Associação prevê saída de fabricantes do Brasil
Fábio Amato
Agência Folha,
EM São José dos Campos
Se a população decidir pela proibição da venda de armas e munição no referendo do próximo dia 23, as empresas brasileiras fabricantes de armas leves, direcionadas também ao público civil, devem abandonar o país.
A tese é defendida pelo coronel da reserva Roberto Carvalho, 67, presidente da Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa). Entre 250 mil e 300 mil armas são produzidas no Brasil por ano; 80% são destinadas à exportação.
"Isso [a decisão de abandonar ou não o Brasil] é uma questão de estratégia e cabe a cada uma das empresas, que vão ter que procurar qual é a melhor solução para elas. Mas eu, se fosse o proprietário de uma delas, sairia do país", afirmou Carvalho, que também é diretor da Avibrás, uma das grandes companhias brasileiras de material bélico.
Carvalho afirmou que, atualmente, os fabricantes de armas leves -como revólveres, pistolas e espingardas- sofrem com uma carga tributária "altíssima", que representa em torno de 42% do valor final do produto.
Para ele, do ponto de vista econômico, não seria viável para as empresas manter as atividades no Brasil no caso da vitória do "sim" no referendo, já que elas teriam de direcionar as suas produções quase que exclusivamente para o mercado externo.
"Essas empresas já têm uma carga de impostos muito alta. Além disso, sofrem uma competição com as empresas estrangeiras, que são favorecidas no Brasil. E agora ainda nos proíbem de vender. O que essas empresas vão ficar fazendo aqui?"
Empregos
O presidente da Abimde, que disse não abrir mão das duas armas que possui em casa e de "defender a família", afirmou ainda que a proibição coloca em risco boa parte dos 5.000 empregos no setor de fabricação de armas.
Carvalho acredita na vitória do "não" e defende que, em vez de tentar acabar com o comércio de armas de fogo, o governo deveria conceder o porte e posse apenas a pessoas "habilitadas".
"Para ter uma arma, o cidadão teria que apresentar todos os documentos e ser habilitado para o porte, assim como se tira uma carteira de motorista. No caso das armas, temos que ter uma fiscalização mais forte."
"Argumentam que morre muita gente por arma de fogo, mas morre muito mais gente de acidente de carro. Então vão querer tirar os carros das ruas também?", disse o presidente da associação.
A Abimde agrega 45 fabricantes de material bélico, entre elas Forjas Taurus, CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) e Imbel (Indústria de Material Bélico do Brasil), 3 das 5 produtoras de armas e munições em atividade no país. As outras duas são Amadeo Rossi e ER Amantino.
Faturamento
O diretor de marketing da empresa gaúcha ER Amantino, Vilson Amantino, aponta que uma eventual vitória do "sim" no referendo não deve causar um impacto relevante no faturamento das empresas do setor.
Fabricante de espingardas utilizadas em caça esportiva, a ER Amantino tem 450 funcionários e exporta 95% de sua produção, de 5.000 unidades por mês.
"Para nós, o resultado do referendo não fará a mínima diferença. Em 2003, vendíamos cerca de R$ 600 mil por mês no mercado interno. Mas hoje as vendas não passam de R$ 60 mil."
Em nota, o presidente da CBC, Antônio Marcos Barros, afirma que a empresa irá aguardar o resultado do referendo para tomar "qualquer decisão estratégica". Mas acrescentou que pode haver demissões caso prevaleça o "sim".
As vendas internas da CBC representam aproximadamente 50% de seu faturamento.
No entanto apenas 15% são referentes às vendas para o mercado civil. Os outros 35% representam as vendas para instituições policiais e militares.
http://www.defesanet.com.br/desarmamento/abimde.htm