Guerra Colonial Portuguesa

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#91 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Fev 12, 2021 9:08 am

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Guiné >Brá > 1966 > Centro de instrução e sede dos comandos . Aqui, em Brá, a nordeste de Bissau. nasceram os primeiros comandos da Guiné, primeiro organizados em grupos e depois em companhia. Estes comandos, de primeira geração (ou os "velhos comandos") antecederam a primeira companhia de comandos metropolitana, formada em Lamego, e aqui chegada em Junho de 1966 (3ª CCmds).

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Guiné > Brá > 1966 > O Alf Mil Briote, à esquerda, ladeado de dois dos primeiros comandos africanos, o Jamanta e o Joaquim. Esta era a 1ª equipa do seu grupo de comandos. Em vésperas da Op Atraca.

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Guiné > 1966 > Comandos a caminho de Bafatá, junto ao Dakota para operações na região do Xitole. O famoso Marcelino da Mata, condecorado com a Torre e Espada, é o primeiro da esquerda, na segunda fila. O Alf Mil Briote é o segundo, a contar da esquerda, da primeira fila. O Capitão Rubim (hoje coronel na reserva) é o 6º da primeira fila, também a contar da esquerda.

Fonte: https://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guin ... andos.html




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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#92 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Fev 12, 2021 9:28 am

Entrevista ao Sr. Cor Tir Inf ‘Cmd’ Raúl Miguel Socorro Folques

Entrevista ao Sr. Coronel Tirocinado de Infantaria, Comando, Raúl Miguel Socorro Folques
Parede, 27 de abril de 2017

Relativamente ao TO da Guiné-Bissau,


P1: Em que período desempenhou funções no TO da Guiné Bissau?
Desde junho de 72 a maio de 74.

P2: Qual a unidade de colocação?
Foi sempre no Batalhão de Comandos.

P3: Que funções desempenhou no TO da Guiné-Bissau?
De 2º Comandante (Cmdt) do Batalhão de Comandos (BatCmds) e depois Cmdt de Batalhão. Estive um ano como Cmdt Bat e o resto como 2º Cmdt.

P4: A nível de hierarquia o BatCmds respondia a quem?
Respondia ao Comando-Chefe.

P5: De que forma o BatCmds se organizava? Em companhias ligeiras ou pesadas?
Os comandos eram companhias ligeiras, as companhias pesadas na vossa nomenclatura são outras. No meu tempo não havia essa distinção. Havia companhias de caçadores ou atiradores, companhias que se transportavam motorizadas e companhias que se transportavam em viaturas de combate de infantaria, chaimites, e depois as viaturas de lagartas M10 americanas que levavam uma secção. As nossas companhias eram companhias ligeiras que iam para as zonas de operações de viatura até próximo da zona de operação, depois progredíamos e desenvolvíamos a pé.

P6: Como estava organizado o BatCmds?
Era formado por 1 CCS, 3 companhias de comandos africanos e 2 companhias de comandos da metrópole. As companhias de comandos africanas eram a 1ª, 2ª e 3ª. As companhias da metrópole eram a 35 e 38. Depois a 35 foi substituída e já no fim a 38 também foi substituída mas na altura do 25 de abril. “O Movimento e Manobra na campanha militar do Teatro de Operações da Guiné-Bissau (1963-1974)"

P7: As companhias de comandos tinham mistura de militares de companhias de afinidade diferentes?
As companhias de africanos só tinham africanos e as companhias da metrópole podiam ter africanos.

P8: O batalhão atuava como um todo?
O batalhão saía como um todo, mas as companhias também eram projetadas isoladamente, sob o comando ou coordenação do batalhão. O batalhão atuava em operações de especial dificuldade.

P9: As unidades de comandos atuavam como força de intervenção das unidades de quadricula?
Em Angola sucedeu, na Guiné não era bem assim. Na Guiné, ia para uma determinada zona, sendo-lhe dada uma missão, um objetivo. Sucedeu mais que uma vez as companhias 35 e 38 serem retiradas ao batalhão e iam reforçar os CAOP/COP, comandos operacionais.

