizar com nosso dinamismo intelectual. Nenhuma sociedade na era presente é tão auto-crítica, tão pronta para abraçar idéias estrangeiras, ou tão transparente e baseada em mérito quanto os Estados Unidos.
E mais, historiadores futuros podem bem atribuir nossos recentes sucessos – derrubar os dois piores regimes no Oriente Médio, e presidindo o nascimento de governos consensuais em seus lugares, e perdendo menos soldados nesse esforço do que durante muitas campanhas individuais da Segunda Guerra ou da Coréia – a um cada vez mais inovador sistema militar americano que aprendeu rapidamente dos erros do tipo descritos em Finding the Target e War Made New. Os, algumas vezes rígidos, trabalhos de Frederick Kagan e Max Boot são, em si mesmos, emblemáticos de uma das grandes forças de nossa sociedade: a capacidade para a se ajustar a eventos cambiantes com a ajuda de pensadores que se baseiam num sentido mais profundamente informado de realidade histórica do que aquele transmitido nas conclusões, tomadas pelo pânico das cadeias de notícias 24 horas.
Mas reconhecendo nossas deficiências, e mesmo nossas forças, não é o bastante. Revoluções militares são perdidas não apenas pela preguiça militar, liderança desiludida, ou um romance reacionário com o passado, mas devido a um fracasso ao nível das elites da sociedade, seja para perceber as reais ameaças representadas por inimigos externos reais ou para aprovar os sacrifícios necessários para enfrentar tais ameaças. Exemplos notáveis incluem as antigas Atenas e Roma, a Rússia da virada do século XX, e a França dos anos 1930. O principal desafio hoje não é apenas aprestar nossas forças armadas em face dos desafios em constante evolução, mas para convencer um opulento, ocioso e, com freqüência, cínico público americano que nós devemos, até mesmo tentar fazer isso.
Por Victor Davis-Hanson – Commentary Magazine (16 Dezembro de 2006).
Em anos recentes, o termo “revolução em assuntos militares” (RMA, ou Revolution in military affairs) tem sido aplicado a vasta mudança que a inteligência computadorizada e a globalização trouxeram a conduta da guerra. Esta encantadora alcunha, no entanto, é apenas um nome novo para algo bem velho. De fato, transformações radicais na prática militar tem marcado a história ocidental, pelo menos desde que Esparta e Atenas se engalfinharam na Guerra do Peloponeso no século V aC.
Tal RMA é também o foco dos novos livros por dois de nossos mais notáveis comentaristas de assuntos militares: Frederick W. Kagan em ”Finding the Target: The Transformation of American Military Policy” e Max Boot em ”War Made New: Technology, Warfare, and the Course of History, 1500 to Today”. Ambos esses acadêmicos são espertos o bastante para não caírem na noção de que as rupturas tecnológicas de hoje, em comunicações por satélite, computadores e miniaturização alteraram a natureza da guerra em si mesma, ao invés de apenas a presente face da batalha, e muito menos de que elas podem, por si mesmas, ganhar guerras totalmente. Ambos compartilham um agudo interesse na contemporânea “guerra contra o terrorismo”, e em seus artigos (Kagan) e colunas (Boot) tem respondido de forma similar ao suposto progresso errático da América nesta guerra. Inicialmente, sonoros apoiadores da invasão do Iraque, ambos tornaram-se ásperos críticos de nossos esforços pós-guerra na contra-insurgência; cada um, além do mais, pediu em vários momentos pela exoneração do Secretário de Defesa, Donald Rumsfeld. Tal zelo é periódico na obra de Boot, mais aberto e constante em Kagan, mas isso informa sobre a preocupação compartilhada por eles sobre uma liderança no Pentágono que tem, supostamente, posto muita confiança em armaria de alta-tecnologia e em princípios organizacionais emprestados do mundo dos negócios e, por esse meio, contribuindo para a crescente fragilidade da atual posição de superioridade militar da América.
O livro de Kagan, mais contemporâneo em seu quadro de referência do que o de Boot, centra em três revoluções nas forças armadas americanas desde a Guerra do Vietnam: a ascensão do exército voluntário com seus equipamentos e armas de alta-tecnologia; a aparição nos anos 1980 das munições guiadas de precisão, e a adoção da tecnologia de informação. Para a mente de Kagan, esses, freqüêntemente, bem-vindos desenvolvimentos e suas conseqüências na política tem vindo passo-a-passo com um, decididamente não bem-vindo fracasso do pensamento estratégico-militar americano.
