Um tipo fica uma semana sem ver o Glorioso jogar e começa logo a ficar ressacado... E digam o que disserem, a selecção nacional é como a metadona - não sabe bem ao mesmo...
P44 escreveu:Eu quando falei nos harpoon, queria referir-me á POSSIBILIDADE de aproveitar o casco de um NPO, mas utilizando-o para outras funções, assim tipo Corveta ou mini-fragata...
Não seria então um NPO...
Destinar-se-ia a outras missões, tipo escolta...
Se calhar é uma grande calinada
Não tava a pensar mandar Harpoons a´s traineiras espanholas (por miuto que existisse pessoal que adoraria ver tal espéctaculo
)
Não é calinada nenhuma, P44, é uma questão de ver o problema por ângulos diferentes...
Inicialmente, eu também era dos que defendia que nós devíamos abdicar dos submarinos a favor de outros meios (no Fórum Armada, ainda deve andar lá esse post, para aí de 2003, acho eu...), e que os NPO estavam incrivelmente sub-armados e que estávamos a ficar sem forças de superfície.
Mas depois, com o que fui lendo e vendo, mudei totalmente de opinião.
O nosso problema aqui é falta de vontade de investir na Marinha. Por isso, todos os euros devem ser aproveitados ao máximo.
Fazendo uma análise
muito grosseira, existem três níveis de missões diferentes em termos de perigosidade:
-as missões de patrulha de ZEE e SAR, para as quais os NPO foram concebidos
-as missões de resgate de cidadãos nacionais ou monitorização da evolução da situação politico-militar num dado cenário (exemplo paradigmático no nosso caso, a Guiné-Bissau); é para estas missões que por vezes dizemos que é preciso algo mais do que um NPO, mas uma fragata é excessiva, e eu concordo com isso
-as missões de combate, para as quais as fragatas foram concebidas.
O que acontece é que as missões de 2º tipo são extremamente raras, enquanto as de 1º tipo são a norma. As de 3º tipo, todos esperamos que não existam. Mas a verdade é que para estas últimas precisamos de navios dedicados, mais ou menos polivalentes, mas com verdadeiras capacidades de combate, e capazes de enfrentar um leque alargado de ameaças. Para isso temos as VdG e as OHP.
Para as de 1º tipo não precisamos de qualquer tipo de armamento muito sofisticado. Assustar uma traineira espanhola com uma peça de 40mm ou 57mm e um par de metralhadoras é fácil...
E então as de 2º tipo? O que é que precisamos para estas? Em primeiro lugar, um hangar para helicópteros dá jeito. Mas e armamento? Se virmos bem, nestas missões espera-se não ter que se disparar um único tiro. Se isso acontecer, das duas uma - ou estamos em guerra com um país sem meios anti-navio relevantes (como acontece na maior parte dos países africanos costeiros), e então um NPO não está mal de todo para a tarefa (embora uma peça maior e um CIWS dessem jeito), ou então este país tem meios de combate de superfície e/ou submarinos e/ou aviões de ataque, e então só temos hipóteses recorrendo a escoltas feitas de raiz.
Converter um NPO num navio mais capaz para este tipo de missões (imaginemos, com uma peça de 57mm para AAW e ASuW, um helicóptero orgânico e mísseis anti-aéreos de curtíssimo alcance, como o RAM ou o VL Mica, mais contra-medidas, radares e directores de fogo), é bom em teoria.
Mas então levanta-se a questão essencial - o dinheiro e a relação custo-benefício. Este navio vai passar 99% do seu tempo de vida a fazer o mesmo que os outros NPO, com custos de construção e operação
muito superiores, para um produto operacional idêntico. E ao mesmo tempo vai desviar recursos para os navios que se espera que estejam verdadeiramente bem armados - as fragatas.
O meu problema não é com o conceito de um NPO mais "artilhado", mas sim com o desperdício que ele provoca nas missões do dia-a-dia, bem como com a delapidação acrescida dos já escassos recursos dirigidos para a força de combate de superfície.
Espero que tenha conseguido transmitir o meu ponto de vista, e não encarem isto como um ataque pessoal, mas sim como uma visão diferente sobre esta situação...