P10: Havia distinção na utilização das companhias africanas para as outras?
Não, eram utilizadas igual.

P11: A organização que o General Spínola introduziu no Teatro foi uma melhoria?
Não sei qual era a anterior, quando cheguei já estava lá o General Spínola. Todos os Cmdts chefes se adaptaram ao Inimigo (In) e a evolução que o In veio a ter. Com os Cmdts chefes ao adaptarem-se ao In, evolui o conceito, evoluiu o dispositivo, mas ao evoluir o dispositivo houve sempre melhorias apesar que o In foi ficando mais forte, especialmente quando começou a utilizar o Strela. Com o Strela, praticamente durante um mês vimo-nos privados de um apoio consistente e fiável de apoio aéreo.

P12: Davam o curso de comandos?
O curso era dado em Fa Mandinga. Quando cheguei estava a 2ª companhia em formação. Depois disso formamos a 3ª e ainda um curso para recompletamentos. “O Movimento e Manobra na campanha militar do Teatro de Operações da Guiné-Bissau (1963-1974)"

P13: As unidades de quadrícula tinham batalhões no terreno e como se materializavam os CAOP?
O COP era comando de major e o CAOP de tenente-coronel ou coronel. O CAOP enquadrava batalhões e o COP um batalhão reforçado (acho que foram utilizados mais para o sul).

P14: Algumas vezes foram criadas zonas de intervenção de Cmdt chefe?
Em Angola foram criadas, na Guiné lembro-me que foi criada na Matina do Boé.

P15: Qual a base doutrinária que seguiu para as operações?
Havia uns livros de capa azul, o Exército na Guerra Subversiva, mas tenho impressão que não eram livros para General, eram mais para Alferes e Tenente ou mesmo Capitão, era um livro para máximo nível companhia, ensinava emboscada, contra emboscada, batidas, golpe de mão. Eram dois ou três volumes. Também era muito bom o Manual do Oficial Miliciano que também era para nível de alferes e tenente.

P16: A projeção do batalhão como um todo era responsabilidade do batalhão ou contavam com apoio externo?
Quando havia deslocamento do batalhão, entravamos em contato com a secção da logística, e normalmente eram movimentos compostos, não só um único movimento. Lembro-me que numa operação fomos de navio de Bissau a Bafatá, depois até Pitche fomos de viatura, eram viaturas civis alugadas, contratadas, com uma escolta militar. Os deslocamentos eram feitos de forma barata. Já em Angola não, os batalhões, as companhias tinham viaturas que chegavam para o pessoal todo. O batalhão não tinha os meios motorizados que haviam em Angola.

P17: Os helicópteros foram utilizados nas operações?
Eram muito utilizados para Heli assaltos e para evacuação. Não haviam tantos helicópteros na Guiné como em Angola e Moçambique mas os suficientes para apoiar uma operação.

P18: Empregavam fumos no âmbito do obscurecimento do campo de batalha?
Não. Por vezes usávamos granadas de fumos para quando o helicóptero aterrava para sinalizar... “O Movimento e Manobra na campanha militar do Teatro de Operações da Guiné-Bissau (1963-1974)"

P19: O batalhão executava ações de mobilidade e de contramobildade?
Nos movimentos mais perigosos era feita a desminagem com picadores que iam à frente. Em movimentos abertos em mata rala ia uma viatura pesada à frente e abria uma picada. Não sei se podemos considerar como contramobilidade os perímetros clandestinos que montávamos para pernoitar. Nos seus acessos para dificultar qualquer abordagem In, armadilhávamos com granadas-armadilhas ou granadas.

P20: Haviam unidades de reconhecimento? Eram atribuídas tarefas de reconhecimento ao batalhão?
Haviam unidades de reconhecimento mas não eram usadas como tal. Na operação mandava-se parar o pessoal para se ir reconhecer à frente mas normalmente não se fazia reconhecimento antes da operação. O reconhecimento aéreo dava informação sobre as bases inimigas. Era conduta, não havia esse planeamento de reconhecimento.