Nenhum país, ele escreve, tem um arsenal mais diversificado e efetivo do que a América. Ao mesmo tempo, nenhuma nação está tão atolada travando guerras de uma maneira que preferia não ter de fazer. Seu indiciamento bipartidário aponta o dedo para dois culpados principais: Bill Clinton, que desmantelou elementos cruciais do estabelecimento militar da guerra fria, e George W. Bush, que, não compreendendo os mais amplos propósitos políticos da guerra, careceu da necessária visão para colher a vantagem de nosso vasto poder convencional.
Kagan é desdenhoso de conceitos da moda tais como “guerra centrada em redes” e da idéia de que os militares americanos precisam abraçar o espírito e as táticas das bem-sucedidas corporações americanas – redução de tamanho, busca de maior eficiência através de novas tecnologias e trens de suprimento on-demand, e avassalar os rivais com pirotecnia. Em sua visão, todas essas noções aparentes erram o ponto de como melhor derrotar numerosos e diversos inimigos. Antiquadas divisões blindadas com tanques e massiva artilharia, com seu grande custo em potencial humano, podem não conseguir o maior lucro pelo investimento empregado, mas permanecem, com freqüência, mais adequadas para obter os objetivos próprios da guerra: estabelecer acordos políticos de longo prazo favoráveis aos Estados Unidos. “A guerra não é tanto sobre matar pessoas e explodir coisas”, ele escreve. “Ela é violência intencional para obter um ganho político”.
O Afeganistão e o Iraque são suas lições objetivas. Em ambos os lugares, tendo colocado a carroça militar na frente do cavalo da estratégia, os EUA, facilmente, abateram regimes opressivos, apenas para se encontrarem fortemente pressionados para substituí-los com algo melhor e mais duradouro. Para quê serve todo nosso armamento de alta-tecnologia, pergunta Kagan, se, após vitórias-relâmpago sobre o Taliban e Saddam Hussein, nossos soldados ainda estão, anos depois, caindo vítimas de rudes dispositivos explosivos improvisados e primitivos homens-bomba?
O conselho de Kagan é que os militares americanos empreendam alguma coisa do tipo contra-revolução. Nós precisamos, ele insiste, não de mais engenhocas, mas sim de mais know-how humano. Em termos práticos, isso quer dizer prover os oficiais das forças armadas com recursos e treinamento – especialmente em consciência cultural e linguagens – que eles necessitarão para servirem como procônsuls nas terras do pós-guerra. As vitórias do futuro serão conquistadas e irão permanecer, ele argumenta, somente quando nós tivermos botas suficientes no terreno, recheadas por soldados sofisticados no conhecimento dos diversos inimigos.
War Made New (a Guerra Tornada Nova) de Max Boot é, de alguma forma, uma criatura diferente, tanto em seu alcance temporal quanto em sua metodologia. Uma história universal da transformação militar desde 1500, ela lida com quatro grandes erupções: a revolução da pólvora que se iniciou no fim do século XVI; a primeira revolução industrial no fim do século XIX, que trouxe comunicações rápidas, trasnporte em larga escala, e o motor de combustão interna; a segunda e mais radical revolução industrial no início e meados do século XX, que levou a produção em massa de sofisticados navios, aviões e tanques; e, finalmente, nossa própria revolução de informações de satélites, computadores e comunicações instantâneas sem fio.
Para cada uma de suas quatro eras, Boot fornece relatos gráficos de três batalhas representativas e um capítulo sobre “conseqüências”. Sua seção sobre a segunda revolução industrial, por exemplo, abre com a blitzkrieg nazista de 1940, na França, antes de se mover para o ataque japonês à Pearl Harbor e, então, para o bombardeio incendiário de Tóquio, em março de 1945. Do princípio ao fim, Boot fornece uma mescla vívida e empolgante de narrativa histórica e análise, mostrando os sangrentos resultados no mundo real da abstrata tomada de decisões sobre a natureza e grau de preparação militar de um país. Seus doze estudos de caso, indo da derrota da Armada espanhola até a atual situação no Iraque, apontam para uma variedade de lições díspares mas também para alguns temas que são surpreendentemente constantes através do tempo e do espaço.
