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Mensagem
por Suetham » Ter Fev 25, 2025 5:05 pm
O Brasil é um contexto completamente da OTAN, uma aliança dos países mais ricos do mundo com responsabilidades globais. Acontece que o Tio Sam parece ter se cansado de ser o Tio Otário nessa geopolítica, bancando e defendendo todos esses países, recebendo muito pouco em termos de retorno, a não ser mais cobranças e responsabilidades para os americanos.
Vamos ser sinceros, o Trump mente. Mas ele dificilmente faz isso propositalmente. É tudo um contexto e uma negociação. No contexto de um grande conflito europeu, eu preferiria não olhar para o que o POTUS diz, mas como os líderes europeus reagem a isso.
Embora nada tenha se materializado ainda, certamente há mais conversas europeias sobre iniciativas locais para aumentar a ajuda para a Ucrânia e o investimento geral em defesa. Veja o caso recente da França, Alemanha e UK. Os três países, estão mais do que nunca sendo obrigados a gastarem mais e até saírem debaixo da asinha nuclear americana. O que Trump está fazendo é literalmente até mais do que Putin fez ao invadir a Ucrânia, porque até 2023, a situação em termos de gasto, a Europa fez muito pouco para mudar o quadro anterior, a não ser alguns países isolados. Esse é um bom primeiro passo. Acredito que é para chocar a Europa e fazê-la agir e isso está acontecendo.
E de forma puramente capitalista/empresarial, o que funciona melhor do que incentivos?
Em uma realidade onde os EUA têm que se concentrar no Pacífico, enquanto mantêm pressão em todo o eixo, certamente é frustrante para os EUA ver a Europa implorando por mais ajuda americana, enquanto tem apenas metade do orçamento de defesa, uma indústria que está dormindo profundamente, embargos de armas a Israel e compromissos extremamente limitados com Taiwan.
Isso coloca os EUA em uma situação complicada, não importa quem seja o presidente. Ou injetar tanta ajuda na Ucrânia que ela vença em um ano - e ver a Europa adormecida novamente com orçamentos de defesa abaixo de 2%. Ou negociar um acordo mais favorável à Rússia na esperança de que a Europa acorde e comece a formar exércitos maiores e mais capazes.
Eu pessoalmente prefiro a última opção, sabendo que a Europa foi incrivelmente hostil aos EUA durante a guerra, muito mais do que Trump é em relação à Europa agora.
Além disso, uma coisa que explica ainda mais a pressão Trump em cima da Europa é a abordagem dele em relação à Rússia. Trump vê vencedores e perdedores, a Ucrânia ele vê como perdedora e por isso impõe condições a ela, mas negocia com a Rússia, tentando extrair melhores acordos de negócios, o que parece ser o caso das terras raras nos territórios ocupados pela Rússia. O desenvolvimento de depósitos de metais raros é muito lucrativo para os EUA, porque eles dependem da importação deles da China que detém um mercado de 80%. A Rússia tem enormes reservas desses metais. Os EUA não podem fazer nada contra a China se não puder afastar totalmente a dependência americana da China por terras raras. E não é só isso, a Rússia pode se tornar uma área de retaguarda estratégica tanto para a China quanto para os EUA, tudo o que a Rússia precisa fazer é se manter neutra, o que eles farão.
Quem leu o livro de Trump, o "Great Again: How to Fix Our Crippled America Paperback", principalmente a parte que ele fala sobre a Guerra do Golfo, sabe perfeitamente os motivos que levam o Trump a encarar a guerra na Ucrânia como ele está encarando.
De qualquer forma, a Europa é um caso singular. A UE tem sido isolacionista, aceitando alegremente um guarda-chuva de defesa americano, mas hostil a outros grandes aliados como Israel e Taiwan. Esses dois Estados poderiam já ter sido grandes parceiros na Defesa da Europa, eles se recusaram e aceitaram a cooperação americana, o que agora torna eles totalmente dependente dos EUA, muitos dos equipamentos estrangeiros ou mesmo feitos localmente que os países europeus podem adquirir incluem alguns componentes americanos, portanto, a Europa não pode se dar ao luxo de se tornar hostil aos EUA.
Isso me traz de volta ao meu ponto de que os EUA são insubstituíveis para a Europa, não importa o quanto eles tentem. Poderia ser substituível, se a Europa não tivesse terceirizado a segurança nos últimos 30 anos.