P21: Destas dimensões quais eram as vertidas na OOp?
Dimensões:
1 - Projeção de Forças e Ocupação de Zonas de Reunião
2 - Manobra e Movimentos Táticos
3 - Fogo Direto e Obscurecimento do campo de batalha através do emprego de fumos
4 - Mobilidade e Contramobilidade
5 - Pesquisa de Informação
Colocava-se o que se sabia do In, a articulação de forças e depois a nossa ideia de manobra (por exemplo, a companhia A vai longo deste eixo, a companhia B vai ao longo daquele eixo, a companhia C vai ao longo daquele eixo) e depois uma reserva que se mantinha ou não caso se pudesse empregar ou não.

P22: A nossa Artilharia era usada para obscurecimento do campo de batalha?
Não. Nem levávamos um observador connosco...

P23: Existiam forças não regulares, milícias ou grupos especiais?
Tinham companhias de caçadores nativas, companhias de comandos, 1 destacamento de fuzileiros e havia várias companhias de milícias. Era tudo africano. E havia a polícia administrativa que era africana.

P24: O batalhão só executou operações ofensivas?
Sim. Sempre. O batalhão só executou operações ofensivas. “O Movimento e Manobra na campanha militar do Teatro de Operações da Guiné-Bissau (1963-1974)"

P25: Porquê que de 1963 a 74 a quantidade de militares africanos subiu significativamente?
Aumentou o número de companhias nativas de caçadores de tal maneira que o General Spínola viu-se na necessidade de graduar algum pessoal para comandar estas companhias. Os africanos tinham motivação, combatiam. Contra o PAIGC tinham vinganças, tinham sido maltratados, eles tinham motivação. Por outro lado como combatentes das nossas forças eram bem alimentados e pagos.

Fonte: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400. ... 974%29.pdf




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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#93 Mensagem por P44 » Dom Abr 04, 2021 7:50 am

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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#94 Mensagem por joaolx » Dom Abr 04, 2021 2:00 pm

P44 escreveu: Dom Abr 04, 2021 7:50 am Imagem
Este pulha num pais serio teria sido fuzilado, por cá foi condecorado




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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#95 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Abr 08, 2021 7:10 am

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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#96 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Abr 21, 2021 8:18 am

Pedro Castanheira escreveu:A CAPTURA DE MALAN CAMARÁ, COMANDANTE DO BIGRUPO SIMBELI
Guiné, 12 de Fevereiro de 1973

Zona do Cantanhez
Força executante: Companhia de Caçadores Paraquedistas 123 ( BCP 12 )
3.º Período da Operação “ Tigre Poderoso “
Acção: “ Trabalho”