A mais importante desses é que pura superioridade numérica nem sempre assegura a vitória. No Sudão, em 1898, os casacos-vermelhos de Kitchener derrotaram o exército do Mahdi que apreciava uma vantagem em potencial humano tão grande quanto três para um, sobre os ingleses. Como Boot argumenta, o moderno sucesso militar tem dependido menos de volume (ou poder de fogo) do que de capacidades mais amplas possuídas por nações que são “intelectualmente curiosas e tecnologicamente inovadoras”. O dinamismo da Grã-Bretanha imperial deu a Kitchener a perícia, organização e capital para construir uma estrada de ferro através de uma curva do Nilo, assim permitindo a sua força expedicionária chegar próximo a Khartum intacta, com abundante artilharia e metralhadoras, e melhor suprida do que seus adversários nativos. Um dinamismo intelectual similar, ilustrado em outro dos relatos de Boot, permitiu à inovadora marinha japonesa obter sua espantosa vitória sobre a frota russa, em 1905, na batalha de Tsushima.
Por volta do século XX, regimes de aparência moderna, com freqüência estatistas como o Japão, estavam ostensivamente melhor posicionados para aproveitar os recursos naturais e o trabalho industrial exigido pela guerra moderna. Eles também pareciam mais aptos para levantar os exércitos conscritos de massa que iriam distinguir as duas guerras mundiais que estavam por vir. Mas, como demonstra Boot, suas aparentes vantagens se mostraram transitórias. Na Segunda Guerra Mundial, a planta de construção de bombardeiros americana, em Willow Run, Michigan – uma mastodôntica estrutura de 3,5 milhões de pés quadrados que, por volta de agosto de 1944, estava produzindo um B-24 por hora – ultimamente representou muito mais peso para o resultado do conflito do que a inovação e qualidade de produção que deram aos nazistas os mísseis V-2 e umas poucas centenas de avançados caças à jatos ME-262. Os sucessos iniciais nos campos de batalha das potências do Eixo foram tornados possíveis pela surpresa e uma largada inicial no rearmamento; mas isso foi, eventualmente, revertido pelas burocracias da defesa de tempo de guerra da União Soviética, Grã-Bretanha e Estados Unidos, todas as três, em seus modos variados, se mostraram melhor em dominar os princípios das partes intercambiáveis, a linha de montagem e o agrupamento de milhões de conscritos.
Concluindo sua pesquisa com a presente revolução em sistemas de informação, Boot esboça as ironias inerentes a nossa recente experiência. O campo de batalha atual, no Oriente Médio como em qualquer outro lugar, tende a favorecer forças não-convencionais e descentralizadas. Em um mundo globalizado e interconectado, terroristas, bancados pelos petrodólares de déspotas podem comprar armamentos direto da prateleira e remetê-los para Beirute ou Damasco, dando-lhes uma quase paridade a esse respeito com forças armadas ocidentais que, por uma variedade de razões práticas e éticas, parecem restringir-se de trazer seu pleno potencial de vantagens para o conflito. Por nossa parte, enquanto mais dólares americanos tem sido investidos em cada vez menos “plataformas” de alto custo – isso é, navios e aviões altamente computadorizados – nós temos visto nossas atenuadas forças em campanha se tornando cada vez mais vulneráveis e aversas a riscos. Quem iria querer enviar um único bombardeiro B-2 sobre enclaves terroristas quando um barato míssil anti-aéreo disparado do ombro pode liquidar um investimento de meio bilhão de dólares?
Mesmo assim, Boot nos adverte contra um foco muito unilateral em guerra assimétrica e suas vulnerabilidades. Quando se trata de explodir uns terroristas a poucos metros de tropas americanas no Hindu Kush, os canhões de um velho A-10 “Warthog” ainda vão fazer um trabalho melhor do que o novo F-22 “Raptor”, que pode ser o mais dispendioso e sofisticado jato no mundo. Mas, caso os chineses decidam assaltar Taiwan – dificilmente uma possibilidade fantasiosa – será melhor ter esses F-22 nos céus para assegurar nossa superioridade aérea estratégica.
O que essa flexibilidade sugere é a necessidade de evitar a complacência – de qualquer tipo. Em seu excelente livro, Boot revê a história de 500 anos como um aviso. A ascensão e queda de forças armadas do passado nos lembra que os Estados Unidos não foram pré-ordenados a manter sua presente supremacia. Por conseguinte, precisamos reconhecer e recompletar a fonte de nosso poder ao continuar a incorporar idéias e questões não-convencionais em nossas operações militares – permanecendo conscientes o tempo todo de que a categoria de novidades “não-convencionais” ainda pode incluir algumas idéias antiquadas e ditas fora de moda.