O PAIGC continuava publicitando na rádio e através de panfletos, que a estrada de Cadique para Jemberém nunca seria concluída e enviou para o local o seu melhor bigrupo, o qual estava estacionado na base de Simbeli, na República da Guiné Conakry, comandado pelo mítico Malan Camará.
A 12 de Fevereiro, de 1973, Spínola foi visitar o Aquartelamento de Cadique e Araújo e Sá determinaria uma operação às Cachambas.
Foi incumbido da missão um bigrupo comandado pelo Tenente Sousa Bernardes e formado pelos 1.o e 2.o Pelotões. Era a primeira vez e foi a última que estes dois pelotões actuaram em conjunto no Cantanhez: iam-se medir forças com Malan Camará, considerado na altura o melhor Comandante da guerrilha que actuava no Sul da Guiné, pelo que se juntou o melhor Oficial e o melhor Sargento — esperava-se o resultado, que iria ser decisivo, para a construção da estrada. Devido a informações da população os Guerrilheiros conheciam todos os movimentos dos militares portugueses e esperaram- nos à entrada da mata, que consideravam de sua posse exclusiva.
Nessa entrada que é um estreito, os Pára-Quedistas foram atacados por um enxame de abelhas que puseram as tropas em alvoroço.
O Alferes Saraiva aproximou-se de mim, que ia como habitualmente em 3.o lugar, e disse-me: “Rebocho alarga o passo que há abelhas à retaguarda”. Virei-me ligeiramente sobre a esquerda, mas continuando a andar e disse-lhe: “não posso que o combate deve estar mesmo a começar”. O Alferes respondeu-me: “é pá eu tenho mais medo das abelhas que dos turras”. Não tomei em conta os receios do Alferes nem tive tempo, pois ao virar-me de novo para a frente, uma rajada de metralhadora passou rente à minha cabeça, disparada de baixo para cima. Um tiroteio invulgarmente violento surgiu então de todos os lados.
O Guerrilheiro que certamente me apontava a arma, mexeu-se ligeiramente quando eu me virei, gesto premonitório e para mim salvador.
A agressividade dos Guerrilheiros que usaram balas tracejantes, as quais possuem um efeito letal muito superior às balas normais, ao colocarem-se muito perto de nós e com um numeroso efectivo, também lhes foi fatal: as balas deixavam um rasto que me permitia ver a sua trajectória; logo, permitiram-me conhecer, numa fracção de escassos segundos, quantos eram, onde estavam, para onde estavam virados e com que armas disparavam, pelo que não conseguiram retirar-se quando disso tiveram necessidade.
Em poucos segundos dei todas as ordens de posição, de direcção e de cadência, a cada um dos dois homens (Álvaro e Ferreira) que, como eu, se viam cercados dos traços feitos pelas balas dos Guerrilheiros: O Ferreira só podia disparar para a frente, em rajadas curtas, para não encravar a arma nem esgotar as munições e não se devia preocupar com os «turras» que estavam a disparar à sua esquerda e à sua direita; o Álvaro teve que se virar e disparar sobre a direita do baga-baga para impedir que os Guerrilheiros que ali estavam me atingissem a mim e ao Ferreira; eu disparei sobre os homens que estavam disparando nas costas do Álvaro, equilibrando a situação entre nós e eles. Venceria quem tivesse mais serenidade ou, como defendeu Clausewitz, maior presença de espírito. Fomos nós.
Contra todas as técnicas e teorias, a melhor protecção para cada um de nós, foi a falta de protecção, que nos permitiu movimentarmo-nos com facilidade em todas as direcções, embora fôssemos atacados por todos os lados. A situação estava equilibrada, mas ameaçava ruir a nosso desfavor.
Nós tínhamos apenas três armas a disparar e os Guerrilheiros eram no mínimo dez a fazer fogo contra nós os três.
Era a velha técnica dos primeiros três ou cinco homens: o primeiro foi mortalmente atingido e o quinto gravemente ferido; só restavam três homens para disparar. Seguramente, o Sargento tinha que ser sempre o terceiro homem da coluna, caso contrário já não comandava nada e os Soldados ficavam a combater sem comando.
Pedi o disparo de um RPG sobre o lado esquerdo do baga-baga. Mas esta arma manuseada pelo Soldado Solinho avariou e os segundos passavam. O Bernardino, excelente Soldado e camarada solidário, que embora seguisse numa posição mais recuada da coluna, onde estava livre de ser alvejado, ao ouvir os meus repetidos pedidos de disparo do RPG sobre a esquerda do baga-baga, veio à frente efectuar o citado disparo, não de RPG, que o não tinha, mas de Sneb, uma arma menos potente, mas que, na circunstância, produziu os mesmos efeitos. O disparo, nas condições em que eu o estava a definir, era duma extrema complexidade. A granada tinha que rebentar na retaguarda do baga-baga, porque se fosse de frente não tinha qualquer efeito. Para que a granada rebentasse sobre os Guerrilheiros, o operador tinha que se expor, e muito.
O Cabo Gonçalves, que manuseava uma metralhadora e também estava numa posição onde não era passível de ser alvejado, desenrolou a fita de balas, que tinha à volta da cintura, suportou-a sobre o braço esquerdo, avançou mais de dez metros e, numa rajada contínua e prolongada, deu cobertura ao Bernardino que, surgindo sobre o lado esquerdo do baga-baga, disparou a granada do Sneb directamente sobre o comando da guerrilha.
Os Guerrilheiros cessaram o fogo instantaneamente.
Foram estes os Soldados anónimos que fizeram a Guerra de África, que fazem as grandezas dos exércitos, particularmente numa guerra de guerrilha, onde a técnica não é mais de que rudimentar e onde a coragem e a criatividade constituem os suportes de toda a actividade operacional. Os seus actos de coragem e solidariedade nada devem à formação técnico-táctica, são características inatas do foro psicofisiológico que se elevam com a experiência e com o ambiente de camaradagem que se instala numa unidade militar de combate.
Mesmo o rigor da minha posição, das minhas ordens e dos meus 4 camaradas, que comigo fizeram fogo, bem como o facto de dois homens nossos se estarem a movimentar para a frente das nossas balas, nada tem de técnico, não se aprende isso em lado nenhum; é apenas uma questão de serenidade, lealdade de todos para com todos, criatividade e disponibilidade para o risco. Quem diz que isto se aprende, está apenas a querer ensinar o que não sabe e a garantir o seu emprego. Houve aqui, também, a confiança no homem que estava a dar as ordens, mas esta confiança vinha de outros combates anteriores, da experiência, nada fora aprendido nos bancos da formação.
Como afirma Mira Vaz, que sabe o que diz, os Soldados cumprem as ordens na frente de combate, quando confiam no graduado que as dá e, sem as reflectirem, consideram que são as melhores.
Sobre a influência da formação dos Pára-Quedistas para o desempenho naquele combate, há a considerar que nesta primeira fase do combate actuaram cinco homens, o número fatal.
Dois destes homens actuaram com metralhadoras que não eram utilizadas na instrução e um com LGF que nem era conhecido na Metrópole. As decisões, todas improvisadas e criativas, violaram as regras doutrinárias que, na circunstância, aconselhavam a retirada, tendo-se feito precisamente o contrário. Se retirasse, teria lá ficado o corpo do «meu» primeiro homem, que faleceu pouco depois, e o Alferes que estava gravemente ferido. Decidindo-me por resistir, salvou-se tudo o que não foi atingido nos primeiros tiros e capturou-se Malan Camará.
O combate foi tão violento que se acabaram os combates nas Cachambas, com a retirada definitiva dos Guerrilheiros daquela zona.
Nada do que se fez naquele dia se ensinava nas aulas técnico-tácticas. Ali estiveram as capacidades humanas e a experiência. Morreu-me o «meu» segundo homem, Elias Isidro Picanço Azinheirinha.
Numa segunda fase dos combates, que se reacenderam uns cinco minutos depois, uma vez que os Guerrilheiros não queriam perder o seu Comandante, teve particular relevo o Furriel Cerqueira, que comandou toda a acção a partir da frente. O Cerqueira era miliciano, mas isso não se notou no seu desempenho, evidenciando, mais uma vez, que a formação técnico-táctica não tinha ali qualquer relevo.
Os combates que se seguiram, para podermos ocupar o baga-baga atrás do qual estava o posto de comando dos Guerrilheiros e o próprio Malan Camará, foram duros e comandados pelo Cerqueira, que seguiu pela esquerda.
Eu estava a menos de 10 metros, e descaído para a direita; cercámos o baga-baga, mas não fiz fogo porque tinha homens meus na linha de tiro. Nestes momentos, em que as tropas se galvanizam por acção dos seus comandantes, é necessário exercer-se um controlo ainda mais rigoroso, para evitar que nos alvejemos uns aos outros. O baga- baga foi tomado e Malan Camará capturado.