No grande debate sobre transformação militar, nós somos afortunados em ter analistas de cabeça arejada como Kagan e Boot, que se voltam para a história de preferência à tecnologia para fornecer respostas para o futuro. De fato, uma ainda mais longa perspectiva histórica pode ajudar a colocar nossa presente situação, incluindo nossos equívocos, num contexto clarificador, e talvez ajudar a atenuar a tendência deles (a de Kagan, significativamente mais forte do que a de Boot) rumo ao pessimismo.
Como mencionei no início, sempre houveram mudanças abruptas e inesperadas no modo como os homens lutam – mesmo em tempos pré-industriais. A prática militar é mais freqüentemente virada de cabeça para baixo durante guerras de grande selvageria, nas quais estados investem seus capitais humanos e materiais em tentar escapar à aniquilação. Durante a maior parte do início do século V aC, as cidades-estado helênicas preferiam resolver suas disputas de fronteira por meio de colisões convencionais entre falanges de hoplitas (infantes pesadamente couraçados e armados). Mas durante as quase três décadas do caldeirão da Guerra do Peloponeso (431-404 aC), tal meio tradicional de guerrear ficou pelo caminho. Ambos, a conservadora, e de orientação terrestre Esparta e a imperial, e marítima Atenas voltaram-se para outras vias e métodos – triremes guarnecidos por remadores mercenários e escravos, inovadoras técnicas em guerra de sítio, o uso de cavalaria ligeira, e mesmo terrorismo. Isso desencadeou um ciclo de desafio e resposta como nada visto anteriormente na história grega.
Pelo tempo da derrota de Atenas em 404 aC, essa primeira RMA havia mudado o modo de guerrear ocidental aparentemente de forma definitiva. Assim como os estados não podiam mais divisar o conflito armado como uma série de batalhas campais entre fileiras de hoplitas, também as velhas classificações sociais do campo de batalha – com os ricos sobre cavalos, pequenos proprietário na falange, e os pobre sem-terra como escaramuçadores e remadores – não mais iriam prescrever como e onde os homens iriam lutar. Filósofos morais e generais conservadores clamavam contra essas mudanças, lamentando que a ralé, máquinas de guerra e dinheiro eram, agora, os fatores decisivos na guerra; mas sem resultado algum.
Essa aparente ruptura com o passado, no entanto, dificilmente foi o fim da questão. Na antiga Grécia, exatamente como hoje em dia, súbita inovação não sobrepujava, completamente, a velha ordem, e aqueles que acreditavam de outro modo, com freqüência, acabavam por se lamentar disso. Apesar da obsolescência das falanges hoplíticas, a idéia geral de lanceiros em ordem fechada – eventualmente alterada para comportar soldados mercenários com piques – persistiu por séculos após a guerra peloponésia. Generais de Epaminondas até Alexandre, O Grande, aprenderam que as falanges ainda eram partes integrantes dos exércitos – contanto que lhes fossem dadas amplo apoio por armas de cerco, artilharia e cavalaria – e eram especialmente úteis para destroçarem infantaria e cavalaria inimigas.
Muito da mesma forma, e apesar da introdução de satélites, computadores e novos metais e munições radicalmente novos, os tanques não tão diferentes em aparência daqueles dos anos 1920, permanecem inestimáveis na guerra moderna. Eles ainda cumprem a antiga necessidade por uma poderosa artilharia móvel fornecendo proteção para os soldados à pé. Mesmo cavalos não foram inteiramente deslocados – como vimos nas famosas fotos de soldados montados das Forças Especiais digitando coordenadas de GPS em seus laptops nas vastidões do Afeganistão. É instrutivo que as sofisticadas blindagens corporais de cerâmica tornem os soldados modernos parecidos com nada mais do que cavaleiros medievais ou, até mesmo, hoplitas gregos, relembrando-nos de que a tensão entre ataque e defesa é eterna.
Esse é o caso, também, de certas leis da guerra – a necessidade de unidade do comando, da integração de tática com estratégia, de divisar a estratégia com objetivos políticos em mente – terem estado imunes a revolução tecnológica. E nem isso é surpreendente: a guerra permanece um fenômeno irredutivelmente humano, e a natureza humana em si não tem mudado com o passar das eras. Assim, embora a Guerra do Golfo de 1991 fosse um memorável conflito de alta-tecnologia, e embora os tanques M-1 “Abrams” americanos quase sempre destruíssem suas contrapartes iraquianas com um primeiro tiro guiado por computador, isso por si mesmo não resultou em duradoura vantagem estratégica. A razão foi que os planejadores americanos estavam inseguros de seu objetivo final: seria derrotar o exército iraquiano no Kuwait enquanto se mantinha a santidade da coalizão de tempo de guerra, ou abater o regime em Bagdá que estava comandando o exército?