O Alferes Fernando Pires Saraiva teve uma atitude de muita dignidade. Durante o espaço de tempo entre a primeira e a segunda fase dos combates, alterei a posição de quase todos os homens do Pelotão, com instruções muito rápidas que não podiam ser discutidas nem explicadas.
Não havia tempo. Uma das ordens inevitáveis foi a chamada de “todos os enfermeiros à frente”, o que aconteceu enquanto dei outras instruções e falei com o Cerqueira e com Sousa Bernardes; ao voltar para a frente verifiquei que o nosso melhor enfermeiro, 1.o Cabo Filipe, estava a tratar o Alferes e disse-lhe: “deixa lá o nosso Alferes e vai tratar o Azinheirinha, cujo ferimento é mais grave”; o Filipe ficou surpreendido e olhou para o Alferes que lhe disse: “faz lá o que o nosso Furriel te está a dizer, vai tratar o Azinheirinha”.
É nestes momentos que os homens se diferenciam, porque nas outras componentes da Guerra, como a descascar camarão, todos somos habilidosos e constituiu, em muitos casos a única experiência que alguns militares adquiriram na Guerra.
Nada do que se fez neste combate tinha sido aprendido antecipadamente, tudo se improvisou. Ali esteve a criatividade, a liderança e a assunção do risco pelos graduados que motivaram os Soldados. Mas também ficou claro que todas estas qualidades, a que devemos acrescentar a honra e a dignidade, não são exclusividade de uma ou de outra classe militar: todas as classes têm homens com estas qualidades e todas têm homens a quem elas faltam. Para utilizar uma frase habitual nos grupos militares, não é o posto que faz as qualidades, mas as qualidades que devem fazer o posto. O que determina que um Oficial sem as qualidades, ou pelo menos sem as principais, leve à criação da citada dupla hierarquia porque os problemas que surgem na guerra têm que ser resolvidos a bem de
Se o Oficial os não resolve, resolve-os o Sargento, que passa a líder informal, aquele que influenciará as decisões futuras.
Spínola, que acompanhou toda a comunicação rádio deslocou-se ao local onde nos cumprimentou. Malan Camará foi evacuado para o hospital, revelando-se o humanismo destes Pára-Quedistas.
O Comandante do BCP 12 e do COP 4, Tenente-Coronel Araújo e Sá, escreveu o seguinte no seu relatório: “o bigrupo da CCP 123 empenhado reagiu da melhor forma à forte emboscada que lhe foi movida por numeroso e bem armado grupo inimigo. Devido à pronta reacção das nossas tropas e à inteligente manobra desenvolvida, o inimigo retirou com elevadas baixas e sendo capturado um Guerrilheiro ferido e diverso material de importância; veio a verificar-se que o Guerrilheiro capturado se tratava de Malan Camará, comandante de bigrupo anteriormente referenciado em Simbeli; o que torna esta captura extremamente valiosa, e justifica o facto do grupo inimigo ter oferecido prolongada resistência e apenas ter retirado face ao envolvimento que lhe foi movido”.
Após este comportamento operacional, a minha liderança informal tornou-se uma situação normal. Sousa Bernardes recolheu, de toda a Companhia, elevados reconhecimentos da sua capacidade e do seu valor, mas não podia assumir posições de liderança, para além do seu próprio Pelotão porque, se assim fosse, colidia com a posição do Capitão e um deles tinha que sair. Sousa Bernardes adquiriu então um grande prestígio junto dos homens da Companhia, que viram nele um comandante em quem podiam confiar.
( Texto de Manuel Rebocho , Furriel Paraquedista comandante de secção da CCP 123, na altura dos acontecimentos )
Faleceu nesta operação o Soldado Paraquedista Picanço Azinheirinha
Foto 1 : Pcabo Paraquedista Álvaro da Silva ( Biafra) e Soldado Paraquedista Solinho , junto ao comandante do Bigrupo capturado, foto de Costa Ferreira.
Foto 2: Alferes Miliciano Paraquedista Fernando Saraiva ferido com gravidade naquela Acção, seguiu carreira nas tropas Paraquedistas , passado á reforma como Coronel Paraquedista, tendo sido nos anos noventa, dos primeiros observadores militares nos Bálcãs, e comandando um batalhão de Paraquedistas na Bósnia .
Foto do livro “ Oficiais Milicianos Paraquedistas na Força Aérea Portuguesa “ de José Barbosa
Consultados : Livro do BCP 12 ( CTP) , Livro “ Elites Militares e a Guerra de África “ de Manuel Rebocho
: Manuel Rebocho Sargento Mor Paraquedista na reforma , formou se em Economia Agrícola e Doutorado em Sociologia.
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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#97 Mensagem por P44 » Sáb Abr 24, 2021 12:55 pm