Sob essa mesma perspectiva cai a humilde e duradoura realidade iluminada tanto por Kagan quanto Boot: a natureza transitória da primazia militar. Pelo fim da Guerra do Peloponeso, Esparta tinha moldado o melhor exército hoplítico no mundo; ainda assim, em 371 aC, os tebanos provaram que ele era taticamente e estrategicamente, obsoleto. Trinta anos depois, Filipe da Macedônia, e seu filho Alexandre mostraram que mesmo os antes inovadores tebanos não eram páreo para os falangitas mercenários, portanto piques, apoiados por cavalaria pesada com sarissas. Descansando sobre seus lauréis, os vitoriosos de hoje, como os de ontem, com freqüência tem de correr atrás do prejuízo quanto o tiroteio começa, e podem acabar caindo com força.
Finalmente, como quase cada transformação tecnológica de conseqüência ocorreu sob os auspícios ocidentais – se não ocidental no sentido estritamente geográfico, então ocidental no sentido de um ambiente cultural moldado pelo pensamento livre e pela oportunidade do lucro. Mesmo inovações não-ocidentais, como o estribo e a pólvora, foram rapidamente modificadas e aperfeiçoadas pelos militares ocidentais. Caças à jato, bombas GPS, munições guiadas à laser são todos produto da perícia ocidental. Mesmo as mais inovadoras e letais armas dos jihadistas – dispositivos explosivos improvisados e cinturões suicidas – são forjados a partir de explosivos e dispositivos eletrônicos desenhados por ocidentais.
Mas, como vimos, isso também não é causa para complacência. Precisamente porque tais novos armamentos são um domínio ocidental, há sempre o perigo de que os ocidentais subestimem as capacidades dos outros. Cavalo-Doido no Little Big Horn, os zulus em Isandlwana, Abu Musab al-Zarqawi no Triângulo Sunita – todos foram capazes de importar e utilizar armas sofisticadas que eles nem podiam fabricar e nem reparar. Os rojões antitanque RPG da al-Qaeda podem não ser tão temíveis quanto as armas antitanque americanas, e podem falhar em índices muitos mais elevados; apesar disso, eles são bons o bastante para permitir que adolescentes analfabetos possam matar um oficial de exército americano com uma educação de um quarto de milhão de dólares em West Point, transportado em um “Humvee” de 100 mil dólares.
E onde isso nos deixa? Com razão em busca de cautela e circunspecção, mas também com claras vantagens que são, algumas vezes, postas de lado por analistas fixados em nossos erros e passos em falso. É verdade, nossos inimigos podem ser capazes de explorar alguns de nossos avanços, mas eles nunca irão rivalizar com nosso dinamismo intelectual. Nenhuma sociedade na era presente é tão auto-crítica, tão pronta para abraçar idéias estrangeiras, ou tão transparente e baseada em mérito quanto os Estados Unidos.
E mais, historiadores futuros podem bem atribuir nossos recentes sucessos – derrubar os dois piores regimes no Oriente Médio, e presidindo o nascimento de governos consensuais em seus lugares, e perdendo menos soldados nesse esforço do que durante muitas campanhas individuais da Segunda Guerra ou da Coréia – a um cada vez mais inovador sistema militar americano que aprendeu rapidamente dos erros do tipo descritos em Finding the Target e War Made New. Os, algumas vezes rígidos, trabalhos de Frederick Kagan e Max Boot são, em si mesmos, emblemáticos de uma das grandes forças de nossa sociedade: a capacidade para a se ajustar a eventos cambiantes com a ajuda de pensadores que se baseiam num sentido mais profundamente informado de realidade histórica do que aquele transmitido nas conclusões, tomadas pelo pânico das cadeias de notícias 24 horas.
Mas reconhecendo nossas deficiências, e mesmo nossas forças, não é o bastante. Revoluções militares são perdidas não apenas pela preguiça militar, liderança desiludida, ou um romance reacionário com o passado, mas devido a um fracasso ao nível das elites da sociedade, seja para perceber as reais ameaças representadas por inimigos externos reais ou para aprovar os sacrifícios necessários para enfrentar tais ameaças. Exemplos notáveis incluem as antigas Atenas e Roma, a Rússia da virada do século XX, e a França dos anos 1930. O principal desafio hoje não é apenas aprestar nossas forças armadas em face dos desafios em constante evolução, mas para convencer um opulento, ocioso e, com freqüência, cínico público americano que nós devemos, até mesmo tentar fazer isso.