Angoche, o maior mistério da guerra colonial

Um navio encontrado à deriva nas águas do Índico, a 30 milhas da costa moçambicana, sem tripulação mas com um cão e com um gato a bordo, transformou-se num mistério nunca resolvido, apesar de investigado por agências de informação de diversos países. Aconteceu na noite de 23 para 24 de Abril de 1971. Há 50 anos que 24 pessoas estão desaparecidas, se estão vivas ou se morreram, e como é que morreram, não se sabe, também porque os corpos nunca foram encontrados.

https://sol.sapo.pt/artigo/732445/angoc ... a-colonial




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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#98 Mensagem por P44 » Qua Abr 28, 2021 5:20 am

Otelo aconselhou Fidel Castro a avançar rumo a Angola

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Em 1975, MPLA, UNITA e FNLA estavam em guerra pelo poder em Angola. Na disputa participaram várias forças internacionais, em apoio do MPLA. Otelo terá ajudado a convencer Fidel a enviar tropas para a ex-colónia.



https://www.dw.com/pt-002/otelo-aconsel ... a-17507318




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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#99 Mensagem por LM » Dom Abr 16, 2023 6:57 pm



Aconselho a lerem artigo completo, no FB (ou no blog)... operação digna de Hollywood, onde não faltaram sentinelas degoladas silenciosamente.




Quidquid latine dictum sit, altum videtur.
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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#100 Mensagem por LM » Ter Mai 09, 2023 10:38 am

Anos antes da operação anterior, de um tipo muito diferente





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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#101 Mensagem por J.Ricardo » Qua Mai 10, 2023 10:50 am

Nessa guerra colonial portuguesa só não consigo entender como foram perder Cabo Verde, era um arquipélago fácil de manter, fácil de derrotar os revoltosos e difícil de receber apoio de outros países africanos e potências por sua natureza, sem contar a importância estratégica de ter um arquipélago logo ali na África. Creio que a redemocratização portuguesa meio atabalhoada como foi abriu o caminho para esse erro estratégico.
Digo o mesmo de Timor Leste, embora a distância e uma possível guerra com a Indonésia não estivessem nos planos portugueses.




Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil!
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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#102 Mensagem por J.Ricardo » Qua Mai 10, 2023 10:52 am

LM escreveu: Dom Abr 16, 2023 6:57 pm

Aconselho a lerem artigo completo, no FB (ou no blog)... operação digna de Hollywood, onde não faltaram sentinelas degoladas silenciosamente.
aguardamos o filme, por favor.




Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil!
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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#103 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Mai 10, 2023 11:44 am

Nunca irá ser feito.




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#104 Mensagem por LM » Qui Mai 11, 2023 8:59 am





Quidquid latine dictum sit, altum videtur.
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Re: Guerra Colonial Portuguesa

#105 Mensagem por LM » Ter Nov 12, 2024 1:53 pm

Porque gostei e porque 1964 é o ano em que o meu Pai chegou para a sua comissão a Cabinda (Angola), no Batalhão de Cavalaria 682 «CAVALEIROS DE CABINDA»







Quidquid latine dictum sit, altum videtur.
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